## Capítulo 9: O Dilema do Imposto e o Rei Desesperançoso
O guarda encontrou Matt e Luther sentados no banco de pedra, e ele transmitiu a ordem de Randal para que o filósofo fosse ao escritório do Rei. Luther parecia mais calmo depois da conversa no jardim, mas ele estava apreensivo, porque Valerius tinha acabado de sair dali. Matt se levantou, e ele acalmou o menino, dizendo que voltaria em breve, e que a conversa seria apenas sobre a permanência deles no castelo.
Matt seguiu o guarda pelos corredores silenciosos. O castelo era uma máquina de formalidade, e cada passo ressoava nas paredes de pedra, o que era um contraste com o silêncio da natureza que Matt apreciava. A ala de serviço, onde ele estava hospedado, ficava perto dos escritórios da Coroa, o que era uma proximidade perigosa para um homem que não queria se envolver em política.
Randal estava no seu escritório, e a sala era um caos organizado. Havia mapas espalhados pela mesa, e pilhas de documentos que pareciam estar prestes a desabar. O Rei estava sem os óculos, e ele esfregava as têmporas, o que era um sinal claro de que a pressão de Valerius tinha tido o seu efeito. Randal estava vestido com roupas simples, mas de alta qualidade, e ele parecia mais um estudante exausto do que um monarca poderoso.
Matt entrou, e o guarda fechou a porta silenciosamente. O silêncio na sala era pesado, e Matt esperou que Randal falasse primeiro.
“Sente-se, Matt,” Randal disse, e ele apontou para uma cadeira estofada que ficava perto da lareira, que estava apagada, mas que adicionava um toque de conforto ao ambiente austero.
Matt sentou-se. Ele sabia que a conversa seria um seguimento direto do confronto com Valerius.
“Lorde Valerius me deu um ultimato,” Randal começou. “Ele exige a sua remoção imediata. Ele o considera um risco à ordem do Reino, e ele usou a sua falta de erudição formal como argumento principal.”
Randal pegou os óculos sobre a mesa, e ele os colocou. O gesto era uma forma de se proteger do cansaço, mas também de se preparar para o que viria a seguir.
“Eu lhe disse que você ficaria. Eu prometi que você se concentraria apenas em Luther, e que não se envolveria em assuntos de estado,” Randal explicou, e ele estava a tentar justificar a sua decisão para si mesmo. “Mas Valerius é poderoso. Ele representa a tradição, e ele tem a capacidade de paralisar o Conselho se ele se sentir ameaçado.”
Matt acenou com a cabeça. Ele compreendia a dinâmica do poder. Valerius não estava a lutar contra Matt, ele estava a lutar contra a mudança que Matt representava.
“O senhor está a tentar acalmar o Conselheiro, mas ao mesmo tempo está a adiar a inevitável colisão,” Matt observou. “A minha presença aqui é uma contradição à ordem que Valerius representa. Ele não vai descansar até que eu me vá, ou até que o senhor prove que eu sou inofensivo.”
Randal suspirou, e ele inclinou-se para a frente, apoiando os cotovelos sobre a mesa.
“E é aí que entra o meu desafio,” Randal disse. “Valerius questionou a sua sabedoria, Matt. Ele disse que a experiência de rua é inútil para governar. Eu preciso de provar que ele está errado.”
Randal olhou para Matt, e a sua expressão era de um homem que estava a jogar a sua última carta.
“Eu tenho um dilema que me tem atormentado por semanas. É um problema prático, mas com ramificações morais profundas. Se você puder me dar uma resposta que seja filosoficamente sólida e praticamente viável, eu poderei usar isso como argumento para mantê-lo aqui, e para calar Valerius por um tempo.”
Matt inclinou-se para a frente, interessado. Ele não estava habituado a ser consultado sobre assuntos de estado, mas ele via a oportunidade de aplicar a sua filosofia à realidade.
“Diga-me o dilema,” Matt respondeu.
Randal pegou um pergaminho que estava separado dos outros, e ele o desenrolou. O documento tinha números e gráficos, e parecia ser um estudo financeiro.
“O Reino enfrenta um défice no financiamento da defesa das fronteiras. As províncias do norte têm sido alvo de incursões, e os custos de manutenção das guarnições aumentaram dramaticamente,” Randal explicou, e ele estava a falar como um cientista a apresentar dados. “Eu preciso de levantar fundos rapidamente. A minha equipa financeira propôs um novo imposto sobre o consumo de bens básicos.”
