Chapter 16: O Conforto Inutilitário e o Aviso do Oráculo Randal e Matt caminhavam pelos corredores do castelo, o silêncio deles era apenas quebrado pelo som dos passos no chão de mármore. Matt percebia a urgência de Randal, porque ele apressava o passo para chegar aos seus aposentos, e Matt não conseguia ignorar o anel de sinete que ele usava no dedo. O anel era uma prova física da sua nova posição, um símbolo da aliança que tinha sido forçada pela necessidade e pela política. “Este castelo é muito maior do que parece por fora,” Matt comentou, tentando desviar a sua mente da tensão. Randal riu, mas a risada dele era forçada, e não vinha do prazer. “É uma prisão dourada, Matt. Cada corredor é uma lembrança das minhas responsabilidades. E, francamente, um lembrete do quão longe estou de conseguir um sono decente.” Eles chegaram à porta dos aposentos reais, que era uma porta maciça de carvalho, e dois guardas estavam de guarda. Os guardas endireitaram-se, porque eles reconheceram o Rei e o seu novo Consorte, e eles abriram a porta rapidamente. Os aposentos de Randal eram espaçosos, e eles eram decorados com luxo, mas o luxo era prático, não excessivo. Havia uma grande cama com dossel, coberta por sedas e veludos, e uma mesa de trabalho cheia de pergaminhos e equipamentos de alquimia, porque Randal tentava encontrar a cura para a sua insónia através da ciência. Randal parou no centro da sala, e ele virou-se para Matt. “Obrigado por isto, Matt. Pela rapidez. Pela audácia. Eu sei que foi um choque, e eu sei que não foi um pedido romântico.” “Não foi um pedido, Majestade; foi uma transação,” Matt respondeu, e ele estava a tirar a túnica simples que Lena lhe tinha dado, revelando a camisa de linho que ele usava por baixo. “Agora, precisamos de ativar o ‘Conforto Inutilitário’.” Randal parecia ansioso. Ele desfez o espartilho da sua roupa, e ele sentou-se na beira da cama, porque ele estava exausto. “Sim, eu preciso de me desligar. A ameaça do Conselho desapareceu, mas a ameaça da minha própria mente permanece.” Matt aproximou-se da cama. Ele não sabia exatamente como o Conforto Inutilitário funcionava, e ele só tinha tocado Randal uma vez, quando o Rei tinha adormecido rapidamente. Ele pensou que a conexão era puramente mental, uma transferência de vigilância. “Eu não sou um feiticeiro, Randal. Eu sou apenas um substituto moral. O teu corpo e a tua mente precisam de aceitar a minha presença como a tua própria vigilância,” Matt explicou, porque ele precisava de estabelecer as expectativas. Randal assentiu. Ele estendeu a mão para Matt, e Matt hesitou por um breve momento. A magia do Voto de Ligação ainda era desconhecida para Matt, e ele estava a entrar num território perigoso. Matt pegou na mão de Randal. O toque era quente, e Matt sentiu uma ligeira pulsação que não era apenas o sangue do Rei. Era a magia do Voto. Randal deitou-se na cama, e ele fechou os olhos. “É estranho como a minha mente se acalma quando tu estás perto. É como se eu finalmente tivesse permissão para parar de ver o mundo, porque outra pessoa está a fazer isso por mim.” Matt sentou-se na beira da cama, e ele começou a contar uma história sobre o tempo que ele tinha passado numa aldeia remota, onde as pessoas viviam em harmonia com a natureza, e o seu único propósito era cuidar da terra. Ele descreveu a lentidão da vida, a inutilidade do esforço, e a beleza do silêncio. Enquanto Matt falava, ele concentrou-se na ideia de transferir o seu próprio estado de desapego e observação para Randal. Matt era, por natureza, um observador; ele não precisava de agir. Ele estava a oferecer essa passividade ao Rei. A voz de Matt era suave, e ela era rítmica. Ele sentiu a respiração de Randal a ficar mais profunda e mais lenta. A tensão no