## Capítulo 13: O Tribunal do Medo Nobre
Valerius não diminuiu o passo ao sair do Salão de Jantar. Ele tinha o pergaminho antigo apertado sob o braço, o volume de avisos da linhagem também, e uma informação fresca vinda da boca ingênua de Luther. O sorriso fraco de Randal e a menção ao ‘Conforto Inutilitário’ agora pareciam uma ameaça existencial. Valerius pensou que não se tratava apenas de política. O filósofo Matt estava a explorar uma fraqueza mágica que poderia desestabilizar o reino de dentro para fora.
Valerius não precisava de Valerius convencer a corte de feitiçaria, porque isso era ridículo e impróprio para um Conselheiro Real. Ele precisava apenas usar a ameaça de instabilidade para forçar a ação. A política era o teatro onde a nobreza agia.
Ele chegou ao seu gabinete e rapidamente dispensou o seu secretário, ordenando que preparasse a Sala do Conselho Privado para uma reunião de emergência em trinta minutos. Valerius não podia esperar, porque a cada hora que Matt permanecia no castelo, a dependência de Randal se aprofundava.
Ele tinha que ser estratégico, então Valerius sabia que a fraqueza do Rei era o ponto de alavancagem, mas a fraqueza da nobreza era a ganância. O imposto proposto por Matt era a arma perfeita.
Valerius organizou os seus pensamentos rapidamente, então ele começou a preparar o seu discurso. O ponto de partida seria a segurança do Rei, e o ponto de chegada seria a segurança das suas carteiras.
Trinta minutos depois, Valerius estava na Sala do Conselho Privado. Esta sala era pequena, sombria, e mobiliada apenas com uma longa mesa de ébano e dez cadeiras de veludo escuro. Oito dos dez membros do Conselho já estavam presentes. Eles eram os pilares do reino, a nobreza mais antiga e rica, homens que viam a tradição como a única verdade.
Lord Garius, um homem corpulento com um bigode branco e um temperamento curto, estava a bater o dedo na mesa.
“Valerius, o que é esta urgência? Eu estava a inspecionar os meus novos estábulos. É sobre a fronteira?” Garius perguntou, impaciente.
“É sobre a fronteira, Lord Garius, mas não a fronteira externa. É sobre a fronteira da mente do nosso Rei,” Valerius disse, mantendo a sua voz grave.
Ele não se sentou, mas ficou em pé na cabeceira da mesa, usando a sua altura para dominar o espaço. Ele colocou o volume antigo sobre a mesa, o couro escuro parecendo pesado e sinistro.
“Eu fui à Biblioteca Real esta manhã, e o que descobri é mais alarmante do que qualquer exército invasor,” Valerius começou, e ele fez uma pausa dramática. “Vocês sabem que o nosso Rei Randal sofre da anomalia dos Quatro Olhos. Todos a vemos como uma bênção de vigilância, um sinal de que a Casa de Von Ivory nunca dorme totalmente, garantindo a nossa segurança.”
Os Conselheiros assentiram. Eles estavam habituados a esse mito.
“No entanto, eu descobri que essa bênção tem um reverso sombrio. Uma vulnerabilidade existencial,” Valerius continuou, então ele abriu o volume na página que descrevia a maldição do Estranho.
Ele não leu a parte sobre a magia, porque Valerius não queria soar como um fanático. Ele traduziu o conceito arcano para a linguagem política.
“O texto diz que a única forma de o Rei descansar verdadeiramente é através da ‘Rendição Total’ ou do que a linhagem chama de ‘Conforto Inutilitário’,” Valerius explicou, e ele observou a confusão nos rostos deles. “Essa rendição deve vir de dentro, ou de um indivíduo ligado pelo Sangue ou pelo Voto. Se for induzida por um Estranho, o Rei não apenas armazena energia; ele armazena a *dependência*.”
Valerius permitiu que a palavra dependência pairasse no ar, porque Valerius sabia que isso ressoava com o medo que os nobres tinham de um monarca fraco ou influenciável.
“O Estranho se torna o *Eixo*,” Valerius disse, e ele usou o termo antigo para dar peso. “Ele ganha uma posse sobre a vontade do Rei, e a mente que era livre e vigilante agora anseia pela rendição, tornando-se uma obsessão. O Rei se torna, efetivamente, um refém do seu próprio conforto.”
Lord Cyrus, um nobre mais jovem e cético, pigarreou. “Com todo o respeito, Valerius, está a falar de misticismo. O que isso tem a ver com o filósofo que o Rei acolheu?”
“Tem tudo a ver, Lord Cyrus,” Valerius respondeu, e ele estreitou os olhos. “Este ‘filósofo’, Matt, é o Estranho. Ele induziu o ‘Conforto Inutilitário’ em nosso Rei. Randal dormiu nove horas, pela primeira vez em anos, e atribuiu esse descanso a Matt.”
