Capítulo 6: O Preço da Confiança Amora, vestida em seu habitual roxo profundo, e o Tenente emergiram da escuridão da passagem secreta, a luz bruxuleante da sala lançando sombras longas sobre seus rostos. O ar que antes estava carregado de ansiedade, agora vibrava com um choque elétrico de perigo. Mello sentiu seu coração disparar, o sangue gelando em suas veias. O Tenente, Draven, estava ali, na única sala que Mello considerava segura, no coração de sua conspiração. Emma congelou, sua mão ainda pairando sobre o painel da passagem. Snow, que estava mais perto da entrada, deu um passo para trás, a expressão de alívio por Mello ter tomado uma decisão rapidamente substituída por horror. Lorde Corwin, ainda sentado e ofegante, parecia prestes a desmaiar. Draven estava impecável, o uniforme militar alinhado, mas havia uma estranha urgência em sua respiração. Ele parecia ter corrido. "Amora," Emma conseguiu dizer, sua voz surpreendentemente firme. "O que significa isso? Como ele..." Amora estava igualmente tensa, mas não surpresa. Seus olhos, que encontraram os de Mello, pareciam pedir desculpas e avisar. "Ele me encontrou. No corredor. Ele estava me seguindo, Alteza." "Seguindo?" Snow ecoou, a descrença evidente. Draven ignorou a todos, fixando seu olhar em Mello. Havia uma calma perturbadora em seus olhos, um predador que havia encurralado sua presa. Ele não parecia zangado, apenas... satisfeito. "Vossa Alteza," Draven disse, a voz controlada e suave, o que era mais aterrorizante do que um grito. Ele deu um passo para a frente, diminuindo a distância entre eles. "Que bom que eu cheguei antes que você tomasse qualquer decisão impulsiva." "Você está monitorando meus movimentos, Tenente?" Mello perguntou, tentando soar régio, mas sua voz traiu a tensão. Draven sorriu, um movimento lento e calculista que não alcançou seus olhos. "Estou monitorando a segurança do reino, Vossa Alteza. E no atual clima de crise, qualquer reunião secreta, especialmente uma envolvendo uma membro do conselho e um nobre que conspira contra a coroa, levanta bandeiras vermelhas." Ele gesticulou para Corwin, que encolheu na cadeira. "Lorde Corwin está aqui a meu pedido," Mello defendeu. "Não há conspiração." "Não é o que parece, quando se usa passagens secretas," Draven rebateu, sem perder a calma. Ele então voltou seu olhar para Snow, e Mello sentiu um aperto no estômago. "Snow, meu velho amigo. Eu disse a você que Mello precisava de orientação," Draven continuou, mantendo o tom casual, mas cada palavra era uma agulha afiada. "Orientação contra tomar decisões baseadas em contos de fadas. Lembro-me de quando conversamos sobre as antigas magias da sucessão, não é? Você se lembra de ter me mencionado que o Príncipe estava desesperado o suficiente para considerar qualquer coisa?" Mello olhou para Snow, sentindo uma onda fria de traição. A cor havia sumido do rosto de Snow; seus olhos azuis estavam arregalados de horror. "Eu... eu não sei do que você está falando, Draven," Snow gaguejou, sua voz falhando. "Não seja modesto, Snow," Draven riu, um som seco e sem humor. "Nós conversamos há semanas sobre a possibilidade de Mello se recusar ao casamento e o que isso implicaria. Você me disse que ele estava lendo livros estranhos. Você expressou preocupação de que ele poderia recorrer a magia não testada. Você estava preocupado com a saúde dele, claro, como um bom amigo." "Isso é mentira!" Snow explodiu, dando um passo à frente. "Eu nunca disse a ele nada sobre magia, ou sobre livros! Eu não sabia sobre esse ritual até minutos atrás!" "Ah, claro," Draven disse, balançando a cabeça em fingida compreensão. "A lealdade do amigo. Admirável. Mas desnecessária. Não estou te acusando, Snow. Estou apenas dizendo que