Matt franziu a testa. Ele já via o problema moral.
“Um imposto sobre o consumo de bens básicos afeta desproporcionalmente os mais pobres, que gastam a maior parte dos seus rendimentos em comida e vestuário,” Matt afirmou, e ele não precisava de gráficos para entender isso.
“Exatamente,” Randal confirmou. “Os meus conselheiros argumentam que é o imposto mais fácil de implementar e o que gera maior receita imediata, porque todos consomem. Eles dizem que é um mal necessário para garantir a segurança do Reino.”
Randal parou um momento, e ele olhou para o filósofo. “Mas se eu o implementar, eu estarei a aprofundar a desigualdade que já existe, e eu estarei a quebrar a promessa do meu pai de proteger os marginalizados.”
O dilema era clássico: a segurança do estado versus a justiça social. Randal estava paralisado entre a necessidade prática e a obrigação moral.
“Se eu não implementar o imposto, as fronteiras podem ceder, e o Reino inteiro estará em perigo. Se eu o implementar, eu estarei a condenar as classes mais baixas a uma miséria ainda maior. O que é o maior mal, Matt? A instabilidade do Reino, ou a injustiça para com os mais fracos?” Randal perguntou, e a pergunta era carregada de desespero.
Matt absorveu a informação. Ele compreendia que Randal estava à procura de uma resposta que resolvesse o problema sem comprometer os seus princípios.
“A sua equipa financeira apresentou outras opções?” Matt questionou. Ele precisava de todo o contexto antes de responder ao dilema moral.
“Sim, mas elas são mais lentas e menos eficientes,” Randal disse. “Podemos aumentar o imposto sobre a propriedade da nobreza, mas isso levaria a uma revolta no Conselho e a um processo burocrático longo. Podemos cortar gastos em projetos de ciência e educação, mas isso prejudicaria o futuro do Reino.”
Randal encostou-se na cadeira, e ele parecia resignado. “O imposto sobre o consumo é a solução mais rápida, mas a mais cruel.”
Matt pensou sobre o que Lena, a prostituta, tinha lhe ensinado sobre a dignidade da pobreza. Ele tinha visto a miséria de perto, e ele sabia que um aumento de imposto sobre o pão poderia significar fome real para muitas famílias.
“A sua questão é: podemos sacrificar a dignidade de muitos para garantir a segurança de todos?” Matt resumiu. “A filosofia nos ensina que a segurança sem justiça é tirania. O Reino que se constrói sobre a miséria dos seus cidadãos mais fracos é um Reino instável, mesmo que as suas fronteiras estejam seguras.”
Matt estava a abordar o problema do ponto de vista da fundação moral do estado. A estabilidade a longo prazo dependia da justiça interna.
“A instabilidade externa é visível e imediata. A injustiça interna é lenta, mas é corrosiva,” Matt explicou. “Se o senhor sobrecarregar os pobres, eles não terão lealdade ao Reino. E um Reino sem a lealdade dos seus cidadãos não tem defesa real, não importa quantos soldados o senhor tenha nas fronteiras.”
Randal estava a ouvir atentamente. O argumento fazia sentido, mas ele ainda precisava de uma solução prática.
“Mas como eu financio a defesa sem o imposto?” Randal perguntou. “A filosofia não paga soldados, Matt.”
“A filosofia paga soldados através da moralidade da decisão,” Matt corrigiu. “O senhor disse que aumentar o imposto sobre a nobreza causaria uma revolta. Mas qual é a causa dessa revolta? O medo de perder o privilégio, ou o medo de ser justo?”
Matt apontou para o problema central. A nobreza do Reino, que possuía a maior parte da riqueza, não estava a contribuir de forma proporcional para a defesa do estado.
“O Reino é rico, Randal. Eu vi a opulência dos jardins, e a vastidão deste castelo,” Matt disse. “A riqueza está concentrada. Se a nobreza se revoltar contra um imposto justo, então a sua prioridade não é a segurança do Reino, mas sim a manutenção do seu luxo.”
