Capítulo 2: A Revelação Silenciosa
Lilian ficou sozinha no quarto, a luz do celular sobre o edredom piscando um aviso. Os reis do Pop haviam chegado em casa, e eles não estavam aqui para cantar.
O estômago de Lilian ainda estava apertado, uma mixórdia indigesta de adrenalina pós-confronto online e terror pré-repreensão parental. Maria tinha transmitido a convocação com aquela seriedade que só os grandes mordomos de filme conseguem evocar, transformando um simples "seus pais querem conversar" em uma sentença de morte.
Ela se levantou da cama de dossel, o ruído sutil da seda esfregando contra seu moletom oversized que ela usava como uniforme antissocial. O quarto parecia subitamente pequeno demais. Ela precisava de uma distração, um último momento de sanidade antes de ser forçada a encarar o dilema existencial dos seus pais.
A mão dela voou instintivamente até o celular. O debate com *Starlight_SebaFanatic47* havia reacendido algo nela, uma faísca feia e satisfatória de autopiedade e desafio. O hater acertara num ponto crucial: a ignorância dela sobre o 'legado' era uma fraqueza que os fãs usavam contra ela.
Ela não ia cair no velho truque de pesquisar o álbum novamente. Ela já havia aceitado, a contragosto, que Sebastian fora um 'gênio musical' há quinze anos. Mas o que as pessoas *realmente* pensavam sobre a situação atual?
Lilian sentou-se na beira da cama, ignorando o conforto. Ela abriu o TikTok. Não procurou por Sebastian, nem por Hessoo. Em vez disso, ela procurou por seu próprio nome.
*Lilian Hwui.*
Embora ela passasse a maior parte da vida fingindo que era invisível, a internet raramente permitia tal luxo. Sua existência era uma nota de rodapé constante de fofocas de celebridade.
O resultado foi imediato e avassalador. Uma enxurrada de vídeos, a maioria com a hashtag #PopRoyalFamily ou #SebastianDaughter, inundou sua tela. Eram *edits*, como os adolescentes chamavam, clipes curtos e frenéticos, geralmente com música dramática.
O primeiro vídeo que chamou sua atenção tinha quase três milhões de visualizações. O título era simples, mas brutal: *Lilian Hwui: A Filha Que Não Se Importa*.
Lilian revirou os olhos. Que original.
Ela clicou no vídeo. A trilha sonora começou imediatamente: uma balada de piano melancólica e excessivamente dramática que parecia ser tirada de um filme coreano sobre tragédias familiares. As imagens piscaram rapidamente.
Primeiro, um corte de uma entrevista recente de Sebastian e Hessoo, onde eles falavam com uma efusão exagerada sobre a 'alegria' de ter Lilian em suas vidas—Sebastian com um brilho nos olhos que parecia genuíno, ou pelo menos muito bem atuado.
Em seguida, um corte seco. A câmera foca em Lilian, parada atrás deles em um evento de tapete vermelho beneficente obrigatório. O rosto dela está ilegível. Ela está vestida com algo ridiculamente caro, mas sua expressão é de puro tédio, talvez até um leve nojo. O *edit* congela a imagem de seu rosto por tempo suficiente para que a música atinja um crescendo de cordas.
Lilian se lembrava daquele dia. Estava chovendo, e o segurança tinha pisado no sapato dela, e a sanduicheria vegana que ela tanto queria ir estava fechada. Tédio era o mínimo.
O vídeo continuou em um frenesi de montagens. Imagens dela sendo arrastada para eventos. Imagens dela saindo de carros blindados, os lábios apertados. Imagens dela em aeroportos, escondendo o rosto atrás de livros.
A montagem culminou com um corte específico, que Lilian reconheceu imediatamente como sendo de um podcast popular. O som estrondoso de vozes, geralmente filtradas, ecoou pelo quarto.
Um apresentador, cuja voz era irritantemente alegre, falava com admiração.
