## Capítulo 6: O Ciclo Quebrado Mello traçou o primeiro golpe de *Jing*, sentindo a concentração retornar, a energia fluir do seu braço para o pincel, para o papel. A tinta correu perfeitamente com a ponta calibrada. Ele sabia que o seu treinamento, a sua servidão, estavam de volta aos trilhos. Ele estava pronto para o que viesse a seguir. *** Duas semanas se passaram desde aquele dia de descanso e caligrafia. O pincel, emprestado de Nyon, tornou-se a âncora de Mello, o ponto de retorno para o centro de seu ser. Ele praticava sempre que tinha um momento de folga, geralmente tarde da noite, quando até a respiração pesada de Sergey parecia acalmar a tenda. Aquele período, embora intenso e frio, tinha sido de uma estranha estabilidade. O acampamento russo funcionava com uma eficiência áspera. Nyon era um líder implacável, mas previsível. Mello, rebatizado de Aimee, havia solidificado seu papel. Ele não era mais uma suspeita a ser confinada, mas sim uma utilidade a ser mantida. Sua servidão a Boris e Dimitri havia se tornado uma rotina. Com Dimitri, Mello passava horas na Tenda Médica. A Tenda Médica era um lugar frio e com cheiro metálico, mas era onde Mello podia exercer seu real poder sob a capa de ser uma “ajudante” incansável. Dimitri, o médico cético, havia caído em uma espécie de aceitação resignada. Ele ainda resmungava sobre a "bruxaria de Oriente" de Mello, mas ele valorizava os resultados. As feridas que Mello tocava não desenvolviam infecções, a febre diminuía mais rápido, e os amputados pareciam se recuperar da dor fantasma mais rapidamente. Mello nunca curava completamente, é claro. Isso seria muito óbvio e drenaria suas reservas rapidamente. Ele sempre deixava um resíduo da doença ou do ferimento, algo que Dimitri pudesse creditar aos seus próprios bandagens ou medicamentos. Sua estratégia era simples: reduzir a estase, limpar o caminho para a cura natural do corpo, e absorver pequenas quantidades de tempo preso nos corpos enfraquecidos. O poder fluía agora. O Rio estava limpo novamente. A cada ferimento que ele tocava, Mello sentia um pequeno afluxo de *Qi* roubado, o tempo que havia estagnado na lesão, retornando a ele. Era o fluxo que sua mãe havia prometido: servir para ser servido. Dimitri, por sua vez, ensinava Mello a limpar feridas com álcool de cereais, a trocar bandagens sujas e a medir a temperatura com precisão. Ele o tratava como um assistente competente, mas ainda sem emoção. Mello até aprendeu a tolerar o cheiro forte de tabaco e vodka que Dimitri constantemente exalava. Com Boris, a dinâmica era completamente diferente. Boris era o organizador, o mestre do conforto e da logística no acampamento. Mello o ajudava a manter os registros de suprimentos, classificando os barris de kvas e os fardos de peles. Isso significava que Mello passava tempo na tenda do armazém, um lugar abrigado e com cheiros mais agradáveis—couro, madeira de pinho, e o cheiro doce e azedo da fermentação. Boris via Mello como o seu projeto pessoal de manutenção de sanidade. Ele confiava a Mello a caligrafia de relatórios mais longos (sob o pretexto de Mello ter uma “letra bonita” — ele usava um alfabeto híbrido, é claro), e discutia os princípios da estratégia defensiva de Nyon. “Você vê, *Zoloto*,” Boris explicava uma noite, enquanto Mello registrava o consumo de lenha, “a neve é a nossa primeira linha de defesa. Mas a disciplina é a segunda.” E ele ensinava a Mello a importância da disciplina russa, o conceito de *stoikost*, a perseverança estoica contra a adversidade. Durante aquelas duas semanas, a tensão da guerra se manifestava mais no clima implacável do que em combates reais. A nevasca que Boris havia previsto chegou, e o Mundo Exterior se dissolveu em um branco cegante e frio que impedia assaltos. O acampamento estava isolado, mas seguro. Mello estava mais magro, mas mais forte. Ele havia se adaptado à dieta de guisado de carne gorda e pão escuro. O disfarce de Aimee, a jovem estrangeira frágil, estava mais fácil de manter. Ele usava as longas horas de