corpo de Randal começou a desaparecer. De repente, a pulsação na mão de Randal intensificou-se, e ela não era mais uma pulsação simples. Matt sentiu um puxão. A magia do Voto de Ligação estava a ativar-se, e ela estava a fazer muito mais do que apenas acalmar Randal. Matt viu a sua visão distorcer-se. O quarto de Randal começou a dissolver-se, e Matt não conseguia distinguir o que era real e o que era a magia do castelo. Ele tentou soltar a mão de Randal, mas a ligação era forte, e ele não conseguia quebrá-la. Matt percebeu que a sua mente estava a ser puxada para um lugar que ele não conseguia controlar, e o Voto de Ligação tinha transformado o Conforto Inutilitário em algo muito mais profundo. A luz na sala desapareceu, e Matt estava submerso na escuridão, mas a escuridão não era vazia. Ela estava a brilhar com tons de ouro líquido. Matt estava em pé, e ele estava a sentir a areia húmida debaixo dos seus pés. Ele olhou para cima, e ele viu um vasto céu que estava a brilhar com um crepúsculo eterno. Ele estava num lugar que ele nunca tinha visto antes. À sua frente, havia um lago que brilhava com um ouro profundo. A água era calma, e ela parecia refletir não o céu, mas uma luz interna. “Onde é que eu estou?” Matt perguntou, e a sua voz parecia um sussurro. “Tu estás onde o Voto te levou, Estranho,” uma voz disse, e a voz era severa e cheia de autoridade. Matt virou-se, e ele viu figuras de pé na beira do lago. Eram três mulheres, e elas usavam vestes que eram feitas de seda branca, e os seus rostos eram sérios e majestosos. Elas pareciam ter a idade de Randal, mas os seus olhos tinham a sabedoria de séculos. Matt percebeu que as mulheres não eram figuras aleatórias. Elas eram as Rainhas da Casa de Von Ivory, as ancestrais de Randal. O Voto de Ligação tinha-o transportado para o domínio da magia ancestral do reino. “Eu não sou um Estranho. Eu sou o Consorte do Rei,” Matt disse, e ele estava a tentar recuperar o seu equilíbrio. A mulher que tinha falado, que estava no centro do grupo, deu um passo à frente. O cabelo dela era de um vermelho profundo, o mesmo tom do cabelo de Randal. Ela era alta e imponente. “Tu usas o anel e tu tens o Voto, mas tu não tens o Sangue. Tu és um intruso neste santuário, e a tua presença é inesperada. O Voto de Ligação é um portal para a linhagem, não para os meros mortais,” a Rainha disse, e a sua voz era fria. Matt percebeu que as Rainhas estavam surpresas, porque a magia do Voto tinha sido ativada de uma forma que elas não esperavam. O casamento com um Estranho tinha quebrado o protocolo mágico. “O Rei precisava de descanso. O Conselho estava a ameaçar a estabilidade do reino. Eu aceitei o Voto para o proteger, e para trazer justiça social,” Matt explicou. A segunda Rainha, que tinha cabelos escuros e olhos penetrantes, aproximou-se. “A justiça social é um fardo para os Reis, não um propósito. O propósito da Casa de Von Ivory é a estabilidade, a ordem e o Sangue. O teu Manifesto é uma ameaça à ordem que nós construímos.” “A ordem que vocês construíram é baseada na miséria de muitos e na ganância de poucos. Essa ordem não pode durar,” Matt retrucou, e ele estava a esquecer o medo, porque a sua filosofia estava a ser desafiada. A terceira Rainha, que era mais jovem e parecia mais contemplativa, mas que também tinha a mesma expressão severa, interveio. “Tu és ousado, Matt. Tu vens do mundo da fome e da rua, e tu julgas a fundação de um reino.” “Eu julgo o que é visível. Eu vi o sofrimento, e eu vi o preço da vossa ‘estabilidade’. A fome é um veneno mais potente do que qualquer ameaça externa,” Matt declarou. A Rainha de cabelos ruivos olhou para Matt com escrutínio. “Tu não compreendes a magia do Voto. Este lugar, o Lago Dourado, é o nosso santuário. É aqui que o