"Eles são os Reis do Pop. Eles acolheram uma órfã e deram a ela a vida que qualquer um sonharia, Lilian é a garota mais sortuda do mundo!"
Outro apresentador, mais sério, continuava. "E mesmo assim, a atitude dela... nos eventos, nas fotos. Ela parece genuinamente envergonhada deles. É um drama clássico de adolescente, só que amplificado pela fama."
E então, veio a frase que arrepiou Lilian, não por ser a primeira vez que a ouvia, mas pela forma como foi colocada, como um lamento universal dos fãs.
Uma voz sombria. "Imagina a dor dele," a voz disse, referindo-se a Sebastian. "Imagina o que deve ser para ele, que é adorado por milhões, ver que a própria filha, que ele escolheu e deu tudo, não se importa. Que ela tem vergonha. Isso deve ser devastador."
A frase foi repetida em eco, enquanto a tela exibia uma sequência de imagens de Sebastian com um semblante melancólico (ou talvez apenas cansado, mas o vídeo o enquadrava como mártir).
Lilian sentiu um calor subindo pelo pescoço, não de culpa, mas de fúria por serem tão facilmente manipulados. Devastador? Sebastian não sabia o que era devastador. Devastador era ter que aturar a turnê de circo que era a vida dele.
Ela saiu do vídeo, seu dedo pairando sobre os comentários, a armadura mental já rachada pelo ataque anterior de trolls. Ela não queria ler o que estava lá, mas o masoquismo adolescente a obrigou. Ela precisava confirmar o ódio, solidificar sua posição de vítima incompreendida.
Lorian puxou os comentários para cima. Era um banho de ácido digital.
*@PopRoyaltyObsessed99:* "Se eu fosse Sebastian, eu a teria mandado de volta para onde ela veio. Ingrata."
*@HessooBestDad:* "Ela é um fardo. Eles deram a ela O MUNDO. E ela age assim? Eu trocaría de lugar com ela em um piscar de olhos."
*@AnonymousCritic:* "Vergonha é o mínimo. Sem o dinheiro deles, ela ainda estaria naquele orfanato, onde ela deveria estar se não fosse pela bondade deles. Ela não é nada além do sobrenome."
Lilian parou de respirar por um momento. A referência ao orfanato era um golpe baixo e preciso. Ela foi adotada aos cinco anos, e tinha vagas, mas dolorosas, lembranças do lugar. Um lugar onde a bondade era escassa e o silêncio era a única moeda.
O ódio a alimentava. Ela estava procurando por isso, e o universo estava entregando em abundância.
*@TruthTeller123:* "Sinceramente, qualquer garota com um pingo de decência se comportaria melhor. Ela é a prova de que dinheiro não compra caráter. Eu seria uma filha muito melhor."
*@AntiLilian:* "A cereja do bolo é que agora ela vai ter uma irmãzinha para dividir O HOLOFOTE. Mal posso esperar para ver a cara dela; o desprezo dela vai ser épico. Tira ela do foco, bebê! Tira Lilian do foco!"
Lilian cerrou os dentes. Eles estavam rindo. Debochando da situação familiar que, para ela, era um pesadelo constante. Não era sobre o 'holofote', era sobre a atenção. Ela não queria o holofote, ela queria a paz de ser uma adolescente normal, mas se o foco se desviasse para o bebê, o que sobraria para ela era o limbo. A falta de atenção dos pais, que era a única coisa que lhe permitia respirar em paz.
Ela tentou racionalizar. Eram apenas comentários de internet. Pessoas que projetavam suas frustrações, seus desejos por dinheiro e fama, nela.
Mas a vergonha persistente que ela sentia era amplificada por essa legião de juízes anônimos. Eles estavam certos sobre um ponto: ela era sustentada por um legado que ela desprezava. E embora ela se sentisse no direito de repudiar a fama, o ódio deles a fazia questionar sutilmente se a vergonha não era, na verdade, *dela*. Se ela não era a única falha na equação familiar.