Valerius não esperou pela reação deles, então ele continuou a sua acusação. “Eu conversei com o Príncipe Luther. Matt usou o termo ‘Conforto Inutilitário’ com o nosso jovem Príncipe, o que sugere que ele tem conhecimento da vulnerabilidade da linhagem, ou que a descobriu e está a usá-la.”
Lord Garius bateu na mesa novamente, mas desta vez com alarme. “Dependência? O Rei está a ser manipulado?”
“Não apenas manipulado, mas enfraquecido existencialmente,” Valerius corrigiu, e ele aumentou o tom de urgência. “A vigilância do Rei é a segurança do reino. Se a segurança do Rei for entregue nas mãos de um andarilho sem lealdade, a estabilidade de Von Ivory está em risco.”
Valerius viu que a semente do medo tinha sido plantada, mas Valerius sabia que o medo abstrato não era suficiente. Ele precisava de algo tangível, algo que ameaçasse os seus privilégios.
“E a prova de que este ‘Eixo’ está a usar a sua influência para subverter a ordem do reino é a sua proposta política,” Valerius declarou, e ele mudou o foco do misticismo para a finança. “Matt está a aconselhar o Rei a financiar a defesa da fronteira, não através do imposto sobre os bens básicos, que é a tradição, mas através de um imposto radical e inédito.”
Ele fez outra pausa, então ele olhou para cada um dos nobres na sala. “Um imposto sobre a nobreza.”
O silêncio na sala foi quebrado por um coro de murmúrios indignados. O choque era palpável, e Valerius soube que ele tinha encontrado o ponto de fricção perfeito. Ameaçar os seus títulos não funcionaria, mas ameaçar o seu dinheiro funcionava perfeitamente.
“Taxar a nobreza? É uma afronta!” Lord Garius rugiu, e ele ficou vermelho. “É a destruição da nossa ordem social! O Rei nunca consideraria tal absurdo!”
“O Rei não apenas considerou, Lord Garius, mas também concordou em discutir o assunto com o filósofo assim que acordasse,” Valerius respondeu, e ele estava a usar a informação de Luther para dar credibilidade. “Matt disse que este imposto é o ‘preço da inutilidade’. Ele está a usar a sua influência, que é mágica e perigosa, para minar a nossa riqueza e a nossa posição.”
Lord Elara, a única mulher no Conselho, uma nobre conhecida pela sua astúcia financeira, inclinou-se para a frente. “Valerius, se o Rei está dependente do conforto que este homem oferece, e se este homem está a usar essa dependência para nos taxar, ele deve ser removido imediatamente. Isso não é política; é extorsão sob coação.”
O argumento de Elara resumiu o pensamento que Valerius tinha tentado articular. A ameaça existencial tinha se tornado um ataque financeiro.
“Exatamente, Lord Elara. O filósofo Matt não é um conselheiro; ele é um manipulador, um parasita que se está a alimentar da vulnerabilidade biológica do nosso Rei,” Valerius concordou, e ele estava a sentir a unidade da sala a crescer. “Ele está a forçar o Rei a abandonar a tradição e a prejudicar os pilares do reino, que somos nós.”
Lord Garius bateu com o punho na mesa. “Não podemos permitir isso. A tradição é o que mantém este reino de pé. Se começarmos a taxar a nobreza, o que virá a seguir? O confisco de terras? O nosso direito de nascimento será destruído!”
“A prioridade é o Rei, e a estabilidade,” Valerius interveio, trazendo-os de volta ao pretexto. “Não podemos permitir que o Eixo controle a mente de Randal. A sua insônia era irritante, mas a sua dependência é mortal.”
Valerius tinha que agir rapidamente, porque Valerius sabia que Randal era teimoso. Ele tinha que apresentar um frente unida.
“Eu proponho que o Conselho Privado vote agora a exigência de dois pontos ao Rei Randal,” Valerius disse, e ele estava a olhar para cada um, garantindo que eles compreendiam a seriedade.
“Primeiro, a remoção imediata de Matt do castelo, antes do anoitecer. Ele deve ser banido da capital, sob a alegação de ameaça à saúde e segurança do monarca. Segundo, a suspensão imediata de qualquer discussão sobre o imposto à nobreza. O Conselho deve reafirmar a sua posição de que a nobreza não pode ser taxada. Estas são medidas de segurança, não de política mesquinha.”
Lord Cyrus, o cético, ainda parecia hesitante, mas a pressão dos seus pares e o medo de perder dinheiro eram fortes.
“Valerius, o Rei vai resistir. Ele está sob a influência desse homem,” Cyrus apontou.
“Ele resistirá, mas nós somos o Conselho Privado, o guardião da linhagem e da lei,” Valerius respondeu, e ele fez a sua voz soar implacável. “A nossa preocupação é a segurança do Rei. Iremos confrontá-lo como um corpo unificado. Se ele recusar, a corte inteira saberá que a mente do Rei está comprometida. A coação política é o único idioma que Randal entenderá neste momento.”
Valerius não tinha certeza se a nobreza tinha a coragem de ameaçar um Rei com insubordinação, mas a perspetiva de um novo imposto dava-lhes a coragem necessária.
