# Capítulo 2: O Drama de Gabriel e a Ironia da Traição O pequeno pacote químico queimando em sua mão, sob o disfarce inocente e salgado do pretzel. Ele tinha a prova, a droga codificada, e o círculo de proteção de Vladimir em torno de Gabriel. O nó em seu estômago apertou. A missão estava avançando, mas o custo para Gabriel Perez parecia cada vez mais alto. L apertou o embrulho amassado. O tilintar da música eletrônica parecia zombar dele. Essa pequena quantidade de pó, provavelmente um tranquilizante leve à base de benzodiazepínico, era a prova física da escala do tráfico, a moeda de troca que cimentava a hierarquia. Mais importante, era a materialização da vigilância de Vladimir — não apenas o ‘protetor’ ciumento no palco, mas um operador que garantia a integridade da sua peça. O alerta de Vladimir ao garoto era uma camada de proteção não apenas para L, o agente disfarçado, mas para Gabriel Perez, o personagem que não podia se dar ao luxo de ter uma reação adversa no meio da festa. L precisava de Vladimir. Ele precisava reportar a descoberta das câmeras e agora, a droga. Mas Vladimir havia sumido com Nate, entrando naquele corredor com a promessa de “encontrar um lugar melhor para ter uns tragos”, o que ele sabia significava beber e possivelmente usar as drogas mais pesadas, ou pior, as que estavam sendo testadas. L moveu-se nervosamente em direção à porta do corredor, mas hesitou antes de dar o primeiro passo. Invadir o espaço de Nate e Vladimir, especialmente depois de Vladimir ter estabelecido a separação como forma de obter informações confidenciais, seria um erro de protocolo gigante. Sem contar que, como Gabriel, ele não tinha permissão para estar ali. Gabi era para esperar. Gabi era para ser paciente. O que ele tinha em mãos era material concreto: a droga, o código (“pretzel”), a rede de distribuição (o garoto). E isso era mais do que ele tinha conseguido em um ano e meio de investigação oficial. Ele voltou para a sala principal, procurando um lugar menos caótico para pensar. Ele parou perto de uma pilha de caixas de som antigas. A prioridade agora era transformar aquela evidência em alavancagem para a próxima fase. Tirar o pacote de plástico, discretamente, sem que Sarah ou qualquer um de seus novos 'amigos' percebesse, era a primeira etapa. Ele fingiu coçar a testa e, em um movimento rápido e ensaiado, transferiu a droga codificada para um dos bolsos internos da sua jaqueta. Não se tratava de descartá-la—aquela era a evidência *dele*, um achado pessoal que validava sua permanência na investigação—mas sim de preparar o palco para o próximo ato. *Aprofundar-se na investigação. Mostrar resultados*. A única maneira de L ter voz sobre Vladimir, de reivindicar alguma autoridade dentro daquela farsa humilhante, era provar que o método dele, L/Gabriel, era igualmente eficaz e necessário. O plano começou a se formar, rápido e detalhado, como sempre acontecia quando L estava sob pressão. Ele tinha que usar o que tinha—a droga e, crucialmente, o personagem de Gabriel Perez. Ele levou a mão ao cinto de utilidades que usava por baixo da roupa larga de adolescente. Ele estava ali, um pequeno tubo de plástico contendo alguns comprimidos de ansiolítico de prescrição controlada. L tinha reservado o remédio para emergências extremas, pensando em ataques de pânico ou momentos de exaustão total. A droga controlada, um relaxante muscular suave e de rápida ação, diferente da droga desconhecida do ‘pretzel’, lhe daria a simulação de euforia e, em seguida, o cansaço esperado de um adolescente drogado, sem comprometer seu raciocínio. Ele precisava ser convincente. Gabriel não era o tipo de garoto que teria a cabeça fria para rejeitar uma droga oferecida. Ele era o tipo que se sentiria compelido a aceitar para agradar, ou por insegurança. “Onde está Gabi agora? Eu não vi você dançando. Você está perdendo a onda!” Era Zoey. Ótimo. Ela tinha voltado da sua rodada de fofocas com uma energia renovada e um copo plástico vermelho na mão. L respirou fundo. *Hora de transformar a evidência*. Ele precisava trocar as substâncias. A droga 'pretzel' era valiosa demais para ser usada experimentalmente, e L não podia arriscar o desconhecido. Ele encontrou seu caminho até o canto mais escuro de um corredor adjacente, onde a única luz vinha de uma janela coberta de poeira. A pressa era inimiga da discrição, mas a oportunidade de ter Zoey e Sarah por perto