Chapter 9: Coisas Estranhas Acontecem
“Você foi impecável, Mello,” César disse. Ele estava sentado ao lado de Mello, olhando para ele com satisfação.
Mello sorriu, sentindo a adrenalina do sucesso. Ele percebeu que César estava genuinamente satisfeito com a performance dele no jantar.
“Eu me preparei. Eu sabia que precisava demonstrar o conhecimento dos documentos confidenciais,” Mello respondeu, olhando para César.
César riu, um som genuíno e relaxado, algo que Mello raramente ouvia.
“Você passou no teste da minha mãe. Isso vale mais do que qualquer reunião de diretoria. Odette não confia em ninguém que não seja totalmente devotado à Solitare e à família. Você a convenceu de que você é o ‘antídoto’,” César disse, inclinando a cabeça ligeiramente para o lado. “Ela não vai mais se preocupar com os rumores.”
Mello sorriu, sentindo que o sacrifício de seu relacionamento com Mihael havia sido validado pelo acesso a esse novo nível de poder. Aquele jantar não tinha sido apenas um evento social; tinha sido uma investidura.
O carro de César seguiu pelas ruas noturnas de Paris, e Mello aproveitou a calma repentina. Ele observou as luzes da cidade passando rapidamente pelas janelas. A cidade parecia diferente agora, mais próxima, menos um destino de sonho e mais um campo de batalha onde ele estava prestes a lutar ao lado de César.
“Nós temos quatro dias até o início da Mostra,” César disse, quebrando o silêncio. “Amanhã, a agenda estará completa. Precisamos finalizar os acordos com a Chanel e revisar a lista de convidados para o evento de gala.”
Mello acenou com a cabeça. Ele abriu o celular e começou a digitar, fazendo anotações mentais sobre as prioridades. Ele se lembrava de todos os pontos levantados por Odette sobre a alocação de capital e a estratégia digital. Ele precisava garantir que os relatórios estivessem impecáveis.
“Eu vou preparar um resumo de cada reunião do dia seguinte, incluindo os pontos de ação para a equipe de logística,” Mello respondeu, voltando o olhar para César.
César colocou a mão no braço de Mello, um toque breve e inesperado. Mello olhou para o local onde a mão de César o tinha tocado, sentindo o calor da pele dele através do tecido fino da camisa.
“Não se sobrecarregue, Mello. Você precisa descansar. Você terá que estar no seu melhor em Paris,” César disse, a voz dele era suave, o que surpreendeu Mello. César não demonstrava essa preocupação com o bem-estar de ninguém, apenas com o trabalho.
“Eu estou bem. Eu estou motivado,” Mello respondeu, fechando o celular.
César sorriu, um sorriso pequeno e satisfeito. “Eu sei que você está. Sua dedicação é notável. É por isso que você está aqui.”
Mello sentiu a aprovação de César como uma recompensa física. Ele estava disposto a sacrificar o sono e o lazer para manter aquele sorriso.
O carro parou na frente do apartamento de Mello.
“Te vejo amanhã de manhã. O motorista estará aqui às oito,” César disse.
Mello saiu do carro, e César abaixou a janela.
“Mello,” César chamou, e Mello se virou para olhar para ele. “Você é um trunfo.”
Mello engoliu em seco, processando a afirmação. “Obrigado, César.”
César acenou com a cabeça, e o carro seguiu pela rua. Mello observou o carro sumir de vista antes de entrar no prédio.
Os dias seguintes foram caóticos e cheios de saídas e principalmente jantares e reuniões formais, assim como César tinha prometido. César parecia determinado a terminar as coisas antes de Paris e as novas notícias. A Internet só falava sobre a semana da mostra, sobre todos os famosos que estariam lá. Mello, a princípio, apenas notou a diferença com que César o tratava, mais calmo e bem mais suave.
A rotina de Mello se transformou em uma série contínua de eventos de alta pressão. Ele se sentia como um malabarista, equilibrando a agenda de César, os detalhes logísticos da Solitare em Paris, e os requisitos do seu novo guarda-roupa de alta costura.
A imprensa continuava a alimentar os rumores, mas Mello percebeu que César estava usando essa atenção para promover a imagem de Mello como o secretário indispensável.
