## Capítulo 4: A Consciência Sob a Figueira Matt tinha o corpo coberto por terra e se mexia para alcançar o galho, o que exigia mais esforço do que ele inicialmente tinha planejado. Ele se agarrou à casca rugosa da figueira, puxando-se com a força dos braços e das pernas, e conseguiu se posicionar no ponto mais seguro do galho. A figueira era antiga, e seus galhos eram grossos e confortáveis, e Matt conseguiu se deitar ali. O vento soprava levemente, e as folhas da figueira balançavam, produzindo um som suave que era agradável. Matt não tinha cobertores, mas o terno dobrado na bolsa de Lena servia de travesseiro, e o calor que ele tinha acumulado durante a caminhada era o suficiente para mantê-lo aquecido. O filósofo olhou para o céu, e ele viu as estrelas, e elas eram infinitas. Ele não tinha um teto sobre a cabeça, mas o céu noturno era o seu. Ele pensou em Silas e na tentativa do cientista de quantificar a vida, mas Matt sabia que a experiência humana não podia ser colocada em gráficos ou em fórmulas. Ele tinha abandonado a casa de Silas, mas ele havia mantido a sua integridade, e isso era mais valioso do que qualquer cama macia. Matt fechou os olhos, e ele deixou que o cansaço do dia o tomasse, e ele adormeceu. O tempo passou sem que Matt percebesse, e a escuridão da noite era total quando ele despertou. A brisa da noite tinha ficado mais fria, mas Matt estava acostumado ao desconforto, e ele não se moveu. Ele abriu os olhos lentamente, e ele olhou para o céu. As estrelas estavam mais brilhantes agora, e o silêncio da noite era profundo. Matt ficou quieto, observando o ambiente, porque a vida na rua ensinou-lhe a nunca relaxar completamente. Ele moveu a cabeça com cautela, e ele olhou para baixo, na base da figueira. Havia uma silhueta ali, e ela estava parada, imóvel. Matt levou alguns segundos para processar a informação. A presença era pequena, e a luz fraca da lua era o suficiente para que Matt distinguisse o contorno de uma criança. A criança estava vestida com trajes que Matt reconheceu como sendo de alta costura, e as roupas pareciam ser caras, e a criança estava em um lugar que não combinava com o seu vestuário. Era um campo aberto, e a figueira era o único ponto de referência por quilômetros. Matt se perguntou o que uma criança rica estava fazendo sozinha no campo no meio da noite. Matt não queria assustar a criança, mas ele também não queria ficar no galho. Ele precisava descer, porque a sua posição elevada o tornava um observador, e não um participante. Ele começou a se mover lentamente, usando as pernas e os braços para descer do galho. Ele se agarrou ao tronco da figueira, e ele deslizou com a maior discrição que ele podia, porque ele era leve e silencioso. Ele pousou no chão de terra, e o som de seus pés tocando o solo foi quase inaudível. A criança não se moveu imediatamente. Ela estava olhando para a figueira, e parecia estar em um estado de profunda contemplação. Matt ficou a uma distância respeitosa, e ele esperou que a criança o notasse. O terno branco que Lena havia lhe dado era quase invisível na escuridão, mas a sua presença era inegável. A criança virou a cabeça devagar, e o movimento era deliberado, e ela parecia ter notado a presença de Matt antes que ele pousasse. O menino, porque Matt viu que era um menino, tinha cerca de seis anos de idade, e a sua postura era estranhamente formal para a sua idade. Ele usava um casaco de veludo escuro e calças bem cortadas, e as roupas pareciam ter sido feitas sob medida. O menino não demonstrou medo, e ele apenas olhou para Matt, e ele estava examinando o rosto do filósofo com uma intensidade incomum. Matt sustentou o olhar, e ele permitiu que o menino o estudasse. O silêncio se estendeu, e o único som era o grilo noturno e o vento. O menino falou, e a sua voz era baixa e clara, e ela não tremia. “Você se parece com ela,” o menino disse, e ele apontou para Matt. Matt não entendeu o que o menino queria dizer, e ele permaneceu em silêncio, porque ele sabia que o silêncio incentivava a confidência. “Minha mãe,” o menino explicou, e ele continuou a olhar para o rosto de Matt. “Eu só a conheci por pinturas, porque ela se foi antes que eu pudesse me lembrar. Mas as pinturas são todas brancas, e os