# Capítulo 5: Riscos e Revelações
"E o que você precisa de mim?"
A pergunta de Snow pairou no ar pesado do quarto. Mello sentiu sua garganta apertar, as palavras que precisava dizer presas em algum lugar entre seu coração acelerado e seus lábios secos.
Emma trocou um olhar significativo com Amora, que assentiu quase imperceptivelmente.
"Snow," Mello começou, sua voz mais fraca do que pretendia. Ele limpou a garganta. "Antes de te explicar, preciso saber... você acredita que eu confio em você?"
"Acredito." Snow não hesitou. "Você não teria me chamado aqui se não confiasse."
"Então você precisa confiar em mim quando digo que o que vou propor é nossa melhor chance de impedir o tenente."
Snow deu um passo à frente, seus olhos azuis fixos nos de Mello. "Eu confio em você. Sempre confiei. Só me diga o que precisa."
Mello olhou para Amora, que pegou o grimório antigo de uma prateleira próxima. O livro estava encadernado em couro escuro, com runas prateadas que pareciam pulsar com luz própria.
"Existe uma solução alternativa," Amora disse, abrindo o grimório em uma página marcada. "Uma que permitiria ao Príncipe Mello gerar um herdeiro sem casamento, sem ceder ao controle do conselho."
Snow olhou do grimório para Mello, confusão evidente em seu rosto. "Como?"
"Magia antiga," Amora continuou. "Um ritual de transformação temporária que modificaria o corpo do príncipe para permitir que ele carregasse uma criança."
O silêncio que se seguiu foi absoluto. Snow piscou, processando as palavras. Então piscou novamente.
"Você está dizendo que Mello..." Ele parou, incapaz de completar a frase.
"Que eu poderia engravidar," Mello terminou, forçando as palavras para fora. "Sim."
Snow olhou entre os três rostos, claramente procurando por algum sinal de que isso era uma piada elaborada. Mas tudo que encontrou foram expressões sérias e expectantes.
"Isso é possível?"
"Teoricamente," Amora respondeu. "Os textos são antigos, mas detalhados."
Snow caminhou até a mesa onde o grimório estava aberto, seus olhos percorrendo as runas e diagramas incompreensíveis. "E onde eu entro nisso?"
Mello sentiu seu rosto esquentar. Esta era a parte que ele mais temia explicar. "O ritual requer... contribuição biológica. De alguém em quem eu confie completamente."
A compreensão iluminou lentamente o rosto de Snow. Suas bochechas ficaram levemente rosadas. "Oh."
"Você seria livre para recusar," Mello acrescentou rapidamente. "Não há pressão. Podemos encontrar outra pessoa—"
"Que outra pessoa?" Snow o interrompeu. "Você confia em alguém mais o suficiente para isso?"
Mello não tinha resposta. A verdade era que não. Snow era seu único amigo verdadeiro, a única pessoa além de Emma em quem confiava com sua vida.
"Mas antes de qualquer decisão," Snow disse, sua voz firme, "preciso saber os riscos. Todos eles."
Amora assentiu com aprovação. "Sensato. Sentem-se, isso levará algum tempo."
Eles se acomodaram ao redor da mesa. Emma em uma cadeira próxima à janela, conservando sua energia. Mello e Snow em lados opostos da mesa, com Amora entre eles, o grimório aberto diante dela.
"O ritual em si é complexo," Amora começou, virando páginas do livro. "Requer três fases distintas. A primeira é a transformação inicial do corpo do príncipe, criando os sistemas necessários para sustentar uma gestação. A segunda é a concepção em si. A terceira é o monitoramento contínuo ao longo de nove meses."
"Você disse riscos," Snow a lembrou.
"Estou chegando lá." Amora encontrou uma página específica, coberta de anotações em uma língua que Mello não reconhecia. "O primeiro risco é a dor. A transformação do corpo não é um processo suave. Os textos descrevem como 'ossos se reorganizando, órgãos se expandindo, carne se moldando a uma nova forma.'"
Mello sentiu seu estômago revirar. "Quão ruim seria?"
"Os registros comparam a dor à de ter todos os ossos quebrados simultaneamente." Amora o olhou diretamente. "E isso é apenas o início. Durante toda a gestação, haverá dores contínuas conforme o corpo se ajusta ao que não deveria ser possível."
"Existem poções para dor," Emma disse suavemente.