Lilian rolou para o próximo vídeo. Era um compêndio de "melhores momentos" da 'atitude' dela, com uma música deprimente diferente, mas com o mesmo objetivo: pintá-la como a filha ingrata e mimada.
Ela assistiu a mais três vídeos, cada um refinando a narrativa do 'monstro adolescente' que Sebastian e Hessoo estavam criando. Em um deles, usavam a teoria de que ela havia se tornado a "Ovelha Negra da Família" de propósito, como forma de rebelião contra a 'perfeição' irreal de seus pais.
"Hipótese," dizia o narrador do vídeo, com a voz lenta e cheia de suspense. "Lilian é inteligente. Ela sabe que não pode competir com o talento e o carisma de seus pais. Então, ela se torna o oposto: a filha que odeia a fama. A mídia a ama por causa do drama, e ela se alimenta dessa atenção negativa."
Lilian sentiu um arrepio pelo corpo. A teoria era ridícula, mas havia uma sutil ressonância. A briga com estranhos online era a única coisa que a fazia se sentir relevante. O confronto era a única verdade à qual ela se apegava.
Irritada com a forma como sua vida e seus sentimentos complexos eram reduzidos a um *edit* de trinta segundos, Lilian jogou o celular de volta na colcha de seda.
O silêncio do quarto finalmente atingiu seus ouvidos de forma concreta. O silêncio era profundo, quase opressor. Silêncio onde deveriam estar explosões de música ou vozes elevadas.
Seus pais tinham chegado em casa. Maria havia alertado sobre o ‘semblante escuro’ de Sebastian e a perturbação de Hessoo. Eles haviam convocado Lilian para uma 'reunião de crise'.
Mas o silêncio...
Ela esperava gritos, ou, no mínimo, a melodia estridente de Sebastian tentando se acalmar tocando piano no estúdio. Mas nada. Apenas o zumbido distante do ar condicionado e o tic-tac suave do relógio.
A apreensão começou a ser substituída pela curiosidade. Hessoo e Sebastian não eram pessoas que adiavam o drama. Se eles estavam em *crise* o suficiente para sair de um evento de caridade mais cedo, eles deveriam estar batendo na porta de Lilian exigindo a sua presença no momento em que ela terminasse de respirar.
Ela levantou, puxando as mangas do moletom sobre as mãos. A ideia de ficar confinada em seu quarto esperando por uma convocação que poderia nunca vir era mais insuportável do que o próprio confronto.
Lilian abriu a porta do quarto lentamente e espiou para o corredor principal. O sol da tarde mal filtrava pelas janelas gigantescas do hall, pintando sombras dramáticas no tapete persa.
O silêncio aumentou. Era o tipo de silêncio de casa de celebridade, onde todos os sistemas de ventilação eram silenciosos, e os vizinhos estavam a quilômetros de distância.
Ela caminhou descalça pelo corredor, seus pés mal afundando na espessura da carpete. O escritório de Sebastian e Hessoo ficava no final do corredor, mas Lilian não ouvia nada. Nem mesmo o som abafado de vozes.
Ela passou pela sala de estar principal e desceu a escadaria curva, em direção ao coração da casa: a cozinha adjacente à área de serviço, o único santuário real onde ela podia ocasionalmente flagrar um vislumbre da normalidade, geralmente na forma da equipe da casa.
E lá estava ela. Maria estava na cozinha, debruçada sobre uma bancada de mármore, parecendo ocupada folheando um catálogo de uniformes novos, ou talvez de pratos. Não havia "semblante escuro" de pais, nem atmosfera de crise iminente.
Lilian parou na porta da cozinha, chamando a atenção de Maria.
"Maria," sua voz era um pouco mais rouca do que o esperado.
