## Capítulo 8: O Preço da Atuação L continuou a caminhar, atordoado e faminto, em direção ao portão da escola. Ele precisava de ar. Sua cabeça latejava não apenas pelo impacto físico do desmaio, mas também pelo turbilhão de emoções e informações que a conversa com o diretor havia desencadeado. O sol da manhã estava agora forte o suficiente para fazê-lo apertar os olhos. Ele sentiu a superfície áspera do pacote de biscoitos amassado em sua mão – um lembrete patético de sua fragilidade física. Ele acabara de passar pelas quadras de basquete externas quando ouviu a voz grave do diretor atrás dele. “Gabriel!” L parou e se virou, com uma expressão de cansaço misturado a submissão. “Sim, Diretor?” O diretor gesticulou em direção à entrada principal. “Não se preocupe, não mudei de ideia. Vá para casa. Mas você não vai sair pela porta da frente. Sei que você prefere o portão mais distante, mas prefiro que você vá por aqui. Temos alguns jornalistas na frente; o desmaio chamou um pouco de atenção, você entende.” Jornalistas. Ótimo. Mais um aspecto da 'fama' adolescente que L tinha que gerenciar. Ele assentiu, agradecendo a discrição do diretor. “Obrigado, Diretor. Garanto que vou me alimentar.” O diretor apenas acenou com a cabeça e acenou para que L se apressasse. L continuou seu caminho, mantendo a cabeça baixa para não chamar a atenção enquanto se dirigia para o portão do estacionamento. Assim que L desapareceu, o Diretor Johnson tirou o celular e discou um número rapidamente. Ele não esperou que a pessoa do outro lado atendesse, apenas colocou o telefone no ouvido e começou a falar. “Senhor, é o Johnson. Consegui a suspensão não oficial. Ele está indo para casa. Mas fiz com que ele fosse pela saída do estacionamento. Não queria que soubessem que era ele.” O diretor parou, ouvindo a voz no telefone. “Sim, ele desmaiou. Gabriel. Aparentemente de estresse e desnutrição. Foi feio. Não, Vladimir não soube na hora. Eu o tirei da aula de Educação Física.” Johnson estava visivelmente agitado enquanto explicava a situação. Ele sentia o peso do governo na manga—ele não era apenas um diretor cuidando de crises de adolescentes, ele estava no meio de uma operação secreta, e a fragilidade de Gabriel o preocupava genuinamente. “Olha, Senhor,” o diretor disse, sua voz um pouco mais alta. “Eu não sei o que vocês estão fazendo aqui, mas o garoto vai colapsar. Ele mal está se alimentando, e o comportamento do… do ‘namorado’ dele não ajuda. Eu acabei de ter uma conversa dura com Gabriel sobre isso. Ele está convencido de que o ‘Vladi’ o ama. É um ciclo.” O diretor ouviu mais um pouco, suspirando profundamente. “Entendido. Vou conversar com Vladimir agora. Ele já está na minha sala de qualquer maneira. Sim, sobre o vídeo. Sim, e sobre o episódio da lanchonete.” Ele desligou o telefone e o encarou por um momento, antes de recolocá-lo no bolso. O diretor Johnson era um homem cansado. Ele havia assumido a direção desta escola há cinco anos, pensando que as intrigas de adolescentes seriam o maior de seus problemas. Ele não esperava se tornar o intermediário de uma investigação governamental de alto perfil, onde seus alunos eram peões e as câmeras escondidas na mansão eram apenas a ponta do iceberg. Ele retornou ao interior do prédio Principal e foi diretamente para seu escritório, onde Vladimir estava esperando. Vladimir, que ainda ostentava a jaqueta de seu ‘time’ (uma jaqueta esportiva cara com o emblema da escola que ele havia manipulado para obter) e estava apoiado de forma relaxada na cadeira de hóspedes, parecia incrivelmente fora de lugar. Com 1,88m de altura, ombros largos e uma expressão de tédio estudado, ele era a encarnação do adolescente problemático e popular. Seu cabelo loiro e olhos azuis penetrantes davam a ele o ar necessário de confiança arrogante. Quando o diretor entrou, Vladimir endireitou