"Que ajudariam apenas parcialmente." Amora virou outra página. "A magia envolvida no ritual interfere com muitos feitiços de cura e alívio. O máximo que poderíamos fazer seria tirar a ponta da dor, não eliminá-la."
Snow estava pálido. "E o segundo risco?"
Amora hesitou, o que fez o coração de Mello acelerar ainda mais. "O parto."
"O que tem o parto?" Mello perguntou, embora uma parte dele não quisesse saber a resposta.
"O corpo masculino não foi projetado para dar à luz uma criança. Mesmo com a transformação mágica criando um caminho, o processo será..." Ela procurou pela palavra certa. "Traumático. Há uma possibilidade real de morte."
O quarto ficou completamente silencioso. Mello podia ouvir seu próprio coração batendo, cada pulsação alta demais em seus ouvidos.
"Quão real?" Emma perguntou, sua voz trêmula.
"Os textos não fornecem estatísticas específicas. Mas mencionam que 'nem todos que tentaram sobreviveram ao nascimento da nova vida.'" Amora fechou o grimório suavemente. "Em termos médicos modernos, eu estimaria o risco de morte em talvez quarenta por cento."
"Quarenta por cento," Snow repetiu, a cor drenando ainda mais de seu rosto. "Você está me dizendo que há quase metade de chance de Mello morrer?"
"Eu disse que era uma estimativa. Poderia ser menor. Poderia ser maior." Amora abriu as mãos. "A verdade é que não sabemos com certeza."
Mello sentiu como se o chão estivesse se movendo sob seus pés. Quarenta por cento. Quase metade. Uma chance em cada duas de que ele não sobreviveria para conhecer o filho que estava tentando criar.
"Há alguma garantia?" Snow pressionou. "Alguma forma de melhorar as chances?"
"Preparação meticulosa. Monitoramento constante durante a gestação. Ter os melhores curandeiros mágicos presentes durante o parto." Amora listou nos dedos. "Mas no final, ainda seria uma aposta. O ritual nunca foi totalmente documentado sendo realizado em humanos."
"Nunca foi realizado?" Mello se inclinou para frente. "Você disse que os textos eram detalhados."
"São detalhados em teoria. Há diagramas, instruções, componentes necessários." Amora tocou a capa do grimório. "Mas não há relatos confirmados de alguém realmente completando o ritual com sucesso. Apenas menções fragmentadas em textos de magos antigos, discussões filosóficas sobre possibilidades."
"Então você quer que Mello seja uma cobaia," Snow disse, sua voz baixa e perigosa. "Testar uma magia que pode nunca ter funcionado."
"Eu quero oferecer uma alternativa ao casamento forçado e à ditadura militar," Amora corrigiu calmamente. "Mas sim, seria sem precedentes. Experimental. Perigoso."
Emma se levantou, caminhando até ficar ao lado de Mello. Ela colocou uma mão em seu ombro. "Há um terceiro risco, não há?"
Amora assentiu lentamente. "O bebê."
"O que sobre o bebê?" Mello perguntou, medo crescendo em seu peito.
"Crianças nascidas de magia tão profunda às vezes carregam... marcas." Amora virou para uma página mostrando ilustrações de crianças com símbolos estranhos em sua pele. "Runas que aparecem ao nascimento. Padrões que brilham sob a luz da lua. Olhos de cores impossíveis."
"Isso denunciaria que o bebê não foi concebido naturalmente," Emma concluiu.
"Exatamente. E se o conselho descobrisse que magia proibida foi usada..." Amora não precisou completar. Todos no quarto sabiam as consequências. Execução por feitiçaria. A criança declarada abominação. O trono passando para o tenente sob justificativa de que a linha real estava corrompida.
Mello se levantou abruptamente, afastando-se da mesa. Ele caminhou até a janela, olhando para fora sem realmente ver a paisagem. Dor insuportável. Risco de morte de quarenta por cento. Possibilidade do bebê nascer com marcas mágicas que destruiriam tudo.
E ainda assim, a alternativa era pior. Casamento forçado com alguém escolhido pelo conselho. Perda de autonomia. E eventualmente, quando o tenente decidisse que o tempo era certo, um golpe militar que poderia custar ainda mais vidas.
"Há alguma boa notícia?" ele perguntou sem se virar.
