Capítulo 4: O Protocolo de Sobrevivência Kevin se sentou na cama, o bloco de notas em suas mãos. Ele lia as linhas escritas por Mihael, a ansiedade ainda presente, mas o cansaço do dia anterior começava a se manifestar. Ele repetiu mentalmente o nome do "Tio Marcus" e o local da fazenda, Goiás. A história era complexa demais para um garoto de oito anos, mas Mihael estava esperando. Ele olhou para Mihael, que lia o livro em Latim com uma concentração quase assustadora. Mihael parecia completamente alheio à presença de Kevin ou à situação perigosa que o aguardava no jantar. Kevin suspirou baixinho, virando a página do bloco. Ele precisava se concentrar. O treinamento de Kevin para o jantar de avaliação com o pai de Mihael, o Senhor Almeida, foi intenso e implacável. Mihael voltou vinte minutos depois, como havia prometido, e o livro em Latim foi fechado com um som seco. Mihael não parecia cansado, mas sua postura era de quem tinha um trabalho sério a fazer. "Vamos começar," Mihael disse, a voz baixa e prática. "Primeira pergunta: Seu nome completo." Kevin respondeu com a história inventada, mas Mihael o interrompeu imediatamente. "Você hesitou," Mihael disse. "Você não pode hesitar. Se você hesitar, ele vai saber que você está mentindo. Não é uma pergunta, é um fato. Repita." Kevin repetiu a história, tentando injetar confiança em sua voz. O treinamento durou horas. Mihael não permitiu que Kevin comesse mais nada, dizendo que a fome ajudaria a manter o foco. Mihael agia como um interrogador frio, fazendo perguntas sobre a fazenda, sobre o Tio Marcus, sobre a avó e o processo de herança. Ele fazia perguntas sobre detalhes que Kevin não sabia, forçando Kevin a improvisar, e Mihael imediatamente apontava as inconsistências. "Onde fica a fazenda?" "Perto de um rio," Kevin disse. Mihael balançou a cabeça. "Qual rio? Meu pai sabe tudo sobre fazendas em Goiás. Não invente. É uma fazenda de gado. Diga apenas que fica a dez quilômetros de Jataí, uma cidade grande. Isso dá credibilidade." Kevin anotava os detalhes no bloco de notas, a letra dele se misturando com a letra angular de Mihael. O processo era exaustivo, mas Kevin percebia que Mihael estava o preparando para uma batalha. Ele não estava sendo rude; ele estava sendo prático. A sobrevivência de Kevin dependia da perfeição de sua performance. Quando o sol começou a se pôr, Mihael finalmente parou. "Chega. Você está quase pronto. Lembre-se, não faça contato visual por muito tempo. Responda apenas o que ele perguntar. Seja respeitoso, mas não subserviente. Você é da família, mesmo que distante." Mihael saiu do quarto para se preparar para o jantar. Kevin ficou sozinho, revisando as notas, o estômago roncando, a cabeça girando com a história inventada. Ele se olhou no espelho. Ele estava vestindo as roupas de Mihael, parecendo um pouco menos pálido, mas o medo ainda estava lá. O jantar foi uma provação. O pai de Mihael, o Senhor Almeida, estava sentado na cabeceira da mesa, um homem grande e imponente, vestindo um terno escuro. Elara, a mãe de Mihael, estava do lado oposto, e Mihael estava sentado ao lado de Kevin. A mesa era enorme, e a sala de jantar, luxuosa. O Senhor Almeida não fez perguntas diretamente no início. Ele falava sobre negócios com Elara, sobre a economia global, sobre investimentos na Ásia. Eram conversas que Kevin mal conseguia acompanhar. A tensão no ar era palpável. Kevin tentava se concentrar na comida, um prato sofisticado que ele não conseguia identificar, mas o garfo parecia pesado em sua mão. "Então, Kevin Souza," o Senhor Almeida disse, quebrando o gelo, a voz profunda e calma. "Goiás. É um lugar bonito. Você gosta de gado?" Kevin ativou o modo de treinamento. "Eu gosto da fazenda, Senhor. O gado é um pouco… grande." O Senhor Almeida sorriu levemente. Não era um sorriso caloroso. "Mihael me disse que você veio para a capital para resolver assuntos de herança. Assuntos delicados para um garoto jovem." "Minha avó se foi," Kevin disse, a voz quase falhando, mas ele se controlou. "Meu pai, o Tio Marcus, me enviou para representar a família, para não ter que viajar no Natal. Ele confia em você, Senhor Almeida." A resposta de Kevin, ensaiada, tocou no ponto certo: a confiança do "Tio Marcus" no Senhor Almeida. O pai de Mihael pareceu satisfeito. "Marcus é um homem de visão. Um pouco… ingênuo, talvez, mas leal," o Senhor Almeida disse. Ele fez mais algumas perguntas sobre a fazenda, sobre o tamanho da propriedade, sobre as dificuldades com o