## Capítulo 10: Limpeza Profunda
Ao ouvir o apelo desesperado de Anna, Vladimir sentiu o sangue gelar. A fachada de indiferença desmoronou em um instante. L—*Gabriel*—estava desprotegido, vulnerável, e, pior, sob o efeito de alguma droga manipulada. O medo se misturou à raiva, um coquetel explosivo que o fez disparar da cadeira.
“Onde ele está? Exatamente!” Vladimir não perguntou, ele exigiu, sua voz baixa e gutural, com um sotaque russo mais espesso do que o normal, revelando o homem por trás do adolescente problemático.
Anna apontou para baixo, para a cacofonia de música e risadas que chegava do andar de baixo. “Na sala principal. Perto daquela lareira fedorenta.”
Vladimir não esperou por mais detalhes. Ele se virou, ignorando completamente Nate, que se preparava para se juntar à descida. Nate era útil para reunir informações e intimidar, mas para esta situação, ele seria um estorvo.
“Nate, você fica. Mantenha as coisas sob controle aqui,” Vladimir ordenou, já na soleira da porta. “E garanta que ninguém saia deste andar. Ninguém. Entendeu a ordem?”
Nate, habituado ao tom de comando de Vladimir – que, neste momento, não era o do adolescente da escola, mas sim o do chefe de operações – apenas assentiu, apanhando um walkie-talkie improvisado.
Vladimir desceu as escadas em um ritmo que combinava pressa e controle. Ele precisava parecer irritado, mas não desesperado; afinal, em sua persona, Gabriel era apenas um bem que estava sendo ameaçado. Sua mente, no entanto, estava correndo. MDMA. Ecstasy. A droga que faz com que as pessoas queiram se conectar de forma profunda, que derruba barreiras emocionais e, ironicamente, força a honestidade. Em L—em Gabriel—, isso era catastrófico. L era um livro fechado, um cofre. Se ele estivesse “aberto” agora, os adolescentes o esvaziariam de informações, não apenas sobre o caso, mas sobre tudo.
À medida que Vladimir se aproximava da sala principal, o nível de som aumentava, e a visão se tornava mais clara, mais focada. A luz do estroboscópio pintava a cena em flashes intermitentes, mas ele não precisava de claridade total para identificar L.
L estava no centro de um círculo apertado de garotos. Havia um garoto magro, com o cabelo descolorido que Anna mencionara, inclinado sobre L, rindo de forma animada; as mãos do garoto estavam apoiadas no ombro de Gabriel, talvez um pouco perto demais do pescoço.
Entre os flashes de luz, Vladimir viu o sorriso de Gabriel: largo, desinibido. Não era o sorriso calculado que L usava para o disfarce; era radiante, exagerado, uma máscara de pura euforia. Seus olhos—aqueles azuis incrivelmente expressivos—estavam arregalados de admiração pelos garotos ao seu redor.
A cena atingiu Vladimir como um choque elétrico. Não era apenas o perigo de L falar sobre a investigação; era a humilhação, o fato de que este “troféu” que ele havia protegido com tanto zelo, que ele havia marcado como seu território com agressividade calculada, agora estava sendo tocado e manipulado por idiotas chapados.
A raiva borbulhou, quente e feia. Era uma mistura de posse territorial do disfarce, de preocupação genuína pela segurança de L, e de um nojo inesperado de que aqueles moleques estivessem se aproveitando da vulnerabilidade forçada de L.
Vladimir irrompeu na sala principal. Ele não gritou. Ele apenas parou na borda do círculo, a figura alta e sombria, e o silêncio se espalhou como uma onda de choque, engolindo a música alta.
Os garotos mais próximos sentiram a mudança na pressão atmosférica antes de seus cérebros processarem a visão. Alguns se encolheram, já conhecendo a reputação de Vladimir.
Gabriel, no entanto, parecia alheio, totalmente inserido em sua bolha de euforia.
“Oh, Vladi!” L disse, a voz subindo uma oitava, carregada de emoção forçada pela droga. Ele se virou para encarar Vladimir, e seus olhos estavam inundados de lágrimas de excitação. “Você veio! Que legal!”
Ele tentou dar um passo em direção a Vladimir, mas o garoto de cabelo descolorido o segurou pelo braço, puxando-o de volta.
