Chapter 8: A Mesa de Jantar e o Círculo Interno Mello estendeu a mão para Odette Marchetti, a surpresa ainda estava no rosto dele. Odette apertou a mão de Mello, o aperto dela era firme e acolhedor. Mello sentiu a suavidade do couro da luva de Odette, percebendo a qualidade da peça que a mulher usava. Ele tentou rapidamente recompor a expressão para manter a imagem profissional que César esperava dele. “Madame Marchetti, é um prazer conhecê-la,” Mello disse, mantendo a voz uniforme. Odette sorriu para Mello, e ele percebeu que ela o examinava com atenção. Aquele olhar não era de mera cortesia social, mas de avaliação. “O prazer é meu, Mello. César me fala muito sobre você,” Odette disse. Ela gesticulou para a cadeira ao lado dela, convidando Mello a se sentar. “Por favor, sente-se. Eu quero ouvir tudo sobre o seu trabalho.” Mello sentou-se na cadeira. Ele sentiu-se como uma peça central em um jogo de xadrez de alta complexidade. Ele estava em um jantar de negócios, mas a diretora da revista concorrente era a mãe de César, e Odette era claramente uma figura de poder na indústria. Mello percebeu que a discrição e a precisão eram cruciais naquele momento. César sentou-se na cabeceira da mesa. O garçom se aproximou, e César pediu champanhe, gesticulando para que Mello e Odette fossem servidos primeiro. “Mello, Odette está muito interessada nos preparativos para Paris,” César disse, lançando um olhar de incentivo para Mello. César parecia relaxado, mas Mello sabia que cada palavra dita na mesa seria analisada. Odette inclinou-se ligeiramente na direção de Mello, mostrando um interesse genuíno. “César me disse que você está coordenando a logística da Solitare para a Mostra de Moda,” Odette começou, o tom dela era inquisitivo. “*La Vie Élégante* está enviando uma equipe de dez pessoas. A Solitare está planejando algo diferente este ano? Eu soube que a Chanel está investindo pesadamente no seu evento de gala.” Mello ajustou a postura na cadeira. Ele tinha revisado os documentos confidenciais sobre a estratégia de Paris e a alocação de orçamento da Solitare. “A Solitare está focando na exclusividade, Madame Marchetti,” Mello respondeu, escolhendo as palavras com cuidado. “A coordenação logística está centralizada em eventos menores e mais seletivos, em vez de grandes coberturas de imprensa. Estamos reduzindo a equipe de reportagem para focar em conteúdo de vídeo exclusivo, que será lançado simultaneamente nas plataformas digitais.” Odette ergueu uma sobrancelha, interessada. “Interessante. A alocação de orçamento para mídia social está mais alta, então?” Mello acenou com a cabeça. “Sim. O César instruiu um aumento de quarenta por cento no orçamento de otimização de conteúdo visual. Acreditamos que a presença digital de alta qualidade, em tempo real, terá um impacto maior do que a cobertura tradicional.” César sorriu, pegando a taça de champanhe. Mello notou o leve aceno de aprovação de César. Mello havia citado dados e estratégias que só o círculo interno da Solitare conhecia. Odette deu um gole no champanhe, olhando para Mello por um momento. “Você revisou os documentos de alocação de orçamento?” Odette perguntou. “Eu organizei todos os resumos e relatórios de risco para César. Ele precisa ter uma visão concisa de todas as frentes,” Mello disse. Ele não precisou dizer que os documentos eram confidenciais. A própria Odette sabia a natureza do trabalho de Mello. “A precisão é tudo, não é, César?” Odette comentou, olhando para o filho. “A precisão de Mello é insubstituível. Ele internaliza os objetivos da Solitare como se fossem dele,” César disse, a voz dele estava cheia de satisfação. “Ele me poupa horas de trabalho.” Odette voltou a atenção para Mello. “E quanto ao seu papel em Paris? Eu ouvi dizer que você será o representante principal ao lado de César. Isso é um movimento ousado, dada a sua posição de secretário.” Mello sabia que Odette estava testando a lealdade dele. “Eu serei a extensão da Solitare, Madame Marchetti. Eu representarei a imagem de foco e dedicação que a Solitare quer projetar,” Mello disse, lembrando-se das palavras que