clima. Kevin respondeu com os detalhes que Mihael havia inventado: a estiagem, a necessidade de investir em irrigação. Mihael não interveio, apenas observava. Elara olhava para Kevin com uma expressão neutra, mas Kevin notava que ela estava analisando cada palavra dele. No final do jantar, o Senhor Almeida parecia convencido. "Você é um garoto corajoso, Kevin. Mihael fez bem em trazê-lo. Você pode ficar aqui o tempo que for necessário. Mas lembre-se: Mihael tem uma rotina. Você deve respeitar o cronograma dele." "Eu entendo, Senhor. Obrigado pela sua bondade," Kevin disse, aliviado. O Senhor Almeida assentiu, e a provação terminou. Nas três semanas seguintes, Kevin se instalou na rotina da mansão. O medo inicial diminuiu, substituído por um conforto estranho. Ele não era mais o fantasma que Mihael havia instruído; ele se tornou parte da paisagem, um elemento aceito, embora periférico. A rotina era rigorosa, mas previsível. Mihael acordava cedo, às seis da manhã, e passava as primeiras horas do dia em estudos com um tutor particular que vinha à casa. Kevin permanecia no quarto, lendo os livros que Mihael havia lhe emprestado (livros sobre história e geografia, nada em Latim). O almoço era o ponto alto do dia. Mihael, Elara e Kevin almoçavam juntos. O Senhor Almeida quase nunca estava presente durante o dia. Elara era uma companhia intrigante. Ela não perguntava sobre a "herança" de Kevin, nem sobre a vida dele antes. Em vez disso, ela falava sobre arte, sobre as viagens que ela e o Senhor Almeida faziam, sobre a política da cidade. Ela tratava Kevin com uma cortesia distante, mas real, como se ele fosse um hóspede esperado e bem-vindo. Kevin começou a ver Mihael com novos olhos. O garoto não era apenas prático; ele era disciplinado e incrivelmente inteligente. Mihael estudava intensamente, mas à tarde, ele tinha tempo para atividades mais comuns, como jogar xadrez ou passar um tempo no jardim interno. Mihael ainda era direto e rude às vezes, mas Kevin percebia que era a forma de Mihael se comunicar. Não havia malícia, apenas eficiência. Kevin e Mihael se tornaram amigos de verdade. Eles jogavam xadrez, e Kevin, embora perdesse constantemente, apreciava a forma como Mihael o desafiava. Mihael começou a ensiná-lo pequenos truques de estratégia, não apenas no xadrez, mas na vida. "Não olhe para o que você tem, olhe para o que seu oponente pensa que você tem," Mihael havia dito certa vez, movendo um peão com precisão. O quarto de Mihael, que era a prisão de Kevin no início, se tornou o refúgio. Mihael havia movido uma das camas de hóspedes para o quarto, e Kevin agora dormia em um conforto que nunca havia conhecido em sua casa. A mentira da "herança" ainda estava lá, mas parecia ter se transformado em uma formalidade. O Senhor Almeida não tocou mais no assunto depois daquele jantar, aceitando a "variável" em sua casa. Kevin estava acostumado ao luxo e à ordem da mansão. Ele andava pelos corredores com confiança, sabendo onde podia ir e onde não podia. A ala residencial era a sua área segura. A ala de serviço e o escritório do Senhor Almeida eram áreas de exclusão. Uma manhã, três semanas após sua chegada, Kevin acordou e a ausência de Mihael foi a primeira coisa que notou. O silêncio no quarto era completo. Mihael normalmente acordava às seis e se vestia em silêncio para começar seus estudos. Kevin olhou para o relógio na parede: oito horas. Kevin se levantou. Ele vestiu as roupas que Mihael havia lhe dado, uma camiseta cinza lisa e uma calça de moletom confortável. Eram roupas de Mihael, mas agora pareciam ser dele. Ele pegou um moletom azul escuro no armário. Kevin não se importava mais em parecer um intruso; ele andava pela casa como se fosse a coisa mais natural do mundo. Ele caminhou até a porta do quarto e a abriu, espiando para o corredor. O corredor estava vazio. A luz do sol entrava pelas janelas enormes, iluminando o tapete persa no chão. Kevin sentiu uma sensação de familiaridade e conforto. Mihael deveria estar no escritório com o tutor, mas Kevin estava com fome. Ele desceu as escadas principais, o que ele não fazia no início, mas agora ele se sentia à vontade para usar a escada mais imponente. Ele se movia sem pressa, observando as pinturas nas paredes. Ele chegou ao andar principal e começou a caminhar pela ala residencial, em direção à biblioteca, um lugar que ele havia descoberto ser tranquilo e cheio de livros que ele podia ler. Ele estava procurando por algo para passar o tempo até o almoço. Kevin