“Calma, Gabs. Deixa ele lá, ele é um babaca,” o garoto descolorido disse, rindo para seus amigos. Ele tentava manter a pose; afinal, ele estava no centro das atenções, tocando no ‘troféu’ que o próprio Vladimir tinha perdido.
Neste ponto, o MDMA já estava fazendo L se sentir como massa de modelar, maleável e aberta a sugestões. Ele sentiu o puxão no braço, e em vez de reagir com a repulsa controlada de L, ele reagiu com a hiper-sensibilidade sinestésica da droga.
“Não, Vladi não é um babaca!” L protestou, mas era um protesto suave, quase melífluo. “Ele só é… ele só é um pouco rígido. Mas ele me ama. Eu sei que ele me ama. E eu confio nele.”
A palavra ‘confiança’ dita com tanta emoção atingiu Vladimir. Não era L falando, era a droga drenando a capacidade de L de monitorar qualquer barreira.
O garoto de cabelo descolorido riu, um som seco e zombeteiro. Ele apertou os dedos no bíceps de Gabriel. “Claro que ele te ama, Gabs. Você é o prêmio dele. Mas agora o prêmio está explorando a liberdade, não está?”
Ele moveu a mão, deslizando-a para baixo no braço de Gabriel, um gesto lento e óbvio de posse que era mais uma provocação para Vladimir do que um carinho para Gabriel.
Vladimir sentiu a irritação se transformar em fúria fria. Essa fúria operava em dois níveis: o nível adolescente, onde sua posse havia sido desafiada publicamente; e o nível profissional, onde seu parceiro estava em perigo iminente de comprometer toda a missão. Em ambos, a resposta era a mesma: dominação total e imediata.
Ele deu um passo largo, parando a centímetros do garoto descolorido. Vladimir era visivelmente mais alto e mais largo que todos os garotos ali. Sua postura, tensa e ameaçadora, era a de um predador. Ele não estava atuando como um adolescente zangado; ele estava agindo como a ameaça que ele era.
“Solta ele,” Vladimir disse, sua voz tão baixa que mal superava o som que ainda pulsava dos alto-falantes, mas era carregada de uma promessa de violência contida.
O garoto descolorido hesitou. Ele tentou manter a compostura, encarando Vladimir. “Qual é, Valdi? Ele está se divertindo. Ele terminou com você, lembra?”
“Ele é meu,” Vladimir rosnou. “Por contrato.” Ele usou a terminologia que ecoava o status de L na escola – um troféu de alto valor, cujo “dono” era Vladimir.
O garoto hesitou novamente. Sua mão tremeu no braço de Gabriel, mas ele não soltou. O orgulho adolescente era um motor perigoso. Ele não podia recuar na frente dos amigos.
Em um movimento brusco, rápido demais para a visão dos adolescentes, Vladimir agarrou o pulso do garoto com uma mão. Ele não apertou; ele simplesmente o imobilizou. Com a outra mão, ele envolveu a cintura de L e o puxou com uma força que o fez cambalear para fora do círculo onde estava.
L soltou um “Oof!” surpreso, mas a sensação de ser puxado por Vladimir—essa presença sólida e familiar—apenas intensificou a euforia.
O garoto descolorido soltou um gemido de dor forçada. Ele imediatamente sentiu o poder na mão de Vladimir; não era um aperto de briga de rua, mas uma contenção profissional, letal, que dizia: *eu posso quebrar isso se eu quiser*.
Com L firmemente preso ao seu lado, Vladimir soltou o pulso do garoto. A libertação foi tão repentina quanto o aprisionamento.
O garoto de cabelo descolorido cambaleou para trás, chocando-se contra um dos amigos. O rosto, antes zombeteiro, estava pálido sob as luzes estroboscópicas. O medo, finalmente, venceu a pose.
Vladimir fixou seus olhos escuros no garoto. Ele não precisou levantar a voz. A calma absoluta de sua ameaça era mais aterrorizante do que qualquer grito.
“Este é meu,” Vladimir disse, apontando para Gabriel com o queixo, que estava apoiado no ombro de Vladimir, rindo e respirando pesadamente. “Meu. Você volta a encostar nele, e eu te prometo, garoto, que você vai se arrepender.”
