# Capítulo 3: Passagens Secretas Mello apertou o passo, como se pudesse deixar a conversa para trás fisicamente. Mas ele sabia que era impossível. As palavras de Amora tinham sido plantadas, e agora cresceriam em sua mente, querendo ele ou não. "Mello, espere!" Snow chamou atrás dele, seus passos ecoando pelo corredor de pedra. Mello não parou. Ele virou à esquerda bruscamente, depois à direita, atravessando corredores que conhecia desde a infância. Seus pés descalços não faziam barulho contra o tapete espesso, mas ele podia ouvir as botas militares de Snow batendo ritmicamente contra o chão, seguindo-o. "Mello!" Ele alcançou uma escadaria em espiral e subiu dois degraus de cada vez. Sua respiração estava ficando ofegante, mas não por causa do esforço físico. Era o pânico, pressionando contra seu peito, fazendo suas mãos tremerem. *Você mesmo poderia carregá-lo.* As palavras de Amora ecoavam em sua cabeça, se recusando a desaparecer. No topo da escada, Mello virou por outro corredor. Este era familiar, revestido com retratos de ancestrais que olhavam para baixo com expressões severas. Ele passou pelo retrato de seu bisavô, depois de seu pai, até finalmente chegar às portas duplas de seus aposentos. Ele se jogou contra elas, batendo-as abertas com força suficiente para fazê-las ricochetear contra as paredes. Dentro, virou-se imediatamente e começou a empurrar as portas para fechar, mas Snow já estava lá, colocando o pé na abertura. "Saia," Mello disse, sua voz áspera. "Não até você me dizer o que aconteceu." Snow empurrou a porta com força suficiente para abri-la mais. "O que Amora disse que te deixou assim?" "Eu disse que preciso pensar!" "E eu disse que sou seu amigo." Snow entrou no quarto, seus olhos azuis fixos no rosto de Mello. "Deixe-me ajudar." "Você não pode ajudar com isso." Mello deu as costas, caminhando para o centro do quarto. Os documentos que ele havia espalhado durante a noite ainda estavam no chão, pergaminhos espalhados como folhas mortas. A mancha de tinta ainda marcava o decreto antigo. "Ninguém pode." Snow fechou a porta atrás de si. "Tente." Mello pressionou as mãos contra as têmporas. Sua cabeça estava latejando, a falta de sono combinada com o choque da proposta de Amora criando uma dor surda atrás de seus olhos. Como ele poderia explicar? Como poderia dizer em voz alta algo tão completamente absurdo? "Mello." "Eu preciso ficar sozinho." "Você sempre precisa ficar sozinho quando está com problemas." Snow se aproximou, mas parou a alguns passos de distância. "E sempre acaba tomando decisões ruins porque não deixa ninguém ajudar." "Esta decisão é minha para tomar." "E eu não estou tentando tomá-la por você." A voz de Snow era paciente, como se estivesse falando com uma criança assustada. "Mas pelo menos compartilhe o fardo. Deixe-me ajudá-lo a pensar." Mello balançou a cabeça. "Não. Não desta vez." Houve um longo silêncio. Então Snow suspirou. "Tudo bem. Mas se você mudar de ideia—" "Saia." Mello não se virou. "Por favor." Outro silêncio. Então o som de botas se afastando, a porta se abrindo. "Estarei nos quartéis se precisar de mim." A porta fechou suavemente. Mello esperou até que os passos de Snow desaparecessem completamente antes de se mover. Ele caminhou até a porta e trancou-a, empurrando o ferrolho grosso no lugar. Depois, por precaução extra, arrastou uma cadeira pesada e a encaixou sob a maçaneta. Só então ele permitiu que seus joelhos cedessem. Ele deslizou pela porta até ficar sentado no chão, suas costas pressionadas contra a madeira sólida. A sala girava levemente ao seu redor, mas ele não sabia se era por falta de sono ou pelo choque ainda reverberando através de seu sistema. *Você mesmo poderia carregá-lo.