trabalho para justificar seu cansaço e sua quietude. A sua beleza dourada (que era a sua maldição na China por atrair atenção indesejada) era agora uma anomalia tolerada. Quatro semanas desde o resgate, e um mês inteiro desde o incidente com o irmão. Mello estava no coração do acampamento russo. Ele havia cumprido o requisito divino: servir. Seu poder estava seguro. Mas naquela manhã, enquanto Mello estava ajudando Dimitri a esterilizar instrumentos cirúrgicos—mergulhando-os em um balde de água fervente que mal estava quente o suficiente para matar algo, mas o suficiente para queimar a pele—um pensamento frio e incisivo o atingiu. Quatro semanas. Um ciclo. Para manter a persona de Aimee, ele tinha que manter a ilusão da feminilidade biológica funcionando. Ele havia lido o suficiente nos textos médicos de sua mãe e observado as mulheres no clã. A vida exigia ritmo, e a biologia exigia periodicidade. Mello sempre teve sorte, o corpo de *Liu Nuan* nunca tinha desenvolvido características masculinas na puberdade, graças ao precoce e contínuo uso de seu poder para manipular o tempo de seu próprio desenvolvimento. Ele estava permanentemente suspenso em uma pré-adolescência ambígua, o que facilitava o disfarce sob as camadas de seda e a longa cabeleira loira. No entanto, a manipulação do seu corpo para que parecesse feminino era um ato contínuo, e o aspecto mais difícil era simular os ciclos menstruais. Ele havia aprendido a antecipar o período, geralmente causando uma leve dor abdominal e usando trapos escondidos para simular o sangramento, embora nunca fosse perfeito. Era um ritual discreto, mas crucial para a manutenção do disfarce a longo prazo. Mas nas últimas quatro semanas—o tempo de sua “reclusão” forçada no acampamento—ele estava focado em sobreviver, curar e reabastecer seu *Qi*. Ele não tinha planejado o próximo ciclo. E agora, o corpo de Aimee estava atrasado. Não havia dor incômoda, nem o menor sinal do fluxo que ele precisava simular. O relógio biológico de Aimee estava silencioso. Isso era perigoso. Se ele ficasse muito “regular” (mesmo simulado), a chance de ser descoberto por um médico como Dimitri, que estava cada vez mais íntimo de seu corpo (no sentido médico), aumentaria exponencialmente. Mello mergulhou uma faca cirúrgica na água, o vapor subindo e embaçando a visão por um momento. O que estava causando o atraso? Eram os hormônios do estresse? A mudança drástica na dieta? O frio constante? Ele não tinha estado sob estresse *emocional* significativo nas últimas duas semanas, mas o estresse *físico* era imenso. Ele trabalhava quase sem parar entre Dimitri (ferimentos) e Boris (logística). A comida era rica em gordura e proteína, mas faltava a delicadeza de sua dieta em casa. Este era um risco que ele não podia se dar ao luxo de ignorar. Se Dimitri percebesse que Aimee estava menstruando irregularmente, ou pior, que estava 'atrasada', as perguntas seriam inevitáveis. E o cenário que surgiria na mente deles seria catastrófico para a sua persona. *Gravidez.* O pensamento fez Mello cambalear ligeiramente, quase derrubando o balde de água. Ele não tinha tido relações, é claro. E mesmo que tivesse, a probabilidade baixa de um corpo manipulado engravidar era quase nula. Mas *eles* não sabiam disso. E a gravidez era a explicação número um para uma jovem em idade fértil, em um ambiente militar, que parasse de menstruar. Ele precisava agir, e rápido. Ele precisava ser o primeiro a levantar a questão, transformando-a de uma suspeita em um sintoma. A ansiedade seria um fator para o atraso. A preocupação de Aimee seria vista como um sinal de que ela se importava com o seu estado. Isso era o que os russos chamavam de *maskirovka*, a arte do engano tático. *** A oportunidade veio na área do armazém, onde Mello estava ajudando Boris a reorganizar as munições, enquanto Dimitri, que estava ali para buscar suprimentos médicos, supervisionava a sua limpeza. A tenda era espaçosa e relativamente quente, graças a um fogão a lenha que Boris insistia em manter aceso. A