era rara. Com a rapidez de um cirurgião, ele tirou o pequeno pacote do bolso. Ele abriu o comprimido de prescrição controlada, liberando o pó branco e fino. Ele havia estudado o pacote do ‘pretzel’ na mão—não era um salgadinho, mas uma massa dura e desidratada que parecia ter sido usada para camuflar o invólucro minúsculo. Ele abriu a embalagem do ‘pretzel’ (a massa salgada) e, com a ponta do dedo, inseriu cuidadosamente o conteúdo do comprimido de prescrição dentro da massa, como se estivesse escondendo um tesouro. Ele fechou o invólucro do ‘pretzel’ novamente e descartou o pó desconhecido do item original no compartimento secreto do cinto—depois analisaria a provável benzodiazepina para entender, cientificamente, o que Vladi tinha evitado que ele usasse. Pronto. O ‘pretzel’ agora estava seguro para ser usado. O efeito esperado era de pico de energia seguido de uma sonolência e relaxamento dramático — perfeito para Gabriel Perez. Ele voltou para a sala principal, onde Zoey e Sarah o esperavam. “Gabi! Você está parecendo um funeral,” Zoey declarou, gesticulando para ele com desaprovação. Sarah, visivelmente afetada pelo “leite achocolatado”, inclinou a cabeça, os olhos meio fechados, mas com um sorriso bobo. “Ele só precisa de um pouco de animação, Zoey. Cadê seu pretzel, Gabs?” L exibiu o pacote amassado. Ele sabia que a performance tinha que ser impecável. A credibilidade do seu personagem e, em última instância, a segurança da investigação, dependiam de Sarah e Zoey acreditarem em cada detalhe. “Está aqui,” ele disse, forçando um sorriso hesitante. “Eu não estou acostumado com isso. Vladi nunca deixa.” Zoey bufou. “O Vladi é super-protetor! Desembucha logo. Não é como se fosse te matar. É a versão *light*.” A ironia da frase não passou despercebida por L. Se não fosse pela intervenção de Vladimir (e pela subsequente troca de substâncias feita por L), talvez ele estivesse à beira de uma overdose de relaxante de rua. L forçou um semblante de ansiedade. Ele abriu o pacote e, com um movimento dramático, fingiu levar o ‘pretzel’ à boca, mordendo um pedaço pequeno. A textura era estranha, insípida, mas ele mastigou com convicção. “Pronto,” ele disse, limpando a boca com a mão. “Vamos ver o que acontece.” Ele se forçou a esperar cinco segundos, tempo suficiente para a substância começar a ser absorvida. Ele então começou a simular a euforia inicial. Seus olhos se arregalaram ligeiramente, e ele se esticou, com uma energia súbita, mas contida. “Uau. Essa é… interessante.” Ele começou a sacudir a cabeça no ritmo da música, exagerando o movimento, como se estivesse sentindo o *bass* pela primeira vez. “O que você sente, Gabs? O que acontece?” Sarah perguntou, animada, aproximando-se. “É… leve. Sinto que posso fazer *tudo*. Sinto que a poeira neste lugar é a coisa mais bonita que já vi,” ele respondeu, com a voz ligeiramente embargada e excessivamente alta. Ele se inclinou para perto de Sarah, quase tropeçando. “Sarah! Seus cílios postiços parecem pequenos corvos prontos para voar!” Zoey riu, uma gargalhada aguda e satisfeita. “Aí, sim! Ele está entrando na dança!” L continuou a performance da euforia por mais alguns minutos, dançando de forma desajeitada e rindo de piadas internas ridículas que ele mesmo inventava. Ele fez alguns movimentos de dança exagerados, tropeçou de propósito e até fingiu uma breve, mas intensa, conversa com uma estátua quebrada de gesso que decorava a sala. A ideia era estabelecer uma alteração de estado evidente, mas não alarmante. Mas o auge da apresentação tinha que ser a queda, a sonolência dramática que era a característica dos relaxantes musculares. Ele parou abruptamente no meio de um movimento de dança, levou a mão à testa e deu um gemido baixo. “Oh. Uau. Não. Não está tão divertido mais,” ele murmurou, diminuindo o volume da voz em pelo menos três tons. Seus ombros caíram. Ele arrastou os pés, voltando para o lado de Sarah e Zoey, e cambaleou um pouco. Ele se apoiou na parede, permitindo que a exaustão, que era em parte real, o consumisse. Seus olhos ficaram meio fechados, e a expressão de ansiedade foi substituída por um vazio bobo e relaxado. “Gabi? Você está bem?” Zoey perguntou, seu tom de diversão substituído por uma cautelosa preocupação. “Estou ótimo,” L disse, a voz arrastada e lenta. “Só… muito confortável. Sinto que posso dormir por cem anos. Como a Bela Adormecida. Quem me beijaria? O Vladi? Ou