* Mello fechou os olhos com força, mas a imagem do grimório de Amora ainda aparecia em sua mente. As duas figuras cercadas por círculos de runas. A energia fluindo entre elas. A explicação calma de Amora sobre como um homem poderia, com magia suficiente, passar por uma transformação que desafiava toda lógica natural. Impossível. Tinha que ser impossível. Mas Amora não era alguém que mentia. Ela era uma das magas mais respeitadas do reino, sua posição no conselho conquistada através de décadas de estudo e prática. Se ela dizia que a magia era real, então provavelmente era. O que não tornava menos horrível. Mello abriu os olhos e olhou para o teto. A luz da manhã entrava pelas janelas, criando padrões dourados no dossel de sua cama. Um novo dia. Vinte e oito dias restantes agora. Vinte e oito dias para tomar uma decisão que mudaria o curso de sua vida inteira. Casamento ou... aquilo. Ele se levantou lentamente, suas pernas instáveis. Caminhou até a janela e olhou para os jardins lá embaixo. Servos já estavam trabalhando, aparando arbustos, varrendo caminhos. Vida normal continuando como sempre, inconsciente da crise acontecendo nas torres acima. Quanto tempo ele poderia ficar aqui? Quanto tempo antes que alguém viesse procurá-lo, exigir sua presença, forçá-lo a enfrentar o mundo exterior? Ele decidiu testar os limites. Mello se aproximou da porta e destravou-a o suficiente para abri-la uma fenda. Um jovem servo estava passando no corredor. "Você," Mello chamou. O servo parou imediatamente, virando-se e fazendo uma reverência profunda. "Vossa Alteza?" "Eu não quero ser perturbado pelo resto do dia. Nenhum visitante, nenhuma convocação. Se alguém perguntar, diga que estou indisposto." "Sim, Vossa Alteza." O servo hesitou. "E quanto às refeições?" Mello não tinha pensado nisso. Seu estômago estava revirado demais para considerar comida, mas provavelmente deveria manter as aparências. "Deixe uma bandeja do lado de fora da porta ao meio-dia. Não bata." "Como desejar, Vossa Alteza." Mello fechou a porta e a trancou novamente. Empurrou a cadeira de volta no lugar. Então, finalmente sozinho e seguro de que permaneceria assim, ele se permitiu desmoronar. Ele se sentou na beirada da cama, sua cabeça nas mãos. Tentou pensar racionalmente, separar a emoção do lógico, mas era impossível. Cada vez que tentava analisar a proposta de Amora objetivamente, sua mente se rebelava contra o puro absurdo dela. Ele era um homem. Homens não carregavam crianças. Era biologicamente impossível, uma violação de todas as leis naturais. E mesmo que a magia pudesse fazer o impossível, mesmo que Amora tivesse o conhecimento e o poder para transformá-lo temporariamente em algo que ele não era, o pensamento era repulsivo. Não era? Mello pausou nesse pensamento, examinando-o. A ideia era chocante, certamente. Perturbadora. Completamente fora de qualquer coisa que ele havia considerado ou imaginado. Mas repulsiva? Ele tentou imaginar, realmente imaginar, passar por isso. Nove meses de esconder uma transformação física. Nove meses de carregar uma vida dentro dele. O ritual em si, seja lá o que fosse, que Amora teria que realizar. Seu estômago se apertou. Sim, definitivamente repulsivo. Mas então ele pensou na alternativa. Um casamento arranjado. Uma princesa estrangeira escolhida por seus laços políticos e linhagem. Compartilhar sua cama com alguém que ele não conhecia, não amava, talvez nem gostasse. Sorrir para o conselho enquanto eles manipulavam cada aspecto de sua vida, transformando-o em um fantoche no próprio trono. Seu estômago se apertou ainda mais. As horas passaram lentamente. Mello se deitou na cama, encarando o dossel acima dele. Levantou-se e andou pelo quarto. Sentou-se na cadeira perto da janela. Moveu-se para a mesa onde os documentos ainda estavam espalhados. Ao meio-dia, ele ouviu passos no corredor, seguidos pelo som suave de uma bandeja sendo colocada no chão. Ele esperou até os passos se afastarem antes de destrancar a porta e pegar a bandeja. Pão, queijo, frutas, um jarro de água. Ele levou tudo para dentro e trancou a porta novamente. Comeu mecanicamente, sem realmente provar nada. Seu estômago aceitou a comida com relutância. A tarde arrastou-se. Mello tentou dormir mas não conseguiu. Cada vez que fechava os olhos, via o grimório de Amora, ouvia suas palavras. *Seria completamente sua. Sua escolha. Seu controle.