"Eu estava pensando," Mello disse, interrompendo o silêncio. "O Nate. Eu estava pensando nele de novo."
César fechou o laptop. Ele sabia que quando Mello mencionava Nate, era sinal de que ele estava analisando seu próprio valor.
"O que te fez pensar nele agora?"
"Não sei. A praia. O sol. Me faz pensar na falta de sol no orfanato. Eu estava me perguntando de novo, se eu tivesse ficado, se eu teria sido melhor. Se eu teria chegado ao primeiro lugar, se eu tivesse tido a confiança que você disse que me faltava."
César se recostou na cadeira e cruzou os braços musculosos.
"Na época, Mello, era impossível. Você estava se afogando na necessidade de provar. Você estava se comparando constantemente, o que é o oposto de confiança."
Mello assentiu.
"Eu sei. Agora eu olho para trás... a criança de cinco anos me frustrava tanto. Eu o odiava, mas o respeitava pra caramba. Ele era simplesmente... inatingível."
César sorriu, um sorriso de satisfação.
"Você estava investindo em ser melhor que ele. Ele estava investindo em ser ele mesmo. Você estava tentando ser a versão 2.0 dele. Ele era a versão original."
Mello riu, um som genuíno.
"Sim. Eu sei. Falta de confiança. Você acertou."
Mello assentiu.
Capítulo 7: A Ruptura Silenciosa
Mello deu um suspiro dramático e se ajeitou na rede. O sol espanhol era realmente ridículo de tão brilhante. Aquele lugar era tão diferente daquele beco úmido de onde César o tinha resgatado, parecia até outra vida. E em muitos aspectos, era.
A sensação de aceitação e propósito ainda era nova. Tão nova, na verdade, que era quase desconfortável. Mello sempre se sentiu mais confortável na crise, no caos. O tédio do luxo o forçava a olhar para dentro, e ele odiava o que via. Ou, pior, odiava o que ele *não* via.
Ele olhou para César. O herdeiro da máfia russa. O garoto que, por alguma razão bizarra e inexplicável, tinha se apegado a ele. O garoto que o estava sustentando em um luxo inimaginável, mantendo-o seguro e o tratando como um estrategista de valor inestimável.
Mas havia o **limite**. O limite que, mesmo depois de quase dois anos, nunca tinham ultrapassado, e era isso que realmente estava começando a incomodá-lo. Não era a falta de beijos ou romance clichê, Mello até achava isso brega. Era a **ambiguidade**.
E a ambiguidade, para Mello, era ilógica.
"Tudo isso é muito instrutivo," Mello começou, sua voz mudando de tom casual para algo mais afiado, quase clínico. Ele chutou uma sandália para fora da rede, encarando-a com desprezo. "A lógica do Nate. A lógica da sobrevivência."
César ergueu uma sobrancelha, observando-o. Ele sabia o que estava por vir. Mello estava no modo ‘análise de problemas’ e, geralmente, o problema era ele mesmo.
"Qual é a peça que falta na sua análise agora, Mello?" César perguntou, sua voz mantendo a calma habitual, mas havia uma tensão sutil na forma como ele esperava.
"A lógica **nossa**," Mello rebateu, apontando entre os dois com um movimento brusco da mão. "Dezesseis meses de convivência, César. Noites frias na Islândia, calor infernal no Sudão, mansões, jatos, tiroteios. Você conhece meus piores defeitos, e eu conheço os seus."
Ele se sentou na rede, a fazendo balançar violentamente. "Você me tira do beco, me salva, me dá propósito e casacos de chinchila. Você praticamente me adotou como seu braço direito. Você até me disse que me ama, em um momento de estresse extremo. Você se lembra disso, não é?"
César não desviou o olhar. "Eu me lembro, Mello. Eu nunca disse nada que não fosse verdade. Eu te amo."
"Ótimo. Então chegamos à parte ilógica do nosso arranjo," Mello continuou, ignorando a pontada de calor que a declaração de César ainda lhe causava. "Nós dormimos na mesma cama todas as noites. Na mesma. Cama."
Ele enfatizou as palavras. A rotina era tão normal que era quase um ritual. Desde a abstinência, eles nunca mais tinham dormido em quartos separados. Era a segurança de que Mello estava ali, e Mello sabia que César estava ali. Presença, intimidade de sobrevivência.
"E não há *nada*," Mello disse, balançando a cabeça em descrença. "Não há um toque acidental, não há sequer um maldito abraço que não seja de emergência. Não há nada físico que sugira que seu 'Eu te amo' signifique mais do que 'Eu te valorizo estrategicamente' ou 'Você é um bem de segurança'."
