Chapter 10: Um Minuto de Realização Mello se forçou a sair da cama, sentindo o corpo protestar contra o despertar precoce. O dia da viagem para Paris havia chegado, e a urgência do momento dissipava qualquer traço de cansaço. Ele se levantou e caminhou até o armário, ignorando os ternos de Jean-Pierre. Ele queria se sentir confortável para a longa jornada, mesmo que a viagem fosse de primeira classe. Ele abriu a gaveta de roupas casuais. Ele pegou um conjunto de moletom azul-marinho que havia pego emprestado da irmã há anos e nunca devolveu. Era macio e familiar, um contraste bem-vindo com a armadura de seda que ele usava diariamente. Ele vestiu a roupa simples, sentindo-se um pouco estranho. Nos últimos meses, ele havia se acostumado com a rigidez dos ternos de alta costura, com o caimento perfeito e a sensação de poder que as roupas lhe davam. Agora, com o moletom, ele parecia o Mello de antes, o garoto que Mihael conhecia, não o braço direito de César. Ele se olhou no espelho. Ele viu que o tecido macio do moletom escondia a perda de peso, mas o cansaço ainda estava evidente sob seus olhos. Ele amarrou os cadarços do tênis e pegou a mochila, revisando mentalmente os documentos que havia colocado nela: passaportes, reservas de hotel, e uma cópia de todos os relatórios confidenciais que César poderia precisar. Mello desceu até a portaria do prédio. O motorista de César já o esperava em um Mercedes-Benz preto, discreto, mas luxuoso. Ele entrou no carro, e o motorista fechou a porta silenciosamente. O carro seguiu pelas ruas de Paris, ainda calmas na manhã. Mello olhou para o banco ao lado dele. César ainda não estava ali. Ele pegou o celular para verificar se havia alguma mensagem de César, mas a tela estava limpa. O motorista parou em frente à residência de César, um prédio antigo e imponente no coração de Paris. Mello observou a arquitetura do lugar, percebendo a grandiosidade que cercava a vida de César. César saiu do prédio alguns minutos depois, vestindo um casaco de cashmere preto e calças de alfaiataria. Ele carregava uma mala de mão de couro. César abriu a porta do carro e entrou, sentando-se ao lado de Mello. Ele cheirava a um perfume caro e amadeirado. “Bom dia, Mello. Pronto para a batalha?” César perguntou, virando a cabeça para Mello e sorrindo. “Estou pronto, César,” Mello respondeu, fechando a mochila. César olhou para a roupa de Mello, examinando o moletom azul-marinho. Ele inclinou a cabeça, uma expressão de curiosidade no rosto. “Essa é uma escolha interessante para a viagem. Onde está o seu casaco de seda?” César perguntou. Mello encolheu os ombros. Ele sentiu uma pontada de nervosismo. Ele temeu que César o criticasse por não usar uma das peças de Jean-Pierre. “Eu peguei emprestado da minha irmã há um tempo. Achei bom para a ocasião, confortável para o voo,” Mello respondeu, olhando para as próprias mãos. César riu, um som baixo e agradável. “Eu concordo. Traz um tipo de nostalgia agradável. Lembra-me de quando o sucesso não era uma exigência, apenas uma esperança. É um bom contraste com a pressão que nos espera,” César disse. Mello sentiu o elogio como um impacto físico, uma onda de calor subindo pelo pescoço. Ele realmente não esperava que César elogiasse aquela roupa simples. Ele esperava uma crítica, um lembrete de que ele deveria estar sempre representando a Solitare, mesmo no carro, mesmo em um moletom. Ele sentiu o coração bater mais forte, uma batida rápida e irregular em seu peito. A aprovação de César, mesmo para uma roupa casual, significava muito para ele. César notou a reação de Mello. Ele deu uma risada curta, que Mello não conseguiu interpretar completamente. César estava rindo do nervosismo de Mello ou da sua satisfação? Mello não conseguia dizer, mas se sentiu satisfeito de qualquer maneira. “Você parece um estudante de férias, Mello. Mas não se engane, a partir do momento em que pousarmos, a armadura voltará,” César disse, com um tom de leveza na voz. “Eu sei, César. Eu tenho tudo pronto,” Mello respondeu, tentando controlar a respiração. O motorista seguiu para