Chapter 6: Resultado Positivo e Proposta Inesperada O motorista saiu do carro quando chegaram ao laboratório. Randal entregou um cartão para ele. "Busque os resultados," ele instruiu. "Estão no meu nome." O motorista assentiu e entrou no prédio. Mello ficou no banco de trás com Sofia no colo. Ela tinha parado de chorar mas ainda estava fazendo bico. O rosto estava vermelho e manchado de lágrimas. "Quero ir para casa," ela disse pela milésima vez. "Já vamos," Mello respondeu. "Mais um pouco." Randal estava no outro lado do banco olhando pela janela. Ele não tinha dito nada desde que entraram no carro. Os dedos dele batucavam no joelho em um ritmo irregular. Mello observou o movimento pensando que Randal provavelmente estava nervoso. Os resultados iam confirmar ou negar se Sofia era sua irmã. Uma resposta definitiva depois de dias de incerteza. Sofia se mexeu no colo dele tentando ficar mais confortável. Ela tinha colocado o polegar na boca e estava chupando. "Não chupa o dedo," Mello disse tirando o polegar da boca dela. Sofia choramingou mas obedeceu. Ela encostou a cabeça no peito dele e fechou os olhos. Provavelmente ia dormir se ficassem ali tempo suficiente. O motorista voltou cinco minutos depois. Ele entrou no carro e entregou um envelope branco para Randal. Randal pegou o envelope mas não abriu imediatamente. Ele ficou segurando por alguns segundos apenas olhando para o próprio nome impresso na frente. Mello esperou. Não tinha direito de apressar Randal. Não quando o conteúdo daquele envelope ia mudar a vida de todos ali. Randal finalmente rasgou o envelope. Tirou duas folhas de papel grampeadas. Os olhos dele percorreram o texto rapidamente. A expressão não mudou enquanto lia. Mello tentou interpretar a reação mas Randal tinha uma boa cara de pôquer. Impossível saber o que os resultados diziam apenas observando. Randal terminou de ler e dobrou os papéis de volta. Ele guardou no bolso interno do paletó e olhou para o motorista. "Leve para o endereço que Mello fornecer." O motorista acenou que tinha entendido. Ele olhou pelo retrovisor esperando que Mello falasse. Mello deu o endereço do apartamento. Sua voz saiu mais calma do que esperava considerando que ainda não sabia o resultado do teste. O carro começou a se mover. Sofia tinha adormecido de verdade agora. A respiração dela era regular e profunda contra o peito de Mello. Ele queria perguntar sobre os resultados mas as palavras não saíam. Talvez porque parte dele já tinha aceitado que Sofia era uma Von Ivory. As marcas de nascença eram muito específicas para serem coincidência. Randal continuou olhando pela janela durante todo o trajeto. Ele não ofereceu informação sobre o que tinha lido. Apenas ficou em silêncio observando a cidade passar. O apartamento de Mello ficava em um prédio antigo no centro. Três andares sem elevador. Pintura descascada nas paredes externas. Uma padaria no térreo que sempre cheirava a pão queimado. O motorista estacionou na frente. Mello começou a abrir a porta mas Randal falou antes que ele pudesse sair. "Posso subir? Gostaria de ver onde ela mora." Mello hesitou. Não gostava de receber visitas. O apartamento era pequeno e bagunçado. Nada comparado ao que Randal provavelmente estava acostumado. Mas ele tinha trazido Randal até aqui. Tinha iniciado todo esse processo quando enviou aquele primeiro e-mail. Não podia recuar agora. "Terceiro andar," Mello disse. "Apartamento 304." Eles saíram do carro. Randal dispensou o motorista dizendo que ligaria quando precisasse. O motorista foi embora deixando eles na calçada. Mello subiu as escadas carregando Sofia. Ela continuava dormindo apesar do movimento. A cabeça balançava contra o ombro dele a cada degrau. Randal seguiu atrás sem comentar sobre o estado do prédio. Ele apenas observava tudo com aquela expressão neutra que parecia ser permanente. O apartamento estava trancado com duas fechaduras diferentes. Mello teve que fazer malabarismos com Sofia no colo enquanto procurava as chaves no bolso. Randal esperou pacientemente. Não