manhã estava cinzenta e fria lá fora, mas dentro, o cheiro de graxa e pólvora era reconfortante. Dimitri estava sentado em uma caixa virada, esfregando o rosto cansado com a palma da mão. Ele estava exausto; a guerra e o inverno não davam trégua, e mesmo os ferimentos menores se complicavam no frio. “Aimee, você já terminou de catalogar os novos suprimentos de álcool vínico?” Dimitri perguntou, sem abrir os olhos. O álcool era precioso, tanto para esterilizar quanto para automedicar. “Quase, Doutor,” Mello respondeu, a sua voz um pouco mais suave e hesitante do que o normal. Ele estava sentado no chão, os joelhos dobrados, fingindo lutar com o pincel e o papel, anotando os números num pequeno livro de registro. Boris, que estava medindo cuidadosamente a pólvora em sacos menores para portabilidade, olhou para Mello. “Você está quieta hoje, Aimee. Cansada, *Zoloto*?” ele perguntou, sempre o observador gentil. Era o gancho perfeito. Mello colocou o pincel de lado, fingindo quebrar a concentração com um suspiro. “Não é cansaço, Boris,” Mello disse, forçando uma ruga de preocupação na testa. Ele tentou imitar a expressão de uma jovem que está prestes a confessar um segredo delicado. Dimitri abriu um olho. O único que podia ser incomodado para avaliar. “O que é, então, *Belyy Zolotse* (Pequena Dourada)? Você está preocupada com o Capitão novamente?” Boris perguntou, voltando à sua tarefa, mas com a cabeça ligeiramente inclinada. Mello balançou a cabeça. “Não, não é o Capitão. É... é algo mais pessoal,” ele murmurou. Ele se certificou de que a sua voz era baixa o suficiente para que eles tivessem que se esforçar para ouvir. Dimitri, ouvindo a palavra 'pessoal', imediatamente se levantou, percebendo que poderia ser um assunto médico. Ele não gostava de assuntos médicos que ele não pudesse resolver com uma faca ou uma dose de vodka, mas ele era um médico. “O que é isso, Aimee? Fale. Se você tem algum problema, é melhor falar para eu saber antes que piore,” Dimitri disse, o seu tom era pragmático, como se Mello fosse um pedaço defeituoso de equipamento. Mello hesitou um momento, simulando constrangimento. Ele olhou para Boris, depois para Dimitri, e finalmente para o chão. “É... eu sei que já faz um mês que estou aqui. Mas... Doutor, eu estou preocupada, porque a minha periodicidade não veio. A minha... a minha menstruação não desceu.” O efeito foi imediato e explosivo, como a pólvora que Boris estava manuseando. Boris parou de medir a pólvora, a balança improvisada de madeira balançando perigosamente. Ele olhou para Mello, os olhos azuis arregalados de surpresa, depois se virou para Dimitri, buscando uma explicação. Dimitri, por outro lado, saltou como se tivesse sido picado por uma vespa. O seu rosto, geralmente pálido e rígido, tornou-se de um vermelho profundo que contrastava fortemente com a sua barba suja. “O quê?!” Dimitri guinchou, sua voz era aguda, rompendo o silêncio da tenda. “Você está atrasada? Por quanto tempo?” “Meu ciclo é geralmente de 28 dias,” Mello explicou, mantendo a voz vacilante, a informação era tirada de um livro didático de sua mãe. “Hoje é o trigésimo primeiro dia. Eu sei que são só três dias, mas... eu sou muito regular, Doutor. E a minha cabeça está tão... pesada. Eu pensei que talvez o estresse, ou a comida...” Ele não conseguiu terminar a frase, deixando o pensamento pairar. Dimitri marchou até ele, a sua expressão era uma mistura de horror e pânico absoluto. “Três dias?! Aimee, você não está me dizendo que...” Dimitri parou, incapaz de verbalizar o pensamento impensável em voz alta. Boris, porém, era menos reservado e mais direto em seu medo e preocupação. Ele largou completamente a pólvora, ignorando o perigo potencial. “*Oy!