a postura, mas não o suficiente para parecer verdadeiramente respeitoso. Era uma performance calculada. “Diretor,” Vladimir disse, com a voz baixa e controlada que usava em situações formais, mas com uma leve ponta de sarcasmo. “Fui dispensado da Educação Física. Algum problema?” O Diretor Johnson sentou-se atrás de sua mesa, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Ele olhou para Vladimir, o “garoto” que era na verdade o detetive mais brilhante do mundo, e sentiu uma ponta de irritação. Vladimir era convincente demais. “Sim, Vladimir. Temos um problema. Vários, na verdade.” O diretor pegou uma pasta que estava convenientemente em sua mesa. Não havia nada dentro, claro, mas era um adereço útil. “Acabei de falar com Gabriel. Ele foi para casa. Desmaiou na aula de Literatura.” O efeito foi imediato. O relaxamento estudado de Vladimir evaporou. Por um milésimo de segundo, o detetive aterrorizado substituiu o adolescente arrogante. Os olhos de Vladimir se arregalaram, a preocupação real cortando a máscara de indiferença. “Ele o quê? Por quê? Ele está bem?” A voz de Vladimir estava um pouco mais alta e um pouco rouca. Era a primeira vez que o Diretor Johnson via a emoção genuína em Vladimir durante essa encenação. Isso lhe deu uma pequena satisfação, mas também confirmou o que ele já suspeitava: apesar de todo o teatro, Vladimir realmente se importava com “Gabriel.” “Ele está bem, Vladimir. Está sob os cuidados de sua ‘tutora’ em casa,” o Diretor Johnson respondeu, pressionando as aspas em ‘tutora’ para deixar claro que ele sabia que era a agente de apoio deles. “A enfermeira o examinou. Estresse, exaustão e falta de nutrientes. Ele mal está comendo.” Vladimir apertou os lábios, a irritação substituindo rapidamente a preocupação. Não era irritação pelo diretor, mas claramente consigo mesmo. Ele se recostou na cadeira, tentando recuperar a calma. “Ele é dramático, Diretor. Ele sempre faz essas coisas. Nós passamos a noite toda acordados estudando,” Vladimir mentiu, a desculpa parecendo oca até para o diretor. Ele sabia que eles estavam preparando o relatório, não estudando. “Não me poupe dessas mentiras de adolescente, Vladimir. Sei que vocês estão aqui por motivos que não posso mencionar. Mas como o diretor desta escola, sou obrigado a manter o bem-estar dos meus alunos, mesmo os que estão disfarçados,” Johnson disse, inclinando-se sobre a mesa. “E isso nos leva ao seu comportamento, Vladimir. O nosso acordo é sobre a infiltração. Mas o seu nível de toxicidade está ficando problemático. Recebi um vídeo.” Vladimir permaneceu impassível, a máscara totalmente restaurada. Ele sabia a qual vídeo o diretor se referia. “O vídeo da festa, Diretor? Onde eu chamei o *meu* namorado de ‘puta’? A sra. Stevens no departamento de Artes não gostou da minha linguagem, eu presumo?” A ironia era palpável. O Diretor Johnson ignorou o sarcasmo. “Não, Vladimir. O vídeo foi enviado anonimamente. E sim, não aprovo sua linguagem, mas o que me preocupa é a toxicidade da relação de vocês. E o fato de que isso está sendo filmado e distribuído. Isso não é uma simples briga de casal.” O diretor pressionou. “Por que, Vladimir? Por que você precisa constantemente ofender e humilhar Gabriel publicamente? Você precisa marcá-lo. Você precisa gritar com ele. Você precisa chamá-lo de nomes horrendos. Por que essa necessidade constante de violência verbal e, em alguns casos, física?” Vladimir suspirou, o som de um desabafo cansado. Ele olhou o diretor nos olhos; a performance havia terminado, pelo menos momentaneamente. “O senhor não faz ideia do que acontece naquelas festas, Diretor. Não é sobre drama adolescente. É sobre sobrevivência, é sobre a nossa infiltração,” ele respondeu, a voz perigosamente baixa. “Se eu não fizer isso, se eu não o marcar como ‘minha propriedade’ publicamente, alguém vai fazer