A governanta levantou a cabeça, a testa franzida em concentração. "Senhorita Lilian. Desculpe, eu estava só checando o estoque de uniformes brancos."
Lilian ignorou o assunto de uniformes. "Onde eles estão?"
"Eles?" Maria limpou as mãos em um pequeno pano de prato que ela sempre segurava.
"Sebastian e Hessoo. Meu—meus pais," Lilian corrigiu, sentindo-se estranha ao pronunciar a palavra. "A reunião."
Maria inclinou a cabeça, a ruga de preocupação que Lilian havia notado mais cedo estava completamente ausente.
"Oh, desculpe, Lilian. Eu presumi que o Sr. Sebastian tivesse ligado para a senhora."
Lilian sentiu um tremor de confusão. "Ligar? Eu... Não. O que aconteceu?"
Maria suspirou. Essa era a Maria de sempre, organizada, paciente, mas levemente desligada do drama principal de seus empregadores.
"Eles saíram novamente, querida."
"O quê?" Lilian piscou. "Quando? Eles acabaram de chegar. Você disse que eles estavam no escritório, chateados, querendo falar comigo imediatamente."
"E estavam," Maria confirmou. "Sim. O Sr. Hessoo e o Sr. Sebastian entraram no escritório, sim. Mas foi uma parada muito rápida. Cinco minutos no máximo. O Sr. Sebastian me chamou no interfone e disse que haviam tido 'um imprevisto urgente e inadiável' e que estariam fora por algumas horas, mas que voltariam a tempo do jantar. Ele pediu para eu comunicar que a reunião seria reagendada."
Lilian processou a informação. Eles tinham chegado em casa mais cedo, feito todo um teatro de 'crise familiar' que alarmou Maria, e então saíram novamente, como se nada fosse. E não se deram ao trabalho de informá-la diretamente. Simplesmente passaram o recado por Maria, como se ela fosse um móvel.
A fúria familiar, temperada com a mágoa do abandono rotineiro, subiu à tona.
"Um imprevisto?" Zombou Lilian. "Que tipo de imprevisto pode ser mais urgente do que a 'discussão tensa' que eles armaram? Foi o cachorro do vizinho que ficou preso na lareira de novo?"
Maria apenas deu de ombros, profissionalmente desinteressada pelas minúcias da vida caótica de seus empregadores.
"O Sr. Sebastian não deu detalhes, senhorita. Apenas que era 'muito urgente'. Eles saíram no sedã preto em alta velocidade. Pareciam... determinados."
*Determinados.* Determinados a quê? A esquecerem que fizeram a filha esperar?
Lilian tentou se acalmar. Ela precisava de mais informações. Isso era sobre a irmãzinha. Tinha que ser. O bebê que seria a causa de todo o caos futuro.
"Eles disseram algo sobre... o escritório? O que eles fizeram lá?" perguntou Lilian, tentando disfarçar sua urgência.
Maria pensou por um momento, a cabeça inclinada. "Não Lilian. Eu estava na área de serviço na maior parte do tempo. Só ouvi o interfone quando o Sr. Sebastian me instruiu a reagendar e pedir para a Sra. Park preparar um lanche leve para o retorno deles."
"Eles falaram, você ouviu alguma coisa?" Lilian insistiu, quase implorando.
Maria hesitou, seus olhos percorrendo o teto. "Não, querida. Eles fecharam a porta. Pareceu... um silêncio muito abrupto. Não houve discussão, ou gritos. O tipo de silêncio que, quando se trata deles, geralmente significa que o que quer que estivessem discutindo era muito sério e privado."
Lilian sentiu uma pontada de frustração. Ela estava tão perto de descobrir a fonte do pânico de seus pais, o epicentro desse 'semblante escuro', e agora estava novamente presa na escuridão. O silêncio deles era sempre pior do que o drama. O drama era previsível; o silêncio era sinistro.