“Nós votamos, então,” Lord Elara disse, e ela foi a primeira a levantar a mão. “Eu concordo. A segurança do reino exige que o Estranho seja removido.”
Um por um, os outros Conselheiros levantaram as mãos. O voto foi unânime, oito a zero, porque o medo de perder o dinheiro era um cimento poderoso.
“Excelente. Agora, a ação,” Valerius disse, e ele estava a sentir uma onda de triunfo. “Nós iremos juntos. Randal deve ver que esta não é uma exigência de Valerius; é uma exigência do reino. Onde é que o Rei está agora?”
“No seu escritório, preparando-se para o dia,” Lord Garius informou. “Ele parecia muito mais alegre, o que é quase mais preocupante do que a sua habitual melancolia.”
Valerius assentiu. A alegria de Randal era apenas a prova da dependência, o sinal de que o Eixo estava a funcionar perfeitamente.
“Nós vamos agora, então,” Valerius ordenou, e ele pegou o volume antigo. “Este livro ficará no meu gabinete, como prova da nossa justificação. Iremos usar a linguagem da segurança e da tradição.”
Valerius liderou os oito Conselheiros para fora da sala, e o grupo parecia uma procissão de juízes sombrios. Os corredores do castelo, que antes Valerius tinha percorrido sozinho, agora pareciam ressoar com o poder da nobreza unificada.
Eles marcharam até ao escritório de Randal. Valerius não bateu, mas abriu a porta com uma autoridade que Valerius não tinha usado antes.
Randal estava na sua secretária, a revisar alguns documentos, e ele parecia, de fato, rejuvenescido. Ele olhou para cima, e a sua expressão mudou de calma para alarme.
“Valerius? E o Conselho? O que é esta invasão?” Randal perguntou, e ele estava a endireitar-se na cadeira.
“Majestade, não é uma invasão; é uma intervenção,” Valerius disse, e ele parou na frente da secretária de Randal. Os Conselheiros estavam a flanquear Valerius, e a sua presença era um muro de autoridade.
“O Conselho Privado reuniu-se de emergência para discutir a sua saúde, Majestade, e a segurança do reino,” Valerius começou. “Descobrimos informações preocupantes sobre a sua condição biológica, os Quatro Olhos.”
Randal franziu a testa. “O meu sono é uma preocupação minha, Valerius. Eu estou bem.”
“Nós não discutimos o sono, Majestade; discutimos a *dependência*,” Valerius corrigiu, e ele estava a usar o termo que aterrorizava a nobreza. “O filósofo Matt está a explorar uma vulnerabilidade arcana da sua linhagem. Ele está a tornar-se o Eixo, ganhando posse sobre a sua vontade através do ‘Conforto Inutilitário’.”
Randal riu, mas era um som forçado. “Está a acusar Matt de feitiçaria, Valerius? Isso é absurdo. Matt é um homem de verdade, e ele me ajudou a descansar.”
“Ele usou a sua ajuda para nos atacar, Majestade,” Lord Garius interveio, e a sua voz era rouca. “O Conselho tomou conhecimento da sua proposta de imposto à nobreza. Essa é a prova de que ele está a usar a sua influência para subverter a ordem e prejudicar os pilares do reino.”
Valerius viu que Randal estava a ficar visivelmente irritado, porque a sua autoridade estava a ser desafiada publicamente.
“Eu estou a considerar o imposto, Garius, porque é uma questão de justiça, não de subversão,” Randal respondeu, e ele estava a olhar para Valerius. “Matt me fez ver que a injustiça interna é o nosso maior inimigo.”
“Essa é a voz do Eixo, Majestade, não a sua,” Valerius declarou, e ele usou a sua maior arma. “A sua mente, que antes era vigilante, agora anseia pela rendição. Ele está a forçar a sua mão para agir contra os interesses do reino.”
“O Conselho exige, Majestade,” Lord Elara disse, e ela usou a palavra exigência, que era um desafio direto à autoridade de Randal. “Nós exigimos a remoção imediata de Matt do castelo, antes do anoitecer. E a suspensão imediata de qualquer discussão sobre o imposto à nobreza. A sua saúde e a segurança do reino dependem disso.”
Randal levantou-se, e ele estava a apertar os punhos. O seu rosto estava vermelho, e Valerius percebeu que a raiva de Randal estava a crescer rapidamente.
“Estão a dar-me um ultimato, Conselheiros?” Randal perguntou, e a sua voz estava baixa e perigosa.
“Estamos a cumprir o nosso dever ancestral de proteger o Rei da influência de um Estranho,” Valerius respondeu, inabalável. “Se o senhor recusar, Majestade, o Conselho será forçado a questionar a sua capacidade de governar, uma vez que a sua mente está sob a posse de um manipulador.”
O silêncio na sala era opressor. Randal estava preso, porque Valerius tinha usado a única coisa que ele valorizava: a estabilidade do reino. Se Randal insistisse em manter Matt, o Conselho poderia, legalmente, minar a sua autoridade, alegando incapacidade devido à influência externa..
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