"A transformação seria reversível após o nascimento," Amora ofereceu. "Seu corpo retornaria ao normal, eventualmente. E o ritual em si, se começarmos em breve, poderia ser completado antes que o tenente tenha tempo de consolidar seu golpe."
"Em breve," Mello repetiu. "Quão em breve?"
"Idealmente, dentro dos próximos dias. A transformação inicial leva setenta e duas horas. Depois disso, a concepção poderia acontecer, e estaríamos oficialmente correndo contra o relógio dos nove meses antes que alguém esperasse resultados visíveis."
Snow tinha estado quieto durante a explicação sobre o terceiro risco. Agora ele se levantou, caminhando até onde Mello estava parado na janela.
"Há garantias de sobrevivência?" ele perguntou, sua voz baixa o suficiente para que apenas Mello ouvisse.
Mello se virou para encará-lo. Os olhos azuis de Snow estavam cheios de preocupação, medo e algo mais profundo que Mello não conseguia nomear.
"Você ouviu Amora," Mello disse. "Não há garantias. É tudo teoria e estimativa."
"Então isso é loucura." Snow passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os completamente. "Você está considerando arriscar sua vida em magia que pode nunca ter funcionado, que tem quase cinquenta por cento de chance de te matar, tudo para evitar um casamento?"
"Para evitar uma ditadura," Mello corrigiu. "Para manter o reino seguro. Para preservar algum controle sobre meu próprio destino."
"De que adianta controle se você morrer?" Snow praticamente gritou, então pareceu se lembrar que havia outras pessoas no quarto e baixou a voz novamente. "Mello, você tem vinte anos. Toda a vida pela frente. Não pode jogar tudo fora assim."
"E se eu me casar com alguém que o conselho escolher? Alguém que pode ser aliado do tenente? Alguém que pode me envenenar lentamente ou me acidentar para que a criança herde com um regente conveniente?" Mello sacudiu a cabeça. "Pelo menos desta forma, sei exatamente quais são os riscos. E sei que posso confiar em todos os envolvidos."
Snow olhou para ele por um longo momento, então virou-se para Amora. "Se ele concordar com isso, e se eu concordar em ajudar, o que exatamente seria necessário de mim?"
Amora se aproximou, trazendo o grimório. "O ritual requer uma contribuição física sua, que seria magicamente transferida para o príncipe após a transformação estar completa. O processo em si seria... clínico. Nada desconfortável fisicamente, embora possa ser emocionalmente complexo."
"Clínico," Snow repetiu, seu rosto ficando vermelho novamente.
"Eu forneceria um recipiente encantado. Você teria privacidade para fornecer a amostra. Então eu usaria magia para combiná-la com a nova... capacidade do príncipe." Amora falou de forma direta e sem embaraço. "Toda a concepção seria gerenciada magicamente. Não haveria necessidade de... contato físico direto entre vocês."
Mello sentiu alívio e decepção ao mesmo tempo, embora não quisesse examinar muito de perto de onde a decepção vinha.
"E depois?" Snow perguntou. "Depois que a criança nascer? Eu simplesmente... desapareço? Finjo que nada aconteceu?"
Foi Emma quem respondeu, levantando-se de sua cadeira e caminhando até eles. "Na verdade, eu tenho uma proposta sobre isso."
Todos os olhos se voltaram para ela.
"Se o bebê nascer com marcas mágicas, precisaremos de uma explicação alternativa para a concepção." Emma olhou de Mello para Snow, depois para Amora. "Eu sugiro que publicamente afirmemos que a criança é minha."
"Sua?" Mello piscou. "Mas você é infértil."
"Publicamente, alegaríamos um milagre médico temporário. Que Amora, com suas habilidades mágicas de cura, conseguiu me dar alguns meses de fertilidade antes que minha doença progredisse demais." Emma tocou seu próprio abdômen. "Eu 'engravidaria', carregaria a criança publicamente por nove meses, e daria à luz um herdeiro para o trono."
Amora estava assentindo pensativamente. "Isso poderia funcionar. Eu poderia criar ilusões mágicas para fazer parecer que você está grávida. Feitiços sutis que apenas sugerem uma barriga crescente sob suas roupas. Nada óbvio demais que pudesse ser detectado por outros magos."
"Mas eu realmente estaria grávido," Mello apontou. "Como esconderíamos isso?"