Mello sentiu o rosto esquentar. Ele estava invadindo um território perigoso, ele sabia. César não era do tipo que lidava bem com emoções expostas, especialmente as dele. Mas a ambiguidade estava corroendo Mello por dentro. Ele precisava de clareza. Ele era assim. Sem clareza, ele se autodestruía.
"Eu preciso entender a lógica, César," ele continuou, exigindo, quase implorando. "Eu sou valioso para você. Eu sou uma arma, uma ferramenta, e talvez até um amigo. Mas o que eu sou para você quando as luzes se apagam? Somos dois sobreviventes que dividem o mesmo colchão por conveniência logística? Ou a tensão sexual que eu sinto é apenas uma invenção da minha mente, porque estou desesperado por alguém que não seja Nate para me querer?"
Mello usou a analogia de Nate para se proteger um pouco, para disfarçar o quão vulnerável se sentia ao levantar a questão.
César ficou em silêncio por um longo momento. Ele olhou para Mello, de cima a baixo, sua expressão ilegível. Ele tinha aquela habilidade de se fechar completamente, de virar pedra quando confrontado.
Finalmente, ele se levantou da cadeira. Ele caminhou lentamente até a extremidade da varanda, as mãos nos bolsos da calça preta impecável.
"Não é invenção da sua mente, Mello," ele respondeu, sua voz baixa e controlada. "Nunca foi puramente transacional. Eu te desejo. Fisicamente. Desde o momento em que te vi naquele beco, mesmo coberto de sujeira e doente."
Mello piscou, o ar preso nos pulmões. A confissão jogada ali, com a mesma frieza com que César podia ordenar uma liquidação de ativos.
"Mas... então qual é a grande barreira?" Mello perguntou, sua voz mal um sussurro. "Por que essa recusa em sequer... tocar? Estou começando a pensar que você é um eunuco do crime ou algo assim."
César se virou, a luz do sol batendo em seu cabelo platinado e destacando a palidez quase sobrenatural de sua pele. Ele suspirou, e foi um som pesado, incomum para a sua compostura habitual.
"É o toque," César admitiu, encarando o mar. Ele não estava olhando para Mello, mas falando para ele, expondo uma verdade que ele mantinha enterrada. "Você estava no beco. Você viu que eu estava ferido. Você sabe sobre as tentativas de assassinato."
Mello assentiu, lembrando-se das cicatrizes que César carregava. Linhas finas, brancas e irregulares que cruzavam suas costas e flancos, lembretes de uma vida de violência.
"Não são apenas memórias," César continuou. "É a memória física. Meu corpo está programado para associar contato físico... à dor. À violência. Traição. Desde criança, Mello. Minha mãe me rejeitava. Meu pai me treinava através de punições."
Ele finalmente se virou para Mello, e a expressão em seu rosto era de dor contida. "Quando alguém me toca, meu corpo reage antes que minha mente possa processar que não é uma ameaça. É um reflexo de sobrevivência. Eu não quero que meu reflexo seja te machucar."
A lógica. Claro. Mello, o gênio da lógica, percebeu a falha: César estava tão focado em não machucar Mello fisicamente que estava o machucando emocionalmente através da rejeição contínua.
"Então," Mello disse, se levantando da rede. Ele caminhou até César, a seda do pijama roçando na pele bronzeada das suas pernas. Ele estava no modo 'solução de problemas' agora. O medo de Nate sumiu. O medo da incerteza acabou. Havia um problema real a ser resolvido.
"Então o problema é o toque em geral," Mello deduziu, parando a centímetros de César. Ele podia sentir o calor do corpo de César, a tensão musculosa sob a camisa de seda que também vestia a tensão. "O que você precisa, César, é de um 'reset' sensorial."
"Mello, eu não sou um robô que pode ser resetado," César murmurou, mas seus olhos vermelhos estavam fixos nos azuis de Mello, procurando um sinal.
"Você é o mais próximo de um que eu já conheci," Mello retrucou, com um meio sorriso. Ele esticou a mão. Lentamente, ele posicionou a ponta de um dedo na clavícula de César, logo acima onde o botão da camisa estava desabotoado.
O toque foi leve, quase imperceptível. Mello estava pronto para recuar se César fizesse qualquer movimento brusco.
César estremeceu, mas não se moveu. Seus olhos se fecharam por um momento, a respiração presa.