o Aeroporto Charles de Gaulle. Mello olhou pela janela. O sol da manhã iluminava os edifícios de Paris. Ele pensou que estava prestes a embarcar em uma jornada que mudaria sua vida, e que ele estava fazendo isso ao lado do homem que o havia moldado para esse momento. César pegou o celular e começou a digitar, mas não parava de lançar olhares para Mello. “Você revisou os documentos de patrocínio com a Dior pela última vez?” César perguntou, sem levantar a cabeça. “Sim. Os termos de exclusividade estão em ordem. Eu enviei um e-mail para a equipe de marketing em Paris com os pontos de contato atualizados,” Mello respondeu, puxando o celular para conferir o e-mail. César guardou o celular. Ele se virou completamente para Mello, apoiando o cotovelo no console central. “Nós teremos uma recepção discreta na chegada, mas a imprensa estará esperando por nós no saguão. Eles querem o nosso ‘show’,” César disse. Mello acenou com a cabeça. Ele sabia que os rumores eram o motivo dessa atenção. Ele era o novo foco da Solitare, o acessório de César. “Eu me preparei para as perguntas sobre a estratégia digital. Eu vou manter o foco no crescimento da Solitare e na importância da Mostra de Moda,” Mello respondeu. “Perfeito. Mantenha a calma. Mantenha a postura. Você é a imagem da competência, Mello,” César disse. O carro acelerou, e a paisagem urbana começou a dar lugar à infraestrutura do aeroporto. Mello pensou no que César havia dito. Ele era a imagem da competência. Ele havia trabalhado tanto para merecer essa descrição. Ele havia sacrificado Mihael, seu tempo livre, seu sono. Mas ali, sentado ao lado de César, sentindo o calor do corpo dele e a aprovação dele, Mello achava que o sacrifício valia a pena. O carro parou na área de embarque executivo do aeroporto. Mello viu imediatamente o caos. Havia uma multidão de jornalistas, fotógrafos e alguns influenciadores digitais, todos com câmeras apontadas para a entrada. Eles formavam um cordão humano barulhento, esperando a chegada de celebridades e executivos da moda. Mello sentiu o estômago embrulhar. “Parece que eles vieram em peso,” Mello comentou, sua voz um pouco mais baixa do que o normal. César sorriu, um sorriso que Mello interpretou como satisfação. “Eles estão famintos por conteúdo. E nós vamos dar a eles o que eles querem.” O motorista saiu do carro para abrir a porta de César. César colocou a mão no ombro de Mello. “Respire fundo, Mello. É apenas um show,” César disse. Mello assentiu. Ele viu o motorista de César abrir o porta-malas para pegar as malas. Mello abriu a porta do carro e saiu, sentindo o ar fresco da manhã em seu rosto. No momento em que ele colocou o pé no chão, as câmeras começaram a disparar, e o som dos flashes era ensurdecedor. Mello sentiu a hesitação. O caos da multidão parecia opressor. Ele não estava acostumado a tanta atenção direta. Ele era o secretário, o homem por trás das cortinas. Agora, ele estava no palco, exatamente como César havia prometido. Ele parou por um breve momento, olhando para a massa de pessoas gritando perguntas. César saiu do carro e imediatamente colocou a mão na cintura de Mello, um toque firme e possessivo. O calor da mão de César através do tecido fino do moletom deu a Mello a coragem de que ele precisava. “Mantenha o ritmo, Mello. Não olhe para eles. Olhe para a frente,” César sussurrou perto do ouvido de Mello. Mello começou a andar, seguindo César. César guiava Mello com a mão na cintura, mantendo-o perto. Mello sentiu o corpo de César pressionando o dele, uma barreira contra o frenesi da imprensa. Os jornalistas gritavam perguntas sobre a Solitare, sobre a Mostra de Moda e, inevitavelmente, sobre o relacionamento deles. “Senhor Marchetti, os rumores são verdadeiros? Você e o Senhor Mello estão em um relacionamento?” “Senhor Mello, qual é o seu papel exato na Solitare?” Mello manteve a cabeça erguida, lembrando-se das instruções de César: não reagir. Ele focou no caminho à frente, nos portões de vidro do aeroporto. César continuou a andar, protegendo Mello. Ele não respondeu a nenhuma pergunta sobre a