"Você ficaria confinado aos seus aposentos," Emma disse. "Alegando doença, ou necessidade de estudar questões de estado. Eu faria todas as aparições públicas, mostrando minha 'gravidez' progressiva. Quando chegasse a hora, você daria à luz em segredo, e eu apresentaria o bebê como meu."
"E se a criança tiver marcas mágicas?" Snow perguntou.
"Então diremos que são do feitiço de fertilidade que usei," Amora respondeu. "Que a magia de cura deixou sua marca na criança. Não seria ideal, mas seria uma explicação mais palatável do que a verdade."
Mello processou a proposta. Emma assumindo a maternidade pública. Ele escondido durante nove meses. A criança apresentada como filha de Emma, herdeira legítima com linhagem real clara.
"Isso protegeria a criança," ele disse lentamente. "E protegeria o trono da alegação do tenente de que não há herdeiro."
"Exatamente," Emma confirmou. "E me daria a chance de conhecer meu sobrinho ou sobrinha antes de..." Ela não completou a frase, mas não precisava. Antes de morrer.
Snow tinha voltado a andar pelo quarto, claramente agitado. Ele parou perto da mesa, suas mãos apoiadas na madeira, cabeça baixa.
"Se eu concordar com isso," ele disse finalmente, sem olhar para cima, "quero uma condição."
"Qual?" Mello perguntou.
Snow levantou a cabeça, e havia determinação em seus olhos azuis. "Se eu fornecer a 'semente', se eu ajudar a criar essa criança, eu quero permanecer envolvido de alguma forma. Não vou apenas desaparecer depois. Não vou fingir que não tenho conexão com o bebê."
"Como você imagina isso funcionando?" Emma perguntou, genuinamente curiosa.
"Não sei ainda." Snow olhou para Mello. "Mas preciso que você prometa que eu não serei apenas uma... ferramenta. Um meio para um fim. Se essa criança vai carregar metade de mim, eu quero ser parte da vida dela. Mesmo que publicamente eu seja apenas o amigo leal do príncipe, em particular, eu quero que a criança saiba a verdade eventualmente."
Mello sentiu algo se apertar em seu peito. A ideia de Snow envolvido na criação da criança, de não ter que passar por isso completamente sozinho, era mais atraente do que deveria ser.
"Você entende o que está pedindo?" Mello disse. "Seria mentiras constantes. Segredos. A criança chamaria Emma de mãe, me chamaria de tio. Você seria apenas o amigo da família."
"Eu sei. Mas melhor isso do que nada." Snow caminhou até Mello, parando a apenas alguns passos de distância. "E quando a criança for velha o suficiente para entender, quando for seguro, poderíamos contar a verdade. Que Emma generosamente se ofereceu para protegê-la, mas que você é quem realmente a carregou. E que eu..."
Ele parou, parecendo não saber como completar a frase.
"Que você ajudou a criá-la," Mello terminou suavemente. "Literalmente."
"Sim."
Emma havia caminhado até Amora, e as duas estavam conversando em voz baixa perto do grimório. Mello as viu trocando olhares significativos, ocasionalmente apontando para passagens no livro.
"Isso poderia funcionar," Amora finalmente anunciou. "A farsa da adoção, quero dizer. Magicamente, posso criar todas as ilusões necessárias para fazer Emma parecer grávida. E posso preparar feitiços de privacidade nos seus aposentos, Mello, para esconder quaisquer mudanças físicas óbvias."
"Quanto tempo precisaríamos manter o segredo?" Emma perguntou.
"Idealmente, para sempre," Amora respondeu. "Mas realisticamente, até que a criança esteja segura no trono. Digamos, vinte anos? Talvez dezoito se a criança amadurecer cedo e assumir responsabilidades jovem."
"Dezoito anos de mentiras," Snow murmurou.
"Dezoito anos de proteção," Emma corrigiu. "Para a criança, para Mello, para o reino."
Mello olhou ao redor do quarto, para as três pessoas que estavam propondo algo absolutamente insano. Magia antiga nunca testada. Riscos de morte. Transformação do corpo. Nove meses de dor e segredo. E no final, talvez, um bebê que ele teria que fingir ser seu sobrinho ou sobrinha.
Mas a alternativa ainda era pior. O tenente tomando o poder. Emma morrendo sem ver o futuro do reino garantido. Ele mesmo preso em um casamento que seria apenas outra forma de prisão.
"Eu preciso pensar," ele disse finalmente.