"Eu entendo a lógica do seu trauma," Mello sussurrou, mantendo o toque. "Eu entendo o medo de traição. Mas eu não sou o seu passado, César. Eu sou a sua lógica. Eu sou a sua sobrevivência. E para sobrevivência total, precisamos de confiança total."
A audácia de Mello era colossal. Ele estava oferecendo a César, a mente por trás de uma das organizações criminosas mais implacáveis do mundo, uma terapia de exposição voluntária.
"Eu sei sobre as cicatrizes, César. E elas não me assustam," Mello continuou, e ele moveu o polegar, desenhando um pequeno círculo na pele de César. "Não há julgamento. Não há traição. Há apenas... aceitação. E necessidade."
Ele olhou seriamente nos olhos de César. Mello sabia o que estava fazendo. Ele não estava apenas oferecendo intimidade; ele estava cimentando o vínculo de forma inquebrável, transformando a relação em algo que transcendia a logística. Se eles pudessem cruzar essa linha, estariam ligados de uma forma que Nate nunca poderia entender.
"Eu me ofereço," Mello disse, sua voz tensa, mas determinada. "Vamos quebrar essa barreira. Você pode me tocar, e se houver um reflexo, eu irei te dizer. Não por desejo romântico, não inicialmente, mas como uma extensão da estratégia. Precisamos ser inseparáveis em todos os níveis. Não me toque por amor, César. Me toque por necessidade lógica. Para a sua segurança. Para a nossa sobrevivência."
Ele estava vendendo a vulnerabilidade como uma tática militar. Era a coisa mais Mello que ele poderia fazer, e era a única forma pela qual César poderia aceitar sem sentir que estava perdendo o controle.
César abriu os olhos. Havia uma intensidade crescente neles, uma mistura de alívio e pavor. Ele levou a mão lentamente, hesitante, e a colocou sobre a de Mello, que ainda estava em sua clavícula.
O toque de César era quente e surpreendentemente suave, apesar da rigidez de seus músculos.
"Mello," começou César, sua voz mais rouca que o normal. "Isso é... arriscado."
"O que não é arriscado em nossas vidas?" Mello respondeu, e ele estava prestes a puxar a mão de César para mais perto, para começar a guiar o processo, quando a porta do escritório atrás deles se abriu.
**CLANG.**
Mello e César se separaram instantaneamente, como se a proximidade fosse um explosivo. A lógica da crise havia sido reafirmada.
Era uma empregada. Mello não a reconheceu, o que era estranho; César geralmente mantinha a equipe fixa, ou pelo menos avisava sobre substituições. Ela era uma mulher baixa, de meia-idade, com um uniforme impecável e um avental branco. Ela usava uma expressão incomum para os empregados de César: medo contido.
Ela falou em um espanhol hesitante, algo sobre a porta da frente.
"O que foi?" César perguntou, voltando a si, sua postura de herdeiro implacável retomada instantaneamente. Ele olhou para Mello, o momento íntimo já encapsulado e arquivado pela ameaça lógica mais imediata.
"Desculpe, Senhor," disse a empregada, apertando as mãos. "Há um homem na entrada principal. Ele diz que está esperando há algum tempo. Não o encontrei na lista de expectativas, mas ele insiste que esperava vir e... bem, ele passou pela segurança externa." Ela engoliu em seco. "E o segurança não conseguiu impedi-lo."
Isso era impossível. A segurança externa de César era uma fortaleza; apenas uma equipe de ataque coordenada ou um traidor interno poderia quebrar a primeira linha sem um alarme. E o alarme não tinha disparado.
César franziu a testa, andando em direção ao computador na escrivaninha. Ele verificou o sistema de segurança discretamente, apenas com o movimento dos olhos. Mello o conhecia o suficiente para saber: invisível a falha, mas real.
"Quem é, e como ele se identificou?" Mello perguntou à empregada, assumindo o papel de estrategista, sua mente já no modo de crise. O pijama de seda e a conversa sobre intimidade pareciam ter acontecido em outro século.
A empregada olhou para Mello, depois para César, parecendo confusa sobre a hierarquia ali, mas respondendo a quem se movia mais rápido.
"Ele... ele se identificou como 'Sasha'," ela disse, o nome soando estranho em seu sotaque espanhol. Ela parecia aliviada por ter cumprido sua tarefa.
"Sasha," César repetiu, o nome saindo mais plano do que um gemido.
Mello sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Sasha. Era um apelido informal para **Alexandr**, ou **Aleksandr**.