ofereceu ajuda. Apenas observou Mello lutar com as chaves até conseguir destrancar a porta. O apartamento era pequeno como Mello tinha antecipado. Sala e cozinha integradas. Um quarto que ele e Sofia dividiam. Banheiro minúsculo sem box adequado. Brinquedos estavam espalhados pelo chão da sala. Livros infantis empilhados no sofá. Roupas de criança secando em um varal improvisado perto da janela. Mello entrou carregando Sofia direto para o quarto. Ele a deitou na cama deles com cuidado para não acordá-la. Cobriu com um lençol fino porque o apartamento estava quente. Quando voltou para a sala Randal estava parado no meio do espaço olhando ao redor. Os olhos dele catalogavam cada detalhe. A rachadura no teto. A tinta descascada perto da janela. A mesa pequena com duas cadeiras que não combinavam. "Moro aqui há oito meses," Mello disse embora Randal não tivesse perguntado. "É o suficiente para nós dois." Randal não respondeu imediatamente. Ele caminhou até a janela e olhou para a rua lá embaixo. Dava para ver a padaria e parte do movimento na calçada. "O teste deu positivo," Randal disse ainda olhando pela janela. "Sofia é minha irmã. Temos 99.9% de compatibilidade genética." Mello tinha esperado essa resposta mas ainda assim as palavras o atingiram com força. Sofia era uma Von Ivory. Filha do bilionário. Herdeira de uma fortuna. E ele era apenas o homem que a tinha encontrado abandonada três anos atrás. "Entendo," Mello disse porque precisava dizer alguma coisa. Randal se virou para encará-lo. A expressão continuava neutra mas havia algo diferente nos olhos. Talvez incerteza. Talvez preocupação. "Preciso pensar sobre o que fazer agora," Randal continuou. "Tecnicamente ela tem direito a parte da herança. Meu pai deixou instruções de que todos os filhos biológicos teriam direito igual aos bens." "Você vai querer a custódia dela então." Não era uma pergunta. Mello já tinha aceitado que isso ia acontecer. Sofia tinha uma família de verdade. Tinha direito a conhecer suas origens. Tinha direito a vida que o dinheiro dos Von Ivory poderia proporcionar. Mas Randal balançou a cabeça. "Não tenho capacidade para cuidar de uma criança de três anos. Trabalho doze horas por dia no mínimo. Viajo constantemente para reuniões. Minha vida não tem espaço para responsabilidades de tempo integral com uma criança." Mello não tinha esperado essa resposta. Ele ficou em silêncio tentando processar o que Randal estava dizendo. "Então o que você quer fazer?" ele perguntou finalmente. Randal caminhou até o sofá e tirou alguns livros infantis para poder sentar. Ele se acomodou e olhou para Mello que ainda estava de pé perto da porta do quarto. "Você tem cuidado dela por três anos," Randal começou. "Ela te chama de mamãe. Te reconhece como figura parental. Tirar ela de você agora seria traumático para ela." "Mas ela é sua irmã." "Sim. E como irmão dela tenho responsabilidade de garantir que ela tenha a melhor vida possível. Atualmente a melhor vida para Sofia envolve continuar sob seus cuidados." Mello não tinha certeza de onde Randal estava indo com essa linha de raciocínio. Ele esperou que o outro homem continuasse. "Quero propor um acordo," Randal disse. "Você continua cuidando de Sofia como tem feito. Eu pago um salário mensal para você como babá de tempo integral dela." "Um salário." "Cinquenta mil reais por mês. Mais benefícios. Plano de saúde completo para você e Sofia. Dentista. Qualquer tratamento médico necessário totalmente coberto." Mello piscou tentando processar os números. Cinquenta mil reais por mês era mais do que ele ganhava em seis meses com os trabalhos freelance de segurança. Era dinheiro suficiente para viver confortavelmente. Para dar a Sofia tudo que ela precisasse. "Isso é muito dinheiro," ele disse. "É o valor justo para alguém que cuida da minha irmã em tempo integral," Randal respondeu. "Além do salário também vou providenciar um apartamento melhor. Três quartos no mínimo. Em um bairro seguro. Com estrutura adequada para uma criança." Mello olhou ao