"Não temos muito tempo," Amora o lembrou. "O tenente está movendo suas peças. Quanto mais esperarmos, mais difícil será agir."
"Eu sei. Mas isso é..." Mello gesticulou vagamente. "É muito. Muito risco. Muita mudança."
Emma caminhou até ele, tomando suas mãos nas dela. "Ninguém está te forçando a escolher isso. Se você decidir se casar, eu apoiarei essa decisão também. O que importa é que seja sua escolha, não do conselho, não do tenente. Sua."
"E quanto a você?" Mello perguntou, olhando nos olhos cansados de sua irmã. "Fingir estar grávida, passar por toda essa farsa, quando você está doente..."
"Me daria propósito," Emma disse simplesmente. "Uma última contribuição para o reino. Uma forma de proteger tanto você quanto o futuro herdeiro. Eu ficaria honrada em fazer isso."
Snow tinha se afastado para a janela, dando a Mello e Emma um momento de privacidade. Mas Mello podia ver a tensão em seus ombros, a forma como seus punhos estavam cerrados.
Amora começou a organizar os documentos sobre o tenente, empilhando-os cuidadosamente. "Vou deixar vocês deliberarem. Mas saibam que se decidirem prosseguir, precisaremos começar os preparativos imediatamente. Os ingredientes para o ritual são raros. Alguns precisarão ser colhidos sob a lua cheia, que é daqui a cinco noites."
"Cinco noites," Mello repetiu.
"No máximo. Depois disso, teríamos que esperar outro mês, e duvido que o tenente nos dê esse tempo." Amora olhou para cada um deles. "Pensem bem. Pesem os riscos contra os benefícios. E me avisem da decisão até amanhã ao anoitecer."
Ela caminhou até a porta, destrancou-a, verificou que o corredor estava vazio, e saiu silenciosamente.
O quarto pareceu maior e mais frio com sua partida. Emma voltou para sua cadeira, claramente exausta pela longa conversa. Snow permaneceu na janela, ainda sem se virar.
Mello ficou no meio do quarto, sentindo-se perdido. Ele tinha vindo para esta conversa esperando... o quê? Certeza? Uma solução clara e sem riscos?
Em vez disso, tinha ainda mais perguntas. Ainda mais medos.
"Mello," Emma disse suavemente, "venha sentar. Você está ficando pálido."
Ele obedeceu, afundando em uma cadeira. Suas pernas de repente pareciam incapazes de suportá-lo.
Emma começou a detalhar como organizariam a farsa pública da adoção, sua voz calma e prática enquanto considerava cada aspecto. "Precisaríamos começar espalhando rumores sobre um possível tratamento mágico para minha infertilidade. Fazer parecer que Amora estava experimentando curas antigas. Então, quando eu 'engravidasse', seria surpresa, mas não completamente impossível..."
Mas Mello mal estava ouvindo. Sua mente estava correndo, processando tudo que Amora havia revelado. A dor. O risco de morte. A possibilidade de marcas mágicas no bebê.
Snow finalmente se virou da janela, interrompendo o planejamento de Emma. "Espere."
Ela parou, olhando para ele.
"Você está planejando todos esses detalhes, mas ninguém perguntou a coisa mais importante." Snow caminhou até ficar em frente a Mello. "Você está disposto a arriscar sua vida desta forma? Não pelo reino, não pela sucessão, não para impedir o tenente. Apenas por você. Isso é algo que você quer?"
Mello olhou para seu melhor amigo, para a preocupação genuína em seus olhos azuis, para a forma como suas mãos tremiam levemente ao seu lado.
"Eu não sei," ele admitiu. "Parte de mim acha que é a única solução real. Mas outra parte está apavorada. Eu poderia morrer, Snow. Quarenta por cento de chance."
"Exatamente." Snow se ajoelhou na frente da cadeira de Mello, colocando-os no mesmo nível. "De nada adianta autonomia se você morrer no processo. De nada adianta impedir o tenente se o preço for sua vida."
"Mas se eu não fizer nada—"
"Então encontraremos outra solução," Snow o interrompeu. "Tem que haver outra forma. Algo que não te coloque em risco tão grande."
Emma pigarreou suavemente. "Com todo respeito, Snow, eu não acho que haja. O casamento leva ao controle do conselho ou do tenente. A recusa leva ao golpe militar. E fugir apenas adia o inevitável. Esta magia, por mais arriscada que seja, é a única opção que oferece verdadeira mudança."