* Aimee, meu Deus! Você... você fez algo irresponsável com algum dos rapazes?” Boris perguntou, o seu tom era de um pai preocupado. “Não! Claro que não, Boris!” Mello respondeu, a ofensa era genuína, pois qualquer insinuação de envolvimento amoroso era um risco desnecessário para a sua missão. “Eu juro para você, eu não estive com ninguém. Eu estou sempre aqui, Doutor sabe disso! Eu não saio da tenda a não ser para buscar suprimentos.” “Nós sabemos. Você é uma boa garota,” Boris interveio rapidamente, tranquilizando-o, mas a sua mente estava claramente acelerada. Dimitri, no entanto, ignorou Boris e Mello, já estava em modo de pânico. Ele estava andando em círculos, a mão na testa, murmurando em russo. “Não, não, não, não! Isso é impossível! O Capitão nos mataria! Ele prometeu a ela proteção, e agora isso!” Dimitri estava quase histericamente. Mello ficou atordoado pela intensidade da reação deles. Ele sabia que o pânico seria alto, mas não nesse nível. “Capitão mataria o quê, Doutor?” Mello perguntou, fingindo confusão. “Eu só estou atrasada.” Dimitri parou de andar, olhando para Mello com uma expressão que Mello nunca tinha visto antes no rosto do cético médico: terror descontrolado. “Você não entende, Aimee? Uma jovem estrangeira, sozinha, em um acampamento militar por mais de um mês, e agora você está atrasada? O que você *acha* que o Capitão Nyon vai pensar? O que *nós* pensaremos?” Dimitri respirou fundo, tentando se acalmar sem sucesso. “A única explicação lógica para o atraso de três dias, especialmente com a sua extrema regularidade que você está alegando, é que você está *grávida*!” Boris estremeceu, colocando as mãos sobre a cabeça. “Grávida? De quem?!” Boris exclamou, olhando ao redor da tenda como se o responsável fosse saltar de trás de algum saco de batatas. A tenda de repente ficou muito pequena. O cheiro de pólvora e graxa parecia mais intenso, e a fumaça do fogão a lenha parecia mais densa. Mello observava os dois homens, a sua mente estava calculando a jogada seguinte. O pânico de Dimitri e Boris era real, e era aterrorizante. Mello tinha subestimado a implicação de uma possível gravidez. Para eles, Aimee não era apenas uma mascote de cura, era uma protegida do Capitão Nyon. Uma gravidez dentro do acampamento, especialmente nesse estado de vulnerabilidade, seria um escândalo e uma ofensa direta ao Capitão. Nyon havia proibido explicitamente que alguém a tocasse ou a prejudicasse. Se Aimee estivesse grávida, significava que alguém havia desobedecido a Nyon, e o castigo seria brutal, e Mello sabia disso. Além disso, uma gravidez transformava Aimee de uma “utilidade peculiar” em um “problema logístico” insustentável. Mello precisava inverter a situação imediatamente. Ele precisava negar a gravidez com veemência e introduzir uma alternativa médica plausível, algo que mantivesse seu status de paciente e não de vítima de um crime. “Não! Parem!” Mello aumentou ligeiramente a voz, com a preocupação forçada de uma jovem apavorada. “Eu não estou grávida! Vocês estão enlouquecendo!” O som agudo de sua voz chocou os dois homens. Dimitri estava ofegante e Boris estava murmurando orações. “Como você pode ter tanta certeza, Aimee?” Dimitri exigiu, os olhos frenéticos. “Você acabou de nos dizer que está atrasada! Isso, no seu corpo, é o maior sinal! Você pode estar em choque agora!” “Eu não estou em choque, Doutor. Eu estou dizendo a verdade,” Mello insistiu, sua voz tremeu, o que era um ótimo toque. “Eu passei este último mês inteiro sob o seu olhar, Doutor. E, por Deus, sob o meu próprio! Eu não estive com ninguém. Eu não deixei ninguém me tocar, além de você e Boris quando me ajudam a me mover! Eu juro!” Ele colocou a mão sobre o peito, fingindo que o seu coração estava prestes a sair. O pânico de Dimitri deu lugar a uma introspecção hesitante. Ele e Boris eram os únicos que lidavam rotineiramente com Mello, cuidando dele desde o resgate de Nyon. Eles eram os únicos que poderiam ter conhecimento de qualquer irregularidade. “Você está dizendo que não houve contato?” Boris perguntou, a descrença ainda pairava em seus olhos. “Absolutamente, Boris. Não houve contato íntimo. Eu sei o que estão pensando, e sinto muito por ter causado esse pânico, mas eu não estou grávida,” Mello afirmou com firmeza, olhando nos olhos de Boris para transmitir a sinceridade