O problema é que Lilian precisava saber. Não para se importar com os sentimentos deles, mas para se preparar para o impacto. O nascimento da irmãzinha era a ameaça mais iminente à sua paz autoproclamada. Qualquer perturbação no cronograma deles provavelmente estava ligada a isso.
"Maria, você não viu uma pasta? Um nome? Eles estavam falando sobre alguém?" Lilian persistiu, sabendo que estava beirando o interrogatório, mas incapaz de parar.
Maria balançou a cabeça com gentileza, mas firmeza. "Sinto muito, Lilian. Eu não sou informada sobre os negócios pessoais deles, a menos que seja estritamente necessário para a agenda." Ela pegou a caneta e voltou ao catálogo. "Eles voltam em algumas horas."
Frustrada e imensamente curiosa, Lilian percebeu que não conseguiria arrancar mais nada de Maria. A governanta era uma muralha de discrição profissional. Seus pais haviam selado o destino dela (a reunião de crise) e então fugido para lidar com algo ainda mais urgente, deixando-a em suspense. E para o público da internet, ela continuaria sendo a filha ingrata, sentada em sua riqueza, esperando pelo drama.
Não havia nada para fazer. Ela não podia bisbilhotar o escritório, que estava trancado, nem podia persegui-los pela cidade.
Lilian deu de ombros, tentando parecer indiferente, mas falhando miseravelmente.
"Tudo bem," disse Lilian, a voz seca. "Eu vou... voltar para cima. Avise quando eles chegarem."
"Claro, senhorita Lilian," respondeu Maria, já voltando a calcular o número de toalhas de rosto novas necessárias para o mês.
Lilian se virou e subiu as escadas novamente, sem pressa, mas com uma irritação crescente. Ela voltou para o santuário de excessos que era seu quarto, a mente girando com cenários. O que poderia ser tão urgente? O amigo ômega havia mudado de ideia sobre a adoção? Houve um problema com o parto? Ou, pior, Sebastian e Hessoo estavam saindo do país para um show secreto e ela teria que morar na casa de alguma celebridade excêntrica para o verão?
Seja o que fosse, a única coisa que Lilian sabia era que o 'imprevisto urgente' deles a havia deixado em um limbo emocional, com a fúria da internet fresca em sua mente e o pânico do que estava por vir suspenso sobre a casa.
Ela chegou ao quarto, e se jogou na cama. O celular ainda estava onde ela o havia deixado.
Lilian o pegou novamente. Ela precisava de mais drama, mas não mais o drama de seus pais. Ela voltou ao TikTok.
Sua curiosidade a levou a pesquisar o nome de Hessoo desta vez. Seus vídeos eram mais sutis, mas igualmente polarizadores. Hessoo, o Beta, era frequentemente elogiado por sua calma e por ser o 'porto seguro' de Sebastian, o Alpha. Se Hessoo estava perturbado, como disse Maria, o assunto era realmente sério.
Enquanto Lilian afundava ainda mais no abismo adolescente da autodepreciação e do ódio vicário, ela tentava desesperadamente preencher o vazio deixado pelo abrupto abandono parental.
Ela clicou em um vídeo de Hessoo, a legenda dizia: 'A Calma Antes da Tempestade: Hessoo e a nova bebê'. Era a única coisa que a mantinha funcional: a obsessão pela nova irmã, o futuro de sua família se reconfigurando sem o seu consentimento. Era a única coisa que explicava o 'imprevisto urgente'.
Lilian começou a assistir o vídeo, o rosto de Hessoo, usualmente sereno, parecia tensa nos cortes. Seu polegar hesitava sobre a área de comentários.
Ela respirou fundo, pronta para mergulhar no ódio, pronta para esperar por seus pais, armada com a irritação e a vergonha costumeiras, misturadas agora com uma pontada de desamparo. O que quer que estivesse acontecendo lá fora, estava fora de seu controle.