sua preocupação genuína me alertou sobre o caminho perigoso que Mello estava considerando." Mello sentiu o chão girar. A manipulação de Draven era brilhante. Ele não acusava Snow diretamente de traição, mas plantava a semente da dúvida na mente de Mello, usando o histórico de conversas entre amigos para dar credibilidade à sua vigilância. Snow e Draven eram próximos; era plausível que Snow, preocupado com o estado mental de Mello, tivesse mencionado o desespero do príncipe ao seu mentor. "Você não sabia de nada, Snow?" Mello perguntou, a voz baixa, seus olhos fixos nos de Snow. Snow se virou para Mello, a dor e a súplica em seus olhos eram reais. "Mello, juro pela minha vida. Eu disse a ele que você estava tenso, sim. Que estava lendo muito. Mas eu não sabia o que você estava lendo. Eu não sabia sobre o ritual até Amora explicar. Eu não o traí. Ele está mentindo." Mello queria acreditar nele. Ele *precisava* acreditar nele. Snow era seu único farol de verdade. Mas a forma como Draven estava usando as migalhas de informação era insidiosa. Se Draven não tivesse recebido detalhes de Snow, como ele sabia que Mello estava em vias de tomar uma decisão, ou que a discussão envolvia 'magia não testada'? Amora interveio, aproveitando a pausa na tensão. "Tenente, o que está acontecendo aqui é uma discussão sobre a sucessão, dentro dos limites da lei real—" "Não, Conselheira Amora," Draven a interrompeu, sem tirar os olhos de Mello. "O que está acontecendo aqui é o uso de magia proibida, listada no Tomo de Interdições, para contornar um decreto do conselho. O ritual de Transmutação de Gênero Temporário, se não me engano, requer três fases e a contribuição de uma 'semente'. Acredito que o jovem Snow seria o candidato ideal para a contribuição, não é?" A menção dos detalhes específicos fez o ar desaparecer dos pulmões de Mello. Apenas Amora e Emma sabiam o nome exato do ritual e a necessidade da 'semente'. Se Snow não o havia contado, Draven só poderia ter conseguido essa informação de uma fonte: Amora. Todos se viraram para Amora, mas ela balançou a cabeça veementemente. "Eu não o contei nada!" Draven riu novamente. "Ah, Amora. Você é mais previsível do que pensa. Você me seguiu antes. Você sabia que eu estava de olho em você. E eu sabia que se Mello procurasse uma alternativa, você seria a única a fornecê-la. Seus aposentos são fáceis de monitorar. Os textos que você estuda são conhecidos." Ele gesticulou para o grimório na mesa. "Não é preciso traição, apenas observação atenta." Ele havia preparado o terreno perfeitamente. Ele minou a confiança de Mello em Snow e Amora ao mesmo tempo, sem nunca se comprometer com uma acusação direta. "Então, você sabe de tudo," Mello disse, forçando-se a manter a compostura. "E o que você propõe fazer sobre isso?" Draven finalmente desviou o olhar de Snow e se concentrou totalmente em Mello. Seu tom se tornou sério, quase paternal. "Proponho garantir a segurança do reino, Vossa Alteza. E, francamente, garantir sua sobrevivência." "E como você faria isso?" Emma perguntou, cruzando os braços, assumindo a postura de princesa herdeira que ainda era. "A reunião do conselho em duas horas não é sobre intervenção militar, *ainda*," Draven revelou, e a sala ficou em silêncio absoluto. "É sobre estabelecer uma regência estável até que o herdeiro nasça. Eu planejava propor um governo militar temporário, dado o seu estado de saúde, Princesa Emma, e a juventude do Príncipe Mello." Ele deu mais um passo, chegando a menos de um metro de Mello. "Mas eu vejo uma alternativa melhor. Você já tomou sua decisão, Mello. Você escolheu o caminho do ritual. Um caminho perigoso, não testado, que pode resultar em sua morte." Draven fez uma pausa dramática. "E se você