forjada. Boris suspirou de alívio, visivelmente aliviado, limpando o suor frio da testa. “Graças a Deus. Porque se Nyon achasse que... bem, que um dos nossos...” A frase de Boris se perdeu em um murmúrio. A ameaça de Nyon era o verdadeiro motor do pânico. Dimitri, o médico, estava agora forçado a voltar à realidade clínica. Se não era gravidez, então era algo mais controlável—doença. “Se não é gravidez, então o que é?” Dimitri perguntou, a sua voz ainda estava tensa, mas ele estava recuperando o seu profissionalismo. “Há algo mais que você está escondendo sobre a sua saúde? Algum histórico de problemas?” “Nenhum problema crônico, Doutor,” Mello respondeu, começando a introduzir o seu plano. “Mas eu estava pensando, Doutor... o meu ciclo sempre foi muito sensível. Minha mãe dizia que qualquer grande mudança—estresse, dieta, clima—poderia desequilibrá-lo.” Mello fez uma pausa dramática. “E aqui, Doutor, nós temos as três coisas. O estresse de estar em guerra, a mudança radical no que eu estou comendo—toda essa gordura e poucas frutas—e o frio constante! O meu corpo está lutando só para se manter aquecido. Isso não poderia estar bloqueando o ciclo?” Mello tocou na verdade científica. O estresse extremo e a desnutrição ou mudanças bruscas na dieta eram causas comuns de amenorreia (a ausência de menstruação). Em um ambiente de guerra, isso seria a norma, e não a exceção. Dimitri ponderou. Ele era um médico cético, mas ele não podia descartar a fisiologia feminina, por mais irritante que fosse. Mello tinha introduzido uma explicação plausível. Era muito mais reconfortante do que a ideia de um soldado desobediente ser jogado aos lobos pelo Capitão Nyon. “Doença,” Dimitri murmurou, mais para si mesmo. “A amenorreia induzida pelo estresse ou pelo metabolismo. É possível. Você perdeu peso, certamente. E você está constantemente esgotada, Aimee. Isso sobrecarrega o sistema.” Boris, que estava agora mais calmo, concordou com a cabeça. “Faz sentido. O nosso clima é difícil para todos, Aimee. Você não pode esperar que seu corpo reaja como se estivesse em casa,” Boris disse, voltando para a sua pólvora com mais cautela. “Ainda bem que você nos falou logo. Estávamos prestes a entrar em pânico.” Mello deu um suspiro de alívio, a atuação exigindo um esforço físico. “Desculpe-me por ter causado esse pânico, Doutor. Eu só não sabia para quem mais perguntar,” Mello disse, o seu tom era de desculpa sincera. “Não se desculpe. Você fez bem em me informar,” Dimitri disse, a sua voz estava voltando ao seu tom pragmático de sempre, embora ainda houvesse um tremor sutil de alívio. “Eu vou ter que ficar de olho nisso. Isso significa que seu corpo está sob grande pressão. Isso pode afetar sua capacidade de cura, então você terá que comer mais. E talvez eu possa lhe dar um tônico à base de ervas, mas você deve prometer que não vai se preocupar.” “Eu prometo, Doutor,” Mello concordou imediatamente. Um tônico de ervas não faria mal; ele poderia facilmente manipular o tempo de qualquer toxina para que ela se dissipasse antes de entrar no seu sistema. A ameaça de exposição estava contida. O medo da gravidez, a única explicação que realmente os apavorava, estava neutralizado. Mello tinha transformado um risco em uma justificação para mais cuidado e nutrição. O ciclo quebrado, o sinal de seu corpo sob pressão, agora era a sua nova linha de defesa. Ele havia plantado a semente da doença (falsa) para afastar a semente do pânico (real). Mello sorriu levemente para si mesmo. A arte do engano, combinada com a lógica médica, havia salvado o dia, e o seu poder continuava em segurança. Ele estava pronto para anotar o que Dimitri iria receitar. O médico se virou em direção à sua caixa de suprimentos, murmurando sobre a necessidade de preparar um xarope de beterraba e algumas raízes secas, quando Boris levantou a cabeça. “Mas espere,” Boris disse, o seu olhar em Mello estava agora carregado de uma nova preocupação. Ele olhou para Mello, de cima a baixo. “Doutor está certo. Se não é gravidez, e sim doença, ou