Na manhã seguinte ao jantar com Odette, Mello chegou ao escritório antes de César. Ele se sentou em sua mesa e começou a organizar os relatórios financeiros que César havia pedido. Ele revisou os números de alocação de orçamento para a Mostra de Moda, garantindo que cada dado estivesse alinhado com a estratégia que ele havia apresentado a Odette.
César chegou, e Mello se levantou para entregar a agenda do dia.
“Mello, você revisou os contratos de patrocínio com a Dior?” César perguntou, pegando a agenda.
“Sim. Os termos de exclusividade estão claros, e o cronograma de pagamentos foi aprovado pela diretoria,” Mello respondeu.
César olhou a agenda, e Mello percebeu que César estava mais relaxado do que o normal. Ele não estava apressado, nem demonstrando a impaciência que Mello via quando César falava com outros funcionários.
“Eu quero que você me acompanhe nas reuniões de hoje. Eu preciso de sua perspicácia para analisar as propostas de patrocínio,” César disse, olhando para Mello.
“Eu estarei pronto,” Mello respondeu, pegando a pasta de documentos.
A primeira reunião do dia era com um grande conglomerado de luxo. Mello sentou-se ao lado de César, e César o apresentou como seu ‘diretor de operações estratégicas para a Mostra de Moda de Paris’. Mello absorveu o novo título com calma, percebendo o significado do endosso público de César.
Durante a reunião, Mello tomou notas e observou a dinâmica. Quando o representante do conglomerado apresentou uma proposta que Mello considerou arriscada, ele esperou o momento certo para intervir.
“Com licença, Senhor Duval,” Mello disse, com a voz firme. “O cronograma de ativação da marca em tempo real que você propôs não se alinha com nossa estratégia de otimização de conteúdo visual. A Solitare está focando em vídeos de alta qualidade, e o seu plano exige cobertura de imprensa tradicional, o que diluiria nosso foco.”
Duval olhou para Mello, surpreso. César, no entanto, sorriu levemente.
“Mello está correto. Nosso objetivo é o engajamento digital exclusivo. Precisamos de uma proposta que integre nossa visão de mídia social,” César disse, apoiando Mello.
Duval revisou sua proposta, e Mello sentiu a satisfação de ter influenciado a negociação.
Ao final da reunião, César elogiou Mello. “Você salvou a Solitare de um investimento ruim, Mello. Você pensou rápido e com clareza. Você tem um olhar para o risco que eu não esperava.”
“Eu me dediquei a entender a estratégia digital da Solitare, César,” Mello disse.
“E você internalizou. Isso é o que eu valorizo,” César respondeu.
Mello percebeu que a suavidade de César não significava uma diminuição da intensidade do trabalho, mas sim uma mudança na forma como ele se comunicava com Mello. César estava investindo na confiança de Mello, tratando-o como um parceiro de negócios, não apenas como um secretário.
Nos dias que se seguiram, a agenda de Mello estava repleta de jantares de negócios, eventos de coquetel e reuniões de planejamento. Mello se adaptou rapidamente à nova vida social. Ele usava as roupas de alta costura que Jean-Pierre havia desenhado, e percebia que a imagem que ele projetava era de poder e profissionalismo.
Em um jantar com o diretor de marketing da Gucci, Mello descreveu os planos de cobertura da Solitare com a mesma precisão que havia demonstrado a Odette. Ele estava imerso no papel de representante da Solitare.
Uma noite, Mello e César estavam em um coquetel no centro de Paris. Eles conversavam com um editor de uma revista de arte quando Mello viu Mihael do outro lado do salão. Mihael estava vestido de forma simples, parecendo deslocado no meio da multidão de ternos caros e vestidos de grife.
Mello virou o corpo, evitando o olhar de Mihael. Ele não queria confrontos ou explicações. Mihael era parte do seu passado, um lastro que César o havia encorajado a deixar para trás.
César percebeu a mudança no corpo de Mello.
“Algum problema, Mello?” César perguntou, a voz baixa.
“Não, César. Apenas um rosto familiar,” Mello respondeu.
César seguiu o olhar de Mello, encontrando Mihael. César manteve a expressão neutra.
“Concentre-se no trabalho. Lembre-se do que conversamos sobre prioridades,” César disse.