redor do apartamento pequeno. Para as paredes rachadas e a pintura descascada. Para os brinquedos espalhados porque não havia espaço de armazenamento adequado. Sofia merecia mais do que isso. Sempre mereceu. "Por que você está fazendo isso?" Mello perguntou. "Seria mais fácil contratar uma babá profissional. Alguém com referências verificáveis." "Porque Sofia já te conhece. Já confia em você. E porque pelo que observei você se importa genuinamente com o bem-estar dela." Randal se levantou do sofá e caminhou até ficar a alguns passos de Mello. "Além disso preciso de alguém que entenda a importância de manter Sofia segura. Ela é herdeira de uma fortuna considerável. Existem pessoas que poderiam querer machucá-la por causa disso. Preciso de alguém que esteja disposto a protegê-la." Mello pensou sobre isso. Randal tinha um ponto. Sofia estava em perigo agora que sua identidade como Von Ivory seria revelada. Ela precisava de proteção. E Mello tinha experiência em manter pessoas seguras. Mesmo que essa experiência viesse de um passado que ele preferia esquecer. "Vou precisar de liberdade para tomar decisões sobre a segurança dela," Mello disse. "Não posso fazer meu trabalho se precisar pedir permissão para cada medida de proteção." "Concordo. Você terá autonomia completa sobre questões de segurança." "E sobre a rotina dela? Educação? Atividades?" Randal hesitou antes de responder. "Gostaria de estar envolvido nessas decisões. Sofia é minha irmã. Quero participar da vida dela mesmo que não possa cuidar dela em tempo integral." Algo na forma como Randal disse isso fez Mello perceber que o outro homem realmente se importava. Talvez não da forma tradicional. Talvez não da forma que a maioria das pessoas entenderia como amor fraternal. Mas havia um desejo genuíno de fazer parte da vida de Sofia. "Que tipo de envolvimento você quer?" Mello perguntou. "Visitá-la três vezes por semana. Quero passar tempo com ela. Conhecê-la. Fazer parte da rotina dela." "Três vezes por semana." "No mínimo. Mais se minha agenda permitir." Mello pensou sobre o que isso significaria. Randal visitando regularmente. Estando presente na vida deles de forma constante. Eles teriam que interagir frequentemente. Conversar sobre Sofia. Tomar decisões juntos. "Também quero relatórios diários," Randal continuou. "Nada elaborado. Apenas mensagens me informando sobre como Sofia está. O que ela comeu. Se dormiu bem. Qualquer coisa notável que aconteceu durante o dia." "Relatórios diários," Mello repetiu. "Preciso saber que ela está bem. Mesmo quando não posso estar presente." Mello cruzou os braços pensando sobre a proposta. Cinquenta mil reais por mês. Um apartamento melhor. Plano de saúde completo. Tudo que Sofia precisava para ter uma vida confortável. Em troca ele teria que aceitar Randal como parte constante de suas vidas. Teria que se acostumar com visitas regulares. Com perguntas sobre a rotina de Sofia. Com a presença de alguém que tinha todo o direito de questionar suas decisões. "Preciso pensar sobre isso," Mello disse finalmente. Randal assentiu como se tivesse esperado essa resposta. "Claro. É uma decisão importante." Ele tirou um cartão do bolso e entregou para Mello. "Meu número pessoal está aí. Me ligue quando decidir." Mello pegou o cartão. Era simples. Branco com o nome de Randal e um número de telefone impresso em preto. "Quanto tempo você precisa?" Randal perguntou. "Alguns dias. Talvez uma semana." "Tudo bem. Mas quanto antes você decidir mais cedo posso começar a providenciar o apartamento novo." Randal caminhou até a porta. Ele parou com a mão na maçaneta e olhou para trás. "Uma última coisa. Se aceitar a proposta vou precisar que assine um contrato. Termos de confidencialidade. Acordos sobre custódia. Proteção legal para ambos." "Entendo." Randal abriu a porta mas hesitou antes de sair. "Sofia tem sorte de ter você," ele disse. "Independente da sua resposta quero que saiba disso." Ele saiu antes que Mello pudesse responder. A porta fechou deixando Mello sozinho na sala