"Uma mudança que pode matá-lo," Snow insistiu.
"Ou salvá-lo," Emma contra-argumentou. "Salvar a todos nós."
Eles olharam um para o outro, a tensão no quarto crescendo. Então Snow voltou sua atenção para Mello.
"Se você concordar com isso, se você realmente decidir passar por essa loucura, então sim, eu concordo com minha parte. Eu vou ajudar. Mas..." Ele engoliu em seco. "Quero que você saiba que só estou concordando porque você está pedindo. Se houvesse qualquer outra forma, qualquer outro caminho..."
"Eu sei," Mello disse suavemente. "E isso significa mais para mim do que você imagina."
Snow assentiu, então se levantou. "Então nós realmente vamos fazer isso."
"Talvez," Mello corrigiu. "Ainda preciso pensar. Pesar tudo."
Emma começou a se levantar, claramente pretendendo voltar para seus próprios aposentos através da passagem secreta. Mas antes que pudesse completar o movimento, um som ecoou através da parede.
Passos. Rápidos e pesados, vindo da passagem secreta.
Os três trocaram olhares alarmados. Emma rapidamente empurrou o painel, revelando a passagem escura. As pisadas estavam ficando mais altas, mais próximas.
Snow imediatamente se posicionou entre Mello e a passagem, sua mão indo instintivamente para onde normalmente carregaria uma arma, embora não estivesse armado.
Uma figura emergiu da escuridão, respirando com dificuldade. À medida que a luz do quarto iluminou o rosto, Mello reconheceu Lorde Corwin, o nobre idoso que havia trazido os documentos sobre a conspiração do tenente.
Mas ao contrário de ontem à noite, quando ele havia parecido calmo e controlado, agora Corwin estava claramente agitado. Seu cabelo grisalho estava despenteado, e havia manchas de suor em sua túnica apesar do ar frio.
"Vossa Alteza," ele ofegou, curvando-se ligeiramente para Emma antes de se virar para Mello. "Vossa Alteza. Eu... preciso... informar..."
"Respire, Lorde Corwin," Emma disse, guiando-o para a cadeira que ela havia acabado de desocupar. "O que aconteceu?"
Corwin tomou alguns momentos para recuperar o fôlego, suas mãos tremendo enquanto aceitava um copo de água que Snow rapidamente ofereceu.
"O tenente," ele finalmente conseguiu dizer. "Ele acabou de convocar uma reunião emergencial do conselho mágico."
Mello sentiu seu sangue gelar. "Quando?"
"Daqui a duas horas," Corwin olhou para o relógio ornamentado na parede. "Ele alega ter informações críticas sobre a segurança do reino. Informações que não podem esperar."
"Que tipo de informações?" Emma perguntou, embora sua expressão sugeri que ela já suspeitava da resposta.
"Ele não especificou. Mas..." Corwin hesitou. "Há rumores de que ele vai propor intervenção militar imediata. Alegar que a crise sucessória está deixando o reino vulnerável demais, que decisões precisam ser tomadas agora."
"Ele está forçando a questão," Snow murmurou. "Não esperando mais pelos trinta dias."
"Exatamente," Corwin concordou. "E com os documentos que mostrei ontem, com as tropas já posicionadas, se o conselho concordar com ele..."
Ele não precisou completar. Todos sabiam o que aconteceria. O tenente teria autorização oficial para tomar medidas "temporárias" de segurança. Medidas que rapidamente se tornariam permanentes.
Mello se levantou, sentindo o pânico começar a subir em sua garganta. Duas horas. Ele tinha duas horas para decidir se passaria por um ritual mágico não testado que tinha quarenta por cento de chance de matá-lo, ou permitir que o tenente tomasse o poder e transformasse o reino em uma ditadura militar.
"O que eu faço?" ele ouviu a si mesmo perguntar, sua voz soando distante e assustada.
Emma se aproximou, tomando suas mãos novamente. "Você toma uma decisão. Agora. Não porque está sendo forçado, mas porque não fazer nada também é uma escolha. Uma escolha que entrega tudo ao tenente."
Snow estava ao lado dela, e pela primeira vez, Mello viu verdadeiro medo em seus olhos. "Se você concordar com o ritual, quando começaríamos?"