Mello acenou com a cabeça. Ele voltou sua atenção para o editor, discutindo a sinergia entre a arte moderna e a moda. Ele ignorou a presença de Mihael, focando na aprovação de César.
Mais tarde naquela noite, enquanto voltavam para o apartamento de Mello, César falou sobre Mihael.
“Seu ex-namorado não parecia feliz,” César comentou.
“Ele não aceita a minha dedicação ao trabalho, César,” Mello respondeu, com um tom de finalidade na voz.
“O sucesso tem um preço, Mello. E você está disposto a pagá-lo. Isso me agrada,” César disse, colocando a mão na nuca de Mello e esfregando gentilmente, um gesto de conforto. Mello sentiu o toque de César e relaxou, aceitando a proximidade.
Mello percebeu que a rudeza de César no escritório tinha desaparecido, substituída por uma familiaridade e suavidade que ele não demonstrava com mais ninguém. Mello atribuía isso ao fato de que eles estavam em Paris, longe dos olhos da Solitare e do Conselho, e mais focados na colaboração para a Mostra de Moda.
Os rumores na imprensa continuavam, mas César parecia ter parado de se importar. Ele havia estabelecido Mello como seu braço direito inquestionável, e as fofocas agora serviam apenas para chamar a atenção para a Solitare.
Um dia, faltando pouco menos de quatro dias para a viagem, Mello foi na empresa terminar uma coisa pendente antes da reunião com um representante da Chanel. Ele estava revisando a lista de convidados para o evento de gala, garantindo que os nomes mais importantes da indústria estivessem presentes.
Mello estava concentrado nos documentos quando se levantou para ir até o filtro de água. Ele segurava a pasta de documentos na mão. O escritório estava agitado, com funcionários se movendo rapidamente, preparando os detalhes finais antes da viagem para Paris.
Mello estava perto do filtro de água quando uma mulher sem querer esbarrou nele. Ela estava com uma xícara de café na mão, e uma gota do líquido quente caiu na camisa branca de Mello.
A mulher, uma assistente da equipe de marketing que Mello não conhecia, ficou desesperada e pediu muitos perdões.
“Oh, meu Deus! Me desculpe, Senhor Mello! Eu sou tão desastrada!” a mulher disse, colocando a mão na boca em choque.
Mello olhou para a mancha. Era uma gota minúscula, quase imperceptível contra o tecido branco.
“Está tudo bem,” Mello disse, tentando tranquilizá-la. Ele não viu motivo para tanto drama. “É apenas uma gota. Não se preocupe.”
A mulher, no entanto, continuava visivelmente perturbada. Ela pegou um guardanapo de papel que estava no balcão e tentou limpar a mancha, mas Mello afastou a mão dela gentilmente.
“Sério, não é nada,” Mello repetiu, tentando sorrir para ela.
“Eu sinto muito. Eu sou muito nova aqui, e eu não queria causar problemas para o senhor,” a mulher disse, com a voz tremendo um pouco.
Mello achou a reação dela exagerada. Por que ela estava tão aterrorizada por causa de uma gota de café em sua camisa? Ele não era César, não a demitiria por um pequeno acidente.
Mello a observou por um momento, refletindo sobre o porquê ela teria agido assim. Ele pensou que talvez o ambiente de trabalho na Solitare fosse mais opressor do que ele percebia. Talvez os outros funcionários tivessem medo da proximidade de Mello com César, ou do novo status que ele tinha adquirido.
A mulher continuou pedindo desculpas, e Mello teve que dispensá-la para que ela voltasse ao trabalho.
“Vá, por favor. Eu não vou reportar isso. Está tudo bem,” Mello disse, com um tom final.
Ela saiu rapidamente, lançando um último olhar de desculpas para Mello.
Mello ficou olhando para o local onde a mancha estava, dando de ombros. Ele não podia perder tempo com acidentes triviais. Ele tinha uma reunião com a Chanel.
O resto do dia fora normal, normal nos padrões da Solitare. A reunião com o representante da Chanel foi muito boa. O representante, um homem elegante e reservado, discutiu os detalhes da colaboração em termos de acessórios e posicionamento de marca na Mostra de Moda.
César conduziu a reunião com a precisão habitual, mas Mello notou a suavidade com que César se dirigia a ele, pedindo sua opinião sobre a estética de um novo conjunto de joias que a Chanel estava lançando.