O mundo exterior continuava a girar, indiferente à sua frustração e ao seu drama. Ela apenas se encolheu na cama, esperando o retorno dos Reis do Pop, e o inevitável fim da sua vida como a única filha deles.
Ela precisava de um plano de fuga, algo para lidar com a ansiedade da convocação adiada. O telefone era seu único aliado. Ela estava prestes a abrir o Google Maps para pesquisar passagens para um lugar muito, muito longe da fama, quando uma ideia atingiu-a.
Ela deveria ter feito isso antes.
*O escritório.*
Sebastian e Hessoo raramente eram desleixados. Se eles saíram em alta velocidade, determinados, eles poderiam ter deixado alguma coisa. O escritório estava trancado, mas... as coisas no escritório principal eram sempre um show. Mas o escritório *privado* de Hessoo, o do andar de cima, era o lugar onde documentos reais e segredos importantes eram guardados. Eles só ficaram cinco minutos... talvez tivessem deixado alguma pista.
Lilian podia ouvir o estalo do ar-condicionado. Seus pais demorariam a voltar.
A curiosidade, a real e pura curiosidade, finalmente superou a passividade. Ela não ia ficar aninhada em seu castelo de seda esperando por uma bomba.
Silenciosa, ela se levantou, verificou o corredor. Maria estava longe, na cozinha, concentrada em seu inventário.
Ela podia sentar e esperar, ou podia agir.
Lilian saiu do quarto, virando à esquerda para o corredor dos pais. O quarto e o escritório de Hessoo estavam lá. Lilian estava prestes a descobrir o que era tão urgente, fosse ligada à irmãzinha ou não. Ela caminhou, o coração batendo forte no peito, a adrenalina substituindo o tédio. O chão de madeira do corredor rangia levemente sob seus pés. Lilian precisava ser rápida, antes que Maria viesse verificar se ela estava bem ou que seus pais voltassem.
Ela alcançou a porta do escritório de Hessoo. A maçaneta estava fria na sua mão. Lilian tentou girar.
Trancada.
Claro que estava. Eles eram neuróticos com privacidade.
Lilian suspirou, derrotada mais uma vez. Talvez ela devesse ter se contentado com o ódio online. Pelo menos ali ela estava no comando.
Ela estava prestes a voltar para seu quarto quando notou algo. Não na porta, mas na lateral da mesa ao lado. Um pequeno objeto de forma irregular.
Era uma chave USB. Prateada, elegante, mas claramente algo que havia caído do bolso ou da mão de pressa.
Um pequeno brilho de esperança piscou em seus olhos. Sebastian ou Hessoo haviam deixado cair. E se fosse o "imprevisto urgente?"
Lilian olhou ao redor, pegou o dispositivo e o apertou na palma da mão. Ela tinha um laptop no quarto.
Correndo de volta para o seu quarto, Lilian fechou a porta e sentou-se na escrivaninha. Ela ligou o laptop, o coração batendo com antecipação.
Estava na hora de descobrir o que estava realmente acontecendo na Pop Royal Family.
Ela inseriu a chave USB na porta lateral do laptop. O ícone de um novo dispositivo piscou na tela.
Um único arquivo. Uma pasta chamada: "Preparação Final - A. H."
Lilian franziu a testa. A. H.? O que significava? Ela clicou duas vezes na pasta.
Não havia um documento Word ou uma planilha. A pasta continha um único arquivo de vídeo. Nome: *Ultrassom Semanal – 35 Semanas*.
Lilian sentiu um baque no peito. Era *isso*. O imprevisto urgente.
Ela clica para abrir o vídeo, a tela preenchendo-se com a imagem borrada em preto e branco que era sempre tão desconcertante. Era a imagem do bebê que mudaria a vida dela.
Lilian não conseguiu desviar o olhar enquanto a imagem se movia. O vídeo era curto, menos de um minuto, um registro da rotina semanal dos pais. Provavelmente tinha sido enviado pelo ômega amigo de Hessoo.