* Controle. Essa palavra continuava voltando. Mello tinha passado toda sua vida sendo controlado por outros. Seu pai decidindo sua educação. O conselho decidindo suas responsabilidades. Alderon decidindo seu futuro. A proposta de Amora, por mais estranha que fosse, oferecia algo que ele nunca havia tido: verdadeira autonomia. Uma escolha que seria inteiramente sua, feita em seus termos, sem a aprovação ou conhecimento do conselho. Mas a que custo? Mello se levantou da cama novamente e caminhou até a janela. O sol estava começando a se pôr, pintando o céu com tons de laranja e rosa. Outro dia quase terminado. Vinte e sete dias restantes. Ele pressionou a testa contra o vidro frio. Precisava falar com alguém. Precisava processar isso em voz alta, não apenas em sua própria cabeça. Mas quem? Snow era seu melhor amigo, mas Mello tinha fugido dele. E mesmo que não tivesse, como ele poderia explicar algo tão completamente além do normal? Emma. O pensamento veio subitamente. Ele poderia falar com Emma. Mas Emma estava doente, fraca. Ela tinha seus próprios problemas, sua própria mortalidade a enfrentar. Seria justo sobrecarregá-la com isso? Mello balançou a cabeça. Não, ele não poderia. Não deveria. Esta era sua carga para carregar, sua decisão para tomar. Sozinho. As horas da tarde se transformaram em noite. Mello acendeu velas ao redor do quarto, criando pequenos círculos de luz contra a escuridão crescente. Ele se sentou na cadeira perto da lareira, onde as brasas ainda brilhavam fracamente, e tentou pensar. Pense racionalmente. Pese as opções. Tome uma decisão baseada em lógica, não em emoção. Opção um: casar-se como o conselho exigia. Encontrar uma princesa adequada, realizar a cerimônia, cumprir os deveres maritais. Gerar um herdeiro da maneira tradicional, aceitável, normal. Vantagens: o conselho ficaria satisfeito. A sucessão seria garantida. Nenhuma magia proibida envolvida. Nenhum segredo perigoso para manter. Desvantagens: perda total de autonomia. Um casamento sem amor. Uma vida controlada pelo conselho. E Emma... que garantia ele teria de que qualquer nova rainha trataria bem sua irmã moribunda? Opção dois: aceitar a proposta de Amora. Passar pelo ritual. Carregar a criança ele mesmo. Vantagens: escolha pessoal. Controle sobre a situação. Nenhum casamento forçado. E o herdeiro seria completamente seu, não compartilhado com uma estranha. Desvantagens: o risco de descoberta era enorme. Se o conselho descobrisse, eles poderiam considerá-lo louco ou corrupto pela magia negra. E a própria ideia de passar por tal transformação era... era... Mello pausou. O que era, exatamente? Errado? Segundo quem? Antinatural? Mas Amora havia dito que a magia era antiga, usada antes. Então não era completamente sem precedentes. Ele se levantou novamente, incapaz de ficar parado. Começou a andar pelo quarto, seus passos traçando um caminho familiar ao redor da cama, passando pela janela, contornando a mesa. E se ele simplesmente se recusasse a fazer qualquer coisa? E se deixasse os trinta dias passarem sem tomar nenhuma decisão? Alderon cumpriria sua ameaça. O trono seria declarado vago. Emma perderia toda proteção. E Mello... Mello se tornaria apenas mais um nobre, desprovido de poder, incapaz de proteger sua irmã ou honrar a memória de seus pais. Inaceitável. Então havia apenas duas escolhas reais. Casamento ou magia. Tradição ou autonomia. Segurança ou controle. Mello parou perto da janela. A lua estava nascendo, prateada e quase cheia. Estrelas pontilhavam o céu escuro. Algures lá fora, pessoas viviam suas vidas sem se preocupar com sucessões reais ou magias proibidas. Eles se casavam por amor. Tinham filhos naturalmente. Faziam escolhas simples. Ele pressionou a mão contra o vidro, sentindo o frio da noite através dele. Talvez ele estivesse pensando demais. Talvez a resposta fosse óbvia e ele simplesmente não quisesse vê-la. Talvez— Um som suave interrompeu seus pensamentos. Um clique, seguido por um rangido. Mello