Capítulo 1: O Primeiro Dia Caótico
Mello parou na entrada do prédio e olhou para cima. A torre de vidro e aço se erguia à sua frente, tão alta que ele precisou inclinar o pescoço para ver o topo. As letras douradas acima da porta de entrada brilhavam sob o sol da manhã: SOLITARE.
Ele respirou fundo e caminhou até a porta giratória. O segurança acenou para ele passar sem pedir identificação, o que o deixou confuso. Será que todos entravam assim, sem mostrar nada?
O saguão principal tinha piso de mármore branco. Mello andou devagar, tentando não fazer muito barulho com os sapatos novos que comprara especialmente para o primeiro dia. Os saltos batiam contra o chão de qualquer forma, e o som reverberava pelas paredes. Algumas pessoas de terno passaram por ele sem olhar, todas apressadas, carregando pastas e falando ao telefone.
Ele chegou até a recepção. A mulher atrás do balcão digitava algo no computador, sem levantar os olhos.
"Com licença," Mello disse.
Ela continuou digitando por mais alguns segundos antes de olhar para ele. Analisou Mello dos pés à cabeça com uma expressão neutra.
"Sim?"
"Eu sou o novo secretário. Hoje é meu primeiro dia."
"Nome?"
"Mello. Mello Santos."
A recepcionista virou o monitor na direção dela e clicou algumas vezes com o mouse. Franziu a testa.
"Secretário de quem?"
"Do... do diretor César."
Ela parou de digitar e o encarou. A expressão mudou para algo entre surpresa e curiosidade.
"César Marchetti?"
"Sim."
A recepcionista piscou duas vezes, depois voltou a olhar para o computador.
"Não sabia que ele tinha contratado alguém." Ela apertou mais algumas teclas. "Mas está aqui no sistema. Vigésimo quinto andar. Pegue o elevador do fundo e vire à esquerda quando sair. O escritório dele é o maior, vai ver a placa na porta."
"Obrigado."
Mello atravessou o saguão seguindo as instruções. Encontrou os elevadores e apertou o botão. As portas se abriram imediatamente. Ele entrou e pressionou o número vinte e cinco no painel.
O elevador começou a subir. Mello olhou para o próprio reflexo no metal polido das portas. A gravata estava torta. Ele ajeitou, tentando centralizar o nó. A camisa branca parecia amassada mesmo tendo passado ferro nela pela manhã. Será que passara direito?
Ainda não entendia como conseguira o emprego. A entrevista tinha sido há duas semanas. Ele se lembrava de sentar numa sala pequena, responder perguntas básicas de uma mulher do departamento de recursos humanos. Ela perguntara sobre experiência anterior, e Mello admitira que nunca trabalhara como secretário antes. A mulher anotara algo num bloco de papel e dissera que ele receberia uma ligação.
Três dias depois, o telefone tocou. Ofereceram a vaga. Mello aceitou porque precisava do dinheiro, mas passou as duas semanas seguintes questionando se não tinham ligado para a pessoa errada.
O elevador parou. As portas se abriram.
Mello saiu e virou à esquerda. O corredor tinha piso acarpetado em cinza escuro. Algumas portas de vidro ficavam dos dois lados, todas com placas de identificação. Ele passou pela sala de reuniões, depois pela sala de design, depois pela sala de edição.
No final do corredor, havia uma porta dupla maior que as outras. A placa dourada dizia: CÉSAR MARCHETTI - DIRETOR EXECUTIVO.
Mello parou diante da porta. Conseguia ouvir vozes do outro lado. Alguém gritava. Não, mais de uma pessoa gritava. Ele engoliu em seco.
Bateu na porta.
Ninguém respondeu. O barulho continuou.
Ele bateu de novo, mais forte.
"Entre logo!" A voz atravessou a porta com clareza.
Mello girou a maçaneta e empurrou.
O escritório era enorme. Janelas de vidro cobriam toda a parede do fundo, oferecendo vista para a cidade. Mesas se espalhavam pelo espaço, algumas encostadas nas laterais, outras no centro. Papéis cobriam cada superfície disponível. Pastas abertas, documentos soltos, impressoras funcionando sem parar despejando mais folhas.
Três telefones tocavam simultaneamente em locais diferentes da sala.
César Marchetti estava no centro de tudo. Alto, devia ter uns trinta anos, cabelos louros penteados para trás. Vestia terno preto sem gravata, com a camisa aberta nos dois primeiros botões. Ele segurava um telefone entre o ombro e a orelha enquanto escrevia algo num bloco de notas. Com a outra mão, apontava para uma mulher à esquerda.