E só havia um Aleksandr que poderia passar pela segurança de César sem um alarme e deixar a equipe de segurança inerte de medo: o pai de César. O chefe, **Sasha** — Alexandr Rostova.
Mello e César se olharam. A confusão inicial deu lugar a um fio de terror frio, lógico.
O inimigo que César não conseguia matar. O homem que enviou assassinos, mas que se recusava a ser visível.
"Sasha," Mello murmurou, saboreando o nome. "Por que ele viria em pessoa? Nenhum encontro estava agendado. E se ele está aqui, ele não está aqui para chá e biscoitos."
Mello sentiu o rosto ficar tenso. Ele se lembrou da última vez que o nome Sasha tinha aparecido, no bunker da Islândia, quando o traidor interno tinha revelado a origem da ameaça.
César dispensou a empregada com um aceno rápido e autoritário, e a mulher saiu apressadamente.
"O que ele quer?" Mello perguntou, aproximando-se de César.
"Ele não vem em pessoa a não ser que seja algo... final," César respondeu, ativando as proteções e colocando seu laptop em modo de bloqueio e criptografia total.
Mello estava começando a andar em círculos, o hábito do orfanato ressurgindo com o estresse. "Então, o que mudou na nossa lógica de sobrevivência que justifica a visita do chefe?"
"Mello, pare de andar," César rosnou, o estresse evidente na voz. Ele estava lutando contra a paralisia. O medo do pai era um trauma que nem a logística de Mello conseguia curar.
Mello parou no meio do quarto, de repente lembrando de um detalhe muito importante sobre Sasha.
"Espera aí," Mello disse, a cor sumindo de seu rosto. "Ele já me viu. Na Suíça, antes da mudança para a Islândia. Aquele jantar com os representantes italianos."
Naquela ocasião, Mello tinha se passado por um assistente de línguas raras, mas Sasha apareceu brevemente. O pai de César tinha olhado para Mello, com um desprezo profundo, e então se dirigiu a César.
"Ele me chamou de 'Alexandra'," Mello lembrou, um frio na barriga. "Ele me chamou de 'Alexandra' e disse que eu devia me vestir de forma mais discreta, ou eu seria confundido com 'a relíquia de sua mãe'."
Mello sentiu a mão esfregar instintivamente o lado esquerdo de seu rosto, aquela cicatriz de queimadura que ele tentava ignorar. Ele tinha deixado o cabelo loiro crescer um pouco mais durante os meses na Espanha, caindo sobre as orelhas. Não era intencional imitar, mas ele sabia que realmente havia uma semelhança.
Alexandra, o nome da mãe de César, que havia morrido há três anos. Mello sabia (por ter interceptado comunicações sobre a família) que, apesar de ser o herdeiro, César tinha mantido uma relação fria com o pai desde a morte da mãe.
"Sim," César confirmou, sua face inexpressiva. "Você se parece com ela. Não se vista mais assim. Ele tem um complexo."
Mello o olhou incrédulo. "Um complexo? Ele me chamou de sua mãe e me rejeitou. Ele me odeia porque eu lembro a ele o que ele perdeu, e ele odeia você porque... o quê? Você se parece mais com ele agora?"
"Ele me odeia porque sou fraco," César corrigiu Mello com frieza, pegando o casaco para vestir. "Fraco, porque eu te peguei debaixo de um nariz de viciado. Fraco, porque eu não sou ele. Mas isso não importa agora. Ele está aqui."
César deu um passo em direção à porta. "Não o irrite. Não fale sobre Nate. E não tente usar a lógica. Com ele, você usa apenas o silêncio."
Mello o seguiu. Não havia tempo para pegar armas. Se Sasha estava ali, ele estava cercado por uma segurança que faria a deles parecer um piquenique. A única arma de Mello seria sua mente e o fato de ser inesperado.
Eles desceram apressadamente a escadaria de mármore. Mello, ainda de pijama de seda, colocou uma das suas jaquetas de couro preta esvoaçantes sobre os ombros, esperando que isso o fizesse parecer menos indefeso.
Sasha já estava na porta principal. Ele estava de pé, imponente, usando um sobretudo de cashmere cinza que parecia ter custado mais do que a mansão. Ele não era tão alto quanto César, mas seus ombros eram largos e sua presença era esmagadora, uma montanha de autoridade silenciosa. Ele tinha o mesmo cabelo platinado de César, mas em Sasha era impecavelmente penteado, e seus olhos, que não eram albinos, eram de um cinza glacial que parecia sugar toda a luz da entrada.