estresse... você acha que essa tensão... essa quebra de ciclo... poderia ter algo a ver com a forma como você foi concebida?” Mello franziu a testa, confuso. “O que você quer dizer, Boris?” Boris se aproximou, sua expressão era grave, e ele olhou para Dimitri para ver se o médico estava ouvindo. “Você tem cabelos loiros e olhos claros, Aimee. Você é o oposto das mulheres do Leste. Você é... você é o produto de um inverno. Você é a filha de uma união entre o Leste e o Oeste,” Boris sussurrou. “Talvez o seu corpo esteja rejeitando o clima chinês e se adaptando ao nosso. Talvez a sua natureza esteja se revelando, e não a gravidez.” Mello abriu a boca para responder, mas Dimitri, que ouviu a palavra ‘concepção’, foi mais rápido. Dimitri se virou de sua caixa de suprimentos, os seus olhos ainda estavam ligeiramente vermelhos de pânico, e ele olhou para Mello com uma suspeita que Mello pensou ter dissipado. “Não, Boris, você está falando bobagem. A única razão pela qual essa é uma questão é que isso nos leva de volta ao ponto principal! Eu disse isso antes, e eu direi de novo: a única razão pela qual uma garota tão peculiar quanto Aimee estaria aqui, e com esse corpo, é que ela está aqui para cumprir um propósito. E se esse propósito é ser uma curandeira, então o ciclo interrompido significa que a fonte está com problemas!” Dimitri se aproximou de Mello, os dedos longos e finos quase tocando o braço dele. “Se não é a gravidez, Aimee,” Dimitri disse, sua voz era baixa de perigo. “Então é algo pior. É uma doença, ou é o seu corpo se recusando a aceitar a servidão que Nyon impôs a você. E se o seu corpo não está funcionando como deveria, então o Capitão vai querer saber o porquê. É a sua *utilidade* que nos preocupa aqui. E um mês inteiro... um mês inteiro de frio e estresse... essa é uma boa razão para o seu corpo estar entrando em colapso. Comece comendo mais, ou eu vou ter que relatar essa falha de funcionamento a Nyon. E eu não garanto o que ele fará.” Dimitri estava de volta à sua rotina de ameaças frias, mas o pânico inicial de Boris ainda ressoava na tenda. A única explicação lógica para a menstruação de Aimee não ter descido era que ela estava grávida. Eles entraram em desespero, até que Mello/Aimee conseguiu falar e diz que não estava grávida e que apenas achava que estava doente ou que algo na comida estava bloqueando seu ciclo. “Não,” Mello disse, a sua voz clara e firme. “Não é doença, Doutor. Eu estou dizendo que não estou grávida, e que estou apenas passando por uma flutuação. Meu corpo está se acostumando. Eu vou comer mais, Doutor. Eu prometo. É só o estresse, e talvez a falta de vitaminas na comida...” Ele sabia que tinha que se ater à explicação mais plausível. A ideia de Dimitri de “colapso de utilidade” era aterrorizante, mas ele precisava manter a narrativa da “flutuação” sob seu controle. “Eu vou preparar o tônico de ervas. Volte para a macaque e descanse. E coma tudo o que lhe for dado,” Dimitri ordenou, o seu alívio era palpável em sua voz. Ele tinha um diagnóstico e um plano. E, o mais importante, não envolvia a fúria de Nyon. Mello assentiu, agradecido pela saída, e começou a se levantar, aliviado por ter desviado com sucesso a crise. Ele tinha virado o jogo. A ameaça de gravidez tinha se dissipado, substituída por algo que ele podia controlar: a narrativa de sua saúde frágil e a sensibilidade de seu corpo. Agora, ele tinha mais poder do que antes, pois exigia cuidados adicionais. Ele tinha que agradecer a Nyon pelo pincel emprestado de caligrafia, porque o foco mental que ele havia recuperado havia permitido essa manobra tática. Ele estava seguro. Por agora. A única explicação lógica para a menstruação de Aimee não ter descido era que ela estava grávida. Eles entraram em desespero, até que Mello/Aimee consegue falar e diz que não estava grávida e que apenas achava que estava doente ou que algo na comida estava bloqueando seu ciclo.

Comments (0)

No comments yet. Be the first to share your thoughts!

Sign In

Please sign in to continue.