"Não, não quero a versão antiga. Mandei refazer por um motivo!" Ele gritou para o telefone, depois olhou para a mulher. "Teresa, a matéria sobre os eventos de moda está pronta?"
"Ainda falta a revisão do—"
"Me manda até meio-dia!" César cortou, então voltou a falar ao telefone. "Você ainda está aí? Eu disse para usar a fonte em negrito na capa, não em itálico!"
Outra pessoa entrou correndo pela porta que Mello não tinha visto, do lado direito do escritório.
"César, a gráfica ligou. Eles precisam confirmar a tiragem até as dez!"
"Sessenta mil exemplares, igual todo mês!" César desligou o telefone e o jogou sobre a mesa mais próxima. Pegou outro que tocava. "Alô? Não, cancelei aquela reunião. Remarque para quinta." Ele desligou novamente e finalmente olhou para Mello.
Os olhos de César eram castanho-escuros, quase pretos. Ele examinou Mello dos pés à cabeça, da mesma forma que a recepcionista fizera.
"Você é o novo secretário?"
"Sim. Mello Santos."
"Ótimo. Você sabe usar computador?"
"Sim."
"Sabe fazer café?"
"Sim."
"Consegue andar rápido?"
"Eu... acho que sim?"
César pegou uma folha de papel de cima de uma das mesas e estendeu para Mello.
"Esta é sua lista de tarefas. Preciso de tudo pronto até o fim da manhã."
Mello pegou o papel. Olhou para a lista. Tinha pelo menos vinte itens escritos à mão com caligrafia apressada.
"Até o fim da manhã?" Mello repetiu.
"Meio-dia no máximo." César já estava atendendo outro telefone. "Alô? Sim, pode mandar subir... Não, não tenho tempo agora!"
"Mas eu não sei onde—"
"Descubra." César apontou para uma mesa vazia perto da janela. "Aquela ali é sua. Computador, telefone, tudo que precisa está lá. Agora me deixe trabalhar."
César virou as costas e começou a folhear uma pilha de documentos enquanto gritava instruções para Teresa, que ainda estava na sala.
Mello ficou parado, segurando o papel. Olhou para a lista novamente. O primeiro item dizia: "Imprimir relatório mensal - arquivo no servidor - 50 cópias".
Ele não sabia nem como acessar o servidor.
Caminhou até a mesa que César indicara. Puxou a cadeira e sentou. O computador já estava ligado. A tela pedia senha.
Mello olhou ao redor. César continuava ocupado, agora discutindo com alguém sobre prazos de publicação. Teresa saíra da sala. Mais duas pessoas entraram, ambas carregando mais papéis.
Ele levantou e foi até onde César estava.
"Desculpe, eu—"
"O quê?" César perguntou sem olhar para ele.
"A senha do computador."
César parou de escrever. Virou a cabeça e encarou Mello com uma expressão que parecia questionar se estava falando sério.
"Mello123. M maiúsculo."
"Obrigado."
Mello voltou para a mesa. Digitou a senha. O sistema abriu, mostrando uma área de trabalho cheia de ícones e pastas. Ele clicou no explorador de arquivos e procurou por algo que parecesse um servidor compartilhado.
Levou dez minutos para encontrar a pasta correta. Mais cinco para localizar o arquivo do relatório mensal. Quando finalmente abriu o documento, percebeu que tinha sessenta páginas.
Cinquenta cópias de sessenta páginas.
Mello olhou ao redor procurando uma impressora. Havia uma no canto da sala, mas César estava bem ao lado dela, ainda gritando instruções para pessoas diferentes. Outra impressora funcionava perto da porta, mas já despejava folhas de algum outro trabalho.
Ele se levantou e caminhou até a impressora do canto. Esperou César terminar de falar.
"Preciso usar a impressora," Mello disse.
"Use." César nem olhou para ele.
Mello conectou o computador à impressora através da rede. Configurou para imprimir cinquenta cópias. Apertou o botão.
A impressora começou a funcionar. A primeira folha saiu. Depois a segunda. Na terceira, o papel prendeu.
A máquina fez um barulho estranho e parou.
Mello abriu a tampa lateral. Puxou o papel preso com cuidado, tentando não rasgar. Conseguiu remover. Fechou a tampa e apertou o botão novamente.
A impressora voltou a funcionar por mais cinco folhas antes de travar de novo.
"Está com problema?" César perguntou atrás dele.
Mello se virou. César o encarava com os braços cruzados.
"O papel está prendendo."
"Então troque a bandeja."
"Trocar a...?"
César suspirou. Abriu um armário ao lado da impressora e tirou uma resma de papel nova. Puxou a bandeja da impressora, removeu as folhas velhas e colocou as novas. Fechou tudo e apertou o botão para reiniciar.