vida pessoal, mas fez um breve comentário sobre a importância da Solitare na moda. “A Solitare está pronta para a Mostra de Moda. Nós vamos estabelecer um novo padrão de cobertura digital,” César disse, com a voz alta e confiante. Mello sentiu que o simples ato de caminhar pelo saguão do aeroporto se transformou em um evento de relações públicas. O toque de César em sua cintura não era apenas um guia, era uma declaração de posse e confiança. A cada passo, Mello sentia a adrenalina. Ele via os flashes, as lentes das câmeras, mas ele estava focado no toque de César. O moletom simples que ele usava era contrastado pela postura poderosa de César e pela roupa elegante dele. Mello percebeu que a roupa simples o fazia parecer ainda mais vulnerável e, portanto, mais interessante para a imprensa. César sabia o que estava fazendo. Ele estava criando uma narrativa visual: o executivo poderoso e seu jovem, dedicado protegido. Eles chegaram à entrada do aeroporto, onde a segurança os esperava. Os seguranças abriram caminho, e Mello e César entraram no prédio, deixando o caos dos jornalistas para trás. No saguão do aeroporto, a calmaria era temporária. O saguão estava lotado de viajantes, mas a maioria eram pessoas de negócios ou outros passageiros. No entanto, Mello notou que havia um grupo de pessoas, claramente ligadas à Solitare ou à indústria da moda, que os observavam. Ele viu alguns rostos familiares da equipe de logística e alguns editores de outras revistas que já haviam interagido com a Solitare. Mello sentiu o corpo relaxar um pouco. Ele tirou a mão de César de sua cintura, mas César a substituiu por um toque firme em suas costas, incentivando-o a continuar andando. “Ainda não acabou, Mello. O show continua,” César disse, em tom de brincadeira. Eles caminharam em direção à área de check-in da primeira classe. Mello pegou os passaportes de dentro da mochila e os entregou a César. Enquanto esperavam na fila, Mello viu uma mulher com um tablet, tirando fotos discretamente. Ele percebeu que a imprensa não estava apenas do lado de fora. César se inclinou para Mello. “A imprensa digital é implacável. Mas a presença é poder. E nós temos poder,” César disse. Mello acenou com a cabeça. Ele estava absorvendo a lição de César sobre a mídia. O controle da narrativa era fundamental. Quando chegaram ao balcão, a atendente sorriu para César. “Senhor Marchetti, é um prazer tê-los a bordo. Seus assentos na executiva estão prontos. Podemos pegar suas malas?” a atendente perguntou. “Sim. Mello, você pode confirmar com o motorista que ele cuidou das bagagens?” César pediu. Mello pegou o celular e ligou para o motorista, confirmando que as malas haviam sido despachadas e que ele já estava a caminho de volta. “Tudo certo, César,” Mello respondeu, guardando o celular. César pegou os cartões de embarque e os entregou a Mello. “Vamos passar pela segurança. Mantenha o foco, e não se perca,” César disse. A segurança foi rápida. Mello teve que tirar o moletom e o tênis para passar pelo scanner. Quando ele vestiu a roupa de novo, César estava esperando por ele, impaciente, mas com a paciência característica que só demonstrava a Mello. “Rápido, Mello. Nós temos um lounge para esperar, mas eu quero evitar a multidão,” César disse. Eles caminharam pelo corredor de embarque. Mello sentiu os olhos das pessoas sobre eles. O contraste entre o traje simples de Mello e a elegância de César atraía olhares. Mello se sentia como um troféu, exibido ao lado de seu conquistador. Eles chegaram à sala VIP da companhia aérea. O lounge era luxuoso e silencioso, um refúgio do caos do aeroporto. César apontou para uma poltrona de couro. “Sente-se. Eu vou pegar um café para nós.” Mello sentou-se na poltrona, sentindo o alívio de estar fora da vista do público. Ele tirou a mochila e a colocou no chão. Ele fechou os olhos por um momento. César voltou com duas xícaras de café. Ele entregou uma a Mello. “Beba. Você parece que não dorme há dias,” César disse. “Eu estou bem. Apenas a adrenalina,” Mello respondeu, pegando a xícara. O café era forte e quente. César