muito pior.” O diretor balançou a cabeça, cético. “Mais do que chamá-lo de ‘puta’ na frente de todos? Eu vi o rosto de Gabriel, Vladimir. Ele estava visivelmente humilhado.” Vladimir esfregou a testa, a tensão de manter o disfarce sendo revelada. “O senhor acha que eu gostei de fazer aquilo? Ele é… ele é muito importante. Mas aqui, nesta escola, naquele ambiente, Gabriel precisa ser visto como o prêmio que só o ‘fodão’ pode ter. Se Gabriel fosse visto como disponível, como um alvo fácil, ele seria destroçado. Não por palavras, Diretor. Ele seria drogado, seria filmado, seria usado. Ele seria apenas mais um dos filmes que encontramos naquele quarto.” As palavras de Vladimir eram cortantes e carregadas de contexto que o diretor, apesar de saber da investigação, não poderia entender completamente. Era a diferença entre ler um relatório sobre abuso e testemunhar a crueldade da dinâmica social adolescente. “A linguagem vulgar, a possessividade, a agressão contida... Infelizmente, é a moeda social desta escola para o tipo de aluno que precisamos atrair. Se eu não sou o namorado abusivo e controlador, outro garoto da Fraternidade fará isso, e Gabriel não terá meu treinamento e minha proteção.” Vladimir fez uma pausa, olhando para as próprias mãos. “E ele não teria a quem recorrer. Ele teria que aceitar. O meu… o meu abuso, Diretor, é controlado. É uma proteção.” O Diretor Johnson permaneceu em silêncio por um longo momento, absorvendo a justificativa friamente calculada de Vladimir. Parecia horrível, mas fazia um certo sentido distorcido. “E a parte física, Vladimir? Aquele incidente na lanchonete há algumas semanas? O vídeo da colega que o senhor… que o senhor estava sufocando contra a parede? Isso não foi ‘controlado’, Vladimir. Isso foi uma agressão clara.” Vladimir deu de ombros, o cinismo voltando um pouco. “O senhor se lembra do pânico que se espalhou naquela tarde? Como a fofoca correu solta? Como eu passei de um ‘garoto bonito’ para um ‘perigo ambulante’ em poucas horas? Isso cimentou minha posição na hierarquia, Diretor. Essa é a única forma de garantir meu acesso à ‘roda interna’ e à informação.” Ele inclinou-se para a frente, a intensidade de seu olhar quase dolorosa. “Não é pessoal, Diretor. É atuação. É o preço do ingresso. É o custo de manter Gabriel seguro.” Os olhos de Vladimir se dirigiram para a porta, uma preocupação genuína permeando seu ser. “Mas ele desmaiou. A enfermeira realmente disse que é falta de nutrientes?” O Diretor Johnson suspirou e fechou a pasta vazia, indicando que a discussão sobre a validade da agressão de Vladimir estava encerrada. Ele acreditasse ou não, o governo confiava nos detetives. “Ela disse, Vladimir. E não é a primeira vez que notamos. Gabriel está muito abaixo do peso que deveria manter. E não é só falta de alimentação. É a pressão. Ele mencionou estar estressado.” Johnson olhou diretamente para Vladimir, seu tom agora mais paternal e conciliador, mas ainda firme. “Você pode ter que ser violento para manter a fachada, Vladimir. Mas você não está sendo um bom parceiro de equipe. O estresse de Gabriel é sua responsabilidade também.” “Isso é ridículo,” Vladimir resmungou. “Não, não é. É a realidade. Você me explicou que esta escola é um ninho de tubarões, e Gabriel é a isca. Mas você está esquecendo de alimentar a isca, Vladimir. E a exaustão dele está comprometendo a missão. Ele desmaiou em público, na sala de aula. Quase expôs a vocês dois ao público externo.” O diretor Johnson empurrou para o lado o envelope que L havia assinado (a dispensa da escola) e o colocou sobre a mesa. “Eu tive uma conversa longa e difícil com Gabriel. Ele, como esperado, defendeu você até o fim. Ele chorou, implorou para que eu não os separasse. Você conseguiu o que queria: total lealdade cega.” “Mas,” o diretor continuou, sua voz se tornando mais séria. “Eu