Matt sugeriu uma abordagem que desafiava a estrutura de poder. “O senhor precisa de usar a segurança das fronteiras como a justificação moral para exigir o sacrifício de quem pode pagar. Não é um imposto, é uma contribuição de guerra, e o fardo deve ser distribuído de acordo com a capacidade de suporte.”
Randal ponderou. A ideia era politicamente perigosa, mas eticamente correta.
“Valerius me paralisaria se eu propusesse um imposto severo sobre a nobreza,” Randal admitiu. “Ele argumentaria que a tradição proíbe tal interferência na propriedade privada dos grandes Lordes.”
“A tradição que oprime o povo não é digna de ser defendida,” Matt disse, e ele estava a ser direto. “O senhor é o Rei. O senhor tem o poder de redefinir o que é justo. O dilema não é entre a segurança e a justiça, mas sim entre a conveniência e a coragem.”
Matt tinha transformado o problema financeiro num problema de liderança moral. Randal precisava de decidir se ele seria o Rei da conveniência, ou o Rei da coragem.
Randal recostou-se na cadeira, e ele passou a mão pelo cabelo. Ele estava impressionado com a clareza da resposta de Matt, que vinha de uma perspetiva que não era ensinada nos livros de economia política.
“A sua perspetiva é radical, Matt,” Randal disse, e havia um misto de fascínio e medo na sua voz. “Se eu seguir o seu conselho, eu estarei a enfrentar a espinha dorsal da corte. Eles tentarão me derrubar.”
“O senhor já está a ser derrubado pela sua exaustão, Randal. E pela sua indecisão,” Matt respondeu. “O medo da reação é o que está a paralisar a sua capacidade de governar. O seu dever é proteger o Reino. E proteger o Reino significa proteger o seu povo, não os privilégios da sua corte.”
Matt tinha usado a sua sabedoria para intervir diretamente no governo, exatamente como Randal tinha pedido. A sua filosofia não era abstrata, era uma ferramenta para a ação.
Randal começou a fazer anotações apressadas no pergaminho, reestruturando os cálculos e a logística. Ele estava a considerar seriamente a proposta de Matt de exigir uma contribuição de emergência da nobreza, justificando-a com a crise das fronteiras.
Enquanto Randal estava focado nos números, Matt o observou com mais atenção. O Rei parecia estar a lutar contra algo mais do que apenas a política.
Matt percebeu a profundidade da fadiga de Randal. A pele sob os seus olhos, os normais, estava pálida, e os pequenos vincos ao redor da boca estavam mais pronunciados. A sua postura era de tensão constante, e os seus movimentos eram lentos, mas com uma energia nervosa.
Matt lembrou-se do que Randal tinha dito sobre os quatro olhos, e sobre a necessidade de extremo prazer ou conforto para que ambos os pares se fechassem.
“O senhor está muito, muito cansado, Randal,” Matt disse, e ele usou um tom de constatação, não de pergunta.
Randal levantou a cabeça. Ele estava acostumado a ouvir isso, mas a observação de Matt tinha um peso diferente.
“Eu estou, Matt. O trabalho nunca acaba,” Randal disse, e ele voltou para os pergaminhos.
Matt percebeu algo crucial na forma como Randal falava sobre o cansaço. Era como se ele aceitasse o estado de exaustão como uma fatalidade, e não como uma condição que poderia ser alterada.
“O senhor não precisa de estar assim. O senhor poderia dormir,” Matt afirmou.
Randal parou de escrever e olhou para Matt com uma expressão de ceticismo.
“Eu já lhe disse o meu segredo. Eu tenho a capacidade de alternar os olhos para não precisar de dormir. Mas o meu corpo não desliga completamente,” Randal explicou, e ele parecia impaciente. “Eu tenho tentado descansar, mas o meu corpo rejeita o sono. A minha mente está sempre a trabalhar, Matt.”
Matt percebeu que a capacidade de Randal de evitar o sono era, na verdade, uma prisão que ele mesmo tinha construído.
“O senhor não está a tentar descansar, Randal. O senhor está a fugir do descanso,” Matt corrigiu. “O senhor disse que os seus olhos só se fecham com extremo conforto. Isso significa que o seu corpo tem a capacidade de dormir. O que o impede é a sua mente.”
Matt estava a abordar o problema do ponto de vista psicológico. Randal tinha racionalizado a sua insônia como um traço genético, mas Matt via um mecanismo de defesa contra o peso das suas responsabilidades.