bagunçada. Mello olhou para o cartão na mão. Depois para a porta do quarto onde Sofia dormia. Ele podia ouvir a respiração suave dela mesmo dali. Cinquenta mil reais por mês mudaria tudo. Eles poderiam morar em um lugar decente. Sofia poderia ter brinquedos novos. Roupas que servissem adequadamente. Educação de qualidade. Mas aceitar significava ter Randal constantemente presente. Significava compartilhar Sofia de uma forma que ele nunca tinha compartilhado antes. Mello guardou o cartão no bolso e foi até o quarto. Sofia tinha se mexido na cama. Ela estava deitada de lado segurando o cobertor com uma mão. Ele se sentou na beirada da cama observando ela dormir. Três anos. Tinha sido apenas ele e Sofia por três anos. Eles tinham uma rotina. Tinham um ao outro. Agora tudo estava mudando. Sofia se mexeu de novo fazendo um barulhinho sonolento. Mello colocou a mão na cabeça dela em um gesto automático de conforto. Ela acalmou imediatamente. Mesmo dormindo reconhecia o toque dele. Mello ficou sentado ali por muito tempo pensando sobre a proposta de Randal. Pensando sobre o que seria melhor para Sofia. Pensando sobre como seria ter alguém mais envolvido na vida deles depois de tanto tempo sozinho. O sol estava começando a se pôr quando ele finalmente se levantou. Sofia ainda dormia profundamente. Provavelmente ia acordar com fome daqui a pouco reclamando que Mello não tinha preparado jantar ainda. Ele saiu do quarto deixando a porta entreaberta. Foi até a cozinha e começou a preparar algo simples. Macarrão com molho que Sofia geralmente comia sem reclamar muito. Enquanto a água fervia Mello tirou o cartão do bolso de novo. Olhou para o número impresso pensando se deveria ligar agora ou esperar mais alguns dias. A decisão parecia óbvia quando analisada logicamente. Sofia precisava de estabilidade financeira. Precisava de segurança. Precisava de tudo que o dinheiro de Randal poderia proporcionar. Mas aceitar significava admitir que Mello sozinho não era suficiente. Que ele nunca poderia dar a Sofia tudo que ela merecia sem ajuda. Ele colocou o cartão na mesa e voltou a atenção para a comida. A água tinha começado a ferver. Ele jogou o macarrão e mexeu distraidamente enquanto pensava. Sofia acordou quinze minutos depois. Mello ouviu ela chamando do quarto. "Mamãe?" "Estou na cozinha," ele respondeu. Sofia apareceu na porta esfregando os olhos. O cabelo estava bagunçado de um lado onde tinha ficado pressionado contra o travesseiro. "Tô com fome," ela anunciou. "Já está quase pronto." Sofia se sentou na cadeira dela balançando as pernas. Ela olhou ao redor da cozinha pequena antes de perguntar: "Cadê o homem?" "Foi embora." "Ele é meu irmão?" Mello parou de mexer o macarrão. Sofia tinha ouvido a conversa então. Ou pelo menos parte dela antes de adormecer no carro. "Sim," ele respondeu. "O teste confirmou. Ele é seu irmão." Sofia processou essa informação com a seriedade característica dela. "Ele vai morar aqui?" "Não. Ele tem a própria casa." "Então por que ele tava aqui?" "Queria ver onde você mora." Sofia aceitou essa explicação. Ela voltou a balançar as pernas olhando para a janela onde ainda dava para ver um pouco de luz do sol se pondo. Mello serviu o macarrão em dois pratos. Colocou um na frente de Sofia e sentou na cadeira oposta com o outro. Eles comeram em silêncio por alguns minutos. Sofia estava concentrada em enrolar o macarrão no garfo da forma que Mello tinha ensinado. "Mamãe?" ela disse depois de engolir uma garfada. "Hm?" "A gente vai ver ele de novo?" Mello olhou para o cartão ainda na mesa. Para o número que poderia mudar tudo. "Provavelmente," ele respondeu. Sofia pareceu satisfeita com essa resposta. Ela voltou a comer sem fazer mais perguntas. Mello terminou o próprio prato pensando sobre as visitas três vezes por semana que Randal tinha mencionado. Sobre os relatórios diários. Sobre como seria ter alguém perguntando constantemente sobre Sofia. Parte dele queria recusar. Queria manter as coisas como sempre foram. Apenas ele e Sofia contra o mundo. Mas