Uma voz, suave e baixa, que Lilian reconheceu como sendo de Hessoo, murmura ao fundo, não para a câmera, mas para Sebastian. "Ela está tão quieta, Seba. Não se move hoje."
Sebastian, sua voz mais profunda e preocupada do que Lilian jamais tinha ouvido fora de uma música triste, respondeu. "Eles disseram que está tudo bem, Hessoo. Não se preocupe. Ela é uma Alpha forte, como o pai dela."
O ômega amigo de Hessoo, o pai biológico, era Alpha. Sebastian era Alpha, Hessoo era Beta. A criança era uma Alpha.
Lilian sente um estranho aperto na garganta com a menção de 'Alpha forte'. Ela não tinha uma classificação de gênero; ômega, beta, alpha. Ela era apenas Lilian. Ela não era nada tão definido ou forte.
O vídeo termina. Lilian fecha o arquivo.
Não era um grande segredo. Era apenas a vida real de seus pais invadindo sua bolha. A preocupação genuína deles com o bebê, com a logística. Não era sobre ela.
A decepção era berrante. Lilian queria um vazamento de escândalo, um drama de primeira página para justificar toda a sua vergonha. Em vez disso, ela recebeu um vídeo de ultrassom e a prova de que seus pais estavam preocupados com coisas normais, como a saúde de um recém-nascido.
Ela puxou a chave USB, sentindo a necessidade de devolvê-la antes que fosse notada. Eles provavelmente a procurariam assim que voltassem.
Lilian sentou na cama novamente. Seus pais estavam fora, lidando com o "imprevisto urgente", deixando-a em suspense. Ela havia esvaziado o ódio da internet e invadido a privacidade deles por algo... mundano.
Ela podia sentir o peso do tédio voltando.
Decidida a evitar mais autotortura digital, Lilian levantou-se e pensou em descer para a piscina ou talvez ligar para sua amiga. Mas o medo da convocação iminente pairava sobre sua cabeça.
Ela não ia se distrair e perder a primeira chance de evitar a reunião. Ela precisava estar no lugar certo na hora certa.
Ela voltou para o corredor, a chave USB escondida no bolso. Ela precisava de mais tempo, mas o tempo não ia perdoá-la.
Lilian espiou pela janela. O sedã preto não estava lá.
Eles ainda não tinham chegado.
Lilian desceu as escadas. O silêncio ainda estava lá, perturbador, incomum.
Ela caminhou até a cozinha. Maria ainda estava na bancada, agora com um tablet, conversando em voz baixa com alguém sobre entregas.
"Maria," Lilian chamou, novamente.
Maria ergueu os olhos, fazendo um sinal com a mão para que Lilian esperasse um momento.
"Sim, Sra. Kim, está na agenda. Pode entregar amanhã," Maria finalizou a chamada e se virou para Lilian.
"Sim, senhorita?"
"Eles ligaram de novo? Deram alguma... atualização?" Lilian perguntou, tentando soar casual.
Maria balançou a cabeça. "Não, Lilian. Nada. Apenas a instrução anterior. Eles devem voltar a qualquer momento."
Lilian sentiu um misto de alívio e frustração. Ela havia arriscado tanto por nada. Seus pais agiam como forças da natureza, entrando na vida dela com a força de um furacão e saindo com a velocidade de um relâmpago, deixando apenas o caos para trás.
Ela olhou ao redor da cozinha, sentindo-se estranhamente à deriva. Se eles estivessem lá, ela estaria preparada para a luta. Mas essa ausência era pior.
"Você sabe, para onde foram?" Lilian perguntou, fazendo a última tentativa de tirar informações de Maria.
Maria sorriu, um sorriso pequeno e profissional. "Eu receio não saber, Lilian. E mesmo que soubesse, eu não poderia falar. Ordens do patrão."