"Amora disse que precisaria de cinco dias para reunir ingredientes," Emma respondeu. "Mas talvez ela possa trabalhar mais rápido se explicarmos a urgência."
Lorde Corwin, ainda recuperando o fôlego na cadeira, olhou entre eles com confusão. "Ritual? De que vocês estão falando?"
Mello trocou olhares com Emma e Snow. Mais uma pessoa para envolver. Mais um segredo para compartilhar. Mas Corwin havia arriscado muito ao trazer as evidências contra o tenente.
"Há uma possibilidade alternativa para resolver a crise sucessória," Mello disse lentamente. "Uma que envolve magia antiga."
"Magia?" Corwin franziu a testa. "Que tipo de magia?"
Emma começou a explicar em termos gerais, poupando os detalhes mais íntimos mas deixando claro que o plano envolveria Mello gerando um herdeiro através de meios não convencionais, com ela assumindo a maternidade pública.
Conforme ela falava, os olhos de Corwin se arregalavam cada vez mais.
"Isso é... sem precedentes," ele finalmente disse quando Emma terminou. "E extremamente arriscado."
"Mais arriscado do que permitir que o tenente tome o poder?" Snow desafiou.
Corwin considerou isso. "Não. Talvez não." Ele olhou para Mello. "Mas Vossa Alteza, você entende o que estaria sacrificando? A dor, o perigo, a necessidade de segredo absoluto?"
"Eu entendo," Mello respondeu, embora não tivesse certeza de que realmente entendia. Como ele poderia entender algo tão além de qualquer experiência que já havia tido?
"Então você vai fazer isso?" Emma perguntou suavemente.
Mello olhou para cada rosto no quarto. Emma, pálida mas determinada, oferecendo assumir a maternidade pública de uma criança que não era sua. Snow, assustado mas leal, disposto a contribuir com sua parte mesmo com todos os riscos. Corwin, velho e cansado, mas ainda lutando para proteger o reino que servira por toda a vida.
E ele pensou no tenente, movendo suas tropas, fazendo seus planos, esperando o momento perfeito para assumir o controle.
"Duas horas até a reunião do conselho," ele disse, mais para si mesmo do que para os outros.
"Sim," Corwin confirmou.
"E se o tenente conseguir autorização para intervenção militar..."
"Então qualquer plano que tenhamos não importará mais," Emma completou. "Ele terá poder oficial para fazer o que quiser."
Mello caminhou até a mesa onde o grimório de Amora ainda estava aberto, olhando para as runas incompreensíveis, para os diagramas de transformação impossível.
Quarenta por cento de chance de morte. Nove meses de dor. Um bebê que poderia nascer com marcas mágicas que denunciariam tudo.
Mas também, autonomia. Escolha. Uma chance de impedir o tenente antes que fosse tarde demais.
Ele tocou a página do grimório, sentindo a textura antiga do pergaminho sob seus dedos.
"Alguém precisa encontrar Amora," ele disse, sua voz surpreendentemente firme. "Agora. Diga a ela que nós vamos prosseguir com o ritual."
Emma deixou escapar um suspiro de alívio. Snow fechou os olhos brevemente, como se estivesse orando. Corwin assentiu lentamente.
"Você tem certeza?" Snow perguntou, abrindo os olhos para olhar diretamente para Mello.
"Não," Mello admitiu. "Mas vou fazer mesmo assim."
"Então eu vou fazer minha parte," Snow disse, e havia promessa em sua voz. "E vou estar lá, durante todo o processo. Você não vai passar por isso sozinho."
Emma já estava se movendo em direção à passagem secreta. "Eu vou encontrar Amora. Corwin, você pode vir comigo? Precisaremos de você na reunião do conselho, para observar o que o tenente diz, para reportar de volta."
"Claro, Vossa Alteza," Corwin se levantou, ainda um pouco instável.
Mas antes que pudessem entrar na passagem, o som de passos novamente ecoou nas paredes.
Desta vez, mais de um par.
Emma congelou, sua mão na borda do painel. Todos no quarto ficaram imóveis, ouvindo.
As vozes chegaram primeiro, abafadas mas reconhecíveis. E então, emergindo da escuridão da passagem secreta, duas figuras apareceram.
Amora, vestida em seu habitual roxo profundo.
E ao lado dela, respirando com dificuldade, manchas de suor em seu uniforme militar, estava o tenente.
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