## Capítulo 6: A Máscara de Gabriel
O alarme estridente do celular de L, tocando um punk-rock irritante que ele havia escolhido para Gabriel Perez, rasgou o silêncio do apartamento às 04:00 da manhã. L estremeceu com o volume e tateou a esmo sobre o criado-mudo para desligar o aparelho. Ele abriu os olhos, sentindo a ressaca emocional e o cansaço físico do dia anterior.
Espera.
L sentou-se na cama alugada, a respiração presa na garganta. Ele estava no quarto.
Ele tinha adormecido no sofá, aninhado na estranha e quase doméstica proximidade com Vladimir, enquanto o detetive digitava febrilmente o relatório. Ele tentou puxar as memórias dos últimos momentos. O som suave das teclas... a luz pálida da tela iluminando o rosto concentrado de Vladimir…
L franziu a testa, confuso. Ele não se lembrava de se mover.
Ele olhou ao redor do quarto austero. A cama estava arrumada — tirando o enorme buraco que ele tinha feito no edredom ao acordar sobressaltado. A roupa de Gabriel estava jogada no chão, evidência de sua pressa em se despir do personagem.
L se levantou, vestindo o roupão. Ele se sentia grogue, mas levemente refrescado. Vladimir devia tê-lo carregado. A percepção era estranha, misturando a sensação de ser cuidado com o profundo desconforto de uma quebra de limite. Ele odiava a vulnerabilidade que acompanhava o sono, e ser movido como um boneco por Vladimir era um lembrete vívido dessa perda de controle.
Com uma carranca leve, L dirigiu-se à sala. O apartamento estava silencioso, exceto pelo zumbido distante da geladeira.
Vladimir ainda estava lá.
A cena era quase idêntica à de quando L havia cochilado, exceto que Vladimir parecia ter se instalado de forma mais permanente. Ele estava no sofá, mas agora havia uma xícara de café vazia e uma pilha de papéis meticulosamente organizados na mesa de centro. Ele estava inclinado sobre o laptop, digitando com uma concentração fervorosa, a luz da tela ainda destacando o rosto anguloso.
As 04:05 da manhã. Vladimir não tinha dormido.
"Vladimir?" L chamou, a voz rouca por causa do sono.
Vladimir se assustou levemente, levantando a cabeça. Havia um brilho febril em seus olhos, e a fadiga estava inscrita nas linhas ao redor de sua boca.
"Ah, você acordou," ele disse, sua voz tensa, mas sem aspereza. Ele estava claramente ainda em modo de relatório, movido a cafeína e adrenalina. "Dormiu bem?"
"Eu... sim. Obrigado," L disse, percebendo que o "obrigado" era pela mudança para o quarto. "Você ficou acordado a noite toda?"
Vladimir não negou, apenas deu de ombros e virou o laptop para L, mostrando a tela. O documento de relatório agora tinha sete páginas inteiras.
"Eu organizei o material da festa, a transcrição da câmera do quarto, e comecei a cruzar os contatos do Terceiro Garoto," Vladimir explicou, falando rapidamente, como se estivesse com medo de perder uma ideia. "Eu suspeito que a dinâmica Nate-Terceiro Garoto seja mais importante do que pensamos. Nate estava muito interessado em impressioná-lo. Eu acabei de achar um post antigo em um fórum obscuro que liga um nome de família parecido ao de um figurão da Dark Web."
L processou a torrente de informações, sentindo-se lento em contraste com a mente frenética de Vladimir.
"A Dark Web?"
"Talvez. É incompleto. Mas faz sentido com o tipo de equipamento que vimos no quarto," Vladimir murmurou, voltando a digitar, os dedos voando sobre as teclas. Ele estava claramente no meio de uma investigação intensa, imerso em conexões e teorias que L ainda não conseguia acompanhar.
"O que você está fazendo agora?" L perguntou, já sabendo que a resposta seria intricada.