sentou-se na poltrona ao lado de Mello. Ele pegou o celular e começou a revisar alguns e-mails. Mello bebeu o café, sentindo a cafeína percorrer seu corpo. Ele observou César, concentrado no trabalho, mesmo ali. “Nós teremos uma reunião com a equipe de relações públicas da Chanel assim que chegarmos. Eles querem discutir a cobertura exclusiva,” César disse, sem tirar os olhos do celular. “Eu tenho as notas da nossa última reunião. Eu posso preparar um resumo dos pontos-chave,” Mello respondeu, pegando a mochila para buscar o notebook. César colocou a mão no braço de Mello, impedindo-o de abrir a mochila. “Descanse, Mello. Você precisa estar no seu melhor. Nós temos um voo longo. Nós podemos trabalhar no avião,” César disse. Mello parou, surpreso com a insistência de César para que ele descansasse. Ele colocou a mochila no chão novamente. “Obrigado, César,” Mello disse. César sorriu levemente. Ele guardou o celular. Ele pegou a própria xícara de café. “Nós estamos no controle, Mello. Em Paris, você será a minha voz. A sua precisão é a minha vantagem,” César disse. Mello sentiu a responsabilidade e a honra da declaração. Ele era a vantagem de César. Ele havia se tornado indispensável. Eles ficaram em silêncio por um tempo, apenas bebendo café e observando o movimento discreto do lounge. Mello percebeu que César estava genuinamente tranquilo, uma raridade. O caos da imprensa havia passado, e o controle estava de volta nas mãos deles. Mello pensou na reação exagerada da assistente de marketing que havia derramado café nele. Ele percebeu que o medo dela era real, um reflexo do ambiente de trabalho opressor que César havia criado. Mas para Mello, o medo havia se transformado em motivação. Ele não temia César; ele buscava a aprovação dele. Um funcionário do aeroporto se aproximou da poltrona deles. “Senhor Marchetti, o seu voo está pronto para embarque,” o funcionário disse. César se levantou, e Mello se levantou imediatamente. “Vamos, Mello. O nosso palco espera,” César disse. Eles seguiram o funcionário para o portão de embarque. Eles foram os primeiros a entrar no avião. A aeronave era um Boeing 777. O funcionário os guiou para a cabine da primeira classe, que era luxuosa e espaçosa. Eles passaram pela cortina e entraram na seção executiva. Mello olhou para o assento dele. Era uma poltrona grande e confortável, que se transformava em uma cama. Havia uma tela de entretenimento e um kit de amenidades. César apontou para o assento da janela. “Aquele é o seu, Mello. Eu vou ficar ao lado.” Mello sentou-se no assento. Ele estava animado. Ele nunca tinha viajado de primeira classe. Ele apertou um botão e o assento reclinou ligeiramente. César se sentou ao lado dele. Ele colocou a mala de mão no compartimento superior. “Nós teremos privacidade aqui. Podemos trabalhar e descansar. Não se preocupe com o resto do voo,” César disse. Mello olhou para a janela. Ele viu o movimento dos carros no aeroporto, os aviões decolando e pousando. A aeromoça se aproximou. “Posso lhes oferecer uma taça de champanhe?” “Não, obrigado. Apenas água para mim,” César respondeu. “Eu também. Água, por favor,” Mello disse. A aeromoça serviu a água e se afastou. Mello se encostou no assento, sentindo o luxo e o conforto ao seu redor. Ele olhou para César, que estava relaxado, lendo a revista de bordo. O avião começou a se mover, e Mello sentiu a vibração da aeronave. Ele olhou pela janela, vendo a pista se aproximar. Ele fechou os olhos por um breve momento. Ele sentiu o quanto tudo tinha mudado. Ele estava no caminho do sucesso, ao lado de César, indo para Paris. Ele era o braço direito, o trunfo. Ele havia conquistado seu lugar. Mello abriu os olhos. Ele olhou para César, que sorriu para ele. “Você está em casa, Mello,” César disse. Mello se encostou no assento, finalmente percebendo o quanto tudo tinha mudado. Ele estava na classe executiva, a caminho do auge de sua carreira. Ele estava ali, ao lado de César, e o mundo estava esperando por eles. Ele havia chegado ao seu lugar.

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