"Pronto. Próxima vez você faz sozinho."
Ele saiu antes que Mello pudesse responder.
A impressora funcionou direto dessa vez. Mello ficou esperando ao lado, observando as folhas saírem uma por uma. Olhou para o relógio na parede. Já eram nove e quarenta.
Quando a impressora terminou, ele juntou todas as cópias e as organizou em pilhas sobre a mesa. Depois olhou para o próximo item da lista: "Fazer café - 6 xícaras - levar para sala de reunião às 10h".
Mello procurou pela sala. Não viu nenhuma cafeteira.
Levantou e saiu do escritório. Caminhou pelo corredor até encontrar uma copa no final. Dentro tinha uma cafeteira grande, mas estava vazia e desligada. Ele abriu os armários procurando café. Encontrou um pote com grãos na terceira prateleira.
Colocou água na máquina, adicionou o café no filtro, ligou. A cafeteira começou a fazer barulho.
Enquanto esperava, Mello voltou a olhar para a lista. "Organizar agenda de César para a semana - conferir conflitos de horário". Como ia fazer isso sem saber quais compromissos César já tinha?
A cafeteira apitou. Ele pegou a jarra e procurou por xícaras. Encontrou algumas no armário, mas eram xícaras pequenas. Precisava de seis. Contou as que tinha: cinco.
Abriu outro armário. Achou uma caneca grande com o logo da Solitare, mas não era igual às outras.
Usou as cinco xícaras pequenas e a caneca grande. Encheu todas com café. Colocou numa bandeja que encontrou embaixo da pia.
Precisava levar para a sala de reuniões às dez. Olhou para o relógio na parede da copa: nove e cinquenta e oito.
Mello pegou a bandeja e saiu. Caminhou rápido pelo corredor, tentando não derramar nada. O café balançava nas xícaras. Algumas gotas caíram na bandeja.
Chegou na porta da sala de reuniões. Estava fechada. Ele conseguia ouvir vozes do outro lado.
Equilibrou a bandeja numa mão e bateu na porta com a outra.
"Entre!" Alguém gritou.
Mello girou a maçaneta com a mão livre e empurrou a porta com o ombro. A bandeja inclinou. Ele tentou equilibrar, mas uma das xícaras pequenas escorregou.
A xícara caiu no chão. O café se espalhou pelo carpete cinza.
Cinco pessoas sentadas ao redor da mesa grande olharam para ele. Uma delas era César.
"Desculpe," Mello disse. "Eu... trouxe o café."
César o observou por um longo momento. Depois apontou para a mesa.
"Coloque aí."
Mello entrou e colocou a bandeja sobre a mesa. Suas mãos tremiam um pouco. Ele olhou para a xícara quebrada no chão.
"Vou... vou limpar isso."
"Depois." César pegou uma das xícaras e bebeu um gole. Fez uma careta. "Você colocou açúcar nisso?"
"Não. Só café."
"Está amargo demais. Da próxima vez usa menos pó."
"Certo. Desculpe."
Mello saiu da sala e fechou a porta. Encostou na parede do corredor e respirou fundo. As mãos ainda tremiam.
Voltou para o escritório de César. A sala continuava caótica. Mais pessoas tinham chegado, todas conversando ao mesmo tempo, telefones tocando, impressoras funcionando.
Ele sentou na própria mesa e olhou para a lista. Já eram dez e cinco. Tinha completado dois itens de vinte, e um deles fizera mal.
O terceiro item dizia: "Entregar documentos para departamento financeiro - pasta vermelha na mesa do César".
Mello levantou e procurou pela pasta vermelha. Não viu nenhuma. Olhou sobre a mesa principal de César. Tinha pastas azuis, pretas, uma verde, mas nenhuma vermelha.
Talvez estivesse embaixo de outros papéis. Ele começou a levantar algumas pilhas com cuidado, tentando não bagunçar tudo. Documentos deslizaram. Uma pilha inteira caiu no chão.
Mello se abaixou para pegar. Enquanto juntava as folhas, viu a pasta vermelha embaixo da mesa, encostada numa das pernas.
Pegou a pasta e verificou o conteúdo. Documentos financeiros com muitos números. Fechou e saiu do escritório.
Não sabia onde ficava o departamento financeiro.
Caminhou pelo corredor até encontrar alguém. Um homem de terno cinza vinha na direção oposta.
"Com licença," Mello chamou. "Você sabe onde fica o financeiro?"
O homem parou e apontou para trás.
"Dois andares abaixo. Vigésimo terceiro. Pega o elevador e vira à direita."