Vladimir deu um passo à frente, forçando o garoto de cabelo descolorido a recuar outro passo, esbarrando na lareira.
“Eu vou arrancar sua mão,” Vladimir prometeu, a ameaça soando fria e factual, como um informe de tempo. “E não vai ser a mão que tocou ele. Será a que você precisa para ir ao banheiro. Para que toda vez que você tentar, você se lembre o quão ruim é a dor de ossos esmagados.”
A ameaça era específica, cruel e perfeitamente calibrada para a mentalidade adolescente: causar dor e humilhação duradouras. Seus amigos, que antes riam, estavam em silêncio. A aura de violência física iminente que Vladimir exalava era palpável.
Neste momento, Nate, fiel à sua palavra de acompanhar o chefe, deslizou pela multidão e tocou nas costas de Vladimir, um gesto de apaziguamento, não de desafio.
“Valdi. Já deu,” Nate sussurrou, a calma em sua voz contrastando com a raiva evidente de Vladimir. Ele olhou para o garoto pálido e para o resto da multidão que estava assistindo. “Ele entendeu. É melhor você levar seu namorado para casa antes que essa merda estrague a festa.”
Vladimir bufou, mas a intervenção de Nate era a cobertura que ele precisava para não escalar a situação para violência desnecessária. Aquele garoto era uma pecinha pequena; o objetivo era L.
“Leve ele,” Nate assentiu, voltando-se para o grupo assustado. “Ele está fora da nossa lista de convidados por tempo indeterminado. E vocês,” Nate disse ao grupo, sua voz adotando um tom de aviso frio. “Se eu vir alguém tentando vender ‘sorvete’ ou ‘doce’ para Gabriel de novo, vocês vão ficar sem inventário por um mês. Vocês me ouviram? Esta noite é para se divertir. Nada de drama. Voltem para a música.”
A frase de Nate—*levar seu namorado para casa*—era o passe de saída. Era a afirmação pública de que esta era apenas uma briga possessiva de namorados, e não a evacuação de um detetive drogado.
Vladimir apertou o braço de L, puxando-o através da multidão.
L, ainda sob a influência crescente do MDMA, não parecia registrar a tensão ou a ameaça. Pelo contrário. Ele estava vibrando. Ele havia acabado de ser o centro de uma cena de ciúmes espetacular, o que apenas reforçava sua narrativa de “troféu desejado.”
“Uau, você foi tão radical, Vladi!” L exclamou, sua voz cheia de admiração enquanto eram levados para fora da sala. Ele agarrou o pescoço de Vladimir, apoiando-lhe o queixo. “Senti falta disso, da sua raiva protegendo o que é seu. Parece que você realmente se importa! É tão tocante.”
A ‘tocante’ era a palavra do dia para L em seu estado hipersensível.
Vladimir ignorou o comentário. Ele estava concentrado em sair da Mansão o mais rápido possível. A cada passo, ele sentia a euforia e a perigosa falta de inibição que emanavam de L. L estava quente ao toque, os olhos dilatados, movendo-se com uma energia nervosa. A droga estava no auge.
Eles saíram pela porta dos fundos. O carro de Vladimir estava estacionado discretamente a algumas quadras de distância. O ar frio da noite não parecia fazer efeito em L, que estava fervilhando de calor interno.
Quando chegaram ao carro, Vladimir o empurrou para o banco do passageiro e deu a volta, jogando-se atrás do volante.
O motor ligou com um rugido encorpado. Vladimir colocou o cinto de segurança com um som seco e apertou o acelerador, dirigindo pela rua escura em um silêncio tenso, quebrado apenas pela música abafada que vinha da Mansão.
L, finalmente sozinho com Vladimir, explodiu em uma torrente de palavras.
“Ah, Vladi! O mundo é tão bom! Você não acha? As cores são tão vibrantes lá dentro! E o Kevin — o garoto de cabelo descolorido, ele me disse coisas tão gentis! Ele disse que eu era bonito o suficiente para ser modelo e que eu merecia ser valorizado.” L falava rápido, sem pontuação, uma metralhadora de percepções e sentimentos hipócritas.