Vladimir parou, coçando a barba rala que L odiava. "Estou validando as informações que Baru me deu. Ele é a chave para o Terceiro Garoto. O garoto está aterrorizado e cheio de informações. Ele disse que o Terceiro Garoto não bebe, não fuma, e só observa. Ele está atuando como um intermediário para algo maior, o que confirma um padrão que eu já vi em três outros casos na Europa nos últimos anos."
Vladimir fechou o laptop com um *click* satisfatório. Ele se virou para L, parecendo um gênio exausto que acabara de resolver uma equação complexa.
"Eu te explico melhor na escola. As conexões são complexas, e não temos tempo para eu detalhar agora," Vladimir disse, levantando-se e esticando as costas com um estalo audível. Ele olhou para o relógio digital na parede, a expressão focada voltando. "Você tem menos de três horas para se arrumar, Gabriel."
O coração de L afundou, e um gemido escapou de seus lábios. Vladimir nem precisava ter lembrado. O nome falso, 'Gabriel', era o gatilho.
L se lembrou. A rotina. A rotina exaustiva, forçada, e irritante.
Ele tinha que acordar às 04:00 da manhã, não importava o quão tarde chegasse das festas, do trabalho ou da escola. O motivo era simples e terrivelmente desgastante: a aparência de Gabriel Perez não era sustentada por casualidade. Era o resultado de um meticuloso planejamento e de um ritual de transformação que consumia horas.
L precisava se vestir, maquiar-se, pentear-se e perfumar-se. E tudo isso sem repetir um único item de maquiagem, uma única roupa, ou um único par de sapatos que as ‘amigas’ de Gabriel, ou Sarah, ou Zoey, ou mesmo Nate, pudessem ter notado. Ele precisava parecer novo, intocável, e, acima de tudo, um prêmio social.
"Quatro horas," L murmurou para si mesmo, sentindo o peso do guarda-roupa em seus ombros.
O pior era o horário escolar. Ele tinha que chegar na escola exatamente às 08:00, mas não junto com Vladimir. O disfarce exigia uma separação geográfica no início do dia.
Vladimir tinha que chegar quinze minutos mais cedo para sua rotina. Pelo que o detetive havia apurado sobre a vida social adolescente, Vladimir (o 'bad boy possessivo') 'morava' em outra área da cidade — o que, convenientemente, permitia que ele fizesse uma 'parada obrigatória' no campo de futebol da escola, onde muitos de seus novos "amigos" do time se reuniam para um café ou uma rápida sessão de exercícios antes do primeiro sinal.
L, como Gabriel, tinha que chegar sozinho, emanando uma aura de beleza e poder, mas também de dependência. Ele tinha que parecer que estava esperando ansiosamente pelo momento de ver Vladimir.
E é aí que entrava a verdadeira dificuldade.
L tinha que se preparar para ser Gabriel Perez. Não era apenas uma questão de vestir roupas, mas de vestir uma persona inteira. Ele precisava estar lindo. Ele precisava parecer confiante no papel de namorado submisso, mas invejado, do garoto mais perigoso da escola.
Ele precisava agir como se amasse Vladimir, como se cada palavra de afeto (ou abuso velado, como o de ontem) fosse um elogio. Ele precisava fingir que sentia falta dele, que ele queria impressioná-lo, que a opinião de Vladimir era o centro de seu universo.
Ele tinha que agir como se as garotas irritantes, intrusivas e maldosas fossem suas amigas, sorrindo e dando respostas vagas e sugestivas sobre sua vida sexual com Vladimir, tudo sem entregar informações concretas que pudesse quebrar o disfarce ou a reputação de Vladimir.
O dia inteiro seria uma performance extenuante, e a simples ideia disso fez L suspirar profundamente. Ele nunca entendeu a necessidade desse nível de drama social adolescente, mas ele sabia que era exatamente isso que Vladimir, o sociólogo-detetive, havia calculado ser necessário para se infiltrar no topo da hierarquia.
L se dirigiu ao quarto e abriu a porta do guarda-roupa espremida no canto. Não era um guarda-roupa; era uma coleção cuidadosamente curada de roupas caras, da moda teen, todas projetadas para serem justas, expor a pele e projetar uma imagem de disponibilidade e sexualidade velada. Gabriel Perez precisava ser uma obra de arte ambulante.