“Mello, o que você acha da cor do diamante neste colar? Ele complementa a linha de tecidos que Jean-Pierre escolheu para a Solitare?” César perguntou, mostrando a foto em um tablet.
Mello analisou a imagem. “O diamante tem um tom azulado que contrasta bem com os azuis-marinhos e cinzas que Jean-Pierre usou na minha coleção. Isso adiciona um elemento de luxo e sobriedade que se alinha com a imagem da Solitare,” Mello respondeu, escolhendo as palavras com cuidado.
O representante da Chanel acenou com a cabeça em aprovação. “Sua análise é precisa, Senhor Mello. Concordo plenamente.”
A reunião terminou com ambos os lados satisfeitos com a colaboração. A Solitare garantiria exclusividade na cobertura dos eventos da Chanel, e a Chanel forneceria acessórios de alta costura para os principais modelos e para Mello usar em eventos específicos.
Enquanto saíam da sala de reuniões, César colocou a mão no ombro de Mello. “Você se tornou inestimável, Mello. Você não apenas entende a logística, mas também a estética. Isso é raro.”
Mello sorriu, sentindo a aprovação de César. Ele estava feliz por ser útil e por ter conquistado a confiança de César.
“Eu me esforço para prever suas necessidades, César,” Mello disse.
“Você está fazendo mais do que prever. Você está moldando,” César respondeu.
Mello passou o resto da tarde organizando os últimos documentos e confirmando a reserva do hotel em Paris. Ele se sentia exausto, mas a satisfação do trabalho bem feito o impulsionava. Ele tinha alcançado um nível de envolvimento e reconhecimento que ele nunca tinha imaginado.
Ele saiu do escritório tarde da noite. O motorista de César o esperava para levá-lo para casa. Mello se recostou no assento do carro, sentindo o peso do cansaço. Os dias de trabalho intenso e os jantares formais estavam cobrando seu preço.
Em casa, Mello largou a pasta de documentos na mesa de centro. Ele estava muito cansado e seus braços quase nem funcionavam. Ele mal conseguia tirar o blazer. Ele se arrastou até a cozinha, a fome era uma dor incômoda no estômago, mas ele estava cansado demais para cozinhar.
Ele olhou para a geladeira. Um pacote de biscoitos parecia ser o máximo que ele conseguiria preparar. Ele decidiu pular a janta, pensando que dormir seria mais eficiente.
Ele se perguntou se era por isso que estava ficando tão magro. Mais do que ele já era. Ele se olhou no espelho do corredor. O terno de alta costura de Jean-Pierre escondia a perda de peso, mas ele percebeu que as bochechas dele estavam mais fundas. Ele estava se consumindo pelo trabalho, mas era um consumo que ele aceitava.
Mello foi tomar um banho se sentindo esquisito. Ele pensava em César e sentia vibrações estranhas. Ele estava feliz porque César o aprovava, porque eles iriam para Paris juntos, porque a mãe de César notou sua competência.
Ele tirou a roupa, jogando o blazer no chão. Ele olhou para a pequena mancha de café na camisa. Ele sorriu, lembrando-se da reação exagerada da assistente de marketing. Ele pensou que talvez as pessoas estivessem tão tensas na Solitare que qualquer erro, por menor que fosse, parecia um desastre.
Ele ligou o chuveiro e entrou na água quente, deixando o vapor preencher o banheiro. A água escorreu pela pele dele, levando consigo o estresse do dia.
Mello fechou os olhos. Ele visualizou a Mostra de Moda de Paris, as luzes, os flashes, ele ao lado de César. Ele seria a imagem de foco e dedicação, a armadura de seda que César havia criado para ele.
A mente de Mello vagava para César. Ele pensava na suavidade que César demonstrava agora, no toque no braço dele, na preocupação com o descanso de Mello. Era uma mudança de tratamento que Mello interpretava como aceitação total. Ele havia se tornado o braço direito, o trunfo.
Ele se sentia esquisito porque a intensidade da dedicação de César era quase palpável. Mello não entendia a profundidade dessa dedicação, mas ele a aceitava como uma prova de seu sucesso.
Ele sentia uma mistura de exaustão e euforia. Ele havia vencido. Ele havia provado seu valor, e o preço havia sido apenas o seu tempo pessoal e o seu relacionamento com Mihael. Um preço pequeno para o nível de acesso e poder que ele havia conquistado.