conhecimento da linhagem é passado. O Conforto Inutilitário é um canal, e tu tens acesso a ele agora.” Matt ficou confuso. “O conhecimento da linhagem? O que é isso?” “Nós somos as antigas Rainhas. Nós passamos o nosso conhecimento e a nossa vigilância para as novas Consortes. É uma tradição mística que garante que a Casa de Von Ivory tenha sempre sabedoria e força,” a Rainha disse. “Tu tomaste o lugar da nova Rainha. Tu agora és o recipiente do nosso conhecimento.” A ideia era absurda. Matt era um filósofo errante, e ele não tinha ambições de realeza ou de poder místico. Ele só queria o bem-estar do povo. “Eu não sou uma Rainha. Eu não sou da vossa linhagem, e eu não quero o vosso conhecimento,” Matt disse, e ele estava a tentar resistir à pressão invisível. A Rainha de cabelos escuros sorriu, mas o sorriso era frio. “Tu não tens escolha, Estranho. O Voto te ligou, e a magia do Lago Dourado te aceitou, de forma inesperada. O Rei Randal não pode dormir sem o teu conforto, e o teu conforto é a nossa presença na sua mente.” Matt percebeu a gravidade da situação. Ele não era apenas um consorte político; ele era agora um condutor de uma linhagem mística, um canal para a sabedoria das antigas rainhas. “O que é que vocês querem de mim?” Matt perguntou, e ele estava a sentir a pressão da responsabilidade. A Rainha de cabelos ruivos aproximou-se de Matt, e ela olhou para ele diretamente. “Nós queremos que tu uses a tua influência para a estabilidade do reino, e não para a tua utopia de justiça social. A Casa de Von Ivory precisa de permanecer forte. O teu Manifesto é perigoso, porque ele perturba a ordem.” “O Manifesto do Povo não é uma utopia; é uma correção. É a única forma de evitar a revolução, que seria muito mais destrutiva do que qualquer imposto,” Matt argumentou. A terceira Rainha interveio. “Tu falas de revolução, Matt. Tu não vês que o teu próprio casamento é a maior revolução que este reino já viu? Tu és o Estranho, o pobre, o analfabeto, ligado ao Rei pelo Voto. A nobreza nunca te aceitará. Eles vão te destruir.” Matt sabia que a Rainha estava certa. Valerius e os Conselheiros estavam cheios de ódio. “O meu objetivo é a verdade e a decência. Eu vou usar esta posição para isso,” Matt disse. A Rainha de cabelos ruivos suspirou, e ela parecia desapontada. “Nós não podemos controlar as tuas ações, mas nós podemos influenciar os teus pensamentos, porque tu agora és um de nós, pelo Voto. O nosso aviso é este: a tua influência sobre Randal é um fardo, e ela vem com um preço. Tu tens o poder de lhe dar o descanso, mas tu também tens o poder de o consumir.” Matt franziu a testa. “O que é que isso significa? Consumir?” “A magia do Voto, quando ativada pelo Conforto Inutilitário, cria uma dependência profunda. Se tu o deixares, ou se tu o traíres, a sua mente pode desmoronar-se. O Estranho, o portador da paz, pode-se tornar o destruidor do Rei. Tu és o seu âncora, mas tu também és a sua fraqueza,” a Rainha explicou. Matt percebeu que o seu papel era muito maior do que ele imaginava. Ele não estava apenas a ajudar um homem a dormir; ele estava a manter a sanidade do Rei de Von Ivory. “O que é que eu devo fazer?” Matt perguntou. “Tu deves aprender a sabedoria da linhagem. Tu deves ouvir as nossas vozes, e tu deves agir com cautela. O teu Manifesto deve ser suavizado. Tu deves comprometer-te, porque a tradição é forte, e a nobreza é implacável,” a Rainha de cabelos escuros disse. Matt olhou para o lago dourado. A água parecia calma, mas ele sentia a sua profundidade e o seu poder. Ele estava no centro da magia do reino, e ele não tinha como escapar. “Eu não vou trair o povo. O Manifesto do Povo é o preço do meu conforto, e o preço do descanso do Rei. Eu vou negociar, mas eu não vou desistir,” Matt