L olhou para as opções. Calças jeans skinny rasgadas estrategicamente, que ele detestava usar. Camisetas justas de cores claras, que ele achava vulgarmente apertadas. Jaquetas de couro sintético ou jaquetas bomber que eram sempre muito quentes.
Hoje? Hoje as 'amigas' esperavam que ele estivesse arrasador depois da cena de ontem. A humilhação exigia uma recuperação visual poderosa.
L suspirou e começou o ritual, ignorando o ronco suave do café sendo preparado na minúscula cafeteira da cozinha por Vladimir.
**O Ritual das Roupas**
L puxou um par de calças pretas, material elástico que parecia segunda pele. Ele as vestiu com um ranger de dentes. Ele se sentia sufocado nelas. Depois, escolheu uma camiseta branca lisa, que era fina e sem mangas, projetada para acentuar os braços e o pescoço. Ele observou o reflexo no espelho: a camisa destacava demais o físico que ele tinha moldado através de anos de treinamento físico para a polícia.
Ele pegou uma jaqueta. Não o bom e velho preto de ontem. Hoje seria um casaco de moletom oversized cinza, com um logotipo de time de basquete genérico da escola que Vladimir havia comprado para adicionar um toque de "eu-não-me-importo-tanto" ao look chique.
L vestiu a jaqueta e sentiu uma pontada de ansiedade familiar. Ele se olhou no espelho de corpo inteiro. Por mais que tentasse evitar, ele parecia... bom. Gabriel era uma imagem de convenções adolescentes, e era isso que o tornava um alvo tão desejável, e o acessório perfeito para Vladimir.
Mas isso o levou a outra preocupação, a que o atormentava constantemente:
*Gabriel ouvia o que Vladimir falava todo dia sobre as roupas dele?*
Vladimir tinha a irritante mania de "dar conselhos" sobre o guarda-roupa de Gabriel. Não eram conselhos. Eram ordens disfarçadas de sugestões, baseadas em uma análise sociológica de como as roupas afetavam a dinâmica entre os adolescentes.
*‘Essa camiseta é muito ousada, L. Gabriel precisa ser desejável, não fácil. Guarda ela para a festa.’*
*‘As calças beges? Não, não transmitem a aura de submissão sexy. Use o jeans escuro, acentua os quadris, mas mantém o mistério.’*
*‘Você vai usar essa jaqueta? É muito grande. Veste a que eu te dei, a vermelha. O vermelho é a cor da paixão possessiva. Lembra que você é meu.’*
L se sentia despojado de qualquer autonomia, mesmo em algo tão simples quanto escolher o que vestir. O desconforto era palpável; o figurino de Gabriel Perez não era apenas roupas; era uma armadura de conformidade que o sufocava.
"É desconfortável," L murmurou, ajustando a gola da jaqueta cinza. Mas a frustração era inútil. Vladimir estava sempre certo sobre a ciência social por trás da moda. Ele tirou a jaqueta cinza e pegou uma jaqueta de couro fake preta, que era mais leve, e optou por abri-la para deixar a camiseta branca à mostra. Isso era o ideal: submissão com um toque de rebeldia.
**O Cabelo**
L, o detetive, tinha o cabelo curto e militarmente aparado. Gabriel tinha um corte mais longo, em camadas, tingido de um preto profundo e brilhante. L abordou essa parte de seu ritual com um pouco mais de ânimo.
Ele se sentou no banquinho em frente à bancada lotada de produtos de cabelo. Ele se lembrou da última vez em que havia cortado o cabelo para este trabalho. Vladimir o havia zombado, dizendo que ele parecia um "filhote de mafioso de segunda categoria", antes de forçá-lo a crescer o cabelo e tingi-lo.
Agora, L pegava o spray texturizador. Ele jogou a cabeça para trás e para frente, amassando os fios grossos até que eles estivessem um pouco desarrumados, mas com volume. Ele usou a mão apenas para dar um leve empurrão nas raízes.
O resultado era realmente bom. Os cabelos pretos, agora com um volume natural, davam uma moldura interessante ao seu rosto.