"Obrigado."
Mello seguiu as instruções. Entrou no elevador, desceu dois andares, virou à direita. O departamento financeiro tinha uma porta de vidro com letras prateadas. Ele entrou.
Uma mulher de óculos trabalhava num computador atrás de um balcão.
"Posso ajudar?"
"Vim entregar isso. Do César." Mello estendeu a pasta vermelha.
A mulher pegou e abriu. Folheou os documentos rapidamente.
"Esses são os relatórios da semana passada. Precisávamos deles ontem."
"Desculpe, eu—"
"Não tem problema. Você é novo?"
"Primeiro dia."
Ela sorriu pela primeira vez.
"Seja bem-vindo ao caos. Vai se acostumar... eventualmente."
Mello não tinha certeza se acreditava nisso, mas agradeceu e saiu.
Voltou para o vigésimo quinto andar. Quando entrou no escritório de César, encontrou mais gente do que antes. Alguém discutia sobre uma matéria atrasada. Outro reclamava de problemas com fotógrafos. César estava no meio, dando ordens para todos ao mesmo tempo.
Mello sentou na própria mesa e riscou o terceiro item da lista. Continuou para o quarto: "Confirmar almoço com Editor-Chefe da revista Prisma - 13h - Restaurante Bianco".
Olhou para o telefone em cima da mesa. Ao lado tinha um bloco de papel com alguns números anotados. Um deles dizia "Prisma".
Ele pegou o telefone e discou o número.
"Revista Prisma, boa tarde."
"Oi, eu estou ligando para confirmar um almoço. O César Marchetti tem um compromisso com o Editor-Chefe às treze horas no Restaurante Bianco."
"Um momento." A voz do outro lado ficou em silêncio. Mello ouviu teclas de computador. "Sim, está confirmado. O senhor Rodrigues vai estar lá."
"Ótimo. Obrigado."
Mello desligou e riscou o quarto item. Pelo menos esse tinha sido fácil.
Os itens seguintes incluíam organizar documentos por data, arquivar contratos antigos, responder emails não urgentes, e agendar uma reunião com o departamento de marketing.
Ele começou pelos emails. Abriu o programa de email no computador. A caixa de entrada de César tinha duzentas e trinta e sete mensagens não lidas.
Mello começou a ler uma por uma, tentando identificar quais eram urgentes e quais não eram. Depois de vinte minutos, tinha lido apenas quinze e não conseguia decidir qual era qual. Tudo parecia importante.
Desistiu dos emails e passou para organizar documentos. Procurou pela pilha que precisava ordenar por data. Encontrou numa mesa lateral. Começou a separar, criando montes diferentes para cada mês.
Enquanto trabalhava, alguém esbarrou nele por trás. Os papéis que Mello segurava voaram. Ele se virou.
"Desculpa!" A mulher que esbarrara nele se abaixou para ajudar a pegar. "Eu não vi você aí."
"Tudo bem." Mello juntou as folhas.
"Você é o novo secretário do César?"
"Sou."
"Teresa." Ela estendeu a mão. "Editora de moda."
Mello apertou a mão dela.
"Mello."
"Primeiro dia?"
"É."
"César já gritou com você?"
"Ainda não."
"Então está indo bem." Teresa sorriu. "Ele demitiu os dois últimos secretários na primeira semana."
Mello não sabia se ela estava brincando ou não. A expressão de Teresa era séria.
"Ele é sempre assim?" Mello perguntou.
"Assim como?"
"Gritando, fazendo mil coisas ao mesmo tempo."
"Sempre." Teresa pegou uma pasta da mesa ao lado. "Mas ele é bom no que faz. A Solitare é a revista mais lida do país por causa dele. Só precisa aprender a acompanhar o ritmo."
Ela saiu antes que Mello pudesse responder.
Ele voltou a organizar os documentos. Levou quase uma hora para terminar. Quando acabou, eram meio-dia e dez.
Olhou para a lista. Ainda faltavam doze itens.
César passou por ele carregando uma pilha de papéis.
"Você confirmou meu almoço?"
"Sim. Às treze horas no Restaurante Bianco."
"Ótimo. Você vai comigo. Anote tudo que for discutido."
"Eu... vou?"
"Tem problema?"
"Não, eu só... não sabia."
"Agora sabe. Vamos sair daqui a meia hora. Se prepare."
César entrou na sala de reuniões e fechou a porta.
Mello olhou para a lista na mesa. Não ia conseguir terminar nada em meia hora. Tentou fazer o máximo possível. Ligou para o departamento de marketing sobre a reunião. Ninguém atendeu. Deixou mensagem na secretária eletrônica.