Mello saiu do banho, secando o cabelo rapidamente com uma toalha. Ele se enrolou em um roupão macio. Ele sentou-se na beira da cama. Ele estava cansado demais para assistir televisão ou ler. Ele só conseguia pensar no dia seguinte e nos preparativos finais.
Ele se lembrou da sensação do toque de César em sua nuca, o calor da mão dele. Aquele pequeno gesto valia mais do que o elogio público. Mello pensava em César e sentia um frio na barriga. Não era medo, era antecipação.
Ele era o projeto de César, e os projetos de César sempre davam certo.
Ele deitou-se na cama, olhando para o teto. As vibrações estranhas continuavam. Ele estava feliz porque César o aprovava, porque eles iriam para Paris juntos, porque a mãe de César notou sua competência. Ele era o antídoto. Ele era o escudo. Ele era Mello.
Ele fechou os olhos, mas o sono não vinha imediatamente. A mente dele estava ligada, revisando mentalmente a lista de tarefas. Ele precisava garantir que os voos e as reservas de hotel estivessem confirmados. Ele tinha que ligar para Jean-Pierre para confirmar a entrega das últimas peças. Ele precisava estar impecável.
Mello rolou na cama. Ele abriu os olhos. Ele se levantou e foi até a janela, olhando para a cidade silenciosa. Ele viu a luz do apartamento de César no horizonte. Ele imaginou César trabalhando, tão focado quanto ele.
Ele voltou para a cama. Ele se sentia estranhamente conectado a César, não apenas profissionalmente, mas em um nível que ele não conseguia nomear. Ele pensava no tempo que tinha passado com César, nas longas horas de trabalho, na cumplicidade que havia se formado. Era uma relação intensa e exclusiva.
Ele se forçou a relaxar. Faltavam apenas quatro dias. Quatro dias para Paris, quatro dias para o auge de sua carreira.
Ele finalmente fechou os olhos, o cansaço dominando-o. Ele adormeceu com a imagem do sorriso satisfeito de César em sua mente.
Mello acordou na manhã seguinte antes do despertador. Ele se sentiu revigorado. Ele se levantou e foi se vestir. Ele escolheu um terno azul-marinho, a cor que Jean-Pierre havia escolhido para transmitir seriedade e poder.
Ele estava terminando de amarrar a gravata quando a campainha tocou. Era muito cedo para o motorista.
Mello abriu a porta, encontrando Jean-Pierre, o estilista. Jean-Pierre carregava uma capa de roupa grande.
“*Bonjour*, Mello! Eu não pude esperar. Eu precisava garantir que as últimas peças estivessem perfeitas,” Jean-Pierre disse, entrando no apartamento.
“Jean-Pierre, são seis da manhã,” Mello comentou, surpreso.
“O trabalho espera por ninguém, Mello. Especialmente não para a alta costura,” Jean-Pierre disse, com seu sotaque francês carregado.
Jean-Pierre abriu a capa de roupa, revelando um sobretudo de seda cinza-claro. “Esta é a peça final. César me pediu para garantir que você tivesse uma peça que o destacasse na chegada a Paris. É leve, mas estruturada. A armadura final.”
Mello pegou o sobretudo. O tecido era incrivelmente macio. Ele vestiu o sobretudo e se olhou no espelho. Ele viu a imagem de um homem de negócios elegante e poderoso.
“É impecável, Jean-Pierre. Obrigado,” Mello disse.
“Eu estou investindo em você, Mello. Você é a imagem da Solitare, agora. E a imagem tem que ser perfeita,” Jean-Pierre disse, examinando Mello de cima a baixo.
Jean-Pierre ficou mais um tempo, ajustando o sobretudo e dando instruções sobre como Mello deveria se mover com a peça. Ele enfatizou a importância de manter a postura.
Quando Jean-Pierre finalmente saiu, Mello estava atrasado. Ele correu para terminar de se arrumar. Ele pegou a pasta e saiu do apartamento.
O motorista de César esperava por ele na rua.
No carro, Mello revisou a agenda do dia. Ele tinha uma reunião com o time de logística e uma última prova de roupa com Jean-Pierre.