entrou na biblioteca. A sala era vasta, com estantes de madeira escura que chegavam até o teto. O cheiro de papel antigo e cera de móveis pairava no ar. Elara estava lá. Ela estava sentada em uma poltrona de couro marrom, perto de uma janela que dava para o jardim. Ela estava vestida com um conjunto elegante de seda, lendo um livro. Uma xícara de porcelana estava sobre uma mesinha ao lado dela. Elara levantou os olhos do livro quando Kevin entrou. Ela não demonstrou surpresa. "Bom dia, Kevin," Elara disse, a voz suave, mas clara. "Mihael saiu cedo hoje. Ele teve uma consulta médica agendada há algum tempo." Kevin assentiu. Ele não perguntou sobre a consulta. Ele sabia que a vida de Mihael era cheia de compromissos que ele não precisava entender. "Bom dia, Senhora Elara," Kevin disse. Elara sorriu levemente. Era o mais perto que ela chegava de uma demonstração de afeto. "Você está com fome? Eu já pedi para a cozinheira preparar um café da manhã leve. Mas eu pensei que você gostaria de um chocolate quente." Elara apontou para a mesinha, onde havia uma xícara idêntica à dela, cheia de chocolate quente fumegante. "Obrigado," Kevin disse. Ele caminhou até a mesinha, pegou a xícara. O cheiro de chocolate era reconfortante. Ele se sentou em uma poltrona de veludo, um pouco mais macia que a de Elara, e deu um gole no chocolate. Estava perfeito. Elara voltou a ler o livro, mas ela não o ignorou. Ela parecia gostar da presença dele, embora não sentisse a necessidade de conversar constantemente. Kevin notou uma revista de moda de capa brilhante na mesinha. Era uma revista francesa, com modelos vestindo roupas caras. Elara havia deixado a revista lá, e Kevin percebeu que era para ele. Ele havia mencionado a Mihael que gostava de ver as fotos nas revistas que ele encontrava na sala de estar. Kevin pegou a revista. Ele folheou as páginas, observando os designs. Era parte de sua nova rotina de mimos: Elara sempre se certificava de que Kevin tivesse algo interessante para ler ou fazer durante as horas vagas. Ele não tinha mais a sensação de que estava sendo tolerado; ele estava sendo cuidado. Ele parou em uma página que mostrava acessórios. Ele se concentrou na leitura, imerso no mundo da moda, que era o oposto de sua vida anterior e da vida austera de Mihael. Enquanto lia, um dos empregados da casa entrou na biblioteca para pegar um livro que Elara havia solicitado. O homem, um senhor de meia-idade que trabalhava como assistente pessoal de Elara, parou ao lado de Kevin. "Bom dia, Kevin," o homem disse, com um sorriso discreto e gentil. "Bom dia," Kevin respondeu. O empregado pegou o livro e, ao passar por Kevin, seu olhar pousou no moletom de Kevin. Kevin estava usando um pequeno broche discreto no moletom azul escuro, um alfinete de lapela com uma pequena flor rosa. Era um acessório que Elara havia lhe dado na semana anterior, dizendo que o azul precisava de um "toque de cor". O empregado sorriu de forma mais ampla, um sorriso que Kevin não entendeu completamente. O sorriso parecia confirmar algo, uma cumplicidade silenciosa. "Fica bem em você," o empregado disse, referindo-se ao broche. Kevin deu de ombros. Ele não se importava muito com o broche, mas usava porque Elara havia pedido. O empregado saiu da biblioteca. Kevin voltou à revista, mas o breve encontro o fez pensar. Ele sabia que todos na casa, desde os empregados até a cozinheira, sabiam da história do "primo distante". A aceitação da mentira era um protocolo de convivência. O sorriso do empregado, no entanto, sugeria algo mais profundo: eles sabiam que Kevin não era da família, e o broche rosa, um detalhe tão pequeno e desnecessário, era um sinal da aceitação da mentira. O broche não era uma coisa que Mihael usaria, nem era algo que o pai de Mihael notaria. Era um detalhe de Elara, uma forma sutil de afirmar a presença de Kevin, e todos na casa a respeitavam. O pai de Mihael tinha que saber. O Senhor Almeida não era um homem que permitia variáveis em sua casa sem um controle rigoroso. A mentira era aceita porque era a versão oficial. Kevin continuou lendo, o calor do chocolate quente o acalmando. Ele estava em um ambiente de riqueza e controle, mas ele estava seguro. A vida na mansão, com sua previsibilidade e seus mimos discretos, havia apagado a memória da vida anterior. Ele não sentia falta da casa, nem dos pais. A indiferença deles havia sido um corte profundo. A nova vida, embora baseada em uma farsa, oferecia estabilidade e, mais importante, a amizade