Vladimir manteve os olhos fixos na estrada, os nós dos dedos brancos de tanto apertar o volante. Ele estava dirigindo em um estado de raiva intensa. Ele estava focado em duas coisas: distância da Mansão e controle sobre sua própria reação.
L continuou, a euforia se misturando com a excitação da cena de ciúmes.
“Mas você, Vladi! Você ficou com ciúmes! Isso é tão sexy! Você deveria fazer isso mais vezes. Me defender assim. Sabe, eu pensei que você realmente tinha me deixado de lado. Mas agora, com você dirigindo tão rápido, e sua mão apertando a minha perna...”
Vladimir não estava apertando a perna de L. Seu braço estava apoiado no console central, e a tensão muscular estava tão alta que seu antebraço roçava a coxa de L. L, no entanto, estava interpretando cada sensação física através do filtro de estimulação do MDMA, transformando a raiva tensa de Vladimir em um ato de paixão possessiva.
“Você está me levando para sua casa, não está?” L perguntou, a voz diminuindo para um sussurro conspiratório. “Porque você quer me punir. Quer me mostrar que sou seu. Eu sei o que você quer fazer comigo.”
A insinuação de L, embora baseada apenas na hipersensibilidade da droga, fez Vladimir estremecer. Ele pisou no freio bruscamente em um sinal vermelho.
“Cale a boca, Gabriel,” Vladimir sibilou, a voz baixa, quase inarticulada.
“Mas por que, Vladi? Você pode me dizer qualquer coisa! Eu vou te dizer qualquer coisa! Você sabe que eu sempre te amei,” L disse, a confissão de amor totalmente falsa, mas totalmente sincera no contexto eufórico.
Vladimir ignorou a declaração. Ele dirigiu em direção ao seu próprio apartamento—o apartamento ostensivamente compartilhado, embora L tivesse se mudado de volta para o apartamento secreto do governo após o “rompimento.” Vladimir havia decidido instantaneamente. Ele precisava de um ambiente que ele controlasse. O apartamento do governo estava cheio de agentes de logística e câmeras.
“Para onde vamos?” L perguntou, mas já estava relaxado contra a cadeira, absorvendo a vibração do carro. Ele cantarolava baixinho junto com uma música que não estava tocando.
Enquanto Vladimir manobrava o carro até o subsolo do seu prédio, L tentou puxar uma de suas mãos.
“Olha para mim, Vladi. Eu estou aqui. Estou seguro agora. Por que você está com tanta raiva?”
Vladimir olhou para L por um instante. O rosto do homem que ele conhecia, o detetive frio e metódico, estava distorcido por uma alegria infantil e perigosa. L estava perdido, imerso em uma química cerebral descontrolada. Ele era uma bomba-relógio de informações soltas.
“Eu não estou com raiva de você, seu idiota,” Vladimir murmurou, mas a raiva era dirigida à situação, à vulnerabilidade cruel de L.
Eles subiram para o apartamento. L cambaleava levemente, mas era mais de excitação do que de intoxicação física óbvia. Ele estava falando ininterruptamente, divagando sobre a cor do céu e quão incrível era a acústica da escada.
Vladimir o agarrou pelo braço e o puxou para dentro do apartamento. Ele trancou a porta com mais força do que o necessário.
“Agora, pare de falar,” Vladimir ordenou, apontando para o sofá. “Você se senta e fica quieto. A droga vai passar.”
“Quieto? Mas eu não ‘quero’ ficar quieto! Eu sinto que posso flutuar! É como se eu entendesse tudo! E você é tão lindo, Vladi. É um absurdo o quão organizado você é. Você parece que foi esculpido em gelo, mas eu sei que você é quente por dentro.”
L se aproximou, estendendo a mão para tocar o rosto de Vladimir.
Vladimir desviou a cabeça. O toque de L—que teria sido indiferente em circunstâncias normais—agora carregava a contaminação da Mansão, do garoto descolorido, da vulnerabilidade.
“Não me toque,” Vladimir disse, sua voz tensa.
L recuou a mão, magoado instantaneamente pela rejeição. Seus olhos inundaram de lágrimas novamente. “Não gosta de mim?”
“É claro que gosto de você, porra! Mas você fede a esses garotos! Você está suado e drogado. Não me toque até eu dar um jeito em você.”
A palavra “droga” saiu com força, mas L não a via como um perigo, e sim como uma nova experiência.