César havia usado para descrever o novo guarda-roupa. “Jean-Pierre desenhou uma série de trinta e cinco trocas que complementam a visão de César. É uma declaração estética de poder.” Odette riu levemente, um som elegante. “Trinta e cinco trocas? Jean-Pierre está mimando você. Ele tem um bom olho. Ele sempre soube como vestir o poder.” O garçom trouxe os cardápios. Odette pediu um peixe grelhado, e César pediu um prato de carne. Mello, sentindo o olhar de César, pediu o mesmo que Odette, mostrando discrição e foco no ambiente. Enquanto esperavam pelos pratos, Odette continuou a sondar Mello sobre o trabalho. Mello descreveu a logística das reuniões do dia com precisão, mencionando as negociações com a Chanel sobre os acessórios e as observações que havia feito sobre o blazer de César no ateliê de Jean-Pierre. “Você tem um olhar excelente, Mello,” Odette disse. “César sempre precisou de alguém com senso estético apurado ao seu lado. Ele tende a se concentrar demais na estratégia e negligencia a imagem pessoal. Você corrige isso.” “Eu me esforço para garantir que a imagem de César e da Solitare seja impecável em todos os aspectos,” Mello respondeu, mantendo o foco no profissionalismo. César interrompeu, mudando o assunto para um novo projeto de patrocínio que a Solitare estava considerando. Ele e Odette mergulharam em uma discussão detalhada sobre a viabilidade do projeto, usando terminologia de negócios que Mello acompanhava atentamente, tomando notas mentais sobre os pontos cruciais. Mello percebeu que Odette não era apenas a mãe de César, mas uma empresária afiada que comandava uma das maiores revistas de moda da Europa. O jantar era uma extensão de uma reunião de diretoria, e Mello estava ali, no meio. “...E quanto à imprensa, César?” Odette perguntou, em um momento de pausa na discussão sobre o patrocínio. Odette mudou o tom, tornando-o mais sutil e pessoal, mas Mello notou a tensão na voz dela. Mello percebeu que Odette abordava os rumores que haviam dominado as manchetes. Ele manteve a expressão neutra, mas a atenção dele se intensificou. “Você está cuidando de sua imagem, meu filho? A imprensa está obcecada com a sua vida pessoal. Isso afeta o Conselho, você sabe,” Odette disse, olhando para César, mas lançando um olhar rápido para Mello. César pegou o copo de água e tomou um gole. “Mello é o antídoto para o caos, Mãe,” César respondeu, a voz dele era firme e confiante. Mello sentiu o impacto da palavra. Antídoto. “Mello traz o foco de volta para o trabalho. Ele é a definição de lealdade e eficiência. A imprensa pode especular o que quiser, mas a performance de Mello fala por si. Ele é o meu escudo, profissionalmente falando,” César continuou. “Se eles me atacam por ter um secretário tão dedicado, isso é problema deles, não nosso.” Odette sorriu, e o sorriso dela era de aprovação total. “Um escudo de seda, aparentemente,” Odette comentou, referindo-se ao guarda-roupa de Paris que Mello havia mencionado. Mello sentiu uma onda de satisfação percorrer o corpo. César o havia defendido de forma concisa e estratégica, transformando a fofoca em uma prova da dedicação de Mello. Mello percebeu que o sucesso dele não era apenas sobre o trabalho, mas sobre a percepção. César estava usando Mello para projetar uma imagem de controle e foco inabalável, mesmo diante de rumores. Odette fez mais uma pergunta sobre a alocação de capital da Solitare, e César a respondeu, entrando em detalhes sobre a estratégia de investimento em novos mercados. Mello notou que Odette fazia perguntas que demonstravam um conhecimento profundo sobre as operações internas da Solitare. Ela era uma força a ser reconhecida, e Mello percebeu que a aprovação dela era um carimbo de validação no seu novo status. Mello havia passado os últimos meses lutando por uma chance na Solitare, tentando provar a César que ele era útil. Agora, ele estava no centro do círculo de poder de César, validado pela própria matriarca da família Marchetti e diretora de uma revista concorrente. Mello lembrou-se da discussão com Mihael na noite anterior, das palavras amargas que havia trocado com