girou. A lareira. Não, não a lareira em si, mas o painel ao lado dela. Estava se movendo, deslizando para o lado para revelar uma abertura escura. Ele congelou, seu coração acelerando. Pouquíssimas pessoas sabiam sobre aquela passagem secreta. Ele e Emma a tinham descoberto quando crianças, brincando de esconde-esconde pelos aposentos reais. Um túnel que conectava o quarto de Mello ao de Emma, construído há gerações por algum ancestral paranoico. Uma figura apareceu na abertura. Pequena, usando um roupão branco que parecia fantasmagórico à luz das velas. "Emma," Mello exalou. Ela entrou no quarto, o painel deslizando fechado atrás dela. Seus cabelos loiros estavam soltos, caindo sobre seus ombros magros. Mesmo na luz fraca das velas, Mello podia ver como ela estava pálida, círculos escuros sob seus olhos. "Você trancou sua porta," ela disse, sua voz fraca mas firme. "Então usei nosso caminho secreto." "Emma, você deveria estar descansando." "E você deveria estar enfrentando seus problemas, não se escondendo deles." Ela caminhou lentamente para a cadeira mais próxima e se sentou, claramente cansada do esforço de atravessar a passagem. "O que aconteceu?" "Nada." "Mentiroso." Emma o observou com olhos que eram azuis como os dele, mas mais suaves, mais gentis. "Você trancou sua porta e recusou visitantes. Os servos estão preocupados. Snow veio me procurar, perguntando se eu sabia o que estava acontecendo." "E o que você disse?" "Que meu irmão é teimoso e dramático, mas que eventualmente sairia de seu quarto quando estivesse pronto." Ela inclinou a cabeça. "Mas agora estou curiosa. O que Amora disse que te deixou assim?" Mello desviou o olhar. "Não é nada." "Mello." Emma esperou até que ele olhasse para ela novamente. "Quantos segredos guardamos um do outro ao longo dos anos?" "Nenhum," ele admitiu relutantemente. "Exatamente." Ela gesticulou para a cadeira ao lado dela. "Então sente-se e me conte." Mello hesitou. Cada instinto dizia para não compartilhar isso, para manter o peso sozinho. Mas Emma o conhecia melhor que ninguém. E ela estava certa, eles nunca tinham guardado segredos um do outro. Lentamente, ele caminhou até a cadeira e se sentou. Por um longo momento, ele apenas olhou para suas mãos, tentando encontrar as palavras. "Amora me ofereceu uma alternativa ao casamento," ele finalmente disse. Emma esperou. Quando ele não continuou, ela o incentivou. "Que tipo de alternativa?" "Uma que... uma que envolve magia." Mello engoliu em seco. "Magia antiga. Proibida." "Proibida como perigosa ou proibida como inconveniente para aqueles no poder?" A pergunta o surpreendeu. Ele olhou para Emma, e ela deu um pequeno sorriso. "Passei os últimos meses conversando com curandeiros e magos," ela explicou. "Aprendi que nem toda magia proibida é realmente má. Às vezes é apenas... ameaçadora para a ordem estabelecida." Mello assentiu lentamente. "Amora disse algo similar." "Então o que é essa magia?" Aqui estava o momento. Mello respirou fundo. "Ela disse que eu poderia... que há um ritual que permitiria que eu mesmo gerasse o herdeiro. Sem casamento. Sem esposa." Emma piscou. "Como?" "Através de transformação mágica. Temporária." As palavras saíam em um jato agora, como se uma represa tivesse se rompido. "Ela tem um grimório antigo com o ritual descrito. Eu receberia a... a semente de alguém, e então carregaria a criança por nove meses." Silêncio. Emma o encarou, seus olhos arregalados. Mello se preparou para o choque, a repulsa, talvez até o ridículo. Mas quando Emma finalmente falou, sua voz era pensativa. "Isso é possível?" Não era a reação que ele esperava. "Você... você acredita nela?" "Amora não é alguém que faria propostas levianas." Emma se recostou na cadeira, uma mão pressionada contra seu peito onde Mello sabia que a dor da doença frequentemente se concentrava. "Se ela diz que a magia existe, então provavelmente existe." "Mas é... Emma, é absurdo. Antinatural." "É não convencional," Emma corrigiu. "Há uma diferença." Mello a encarou. "Como você pode estar