Vladimir atravessou a sala, ligando as luzes principais. A visão nítida do quarto revelou o estado de L: os cabelos despenteados, a jaqueta de couro torta, o leve suor.
Vladimir sentiu um nó no estômago. O nojo era real, mas não era direcionado a L, o homem. Era o nojo do que havia acontecido; do fato de que L, o detetive, com todo o seu protocolo e treinamento, havia cedido a uma pressão social juvenil e bebido algo que o deixara aberto a exploração. E a memória do garoto de cabelo descolorido tocando L, reivindicando-o, alimentava uma fúria possessiva que Vladimir raramente sentia. Era territorial e protetor ao mesmo tempo.
Ele foi direto para o banheiro e abriu o registro da água do chuveiro, ajustando-a para uma temperatura quente. Ele precisava lavar L, esterilizá-lo da Mansão, da droga, dos toques.
Ele voltou para a sala, onde L estava sentado no sofá, balançando as pernas e murmurando para si mesmo sobre a beleza do carpete.
“Vamos,” Vladimir disse, puxando L de pé.
“Onde?”
“Banho. Agora.”
L piscou, a surpresa se misturando à excitação da droga. “Banho? Uau! Você vai me dar banho? Isso é muito atencioso, Vladi. Posso te fazer carinho?”
“Não,” Vladimir respondeu, puxando-o para o banheiro apertado. Ele fechou a porta e apontou para as roupas. “Tire tudo.”
L começou a reclamar em um fluxo incoerente, mas a combinação de euforia e a presença imponente de Vladimir o levou a obedecer. Ele começou a tirar a camisa, desajeitadamente.
“Você está ansioso para me ver nu, Vladi? Eu sei que estou ansioso por você. Você é muito musculoso, parece uma estátua!”
Vladimir o ignorou, caminhando até o armário do banheiro. Ele pegou um sabonete líquido antibacteriano, aquele que tinha o cheiro forte de desinfetante de hospital que L tanto detestava. Não era apenas para limpar a sujeira. Era para limpar a *contaminação*.
Quando L estava nu, parado na frente do box do chuveiro, magro, mas recuperado do peso perdido, Vladimir sentiu o cheiro de suor e do ponche doce.
“Entra,” Vladimir ordenou, abrindo a porta do box.
Assim que L entrou na água quente, ele soltou um ‘ahhh’ de satisfação. A água era mais uma sensação física que o MDMA amplificava, fazendo-o se sentir acolhido.
Vladimir entrou com ele, vestindo apenas uma calça de moletom, pronto para a tarefa.
Ele não estava sensualizando o momento. Ele não estava vendo L como um objeto de desejo, mas como um paciente. Como algo que precisava de socorro e purificação.
Pegando uma bucha grossa, Vladimir despejou uma quantidade exagerada do sabonete antibacteriano. O cheiro forte inundou o pequeno banheiro. Ele começou a esfregar L, não com ternura, mas com propósito.
Ele começou pelo couro cabeludo. Com as pontas dos dedos, ele massageou o xampu com força suficiente para quase doer, removendo o suor e o cheiro de festa.
L gemia, não de dor, mas de sensações. “Seus dedos são tão fortes, Vladi! Você está me deixando tonto. Mas é um tonto bom, sabe? Eu me sinto... cuidado.”
Vladimir não respondeu. Ele lavou o rosto de L, a área macia e subnutrida que ele havia trabalhado tanto para proteger, a área que havia sido tocada e zombada.
Então, ele passou para o corpo. Ele esfregou os ombros, o peito, os braços. A bucha áspera arranhava a pele sensível de L, mas a euforia amortecia qualquer dor. Vladimir estava determinado a remover qualquer traço do fedor da Mansão.
Ele se concentrou especialmente nos lugares onde o garoto descolorido havia tocado: os ombros, o braço. Ele esfregou os pulsos de L, onde a droga havia sido ingerida.
“Você não precisa esfregar tão forte, Vladi,” L sussurrou, mas ele não estava resistindo. Ele estava inclinado, permitindo que Vladimir o manipulasse.
“Você foi tocado,” Vladimir sibilou, mas não era para L ouvir, era para si mesmo. “Por ratos. Eu preciso garantir que o nojo deles não grude em você.”