traços dela eram assim, como os seus.” Matt finalmente percebeu o que o menino queria dizer. O terno branco que Lena havia lhe dado era o único que ele possuía, e a sua pele estava bronzeada pelo sol e pelo vento. O contraste era notável, e o menino havia associado a imagem de Matt com a memória de sua mãe. Matt observou o rosto do menino mais de perto. Ele viu que o menino tinha dois cortes simétricos, e eles estavam logo abaixo dos olhos, e pareciam ser feitos com um lápis preto ou com um pigmento escuro. Os cortes eram finos e precisos, e eles davam à criança uma aparência de profunda melancolia, e eles emolduravam o seu olhar. Matt se perguntou se o menino havia feito os cortes para parecer mais velho ou se eles tinham algum significado cultural. O menino tinha uma expressão de profunda tristeza, e ela era clara, apesar da sua juventude. Era uma tristeza que não era comum em crianças daquela idade, e ela era madura e pesada. Matt não disse nada. Ele caminhou até o tronco da figueira, e ele sentou-se no chão. Ele se encostou à casca, e ele fez um gesto de cabeça para o menino, e o gesto era um convite silencioso. Matt não estava forçando a interação, e ele estava apenas oferecendo um espaço de quietude. O menino hesitou por um momento, mas ele caminhou até Matt, e ele sentou-se ao lado do filósofo. Ele não falou, e ele apenas olhou para o campo aberto. O silêncio entre eles era confortável, e ele era cheio de compreensão não verbal. Matt estava pensando sobre o que o menino havia dito. O fato de o menino se parecer com a mãe falecida indicava que a mãe do menino era uma figura importante e que ela era de um círculo social elevado. As roupas do menino confirmavam essa impressão. Matt pensou sobre a dor do menino, e como a dor da perda era universal, e ela não respeitava a riqueza ou a pobreza. De repente, o menino se moveu. Ele se virou para Matt, e ele o abraçou. O abraço era inesperado, e ele era desesperado. O menino se agarrou à cintura de Matt, e ele escondeu o rosto no peito do filósofo. O abraço era um pedido de conforto, e Matt respondeu ao abraço com um gesto de aceitação. Ele colocou o braço em volta do menino, e ele o segurou com firmeza, mas com gentileza. O tempo passou novamente, e o silêncio era total. O menino estava quieto, e Matt estava quieto. O único som era a respiração deles e os sons da noite. Matt percebeu que o menino estava exausto, e o abraço era o que ele precisava para liberar a sua tensão. A tristeza que o menino carregava era visível, e o abraço era a forma dele de expressar o que ele não conseguia dizer com palavras. Matt pensou sobre a natureza da comunicação. Silas queria palavras e textos, mas o menino estava se comunicando com o corpo. O abraço era uma linguagem mais profunda do que qualquer tratado filosófico, e ele era uma expressão pura da necessidade humana. O corpo do menino relaxou no abraço de Matt, e Matt percebeu que o menino havia adormecido. O peso do corpo do menino era leve, e ele estava agarrado a Matt com a força da emoção contida. Com o sono, a tensão do menino se desfez, e Matt viu as lágrimas. Elas escorriam pelo rosto do menino, e elas eram silenciosas e puras. Eram lágrimas que ele não podia chorar enquanto estava acordado, e elas eram a liberação da sua dor. Matt permaneceu imóvel. Ele não tentou limpar as lágrimas do menino, e ele não tentou acordá-lo. Ele era o refúgio do menino, e ele era o calor que o menino precisava. Ele era o ombro para o choro, e ele era o silêncio que permitia a expressão da dor. Matt olhou para o céu estrelado. Ele estava meditando sobre a natureza da dor e do sofrimento. Ele tinha visto a dor da miséria, e ele tinha visto a dor da perda. A dor do menino era diferente da dor dos pobres, mas ela era igualmente real e profunda. O menino era um discípulo inesperado e silencioso, e ele estava ensinando a Matt uma nova lição sobre a condição humana. A sabedoria não estava apenas na observação da injustiça social, mas também na compreensão da dor individual, mesmo que ela estivesse vestida em veludo e seda. O mundo era o seu texto, e o menino era a página que Matt estava lendo.

Comments (0)

No comments yet. Be the first to share your thoughts!

Sign In

Please sign in to continue.