morrer, o reino cai no caos, e o conselho desfaz todos os seus esforços, expondo a criança por ter nascido de magia proibida." "Você quer me assustar," Mello acusou. "Quero ser prático," Draven corrigiu. "Se você for adiante com o ritual, Vossa Alteza, você estará vulnerável por nove meses. Totalmente incapaz de governar, escondido e doente. Você precisará de proteção absoluta. Não apenas mágica, mas militar." "E você se oferece para fornecer essa proteção, é isso?" Mello sentiu a armadilha se fechar. "Eu me ofereço para garantir que o herdeiro nasça legítimo," Draven assentiu. "Eu retirarei minha proposta de governo militar e a substituirei por uma proposta de *regência temporária*. Uma regência que eu assumirei, com plenos poderes militares e civis, durante os nove meses da sua gestação. Eu serei o escudo, Mello. Eu darei a você o tempo e a privacidade que você precisa para que o ritual funcione." "Você quer controle total do reino," Emma resumiu friamente. "Eu quero estabilidade," Draven rebateu. "Pense nisso, Vossa Alteza. Você precisará de cobertura perfeita para o seu desaparecimento. Eu fornecerei isso. Eu farei com que o conselho e o povo acreditem que você está gravemente doente, confinado a seus aposentos. Enquanto isso, a Princesa Emma fará suas aparições públicas, com a ilusão mágica de Amora, ganhando tempo para o bebê." Draven inclinou a cabeça, a expressão de um negociador paciente. "Eu serei seu guardião. Seu protetor. E o guardião do herdeiro. Eu garanto que, se você sobreviver, o trono estará seguro, e a criança será declarada o legítimo sucessor, nascido sob a supervisão do exército real." "E o que impede você de simplesmente tomar o trono quando eu estiver vulnerável?" Mello perguntou, sua voz tensa. Draven sorriu. "Nada, Vossa Alteza. A não ser a minha palavra e o fato de que, se o fizer, a criança nascerá sob a suspeita de ter sido concebida por meios proibidos. O conselho nunca aceitaria um golpe que arruinasse a sucessão. Eu preciso de você para que o herdeiro nasça. E você precisa de mim para sobreviver a esse processo." Ele estava oferecendo um pacto com o diabo. Uma ditadura militar disfarçada de regência temporária, mas que, em troca, ofereceria a Mello a cobertura perfeita e a proteção que ele precisaria desesperadamente. Emma e Amora tentaram argumentar simultaneamente. "Isso é inaceitável, Tenente! Você está exigindo o controle total do reino!" Emma protestou. "Eu posso expor o uso da magia agora mesmo," Draven interrompeu, sua voz ficando um pouco mais dura. "A reunião do conselho é em menos de duas horas. Uma palavra de minha boca, e o Príncipe Mello, a Conselheira Amora, e qualquer um envolvido neste... experimento, será acusado de feitiçaria e traição. O conselho declarará a linha real corrompida, e o trono ficará vago. A adoração do exército por mim é suficiente para garantir que eu seja nomeado regente, sem a necessidade de qualquer herdeiro mágico. O que me leva a perguntar, Mello: qual é o seu pior cenário? Morrer e garantir que a criança e o reino sejam destruídos, ou sobreviver em segredo e entregar o controle temporário a mim, mas garantir a linhagem real?" A ameaça velada era clara. Draven podia expor o ritual a qualquer momento, e Mello e Amora seriam executados, e a criança seria condenada antes mesmo de nascer. Mello estava paralisado. Ele havia decidido prosseguir com o ritual para evitar a ditadura, e agora, para garantir a chance de que o ritual funcionasse, ele teria que aceitar a ditadura disfarçada de regência. "Mello, não o ouça," Snow implorou, a voz rouca. Ele estava ajoelhado perto da mesa, olhando para o rosto pálido de Mello. "Ele está manipulando você! Ele não vai devolver o poder depois de nove meses!" "Talvez