ele olhou ao redor do apartamento pequeno. Para as paredes rachadas. Para a falta de espaço adequado. Para todas as coisas que Sofia não tinha porque Mello não podia pagar. "Posso ver desenho?" Sofia perguntou terminando o macarrão. "Pode. Mas só até a hora de dormir." Sofia saiu correndo para a sala. Mello ouviu ela ligando a televisão e procurando o canal certo. Ele lavou os pratos pensando sobre a proposta. Pensando sobre o que seria melhor para Sofia a longo prazo. Quando terminou de lavar foi até a sala. Sofia estava deitada no sofá assistindo um desenho animado colorido sobre animais falantes. Mello se sentou no chão perto do sofá. Ele pegou o celular e olhou para a tela por um longo momento. Depois pegou o cartão da mesa. Digitou o número de Randal e começou a escrever uma mensagem. Parou antes de enviar. Leu o que tinha escrito duas vezes. Depois apagou tudo e começou de novo. Sofia riu de alguma coisa no desenho. O som era genuíno e despreocupado. Era o som de uma criança que não tinha consciência de todas as complicações que sua vida ia ter agora. Mello terminou de escrever a mensagem. Leu mais uma vez antes de finalmente enviar. "Preciso de alguns detalhes sobre a proposta. Podemos conversar amanhã?" A resposta de Randal chegou menos de um minuto depois. "Claro. Mesmo café de ontem. 14h funciona para você?" Mello olhou para Sofia ainda absorta no desenho. Amanhã era sábado. Ela geralmente ficava de melhor humor nos fins de semana. "Funciona. Até amanhã." Ele guardou o celular e ficou observando Sofia. Ela tinha se acomodado no sofá segurando um dos bichos de pelúcia favoritos. A vida deles estava prestes a mudar completamente. Mello ainda não tinha certeza se estava preparado para isso. Se estava pronto para compartilhar Sofia. Para ter alguém mais envolvido em decisões que sempre foram apenas dele. Mas ele pensou nos cinquenta mil reais por mês. No apartamento melhor. No plano de saúde. Em todas as oportunidades que Sofia teria. E pensou que talvez estar preparado não importava tanto quanto fazer o que era certo para ela. Sofia bocejou ainda assistindo o desenho. Mello verificou a hora. Faltavam vinte minutos para a hora de dormir dela. "Mais um episódio," ele disse. "Depois você escova os dentes." "Tá bom mamãe." Mello ficou sentado no chão observando ela. Pensando sobre o encontro de amanhã com Randal. Sobre os detalhes que precisariam discutir. Sobre como seria estabelecer essa dinâmica nova onde Randal estaria constantemente presente. O desenho terminou. Sofia se levantou relutantemente e foi escovar os dentes. Mello a seguiu até o banheiro para supervisionar. Ela tinha melhorado na escovação mas ainda precisava de ajuda para alcançar os dentes de trás. Mello segurou a escova e guiou os movimentos dela. "Pronto," ele disse quando terminaram. "Hora de dormir." Sofia não reclamou. Ela estava cansada depois do dia longo. Subiu na cama e se acomodou enquanto Mello cobria ela com o lençol. "Mamãe?" "O que foi?" "Você vai ficar aqui?" "Vou ficar. Não vou a lugar nenhum." Sofia fechou os olhos satisfeita. Mello ficou sentado na beirada da cama até ter certeza de que ela tinha adormecido. Depois ele voltou para a sala. Pegou o celular de novo e olhou para a última mensagem de Randal. Amanhã eles iam discutir os detalhes. Iam estabelecer como essa nova dinâmica funcionaria. Iam definir os termos do acordo que mudaria tudo. Mello guardou o celular e olhou ao redor do apartamento pequeno uma última vez. Tentando memorizar como era antes que tudo mudasse. Porque depois de amanhã nada seria igual. Depois de amanhã Randal Von Ivory seria parte constante de suas vidas. Visitando três vezes por semana. Pedindo relatórios diários. Estando presente de formas que Mello ainda não conseguia imaginar completamente. Ele foi dormir pensando sobre isso. Sobre como seria ter alguém mais envolvido. Sobre como seria compartilhar as decisões sobre Sofia. Sobre como seria ter Randal constantemente em sua vida.

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