disse a ele que, pelo bem da saúde dele, do estresse, da pressão sobre ele, vocês precisam de um tempo. Um rompimento temporário.” A notícia atingiu Vladimir com mais força do que o diretor esperava. O detetive se inclinou para trás na cadeira, absorvendo a informação. “Um rompimento?” Vladimir perguntou, a voz quase inaudível. “Sim. Não oficial. Pela escola. O vídeo, somado ao incidente da lanchonete, me dá motivos para intervir. Eu o proibi de falar com Gabriel fora da escola por um período, a menos que seja estritamente necessário,” Johnson explicou. “É a cobertura perfeita, não é? Dá a vocês a desculpa para operar separadamente, se for o caso. E tira um pouco da pressão dele.” Vladimir ponderou. A ideia o agradava e o irritava ao mesmo tempo. Separar-se de L significava que ele não poderia mais monitorar as interações de L com os adolescentes de perto, mas também daria a L a liberdade para se movimentar sem ser constantemente associado a ele. O foco nos dois se dispersaria. “Ele ficou chateado?” Vladimir perguntou. “Ele ficou devastado, Vladimir. Atuando brilhantemente, devo dizer. Ele concordou que precisava de tempo, mas só porque eu insisti. Disse a ele que se eu recebesse mais um vídeo, o senhor seria expulso. Então, ele está agora sob a impressão de que ele precisa se focar só nele, para que você não tenha mais problemas.” Vladimir assentiu. L havia transformado uma crise em uma vantagem tática, como de costume. Ele sorriu levemente, um sorriso de orgulho. Mas o diretor Johnson não terminou. “Nós já passamos por essa fase, Vladimir, mas gostaria de alertá-lo novamente.” Ele apontou para as palavras do envelope de dispensa. “A enfermeira me mostrou o peso dele. Gabriel é um garoto saudável, atlético. Ele não é naturalmente magro assim. Sei que o disfarce dele exige que ele seja ‘magro’ para manter a estética de ‘troféu’ que você exige, mas ele passou do limite.” O diretor suspirou novamente. Ele já tinha tido essa conversa com os adolescentes que ele suspeitava ter problemas com a imagem corporal. “Acho que Gabriel está tão focado em ser atraente para o seu papel, em manter o status, que talvez esteja mesmo ignorando suas necessidades básicas. Ele é sua responsabilidade. Diga a ele para comer. Ele precisa se cuidar, ou esta missão vai acabar prematuramente, e não da maneira que queremos.” Vladimir desviou o olhar, incomodado. A crítica atingiu um ponto sensível. Ele tinha estado tão focado em manter a fachada perfeita de Gabriel, na dinâmica de poder, que havia ignorado os sinais óbvios de que L estava definhando. O ritual matinal de L, por mais que fosse sobre maquiagem e roupas, também era sobre esconder a exaustão. Os pequenos hábitos de L, como beliscar secretamente no banheiro, ou passar longas horas sem comer, tinham sido vistos por Vladimir como parte da atuação de um adolescente preocupado com a aparência. Mas agora, a realidade física desmentia a atuação: L estava se machucando. O diretor Johnson continuou, sua voz um aviso final: “Eu vou manter essa separação de vocês em vigor até que eu veja melhora na saúde de Gabriel. E, Vladimir, se eu receber mais um vídeo… não me importo com a missão. Eu cuido dos meus alunos. Você estará fora.” Vladimir se levantou, a postura renovada, a determinação de detetive voltando. “Entendido, Diretor. Eu cuidarei dele.” Ele se virou, pronto para sair, para ir atrás de L e verificar o estado dele. Mas a voz cansada do diretor o alcançou antes que ele pudesse alcançar a maçaneta: “Ah, mais uma coisa, Vladimir.” O detetive parou na porta. “Ele está muito magro,” Johnson repetiu, o tom de voz baixo, quase um lamento. “Acho que Gabriel está tão focado em parecer bonito e atraente que talvez esteja ignorando as suas necessidades básicas. Espero que o senhor o ajude a se alimentar.”

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