eu não devolva," Draven concordou com a cabeça. "Mas o que Snow não entende, Mello, é que a única forma de evitar o caos é através da força militar. O reino precisa de uma mão firme agora, mais do que precisa de um príncipe adolescente que está brincando com magia de gênero." "Ele está tentando separar a gente," Snow sussurrou para Mello, a urgência em sua voz era palpável. "Ele quer que você duvide de mim. Por favor, Mello, confie em mim. Não confie nele." O conflito interno de Mello era excruciante. Se ele aceitasse a regência de Draven, ele se sentiria um tolo, caindo diretamente na armadilha do Tenente. Mas se ele recusasse, Draven iria imediatamente para o conselho e denunciaria o uso da magia, destruindo a única esperança de sucessão sem casamento. "Snow, se você realmente não o contou nada," Mello disse, forçando as palavras. "Como ele sabia sobre a 'semente'?" Snow olhou para Amora, depois de volta para Mello. "Não sei. Mas ele é Draven. Ele tem espiões. Ele é inteligente. Ele pegou a informação de outra forma. Não fui eu. Eu sou seu amigo, Mello. O único que se voluntariou para isso." A lealdade de Snow, mesmo sob a acusação implícita, era a única coisa que Mello podia segurar. Se Draven estava mentindo sobre Snow, ele estava mentindo sobre tudo. Mas o risco de exposição era muito grande. "Deve haver outra forma de garantir a proteção," Emma disse, sua mente funcionando rapidamente apesar da exaustão. "Amora, se o ritual começar imediatamente, Mello ficaria vulnerável por quanto tempo antes de termos uma 'gravidez' visível para alegar a doença?" "Três dias para a transformação inicial," Amora respondeu, ainda olhando desconfiada para Draven. "E então a concepção. A magia de camuflagem de gravidez para Emma pode começar imediatamente, mas Mello precisará de reclusão total." "Três dias de vulnerabilidade absoluta, antes mesmo que Draven precise anunciar a regência," Mello pensou em voz alta. Draven sorriu, como se estivesse lendo seus pensamentos. "Três dias em que eu poderia facilmente ter você preso, Mello. Ou pior, morto em um 'acidente'." Snow, desesperado, se levantou e caminhou até Draven, ficando entre o Tenente e Mello. "Se você aceitar a regência, Draven, você terá tudo o que quer. Você terá o poder. Mas Mello precisa de garantias. Não apenas verbais." Draven olhou para Snow com uma sobrancelha levantada, claramente surpreso com a audácia do amigo de Mello. "E o que você propõe, Snow? Documentos assinados em sangue?" "Eu proponho que você manipule os documentos de regência para incluir uma cláusula de supervisão mágica do conselho," Snow sugeriu, sua voz um pouco mais estável agora. "Se você está tão preocupado com a legitimidade, você deve concordar que Amora e outros magos leais a Mello devem ter acesso irrestrito para monitorar o processo de gestação. E que você deve se comprometer, por escrito, a devolver o poder a Mello após o nascimento do herdeiro, e apenas se o herdeiro estiver vivo e saudável." "Ah, o plano arriscado para contornar a regência," Draven zombou. "Você quer me dar o poder e, ao mesmo tempo, colocar correntes em mim. Inteligente. Mas desnecessário." "Se você é um protetor leal, como afirma ser, você não terá problemas em aceitar o escrutínio mágico," Snow insistiu. "Isso só reforçará sua posição como guardião do reino." Draven ponderou por um momento, a calma voltando aos seus olhos. "Eu não preciso de correntes. Eu preciso de liberdade de movimento para lidar com as ameaças militares que você não vê. Mas, para satisfazer suas preocupações, Mello, eu concordo em incluir uma cláusula de monitoramento. Amora pode reportar diretamente ao conselho sobre o progresso do ritual e minha conduta, garantindo que eu não ultrapasse