tão calma sobre isso?" "Porque passei os últimos meses enfrentando minha própria mortalidade." Emma olhou pela janela, para a noite lá fora. "Quando você sabe que vai morrer, muitas coisas que pareciam importantes de repente se tornam triviais. E muitas coisas que pareciam impossíveis se tornam... apenas desafios." "Isso não é apenas um desafio. É—" "Uma escolha." Emma o interrompeu, virando seu olhar de volta para ele. "Uma escolha que seria completamente sua. Não ditada pelo conselho. Não arranjada por políticos. Sua." Essas eram quase as mesmas palavras que Amora havia usado. Mello se levantou, incapaz de permanecer sentado. "Mas a que custo? Se o conselho descobrisse—" "Por que descobririam?" Emma perguntou. "Se o ritual for feito em segredo, e você permanecer no palácio durante a gestação, quem saberia a verdade?" "Amora. Quem quer que fornecesse..." Mello engoliu em seco, incapaz de terminar. "A semente," Emma completou sem constrangimento. "Sim. Essa pessoa teria que ser alguém de extrema confiança." "E eu teria que passar nove meses escondendo a transformação. Mentindo para todos." "Você já passa todos os dias usando máscaras," Emma observou. "Sorrindo para o conselho quando quer gritar com eles. Sendo educado com nobres que você despreza. Qual seria a diferença?" "A diferença é que isso seria uma mentira muito maior!" "Ou uma verdade muito privada." Emma se levantou lentamente, apoiando-se no braço da cadeira. "Mello, o que te assusta mais? A magia em si ou a perda de controle?" A pergunta o atingiu como um golpe físico. Mello abriu a boca para responder, então a fechou. O que o assustava mais? A transformação era aterrorizante, certamente. A ideia de seu corpo mudando, de carregar uma vida dentro dele, ia contra tudo que ele sempre entendeu como verdade sobre si mesmo. Mas o casamento... o casamento significaria entregar o controle de sua vida inteira para o conselho e para uma estranha que se tornaria sua rainha. Significaria nunca mais fazer uma escolha verdadeiramente sua. "Ambos me assustam," ele admitiu finalmente. "Então escolha o medo que vem com autonomia, não o que vem com submissão." Emma caminhou até ele, colocando uma mão em seu braço. "Você sempre foi valente, Mello. Não deixe o conselho tirar isso de você." Lágrimas ardiam nos olhos de Mello. Ele piscou para afastá-las. "E se eu não conseguir? E se for demais?" "Então você terá tentado em seus próprios termos." Emma apertou seu braço. "Isso é mais do que a maioria das pessoas consegue dizer sobre suas vidas." Mello olhou para sua irmã. Ela era tão pequena, tão frágil agora. A doença estava consumindo-a dia após dia. Mas sua força interior permanecia, brilhando através dos olhos que o conheciam melhor que ninguém. "Eu temia que você fosse julgá-lo," Emma disse suavemente. "Que você pensaria menos de mim por considerar tal coisa." "Como eu poderia?" Emma sorriu tristemente. "Mello, eu passei meses considerando magias que poderiam curar o incurável, prolongar o que não pode ser prolongado. Eu entendo fazer coisas desesperadas quando confrontado com impossibilidades." Algo na forma como ela disse isso fez Mello pausar. "O que você quer dizer?" Emma hesitou. Então, lentamente, ela caminhou de volta para a cadeira e se sentou. "Eu também tenho conversado com Amora." "Sobre o quê?" "Sobre magias que poderiam me dar mais tempo." Emma olhou para suas mãos, pálidas e magras no colo. "A doença não tem cura, mas há magias que poderiam retardar sua progressão. Me dar mais alguns meses, talvez até um ano." O coração de Mello acelerou. "E ela pode fazer isso?" "Ela pode. Mas há riscos." Emma o olhou. "E há um custo." "Que tipo de custo?" "O tipo que eu estou disposta a pagar se significar que posso conhecer seu herdeiro." Emma sorriu, mas havia tristeza nele. "Eu quero ver o futuro da nossa linhagem, Mello. Quero saber que nossa família continuará mesmo depois que eu me for." Mello se ajoelhou ao lado da cadeira de Emma, pegando suas mãos. "Emma, você não precisa—" "Eu quero," ela o