Organizou mais alguns contratos por ordem alfabética. Guardou documentos antigos numa caixa de arquivo.
Às doze e quarenta, César saiu da sala de reuniões.
"Vamos."
Mello se levantou. Pegou um bloco de notas e uma caneta da mesa.
Saíram do escritório juntos. Pegaram o elevador até o térreo. Um carro preto esperava na entrada do prédio. O motorista abriu a porta traseira.
César entrou. Mello hesitou, depois entrou também.
O interior do carro tinha bancos de couro preto. César pegou um tablet que estava no assento e começou a ler algo na tela.
Mello ficou quieto, olhando pela janela enquanto o carro se movia pelo trânsito.
Chegaram no restaurante quinze minutos depois. O lugar era elegante, com mesas cobertas por toalhas brancas e garçons de colete. Um homem de terno azul já esperava numa mesa perto da janela.
"César!" Ele se levantou e apertou a mão de César. "Quanto tempo."
"Rodrigues. Este é Mello, meu secretário."
Rodrigues olhou para Mello e acenou com a cabeça.
"Prazer."
"Igualmente."
Todos sentaram. Um garçom trouxe o menu.
Enquanto César e Rodrigues conversavam sobre negócios, Mello tentava anotar tudo. Eles falavam rápido, pulando de assunto em assunto. Colaborações entre as revistas. Eventos futuros. Questões sobre distribuição.
Mello escrevia rápido, tentando capturar os pontos principais. A mão começou a doer depois de vinte minutos.
"O que você acha, Mello?" César perguntou de repente.
Mello levantou os olhos do bloco de notas. Os dois homens o observavam.
"Sobre...?"
"Sobre fazer um evento conjunto para o lançamento da edição de aniversário."
"Eu... acho que pode ser bom. Se as duas revistas se beneficiarem."
Rodrigues riu.
"Esperto. Contratou bem desta vez, César."
César não respondeu, apenas bebeu um gole de água.
O almoço continuou por mais uma hora. Quando terminaram, já eram quase três da tarde.
Voltaram para o carro. Durante o trajeto de retorno, César olhou para as anotações de Mello.
"Deixe isso na minha mesa quando chegarmos. Vou precisar revisar."
"Certo."
De volta ao escritório, Mello colocou o bloco de notas sobre a mesa de César. Olhou para a lista de tarefas que deixara sobre a própria mesa. Riscou mais três itens que tinha conseguido completar pela manhã.
Ainda faltavam nove.
Passou o resto da tarde tentando terminar o máximo possível. Respondeu alguns emails simples. Organizou mais documentos. Ligou para confirmar uma reunião da semana seguinte.
Às cinco da tarde, a maioria das pessoas começou a sair. O escritório foi esvaziando aos poucos. Teresa passou por Mello e acenou.
"Sobreviveu ao primeiro dia. Bom sinal."
Mello sorriu cansado.
Às seis, apenas ele e César permaneciam na sala. César trabalhava em algo no computador, digitando rápido sem parar.
Mello olhou para a lista. Tinha completado onze dos vinte itens. Mais da metade, mas ainda longe de todos.
Começou a juntar os papéis sobre a mesa, organizando tudo antes de ir embora. Estava cansado. Os pés doíam dos sapatos novos. A cabeça pulsava de tanta informação nova.
Desligou o computador e pegou a pasta que trouxera de casa.
"Você fez a lista que dei?" César perguntou sem tirar os olhos da tela.
Mello parou no meio do movimento.
"Fiz... metade. Mais ou menos."
"Metade."
"Sim. Desculpe, eu tentei mas—"
"Qual metade?"
Mello estendeu a lista para César. Ele pegou e leu rapidamente, olhando os itens riscados.
"Confirmou o almoço. Organizou os documentos da semana passada. Entregou a pasta no financeiro." César colocou o papel sobre a mesa. "Respondeu os emails?"
"Alguns."
"Definiu a reunião com marketing?"
"Deixei mensagem. Ninguém atendeu."
César ficou em silêncio por um momento. Mello esperou, tentando decifrar a expressão dele. Seria raiva? Decepção?
"Você sabe que a maioria das pessoas teria ido embora às cinco," César disse finalmente.
"Eu... não sabia que horário devia sair."
"Seis é aceitável para secretários. Alguns saem às cinco e meia."
"Ah."
César voltou a olhar para o computador.
"Pode ir. Amanhã tem mais."
Mello acenou com a cabeça e caminhou até a porta. Colocou a mão na maçaneta.
"Mello."
Ele se virou.
César o observava com aqueles olhos escuros, a mesma expressão difícil de ler.
"Você ainda está aqui. Interessante."
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