L, no entanto, ouviu o suficiente para se sentir ‘entendido’ em sua percepção distorcida.
“Ah! Você é tão protetor! Eu te amo por isso! Você é meu muro! Mas você não precisa se sentir enjoado! A culpa não foi totalmente minha! Eles me pressionaram!”
Vladimir soltou um suspiro pesado, exaustão se misturando à raiva. Ele havia tentado proteger L em cada fase dessa infiltração, suportando a humilhação do 'namorado abusivo' para criar um escudo. E L, em um momento de fraqueza adolescente simulada, havia dissolvido esse escudo com um gole.
Ele moveu a bucha para as coxas de L, esfregando com a mesma intensidade implacável, removendo o que parecia a ele ser a sujeira psíquica da Mansão. Ele gastou outro jato do sabonete líquido, cobrindo L em espuma.
O processo era quase violento em sua intensidade, mas L apenas ria, ocasionalmente choramingando se Vladimir pressionava demais um osso.
A água escorria, levando a mistura de sujeira, suor e sabonete com cheiro de hospital. Cada gota parecia levar embora uma camada da contaminação.
Vladimir esfregou L uma última vez, garantindo que não houvesse resíduo de sabão. Ele desligou o chuveiro. O silêncio que se seguiu, quebrado apenas pela respiração pesada de ambos no banheiro cheio de vapor, era a primeira pausa que eles tiveram.
Ele pegou uma toalha macia e a envolveu firmemente ao redor de L.
“Vamos sair daqui,” Vladimir disse, sua voz agora mais controlada. Ele pegou L no colo brevemente, como um objeto valioso e frágil, e o tirou do box. L suspirava de prazer por causa do contato físico amplificado pela droga.
Vladimir levou L até a sala. Ele estava pálido e cansado, o efeito colateral físico da droga começando a surgir. A euforia estava recuando, deixando para trás um reservatório exaurido de serotonina.
Ele ajudou L a vestir uma cueca box limpa e então o jogou na cama, puxando os cobertores pesados sobre ele.
“Você não vai sair desta cama. Você vai dormir. E você não vai falar sobre nada que aconteceu hoje,” Vladimir ordenou, sua voz baixa e firme.
L estava quase fora de si. Ele deitou, mas seus olhos ainda estavam elétricos.
“Você é meu herói, Vladi,” L sussurrou, o efeito sedativo da droga finalmente superando a excitação.
Vladimir foi até o banheiro novamente, agora para tomar seu próprio banho rápido. Ele sentia a necessidade urgente de lavar o cheiro de L e de L drogado, e o odor residual da Mansão que parecia ter grudado em sua pele.
Enquanto a água quente escorria por seu corpo, Vladimir esfregava-se com o mesmo sabonete, sentindo repulsa e alívio ao mesmo tempo. Ele havia conseguido. L estava seguro. Mas a vulnerabilidade de L era um lembrete vívido do perigo constante da infiltração. Ele precisava de mais controle, mais muros ao redor de L. As implicações da desinibição de L sob o MDMA o apavoravam. Ele tinha que ter certeza de que L não havia falado nada importante.
Ele saiu do banho, secando-se rapidamente. Ele vestiu um pijama e voltou para o quarto. L estava dormindo, mas era um sono agitado, a adrenalina ainda correndo em seus sistemas.
Vladimir deitou-se ao lado de L, virando-se para o teto. Ele não o tocou. Ele apenas observou a respiração de L se acalmar.
A raiva possessiva recuou, deixando para trás apenas a exaustão do detetive. Ele precisava analisar o risco. Ele precisava cuidar de L. Ele precisava se certificar de que todos os vestígios físicos e químicos daquela noite tivessem sido removidos. O banho era apenas o começo.
Ele passou a mão sobre o próprio rosto, sentindo o cheiro forte do desinfetante.
L estava limpo. Literalmente.
Vladimir fechou os olhos, finalmente permitindo-se descansar, mas mantendo um ouvido atento para qualquer som de pesadelo ou vômito de L. Ele, o detetive, havia limpado seu parceiro—*exageradamente*, esfregando com uma quantidade excessiva de sabão, numa tentativa desesperada de remover um toque que ia além de uma simples substância.
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