"Pelo menos uma coisa que vou manter quando essa missão acabar," L pensou, passando a mão pelos fios. Ele gostava do volume extra, da pequena rebeldia que o cabelo lhe permitia expressar. Era a única parte do "pacote Gabriel" que ele realmente não odiava.
**A Maquiagem**
L se preparou mentalmente para a parte da maquiagem. Não era muito, mas era essencial para manter a ilusão de Gabriel como uma figura etérea e desejável.
Ele começou com o hidratante, que ele precisava para o ressecamento causado pelo estresse. Depois o primer, uma camada fina, para que a base durasse as dez horas de atuação na escola.
L pegou o corretivo mais caro que Vladimir havia comprado. Ele tinha que parecer que dormia oito horas por noite. Ele cobriu as olheiras profundas que a rotina de infiltração tinha infligido.
O toque final, o que realmente criava a "magia" de Gabriel, era a sutileza. Um pouco de pó translúcido para anular o brilho seboso de um dia inteiro. Um toque de protetor labial com cor, que só dava um ar de lábios saudáveis.
Ele estava no meio de aplicar um spray fixador, que Vladimir insistia ser necessário para "garantir a beleza em todas as humilhações", quando ouviu a voz profunda e grave de Vladimir do outro lado da porta.
Uma batida curta, mas enfática.
"L! Eu estou de saída. Vinte minutos, e você tem que estar saindo. Não se atrase."
L parou com o spray no ar. Vladimir estava informando que o seu tempo de preparação estava acabando. O 'bad boy' tinha seu próprio cronograma rigoroso a cumprir.
"O quê? Já?" L perguntou, frustrado. Ele precisava de mais dez minutos para o contorno suave que realçava suas bochechas.
Vladimir nem esperou L abrir a porta, apenas falou através da madeira.
"Sim. Eu vou para o campo. Nate e os outros já estão lá. Eu preciso estabelecer a dinâmica de poder antes que você chegue e eu tenha que... bem, ser possessivo na hora errada. Não posso arriscar a minha reputação de 'namorado tóxico invejado' por atrasos."
Vladimir fez uma pausa, e L podia imaginá-lo olhando para o relógio.
"A porta da frente está trancada. Lembra-se, você mora aqui sozinho, Gabriel. Eu venho 'te buscar' na esquina da escola. Não se atrase."
L ouviu o som de chaves sendo pegas e o baque da porta do apartamento se fechando. O som da fechadura eletrônica se ativando ecoou no espaço vazio.
L estava sozinho. Ele olhou para o espelho, o spray fixador ainda na mão. Seu rosto estava apenas meio maquiado, mas a urgência de Vladimir havia quebrado seu foco.
Ele inspirou profundamente e o cheiro forte do perfume de Vladimir – uma mistura de couro e incenso amadeirado – ainda pairava no ar. O detetive havia saído, assumindo o papel de um adolescente com um passado misterioso, mas com a pressão de ser o macho alfa.
L tinha quinze minutos.
Quinze minutos para finalizar a maquiagem, encontrar os sapatos (um par de tênis de marca branco, impecáveis), e a mochila (que L odiava, pois era muito pequena para as suas coisas, mas ideal para Gabriel, que só carregava ‘o necessário’).
Ele devolveu o foco para o seu rosto. Não havia tempo para luxos.
Ele tentou se acalmar. Vladimir agia daquele jeito porque precisavam ser rápidos. A rapidez e a falta de sono eram os veículos da tensão, e a tensão alimentava a performance.
Ele pegou o pincel de contorno, apressando os movimentos. Ele tinha que ter a aparência radiante e confiante de alguém que estava prestes a entrar em um ninho de cobras. E ele tinha que parecer que amava o cara que o tinha chamado de "puta" menos de dez horas atrás.
A mente de L começou a trabalhar no roteiro do dia.
A chegada: Chegar na escola, esperar dois minutos na esquina para parecer que estava atrasado, mas esperando, e então ver Vladimir no pátio conversando com Nate e os outros. Ele teria que ir até Vladimir, sorrir de forma cativante, ser puxado pela cintura para um beijo rápido e possessivo.