Chegando na Solitare, o escritório estava ainda mais agitado. As pessoas se moviam com uma urgência que Mello já havia se acostumado.
Ele foi direto para o escritório de César. César ainda não tinha chegado. Mello aproveitou o tempo para organizar a mesa de César e preparar os relatórios.
Quando César chegou, ele estava com um humor excelente.
“Mello, a imprensa está em frenesi com a nossa lista de convidados. A cobertura de mídia social já está alta,” César disse, com satisfação.
“Eu garanti que os convites fossem enviados com rastreamento. Todos os principais editores confirmaram,” Mello respondeu.
“Excelente. Eu preciso que você finalize o relatório de despesas para o Conselho. Eu quero que eles vejam a eficiência do nosso investimento,” César disse.
O dia passou rapidamente, com reuniões de planejamento e conferências com a equipe de marketing em Paris. Mello estava no centro de tudo, respondendo a perguntas, fornecendo dados e tomando decisões em nome de César.
No final da tarde, Mello estava na mesa dele, revisando os dados de um contrato de publicidade, quando a porta do escritório de César se abriu.
“Mello, a papelada da Dolce & Gabbana precisa ser assinada. Você pode trazer para mim?” César pediu.
Mello se levantou e pegou a pasta. Ele caminhou até o escritório de César, a pasta na mão. Ele parou na porta, e César o olhou de cima a baixo.
“O sobretudo de Jean-Pierre. Caiu bem em você,” César disse, com aprovação.
“Ele o trouxe hoje de manhã. Ele queria garantir a perfeição,” Mello respondeu.
Mello entregou a pasta a César. César pegou a caneta e começou a assinar os documentos.
“Você está ansioso por Paris?” César perguntou, sem tirar os olhos do papel.
“Sim. É uma grande oportunidade,” Mello respondeu, mantendo a voz profissional.
César terminou de assinar, fechando a pasta. Ele olhou para Mello, e a expressão dele era intensa.
“Não é apenas uma oportunidade, Mello. É o seu palco,” César disse.
Mello sentiu o impacto da palavra. Palco.
César colocou a mão no braço de Mello novamente, um toque firme e prolongado. “Você está no centro do meu círculo de confiança. Não há mais dúvidas sobre sua posição.”
Mello acenou com a cabeça. Ele estava absorvendo o novo nível de proximidade e confiança.
“Nós temos um jantar com o editor-chefe da *Vogue* esta noite. Eu quero que você use aquele terno cinza que Jean-Pierre lhe deu. Ele realça seus olhos,” César disse.
“Eu vou me preparar,” Mello respondeu.
Mello voltou para sua mesa, sentindo-se exausto, mas determinado a não falhar. Ele terminou o relatório de despesas e o enviou para César.
Em casa, ele se preparou para o jantar. Ele vestiu o terno cinza, ajustando a gravata. Ele estava acostumado com as roupas de alta costura agora. Elas não eram apenas roupas; eram uma extensão de sua nova identidade.
O jantar com o editor da *Vogue* foi um sucesso. Mello participou da conversa, demonstrando seu conhecimento sobre as tendências da moda e a estratégia digital da Solitare.
César, novamente, foi suave com Mello. Ele o elogiava em público, chamando-o de seu ‘braço direito’ e ‘o futuro da Solitare’.
Voltando para casa, Mello sentiu as vibrações estranhas novamente. Ele estava tão imerso no mundo de César que a sua própria vida parecia ter desaparecido. Ele não tinha amigos, não tinha namorado, não tinha tempo para hobbies. Ele só tinha o trabalho.
Ele se deitou na cama, exausto. Ele pensou na mancha de café de manhã, na reação exagerada da assistente. Ele não conseguia entender o medo dela.
Mello estava feliz. Ele estava no caminho do sucesso. César o estava guiando, moldando-o.
Ele fechou os olhos. Ele estava cansado demais para cozinhar e por isso decidiu pular a janta, se perguntou se era por isso que estava ficando tão magro. Mais do que ele já era. Ele foi tomar um banho se sentindo esquisito, ele pensava em César e sentia vibrações estranhas, ele estava feliz porque César o aprovava, porque eles iriam para Paris juntos, porque a mãe de César notou sua competência.
Comments (0)
No comments yet. Be the first to share your thoughts!