declarou. A Rainha de cabelos ruivos sorriu de novo, e o sorriso dela era perturbador. “Tu és um tolo idealista, Matt. Mas a tua teimosia pode ser útil. O nosso conhecimento é a tua arma. Usa-o para a estabilidade, e não para a revolução.” De repente, a luz dourada começou a piscar. A figura das Rainhas começou a dissolver-se, e o som do lago desapareceu. “O nosso tempo acabou, Matt. Lembra-te do nosso aviso. O teu poder é grande, e a tua responsabilidade é imensa. Tu não és mais um filósofo errante; tu és o Consorte da Linhagem. Age como tal,” a Rainha de cabelos ruivos disse, e a sua voz estava a desvanecer-se. Matt sentiu o puxão reverter-se. Ele estava a ser puxado para fora do Lago Dourado, e a escuridão voltou. Matt abriu os olhos abruptamente. Ele estava de volta ao quarto de Randal, e o quarto estava silencioso. A mão de Randal ainda estava na sua, e Randal estava a dormir profundamente. Matt respirou fundo, tentando acalmar a sua mente. A visão tinha sido intensa e real. Ele estava a tremer ligeiramente, e o suor frio cobria a sua testa. Ele olhou para Randal. O Rei estava relaxado, e ele parecia um jovem inofensivo. Matt percebeu que ele tinha acabado de receber um aviso direto das ancestrais do Rei, e o aviso era claro: a sua posição era perigosa, e a sua influência era um risco. O casamento não era apenas um ato político; era uma ligação mística que o tinha colocado no centro de uma tradição secular. Ele tirou a sua mão da mão de Randal, e ele levantou-se lentamente da cama. Ele precisava de processar o que tinha acontecido, porque ele estava aterrorizado. Ele não procurava o poder, mas ele tinha-o encontrado na forma mais inesperada. Matt olhou para o anel de sinete no seu dedo. O anel não era mais apenas um pedaço de ouro; era a chave para o domínio mágico do reino, e a porta de entrada para a mente do Rei. O seu papel era muito maior do que ele imaginava. Ele era o canal para o descanso de Randal, mas ele também era o alvo da nobreza e o recipiente da sabedoria das antigas Rainhas. Matt sentou-se numa cadeira longe da cama, e ele tentou organizar os seus pensamentos. O Manifesto do Povo tinha que ser negociado, mas ele não podia ceder à pressão das Rainhas. Ele tinha que encontrar um equilíbrio entre a estabilidade do reino e a justiça social. Matt olhou para o Rei Randal, que dormia profundamente. O Rei estava seguro, mas Matt tinha sido puxado para um conflito que ia além da política de corredor. O seu coração estava a acelerar. Ele estava aterrorizado pela visão, mas aterrorizado principalmente pela responsabilidade que tinha caído sobre os seus ombros. Matt não conseguia acreditar que um filósofo errante, que vivia na miséria, tinha-se tornado o Consorte do Rei e o condutor da linhagem ancestral, apenas para um homem poder dormir. A ironia era avassaladora. Ele precisava de pensar. Ele precisava de planear. A tempestade política estava a começar no Salão do Trono, mas a tempestade mística estava a começar na sua própria mente. Matt sentou-se na cadeira, e ele olhou para Randal, que estava a dormir profundamente ao seu lado, e ele estava a respirar calmamente. Ele tinha conseguido o seu objetivo, mas o preço era a sua própria paz de espírito. Matt estava aterrorizado pela visão, e ele estava aterrorizado pelo que o futuro reservava para ele e para o reino. O aviso das Rainhas ecoava na sua mente. Ele estava a suar, e ele estava a tremer. Ele estava no meio de um pesadelo místico, e ele não conseguia acordar, porque a realidade tinha-se tornado a sua visão. Matt acordou abruptamente, aterrorizado pela visão, enquanto Randal dormia profundamente ao seu lado. Matt percebeu que seu papel é muito maior do que ele imaginava.

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