Lilian bufou, uma nuvem de frustração. Ela não podia ir ao orfanato, ela não podia ligar para o agente deles. Ela estava presa na mansão com seu próprio descontentamento e Maria, a guardiã da discrição.
"Tudo bem," Lilian suspirou.
Ela voltou para as escadas. Ela ia se afogar em sua própria miséria por mais umas horas. Ela tinha que devolver a chave USB e tentar parecer completamente ignorante sobre a ultrassom.
Lilian virou as costas para Maria e subiu os degraus, sentindo-se mais como uma prisioneira do que nunca. Ela estava agora infestada pela curiosidade, pela ansiedade, e pela certeza de que a nova irmãzinha Alpha já estava roubando a cena, mesmo antes de nascer. Isso era inaceitável. Injusto.
Lilian voltou para seu quarto, pronta para retomar seu mergulho no ódio online, como a única forma de recuperar algum senso de controle. Ela pegou o celular e o desbloqueou, o dedo pairando sobre o ícone do TikTok. Ela precisava de mais teorias da conspiração, mais atenção, qualquer coisa para distraí-la da ausência opressora dos pais e do mistério do 'imprevisto urgente' que mal a atingiu.
Ela se jogou na cama de dossel dourada. O celular estava quente na sua mão. Lilian abriu o aplicativo, pronta para o próximo turbilhão de ódio e drama.
Ela digitou novamente: #PopRoyalFamily
O primeiro vídeo a aparecer era novo. Postado há apenas dez minutos, com a manchete: *Onde Estão os Reis do Pop HOJE? Cancelaram o Evento.*
Lilian apertou o play.
O vídeo era um corte de uma reportagem de fofoca. Um repórter falava animadamente. "Sebastian e Hessoo abandonaram o evento de caridade de última hora. Fontes disseram que foi uma emergência familiar ligada à adoção. O suspense é enorme!"
Lilian desligou o vídeo, jogando o celular na cama com raiva. Ela estava de volta à estaca zero. Sua frustração e curiosidade a consumiam.
Ela se levantou. Ela precisava de ar.
Lilian abriu a porta do quarto novamente e desceu as escadas para a cozinha, ignorando a probabilidade de Maria estar confusa com o seu vaivém incessante.
"Maria," ela chamou, agora sem paciência. "Você tem o contato do agente ou do empresário deles? Eu preciso saber se isso tem a ver com a adoção. Preciso saber o que aconteceu."
Maria virou-se, apoiando a mão na bancada, a calma dela quase irritando Lilian.
"Lilian, eles foram muito específicos. Eu não posso te dar nenhum número de contato. Eles disseram que querem ser os primeiros a falar com você."
A frustração era palpável. Lilian parou na cozinha, as mãos fechadas em punho.
"Você não sabe de nada?"
Maria balançou a cabeça, o sorriso profissional ainda nos lábios. "Apenas do que é necessário para a gerência da casa, Lilian. E o que é necessário para a gerência da casa é que o seu jantar seja pontual e que você espere no seu quarto."
Lilian sentiu um ímpeto de gritar, mas se conteve. Ela não podia arriscar estragar o jantar, nem dar a Maria o prazer de ver seu descontrole.
Ela se virou, subindo os degraus. Maria e seus pais eram mestres em mantê-la no escuro. Ela estava novamente frustrada e curiosa, sem absolutamente nenhuma informação útil.
Lilian voltou para a escuridão tênue de seu quarto, a ansiedade pesando. Ela não faria nada até que eles voltassem.
Ela encostou a porta, decidida a esperar em silêncio.
Lilian pega o celular e Pesquisa o nome de seu pai nas redes sociais, ela passa vídeos e vídeos de edits dele, falas que as pessoas diziam que ele tinha cortado os apresentadores de forma legal, cortes de entrevistas e podcasts, em especial um que dizia "imagina a dor dele ao ver que a filha não se importa" e várias imagens dela com uma expressão de desgosto e uma música triste de fundo.
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