de Mihael. As horas passaram tranquilas na biblioteca. Kevin terminou a revista, folheou um livro de arte que encontrou por perto, e a fome começou a apertar. Ele olhou para o relógio: era quase hora do almoço. Ele se levantou da poltrona, colocando a xícara vazia na mesinha. "Você vai para a sala de jantar, Kevin?" Elara perguntou. "Sim, Senhora Elara," Kevin disse. "Mihael deve chegar em breve. Vá na frente." Kevin saiu da biblioteca, caminhando para a sala de jantar. A cozinheira já estava arrumando a mesa. Kevin sentou-se em seu lugar habitual, esperando. Ele estava acostumado a esperar. Mihael chegou dez minutos depois, entrando na sala de jantar com a habitual postura prática. Ele vestia roupas casuais, mas parecia ter tido um dia cheio. "A consulta foi longa," Mihael disse, sentando-se. "Tudo bem?" Kevin perguntou. Mihael deu de ombros. "Rotina. Apenas exames. Minha mãe exagera." Elara entrou na sala de jantar e o almoço começou. O almoço era sempre silencioso, focado na refeição. Elara e Mihael trocavam poucas palavras, a comunicação entre eles era mais de olhares e gestos sutis. Kevin observava a dinâmica familiar, notando a diferença entre a seriedade deles e a superficialidade de sua própria família. Após o almoço, Elara se retirou para seus compromissos. Mihael e Kevin voltaram para o quarto. A tarde era dedicada ao "tempo livre", que Mihael usava para praticar exercícios de lógica ou ler seus livros. Kevin geralmente lia, ou tentava desafiar Mihael para um jogo de xadrez. Naquele dia, Kevin estava folheando um atlas na escrivaninha de Mihael, traçando as rotas da fazenda de Goiás até a capital, apenas para manter a história viva em sua mente. Mihael estava na cama, deitado de costas, lendo um livro sobre estratégia militar. O silêncio era interrompido apenas pelo som suave das páginas sendo viradas. Kevin estava imerso no mapa quando ouviu o som de passos no corredor. Não eram os passos de Elara ou de Mihael. Eram passos de empregados. A porta do quarto de Mihael se abriu, e uma das faxineiras entrou, sem bater, o que era incomum. Ela parecia apressada. "Mihael, desculpe a interrupção. O Senhor Almeida pediu para você receber isso imediatamente," ela disse, entregando a Mihael um jornal dobrado. Mihael se levantou da cama, pegou o jornal, e a faxineira saiu tão rapidamente quanto entrou. Mihael olhou para o jornal, depois para Kevin. "O que é isso?" Kevin perguntou. Mihael desdobrou o jornal e o folheou. Ele parou em uma seção de notícias locais, virando o jornal para que Kevin pudesse ver. Era um pequeno anúncio, um aviso de desaparecido. O rosto de Kevin ficou pálido. A foto no anúncio era dele. Uma foto de escola, onde ele estava sorrindo, um sorriso forçado. Mihael empurrou o jornal para Kevin, apontando para a foto. "Sua família finalmente se lembrou de você," Mihael disse, sem emoção. Kevin pegou o jornal. O aviso era pequeno, mas o impacto era gigantesco. "Kevin Silva, 8 anos. Desapareceu há três semanas durante viagem de Natal. Última vista em rodoviária." Kevin olhou para a foto, a realidade de sua situação o atingindo novamente. Ele estava desaparecido. Ele era uma estatística no jornal. Ele continuou lendo o texto do aviso, descendo o olhar para o depoimento da família. A descrição dele era fria, superficial. "Cabelo loiro, olhos azuis. Magro. Vestia moletom vermelho." O moletom vermelho. Ele se lembrou de ter deixado o moletom na rodoviária. Kevin leu a próxima linha, que citava seus pais. A frase era curta, mas devastadora. "A mãe, Maria Silva, disse que Kevin era 'um garoto quieto, que não dava trabalho', e que 'espera que ele esteja seguro em algum lugar'." A indiferença na frase era um soco no estômago de Kevin. Três semanas. Três semanas para eles se lembrarem e darem um depoimento. E o depoimento era uma descrição de sua ausência, não de sua pessoa. "Um garoto quieto, que não dava trabalho." Era assim que eles o viam. Uma inconveniência que não estava mais incomodando. Kevin sentiu um nojo repentino. Não era raiva, era repulsa pela frieza. A ausência de emoção na descrição, a superficialidade do luto. Eles não o conheciam. Eles não sentiam sua falta. A aceitação na mansão, com todas as suas regras e mentiras, era mil vezes mais calorosa do que o "amor" de sua família biológica. Ele empurrou o jornal para longe, o papel amassando-se na cama. "Tire isso da minha frente," Kevin disse, a voz rouca. "Eu não quero ver isso."

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