“O senhor está a usar a sua anomalia biológica como uma desculpa para o seu vício em trabalho, e para a sua incapacidade de se permitir a vulnerabilidade do conforto,” Matt disse. “O senhor não percebe que poderia dormir, porque o senhor se convenceu de que não tem tempo, e que o Reino precisa da sua vigília constante.”
Randal ignorou completamente a análise de Matt. Ele se levantou da cadeira, e ele começou a andar pela sala.
“Você não entende, Matt! Você vive de doações, você não tem a responsabilidade de um Reino sobre os seus ombros!” Randal exclamou, e ele estava a desabafar em alto tom.
“Eu não tenho tempo para o conforto! Eu não tenho tempo para o prazer! Eu tenho pilhas de documentos, eu tenho o Conselho a conspirar contra mim, eu tenho fronteiras a defender, e eu tenho Luther a precisar de atenção!” Randal continuou, e ele estava a falar rápido, a sua voz cheia de frustração reprimida.
“Eu sou um cientista, Matt! Eu sou o único que pode decifrar a logística dos grãos, e a química das novas armas! Se eu parar, o Reino para! Eu não posso simplesmente desligar a minha mente e dizer ‘agora eu vou dormir’!” Randal disse, e ele gesticulava com as mãos.
Matt observou a explosão de Randal. Ele era um jovem sob uma pressão imensa, e ele estava a usar o trabalho como um escudo contra o seu próprio sofrimento. A sua vigília constante era um sintoma da sua desesperança, da sua incapacidade de acreditar que alguém mais poderia cuidar do Reino enquanto ele dormia.
“O senhor parece uma criança teimosa, Randal,” Matt afirmou, e a franqueza da observação atingiu o Rei em cheio.
Randal parou de andar. Ele olhou para Matt, e a surpresa misturada com ofensa estava no seu rosto.
“Eu sou o Rei deste Reino!” Randal disse, tentando recuperar a autoridade.
“E o senhor está a agir como um menino que se recusa a comer a sopa porque acredita que não precisa dela,” Matt respondeu, mantendo a calma. “O senhor está desesperançoso. O senhor não acredita que o seu Reino sobreviverá se o senhor não estiver acordado a cada momento. Essa é a desesperança que o impede de dormir.”
Matt tinha usado a palavra que resumia o estado emocional de Randal. Desesperança.
“O senhor pode dormir, Randal. O seu corpo está a implorar por isso. O senhor está a ignorar o seu próprio ser, e está a usar a sua anomalia como uma desculpa para a sua teimosia,” Matt declarou.
O impacto da observação foi imediato. Randal baixou a guarda. Ele viu a verdade na análise de Matt, e a sua energia nervosa diminuiu. A sua postura relaxou ligeiramente.
Randal olhou para o chão por um momento, absorvendo a acusação de desesperança e teimosia. Ele reconheceu a validade das palavras de Matt, porque a exaustão o estava a tornar irracional.
“E como é que eu durmo, então, Matt?” Randal perguntou, e a sua voz estava mais baixa, e mais vulnerável. “Se você diz que a minha mente está a impedir o meu corpo, como é que eu desligo a minha mente? Eu não sei como me dar conforto, e o prazer é um luxo que eu não posso pagar.”
Randal estava a ceder. Ele estava a pedir ajuda ao filósofo, não como Rei, mas como um homem exausto.
Matt sabia que a resposta não estava na filosofia complexa, mas na simplicidade da experiência humana. Ele tinha visto a prostituta encontrar conforto na generosidade e na esperança. O conforto não era um luxo, era uma necessidade.
Matt tinha acabado de ganhar o seu primeiro desafio intelectual, e ele tinha desarmado o Rei. Ele precisava de responder à pergunta de Randal de forma a não apenas o fazer dormir, mas também a fazê-lo reconectar-se com a sua humanidade, o que era a raiz do seu problema com Luther. A resposta estava ligada ao que o Rei considerava como “extremo conforto” e como alcançá-lo sem as exigências da realeza.
Matt ponderou, e ele olhou para Randal, que esperava ansiosamente. Ele estava prestes a dar ao Rei uma lição sobre a dignidade do descanso e a simplicidade da satisfação. A resposta não seria uma técnica, mas uma mudança de perspetiva.