interrompeu. "Mas só farei se você tomar sua própria decisão primeiro. Não por mim. Por você." "Como posso não considerar você? Você é minha irmã, minha única família restante." "E você é meu irmão. É por isso que estou te dizendo: escolha o caminho que preserva quem você é." Emma apertou suas mãos. "Não deixe o conselho transformá-lo em algo que você não é. Se essa magia, por mais estranha que seja, permite que você mantenha sua autonomia, então pelo menos considere seriamente." Mello descansou sua testa contra as mãos unidas deles. "Estou com medo." "Eu sei. Mas você sempre foi corajoso quando importava." Emma passou os dedos pelos cabelos dele, um gesto que ela fazia desde que eram crianças. "E isso importa, Mello. Seu futuro, o futuro do reino, quem você se tornará como governante... tudo depende de você manter sua integridade agora." Eles ficaram assim por um longo momento, irmão e irmã, unidos contra o mundo que exigia tanto deles. Finalmente, Mello levantou a cabeça. "Você realmente acha que eu deveria considerar isso?" "Acho que você deveria considerar todas as suas opções honestamente," Emma disse. "Sem julgamento. Sem medo do que outros pensariam. Apenas você, sozinho com sua consciência, decidindo o que é certo para você." "E se eu escolher a magia? Se eu concordar com o ritual de Amora?" "Então eu apoiarei você completamente." Emma sorriu. "E usarei a magia dela também, para garantir que eu viva o suficiente para conhecer meu sobrinho ou sobrinha." As lágrimas que Mello tinha estado segurando finalmente caíram. Ele puxou Emma para um abraço, sentindo como ela estava frágil em seus braços, mas também sentindo a força que ainda permanecia nela. "Obrigado," ele sussurrou. "Não precisa agradecer. É para isso que serve a família." Emma se afastou, limpando suas próprias lágrimas. "Agora, há mais alguma coisa sobre essa proposta que você precise processar?" Mello assentiu lentamente. "Amora disse que eu precisaria de alguém de confiança para... para fornecer a parte necessária para o ritual." "E você tem alguém em mente?" Mello pensou em Snow. Seu melhor amigo, talvez seu único amigo verdadeiro além de Emma. Snow tinha se oferecido para ajudá-lo inúmeras vezes. Mas isso? Isso era pedir muito mais do que ajuda comum. "Talvez," ele admitiu. "Mas não sei como pedir algo assim." "Um passo de cada vez," Emma o aconselhou. "Primeiro, decida se você realmente quer fazer isso. Depois preocupe-se com os detalhes." "Vinte e sete dias," Mello disse. "É quanto tempo me resta." "Tempo suficiente para tomar uma decisão informada." Emma se levantou, apoiando-se no braço da cadeira novamente. "Mas não muito tempo para procrastinar." "Você deveria voltar para seus aposentos," Mello disse, notando como ela estava pálida. "Descansar." "Em breve." Emma caminhou até a janela, olhando para a noite. "Sabe, quando éramos crianças, você sempre dizia que ia mudar o mundo. Fazer coisas que ninguém tinha feito antes." "Eu era uma criança tola." "Você era uma criança cheia de possibilidades." Emma se virou para olhá-lo. "Talvez seja hora de abraçar isso novamente. Fazer algo que ninguém fez antes, não porque é fácil, mas porque é certo para você." Mello juntou-se a ela na janela. Lado a lado, eles olharam para o reino que se estendia além dos muros do palácio. Luzes cintilavam nas casas da cidade. A lua prateada banhava tudo em seu brilho pálido. "Se eu fizer isso," Mello disse devagar, "e se descobrirem..." "Então enfrentaremos isso juntos," Emma prometeu. "Como sempre fizemos." Ela pegou sua mão, entrelaçando seus dedos com os dele. Irmão e irmã, unidos contra qualquer coisa que o futuro pudesse trazer. E pela primeira vez desde que saiu dos aposentos de Amora, Mello sentiu algo além de pânico e confusão. Sentiu a menor centelha de algo que poderia ter sido esperança, ou talvez apenas a aceitação de que, não importa quão impossível a escolha parecesse, ele teria que fazer uma. Emma apertou sua mão, e Mello apertou de volta.

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