O Pátio: Suportar os olhares de inveja das garotas, os olhares de crítica dos garotos, e começar a responder às perguntas invasivas de Zoey e Sarah.
*“Então, Gabriel, você e o Vladi fizeram as pazes? Ele parecia nervoso ontem na festa.”*
*“Ah sim, Zoey. Estava. Mas ele é... romântico depois das brigas. Você sabe como é.”* (Romântico = culpado e fazendo todo o trabalho sujo).
*“O que você estava vestindo ontem? Aquele roxo ficou divino. O Vladi disse alguma coisa sobre... você sabe, no quarto?”*
*“Ele amou. Disse que eu era só dele. Você sabe, as coisas que o Vladi diz para me fazer sorrir.”*
L ensaiou o sorriso, forçando os músculos faciais até que parecesse natural no espelho. Era o sorriso de uma vítima contente, um sorriso de aceitação da dinâmica tóxica.
Ele acelerou a maquiagem, seus movimentos se tornando mecânicos e frustrados. Ele odiava a falta de tempo, odiava a falta de genuinidade.
Ele colocou os tênis brancos, que estavam impecáveis. Enfiou o celular no bolso da calça. Ele se via como uma casca vazia, perfeitamente embalada e pronta para ser exibida.
L pegou a mochila pequena e passou pela sala, notando que tudo o que Vladimir havia usado na noite — a xícara, os papéis, até o casaco jogado sobre a poltrona — havia sido retirado. Vladimir, em sua mania de organização, havia limpado todos os vestígios de sua vigília noturna. Exceto por um cheiro forte de café e o perfume amadeirado que ainda estava no ar.
L parou na porta. O relógio marcava 07:44.
Dezoito minutos para chegar na escola, fingir que ele havia saído de casa em outra área da cidade, e encontrar a posição perfeita para ser visto por Vladimir.
Ele tocou o rosto mais uma vez. Estava pronto. A transformação em Gabriel Perez estava completa, pelo menos por fora.
A única parte que não estava sob controle era a sua mente interna – a voz de L, o detetive, que gritava contra o personagem.
Ele abriu a porta do apartamento e se preparou para descer as escadas frias. A atuação começava agora. Ele respirou fundo, tentando inalar confiança e não o cheiro de mofo da caixa de correio do prédio. Ele precisava ser bonito, confiante. Gabriel Perez não podia falhar. A missão não podia falhar.
A porta do carro estava aberta. L se inclinou para entrar, mas parou. Tinha que ser a pé. O disfarce de Gabriel não poderia ter um carro.
L fechou a porta com um *clique* seco.
**A Rotina**
L começou a caminhar em direção à escola. O ar da manhã estava frio, mas a jaqueta de couro e a adrenalina o mantinham aquecido. Ele ajustou as alças da mochila. A cada passo, ele sentia L, o detetive, recuando. E Gabriel, o namorado possessivo do garoto popular, avançando.
Ele caminhava pela calçada, os tênis brancos refletindo a luz da manhã. Ele observava as casas, imaginando uma vida normal ali, sem infiltração, sem mentiras, sem códigos de droga ou câmeras escondidas.
E então ele chegou à esquina principal que ladeava o campo de futebol.
Ele podia ver a escola à distância, o prédio de tijolos vermelhos austero. E ele podia ver as figuras no campo: um grupo de garotos atléticos, vestindo moletons de time, rindo e chutando uma bola.
E entre eles, a figura icônica de Vladimir. O cabelo escuro, a jaqueta de gangue, o semblante arrogante. Vladimir estava encostado em um poste de luz, falando no celular com uma expressão de tédio estudado, claramente esperando. Agindo como se estivesse ocupado, mas na verdade, aguardando pacientemente a chegada de sua 'propriedade'.
L deveria esperar. Ele não deveria correr em direção a ele. Isso quebraria a imagem de um namorado que é desejado e não necessitado. Ele tinha que parecer que estava apenas passando, e ser 'descoberto' por Vladimir.