os limites da regência." Mello sabia que era uma concessão vazia. Amora seria a única aliada a Draven no conselho, e ele poderia facilmente silenciá-la ou descredibilizá-la. Mas era o máximo que eles conseguiriam extrair dele. "Não basta," Mello disse, levantando-se, sentindo a adrenalina correndo. "Eu aceito a regência temporária, Draven. Você terá os nove meses. Você pode anunciar a 'parceria' na reunião do conselho. Mas eu exijo duas coisas." Draven fez um gesto de cortesia. "Diga." "Primeiro, você deve garantir que, no momento em que eu entrar em reclusão para o ritual, Amora tenha proteção militar absoluta. Ela é a chave para o sucesso do plano. Se ela for silenciada, o ritual falha. Eu quero que você coloque guardas leais a você protegendo-a vinte e quatro horas por dia. Se o ritual falhar, o conselho a culpará." Draven considerou isso. Se Amora fosse protegida por ele, pareceria que ele estava protegendo a sucessão, reforçando sua posição. "Feito. Eu a colocarei sob minha guarda pessoal." "Segundo," Mello continuou, olhando diretamente para Snow. "Snow será meu assistente pessoal durante minha reclusão. Ele terá acesso total aos meus aposentos. E você não tentará minar a confiança dele em mim, ou minha confiança nele, novamente. Se ele for pego em 'acidentes' ou se ele desaparecer, o acordo está quebrado. E eu farei tudo ao meu alcance, mesmo que seja a partir do meu leito de dor, para expor sua traição ao reino." Mello estava blefando, mas ele precisava de Snow ao seu lado. Snow era a única pessoa que o manteria são e que estaria disposta a arriscar-se no processo da 'semente' e da concepção. Draven sorriu, e desta vez, o sorriso alcançou seus olhos. Era uma vitória. Ele havia conseguido a regência. "Você tem medo de ficar sozinho, Mello," Draven comentou, sem malícia, apenas observação. "Isso é compreensível. Snow será seu sombra. E se ele tentar qualquer trapaça, você será o primeiro a saber. Afinal, eu o terei sob constante vigilância, para garantir sua segurança, é claro." Mello não recuou. Ele havia conseguido proteger Snow e Amora, e garantiu que teria pelo menos um aliado confiável em sua reclusão. Mas o preço era o controle total do reino. "Então está feito," Mello disse, estendendo a mão para um aperto. "Regência temporária. Nove meses. Proteção para meus aliados. E o trono estará seguro quando o herdeiro nascer." Draven apertou a mão de Mello com firmeza. "Obrigado por ver a razão, Vossa Alteza. Você fez a escolha certa para o reino. Agora, eu devo ir. A reunião do conselho começa em uma hora e meia. Eu preciso preparar a papelada para a minha 'parceria' com você, e para a minha nova regência." Ele soltou a mão de Mello, a vitória brilhando em seus olhos. Ele se virou para Amora. "Conselheira, venha comigo. Precisamos discutir a logística da sua 'supervisão mágica' e as providências para sua nova equipe de segurança. E, claro, você precisará começar a preparar os ingredientes para o ritual, o mais rápido possível. Mello precisa começar a transformação inicial antes que a notícia da regência se espalhe." Amora assentiu rigidamente, sua expressão de pura resignação. Ela sabia que estava entrando na jaula do leão, mas era a única forma de garantir a segurança de Mello e do ritual. Draven caminhou até a passagem secreta. Ele parou na entrada, olhando para Mello, Snow e Emma. "Não se preocupe, Mello," ele disse, com uma falsa cordialidade. "Seu segredo está seguro comigo. Eu sou o protetor do reino, afinal. E o guardião do seu futuro herdeiro." Ele desapareceu na escuridão da passagem, Amora o seguindo em silêncio. O quarto ficou em um silêncio pesado. Lorde Corwin olhou para a passagem secreta com a boca aberta. "Vossa Alteza," Corwin sussurrou, a voz