ele. Mihael havia acusado César de consumi-lo. Mello agora via o consumo como um privilégio. Ele estava sendo moldado para o sucesso, e Mihael era o único a ficar para trás. O jantar continuou. Os pratos principais chegaram. Mello comeu o peixe com discrição, participando da conversa apenas quando Odette ou César o chamavam. Em um momento, Odette perguntou a Mello sobre o relacionamento dele com Jean-Pierre. “Jean-Pierre me disse que você tem uma compreensão intuitiva da alta costura, Mello. Ele disse que você fez observações sobre as mangas do meu vestido de gala que ele não tinha notado,” Odette disse, olhando para o vestido de seda azul-marinho que usava. “Eu apenas observei o caimento do tecido, Madame Marchetti. O ombro de César é mais angular, e eu me concentrei em garantir que o corte refletisse a precisão dele,” Mello explicou. “Você transferiu sua atenção aos detalhes para a estética. É uma habilidade rara,” Odette disse, sorrindo. “César, você precisa garantir que Mello continue a desenvolver esse ‘olho’. Ele é um ativo.” César olhou para Mello. “Eu sei, Mãe. Mello é o meu projeto.” Mello sentiu um calor no peito. Ele era um projeto. Um projeto de sucesso. Eles discutiram a política editorial da *La Vie Élégante* e da Solitare, comparando as abordagens para a cobertura da moda. Mello tomou notas mentais, absorvendo o conhecimento sobre a indústria. Ele estava aprendendo em uma única noite mais do que leria em meses de relatórios. Odette mencionou o Conselho da Solitare, e Mello percebeu que ela tinha influência significativa sobre as decisões da revista de César. Odette não estava apenas interessada na vida pessoal de César, mas em garantir que a Solitare continuasse a ser um império. A presença de Mello ali era a forma de César mostrar a Odette que ele tinha tudo sob controle, e que o secretário dele era mais do que um assistente, mas um parceiro de confiança. O jantar se aproximava do fim. Odette e César pediram café, e Mello, seguindo o exemplo de discrição, pediu uma água. Odette virou-se para Mello. “Mello, eu estou muito satisfeita com o que ouvi. Você é exatamente o tipo de pessoa que César precisa ao lado dele: focado, leal e com uma visão clara do que a Solitare representa,” Odette disse. Mello agradeceu o elogio, sentindo a importância daquelas palavras. “Eu me dedico totalmente à Solitare e a César,” Mello respondeu. “Eu sei que sim. A imprensa pode ter dúvidas, mas o trabalho de vocês fala por si. Eu desejo a você boa sorte em Paris. Eu estarei lá, é claro, mas espero vê-lo em eventos sociais da Solitare. Agora que você faz parte do círculo interno, você não pode se esconder,” Odette disse, o sorriso dela era convidativo. Mello sentiu a palavra: ‘círculo interno’. Ele havia rompido a barreira da secretária e do assistente. Ele estava agora no topo, aceito pela família de César. César se levantou, e Odette também. Eles se despediram com um abraço. César e Mello deixaram o restaurante. Do lado de fora, os paparazzi ainda estavam presentes, embora em menor número. César colocou a mão nas costas de Mello e o guiou em direção ao carro. Mello ignorou os flashes das câmeras, mantendo o foco. Eles entraram no carro preto de César. O motorista deu partida e dirigiu para o apartamento de Mello. Mello soltou o ar que segurava, sentindo o peso da tensão aliviado. “Você foi impecável, Mello,” César disse. Ele estava sentado ao lado de Mello, olhando para ele com satisfação. Mello sorriu, sentindo a adrenalina do sucesso. “Eu me preparei. Eu sabia que precisava demonstrar o conhecimento dos documentos confidenciais,” Mello respondeu. César riu, um som genuíno e relaxado. “Você passou no teste da minha mãe. Isso vale mais do que qualquer reunião de diretoria. Odette não confia em ninguém que não seja totalmente devotado à Solitare e à família. Você a convenceu de que você é o ‘antídoto’,” César disse. “Ela não vai mais se preocupar com os rumores.” Mello sorriu, sentindo que o sacrifício de seu relacionamento com Mihael havia sido validado pelo acesso a esse novo nível de poder.

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