L diminuiu o passo, fingindo estar olhando para o celular, embora estivesse analisando o mapa da escola em sua mente. Ele viu Nate sair do grupo e ir em direção a Vladimir. Um momento de tensão. Nate estava tentando consolidar a amizade através da lealdade.
Vladimir desligou o celular e deu um soco amigável no ombro de Nate. A dinâmica estava funcionando perfeitamente.
L acelerou o passo, agora na distância de reconhecimento.
Ele se preparou para o momento de contato visual. Ele ajustou o sorriso, o sorriso de Gabriel: apaixonado, ligeiramente vulnerável, e cheio de antecipação.
Ele virou a cabeça, "acidentalmente" vendo Vladimir.
Vladimir o viu. A expressão de tédio de Vladimir se desfez, substituída por um lampejo de possessividade ensaiada. O detetive se endireitou, separando-se de Nate com um aceno brusco e começando a caminhar em direção a L.
O coração de L começou a bater mais rápido. Não de emoção, mas de pressão. O show acabara de começar.
Ele precisava ser Gabriel Perez.
Ele tinha que ser lindo, tinha que ser confiante, porque o dia seria longo e cheio de perguntas. Ele tinha que se fingir de amigo das garotas, e fingir que tudo estava perfeitamente bem com seu namorado "romântico".
Vladimir se aproximou, o olhar intenso e fixo. Ele alcançou L e, sem dizer uma palavra, ele o agarrou pela cintura, puxando-o para um beijo possessivo. L respondeu com a paixão contida que Gabriel usaria, sentindo o gosto de menta e café no beijo. Vladimir usou a mão na nuca de L para garantir que o ângulo do beijo fosse dramático, visível e inegável para quem estivesse assistindo do campo de futebol.
O beijo terminou tão abruptamente quanto começou. Vladimir olhou para L, um sorriso de superioridade estampado em seu rosto.
"Bom dia, *namorado*," Vladimir sussurrou no ouvido de L, garantindo que o tom possessivo estivesse lá.
L sorriu de volta, o sorriso que ele havia ensaiado. "Bom dia, Vladi. Eu senti sua falta."
Eles começaram a andar juntos em direção à entrada principal, a mão de Vladimir firmemente plantada na cintura de L.
"Você viu o relatório?" L perguntou, com a voz baixa e profissional, aproveitando a capa de barulho ambiente para falar como L. "O Terceiro Garoto?"
"Li. Eu tenho uma teoria. Vou te explicar melhor no intervalo da segunda aula. Não podemos conversar aqui," Vladimir respondeu no mesmo tom baixo e urgente, jogando-o de volta para a persona de Gabriel. "Você está lindo, *Gabriel*. Esse moletom combinou com o seu olhar de 'eu apanhei, mas estou feliz'."
L reprimiu a raiva causada pelo comentário cínico, mantendo o sorriso fixo. Ele sabia que Vladimir estava de volta ao papel de sociólogo-abusivo-adolescente, e era necessário. Mas ainda doía. "Obrigado, Vladi," ele disse, com a voz do personagem que aceita qualquer migalha de elogio.
Eles entraram nos portões da escola, já encontrando a primeira barreira social. Sarah, Zoey e Anna estavam no pátio, perto dos armários.
L apertou a mão de Vladimir em sua cintura, um toque sutil pedindo força.
O dia inteiro de atuação acabara de começar.
Ele se preparou para as perguntas invasivas, os olhares de inveja e a exaustão de manter a máscara, L, o detetive, estava exausto. Mas Gabriel Perez tinha que ser impecável. A vitória de ontem tinha que ser reforçada com a beleza e a submissão de hoje.
Ele tinha que ser o prêmio.
L apertou os olhos e pensou: *Um dia de cada vez. Concentre-se nas garotas. Informação.*
Eles caminhavam pela multidão de estudantes. O primeiro impacto do assédio social começou imediatamente. L ouviu uma voz fina e sarcástica.
“Olha quem resolveu aparecer! A propriedade finalmente chegou.”
Zoey.
L sorriu para ela. A luta pelo dia acabara de começar.
Comments (0)
No comments yet. Be the first to share your thoughts!