Randal estava pronto para ouvir.
Matt estava pronto para falar, mas ele sabia que o momento era crucial, e ele precisava de ser preciso. Ele tinha de guiar Randal para fora da sua própria prisão mental, e ele precisava de usar a sua própria história como um exemplo.
“O senhor me perguntou como se permite o sono, e a resposta está na sua definição de conforto,” Matt começou. “O senhor associa o ‘extremo conforto’ com o prazer inacessível. Mas o conforto real não é uma extravagância, é a ausência de luta.”
Matt estava a desmontar a ideia de que Randal precisava de algo grandioso para dormir.
“A sua mente está a lutar contra o Reino. Ela está a lutar contra Valerius. Ela está a lutar contra a sua própria biologia. O sono virá quando o senhor permitir que a luta pare,” Matt explicou. “E a luta só para quando o senhor encontra um momento de certeza, um momento em que o senhor acredita que o mundo não vai desabar se o senhor fechar os olhos.”
Randal estava a absorver cada palavra.
“O senhor tem a capacidade de alternar os olhos para se manter acordado, mas essa não é a sua única capacidade. O senhor também tem a capacidade de confiar. E a confiança é a porta para o conforto,” Matt continuou.
Matt estava a falar sobre a confiança no seu próprio valor, e a confiança na capacidade do seu Reino de sobreviver à sua ausência temporária.
“O senhor precisa de encontrar um momento de absoluta inutilidade, Randal. Um momento em que o senhor não está a ser o Rei, nem o cientista, nem o irmão responsável. Um momento em que o senhor é apenas um homem, e o seu único propósito é o descanso,” Matt disse.
Matt olhou para Randal, e a sua expressão era de genuína preocupação, mas também de autoridade moral.
“O senhor disse que o prazer é um luxo que não pode pagar. Mas o conforto é a sua dívida para consigo mesmo. É a forma de honrar a sua própria vida,” Matt afirmou.
Randal deu um passo em direção à mesa, e ele pegou o copo de água que estava lá, e ele bebeu lentamente. Ele estava a processar a ideia de que o descanso era uma honra, e não uma falha.
“E o que é esse momento de inutilidade, Matt? Onde é que eu o encontro no meio de todo este caos?” Randal perguntou, e a sua voz era um sussurro.
“O senhor já o encontrou, Randal. O senhor me convidou para ficar. O senhor me deu a tarefa de cuidar de Luther,” Matt disse, e ele apontou para a sua própria presença na sala. “O senhor me deu a permissão para partilhar a sua carga, mesmo que o senhor não o veja dessa forma.”
Matt estava a mostrar a Randal que o ato de delegar, de confiar em alguém, era o primeiro passo para o conforto.
“O conforto é a certeza de que a sua responsabilidade é temporariamente partilhada. E eu estou aqui. Eu sou o seu momento de inutilidade, Randal. Eu sou o homem que Valerius despreza, mas que pode lhe dar o sono que o senhor precisa,” Matt disse.
Randal olhou para Matt, e um vislumbre de esperança cruzou o seu rosto exausto. Ele estava a ver a sua salvação não na ciência ou na política, mas na filosofia de um andarilho analfabeto. A ironia era palpável, e Randal permitiu-se um pequeno sorriso.
“Você está a dizer que a sua presença é a minha prescrição para o sono?” Randal questionou, e ele estava a tentar entender a lógica.
“A minha presença, e a sua aceitação dela. A sua mente não vai desligar enquanto o senhor não se permitir que o seu Reino esteja em mãos seguras, mesmo que essas mãos não sejam as suas. O senhor precisa de um substituto moral para a sua vigília, e eu estou a aceitar esse papel,” Matt respondeu.
Matt tinha apresentado a sua estadia não como uma caridade, mas como uma função vital para a sobrevivência do Rei. Ele tinha elevado a sua posição no castelo acima da disputa com Valerius. Ele não era um tutor, ele era um catalisador para o descanso do Rei.
Randal compreendeu a profundidade da proposta. Não se tratava de fechar os olhos, mas de abrir a mente para a possibilidade de que o mundo continuaria a girar sem a sua intervenção constante.
O Rei estava a ponderar as implicações, e ele estava a sentir o peso da sua própria teimosia a diminuir.
Randal perguntou como ele poderia dormir.
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