trêmula. "O que acabamos de fazer? Nós entregamos o reino ao Tenente." Emma caminhou até Mello, colocando a mão em seu ombro. Ela estava pálida, mas seus olhos estavam focados. "Nós o forçamos a aceitar nossas condições," ela disse, tentando encontrar o lado positivo. "Ele não pode simplesmente nos expor agora. Ele precisa do Mello vivo para a legitimidade. Isso nos dá nove meses." Snow ainda estava ao lado de Mello, olhando para a porta. Ele se virou lentamente, a raiva misturada com a dor no seu rosto. "Ele tentou me incriminar," Snow disse, a voz cheia de mágoa. "Ele usou nossa amizade para plantar a semente da traição." Mello olhou para Snow. A dúvida de momentos atrás havia desaparecido, substituída por uma certeza fria. Draven era um mestre em manipulação, e a reação de horror e a negação de Snow eram reais. "Eu sinto muito, Snow," Mello disse, estendendo a mão para tocar o braço do amigo. "Eu não duvidei de você. Não realmente. Mas ele me colocou em uma posição onde eu tive que escolher entre o risco de morte e o risco de desconfiança." "Eu sei," Snow respondeu, a voz embargada. Ele pegou a mão de Mello, apertando-a com força. "Mas a verdade é que ele ganhou. Ele está no controle. E agora, você terá que passar por essa dor excruciante, escondido, enquanto ele governa em seu nome." "É o preço," Mello murmurou, olhando para o grimório aberto na mesa. A dor, o risco de morte, a farsa. E agora, a regência de Draven. Lorde Corwin se levantou, a expressão de derrota pesando sobre ele. "Eu devo ir, Vossa Alteza. Eu devo ir para a reunião e fingir surpresa com a 'parceria'. Preciso ver o que ele dirá ao conselho. Preciso reportar de volta." "Vá, Corwin," Emma concordou. "E tome cuidado. Draven saberá que você está conosco." Corwin assentiu e se apressou para a passagem secreta. Mello sentou-se novamente, sentindo o peso da decisão. "Nove meses. Nove meses em que ele terá o controle total do exército, do conselho, de tudo." "Nove meses em que ele não poderá te tocar," Snow corrigiu, ajoelhando-se novamente na frente de Mello. "E nove meses em que você estará fazendo a única coisa que ele não pode desfazer: criar o herdeiro legítimo. Nós vamos fazer isso, Mello. Vamos sobreviver a ele e a essa magia." Mello olhou para o rosto pálido e determinado de Snow. Ele havia arriscado tudo, entregando o reino ao seu inimigo, para garantir sua sobrevivência e a sucessão. Agora, tudo o que restava era sobreviver aos próximos nove meses. "E o que faremos com a 'semente'?" Mello perguntou, a voz quase inaudível. Snow corou levemente. "Amora disse que seria clínico. Eu... farei o que for preciso. Você não precisa se preocupar com isso. Apenas se concentre em se preparar para a dor da transformação." Emma, que estava observando os dois, caminhou até a janela, observando o sol se pôr sobre a cidade. "Eu devo começar a espalhar os rumores sobre meu tratamento mágico. Preciso começar a parecer uma mulher que pode estar se recuperando de sua infertilidade." "A farsa começa agora," Mello disse, fechando os olhos. Snow apertou a mão de Mello com mais força. "A farsa e o ritual. E eu estarei aqui para tudo." Mello abriu os olhos. O medo ainda estava lá, mas havia uma nova determinação. Ele havia tomado a decisão mais arriscada de sua vida, e não havia como voltar atrás. "Nós vamos fazer isso," Mello disse, encarando o futuro sombrio que ele havia escolhido. "Nós vamos ter esse bebê." Em algum lugar no castelo, o Tenente Draven estava caminhando para a reunião do conselho, com um sorriso vitorioso no rosto, pronto para anunciar sua regência temporária e a nova 'parceria' com o príncipe, selando o acordo que o daria o controle do reino.

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