Ao lado de Sasha estava um homem enorme, o guarda-costas pessoal a quem Mello tinha aludido em conversas estratégicas: Yuri. Yuri era sinônimo de parede de tijolos ambulante.
Quando César e Mello se aproximaram, Sasha inclinou a cabeça levemente, um gesto de respeito formal que não carregava calor, nem humor. Apenas poder.
"César," a voz de Sasha era como cascalho sendo moído. Ele falava russo, e Mello rapidamente ativou a tradução mental. "Você demorou. Achei que estivesse aproveitando o sol demais e esquecendo as regras de etiqueta."
"Pai," César respondeu, formal e rígido, o medo sutil, mas presente, na linguagem corporal. "Não esperava sua visita. Os protocolos..."
"Os protocolos são para forasteiros, e para aqueles que não são dignos de interromper um jovem herdeiro em suas férias," Sasha cortou. Ele virou seus olhos gélidos para Mello, varrendo o corpo magro no pijama caro, a jaqueta de couro e a cicatriz.
Em vez do desprezo habitual, Sasha fez algo inesperado. Ele **sorriu**. Um sorriso que não tocava os olhos, mas que era, inegavelmente, um sorriso.
"Alexandra, você está... diferente," Sasha disse. Ele olhou para Mello, e Mello sentiu sua espinha congelar. Ele estava sendo confundido com a mãe de César novamente. A rejeição do pai era uma tortura física para César, e ele estava usando Mello para infligir isso.
"Eu sou Mello," ele corrigiu, com calma, mas a voz esfragada.
Sasha balançou a cabeça, desdenhoso. "Os apelidos de César sempre foram estranhos. Mas não estamos aqui para discutir seu nome. Entre."
Sasha já estava nos conduzindo para dentro, como se a casa fosse dele, o que, conceitualmente, era.
"Eu tenho notícias. Notícias que afetarão nossa família e... sua pequena empreitada logística, César."
Eles entraram na vasta sala de estar, ricamente decorada em mármore e veludo. Sasha escolheu um sofá no centro e gesticulou para eles se sentarem. Yuri ficou de pé, postado como uma estátua sombria perto da porta.
César e Mello sentaram lado a lado no sofá oposto, parecendo dois adolescentes sendo repreendidos.
Sasha olhou para Mello, e desta vez o olhar foi mais demorado.
"Gostei do seu cabelo," Sasha disse. "Está muito parecido com o de Alexandra. Quando você o usa mais comprido, ele esconde. Faz bem em esconder aquela imperfeição." Ele gesticulou para a cicatriz de queimadura no lado do rosto de Mello.
Mello teve que suprimir um movimento de levar a mão ao rosto. Era raro alguém mencionar a cicatriz abertamente.
"Eu não estou aqui para conversar sobre vaidades," Sasha continuou. "Estou aqui por causa do seu trabalho, César. E por causa da sua escolha de parceiro."
Sasha voltou o olhar para César. "Você tem surpreendido a mim e ao conselho, César. Aquela falha no protocolo de segurança na Suíça... foi brilhantemente contornada. Inteligente. Mão de obra mínima, raciocínio rápido. Você está sobrevivendo melhor do que eu esperava."
Mello e César trocaram um olhar rápido. O "brilhantemente contornado" era Mello. A lógica de não atirar e desarmar a traição interna.
"Eu tenho sorte em ter recursos," César respondeu, mantendo a voz monótona e respeitosa.
"Sorte não existe, César. Existe estratégia, ou existe estupidez. E até agora, você estava flertando com a estupidez," Sasha retrucou. Ele sorriu novamente para Mello, e Mello sentiu um frio na barriga. Por quê? Por que aquela aprovação súbita?
"Mas este... garoto. Este seu assistente. Ele é perspicaz," Sasha continuou. "A forma como ele o conduziu para fora da Suíça, e depois de Praga, usando a lógica das distrações. Seus relatórios são, na maioria das vezes, cirúrgicos. Você não o perdeu?"
"Ele está aqui. Ele é inestimável," César respondeu secamente, sem entrar em detalhes.
Mello sentiu um nó na garganta. Ele tentou lembrar se Sasha tinha aprendido seu nome real em algum momento na Suíça. Ele havia assinado o cartão de crédito com o nome que César tinha lhe dado para a ocasião, um típico nome russo. Mas Sasha o chamava de Alexandra.
Sasha não parecia interessado na resposta. Ele se recostou, o casaco perfeitamente ajeitado.
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