você, Sarah? Eu deixaria você me beijar, Sarah.” A lentidão da fala e o tom excessivamente melancólico acertaram o ponto de L. O Gabriel Perez drogado era dramático, vulnerável e, crucialmente, *falante*. Sarah cambaleou para perto dele, os olhos cheios de falsa empatia. “Oh, Gabs. O Vladi faria isso. Ele é seu namorado. Ele te ama. Senta aqui. Deixa eu te dar um pouco do meu ‘achocolatado’.” Zoey a interrompeu. “Não! O Vladi avisou para ele ficar só na ‘light’. Ele vai matar a gente!” L sentiu um arrepio. A rede de proteção de Vladimir era forte. “Não, Zoey. Não o achocolatado,” ele conseguiu balbuciar. “Só… preciso de um amigo. Um ombro. O Vladi… ele está com o Nate. Ele nunca me deixa sozinho por tanto tempo.” Ele abaixou a cabeça, forçando os ombros a tremerem levemente, simulando fragilidade emocional. A atuação estava funcionando. Sarah se sentou ao lado dele, esfregando suas costas com um carinho que parecia semi-genuíno, impulsionado pela própria droga. “Ele não te deixou, Gabs. Ele só está fazendo coisas de macho,” Sarah disse, com um tom de resignação. L aproveitou a deixa para injetar a vulnerabilidade programada, o golpe de emoção que esperava abrir as portas para informações. “Não é só isso. Eu… eu não sei. Não sei se ele me ama de verdade,” L sussurrou, tão baixo que Sarah teve que se curvar para ouvir. Ele deixou a emoção falsa transparecer em sua voz, misturando-a com a lentidão arrastada do relaxante. “Eu tenho essa coisa na minha cabeça. Essa sensação horrível.” “O quê? O que você está sentindo?” Sarah sussurrou de volta, a curiosidade superando a letargia. “Eu acho,” L continuou, olhando para ela com olhos grandes e meio desfocados, injetando uma dose de pavor adolescente na sua voz. “Eu acho que ele está me traindo. Que ele está me usando, entende? Que eu sou só uma decoração.” Ele sabia que essa era uma linha perigosa, mas extremamente efetiva no universo adolescente. O medo da traição. A busca por validação. O drama. Era o Gabriel Perez no seu auge de insegurança. Sarah franziu a testa, balançando a cabeça lentamente. “Traindo? Quem disse isso? Por que você acha isso?” “Não sei. Ele está sempre olhando para as outras pessoas. Para as outras garotas,” L disse, quase choramingando. Ele fez questão de que a sua mão agitasse o ombro de Sarah, procurando contato e confiança. “E ele está com o Nate agora. Ele se afasta de mim. Quando estamos sozinhos, ele é diferente. Ele é… frio. Não tenho certeza se ele me quer. Se ele está usando este ‘nós’, eu não sei.” A confissão, saturada de vulnerabilidade química e angústia existencial adolescente, atingiu Sarah em cheio. Ela parou de acariciar suas costas e puxou o rosto dele para que olhasse nos olhos dela. A lentidão da droga dela a impedia de ser rápida e analítica, mas aumentava a empatia. “Oh, Gabs. Você não pode pensar assim,” ela disse, a voz arrastada e um pouco mais sincera do que o normal. “O Vladi? Ele é um deus grego. Não seja estúpido. Ele não te trocaria. O Vladi é… ele é o tipo de cara que, se eu fosse homem?” L assentiu lentamente, esperando o desfecho. Sarah fez uma pausa dramática, como se articulasse um pensamento profundo apenas naquele momento. “Se eu fosse homem, Gabi... eu *transaria* com ele. Mas eu *namoraria* com ele. E eu nunca, *nunca* o trairia,” ela declarou com uma ênfase dramática, inclinando a cabeça para o lado. “Seja real, Gabs. Ele é o Prêmio. Ele é a porta. Ele é tudo. Você precisa se apegar a ele.” O comentário era tão incrivelmente vazio e, ao mesmo tempo, tão revelador da mentalidade deles. Vladimir não era apenas o namorado de Gabriel, ele era um objeto de desejo, um símbolo de status e, como Sarah havia dito, “o Prêmio” e “a porta”—o acesso ao topo da hierarquia social. O “não o trairia” não era um juramento de amor, mas de lealdade a um ícone. L sentiu uma pontada de ironia gelada. Vladimir, o maior detetive do mundo, agora era um símbolo sexual adolescente e uma porta de acesso a festas clandestinas. A ironia era tão absurda, o contraste entre a realidade (Vladimir é um detetive infiltrado para desmantelar um círculo de crime) e a percepção (Vladimir é o objeto de desejo machista que dá status) era tão gritante que L não conseguiu reprimir. Ele riu. Não a risada forçada de Gabriel, mas um suspiro levemente mais genuíno que rapidamente transformou em um gemido dramático. “Você é engraçada, Sarah. Você é muito engraçada,” ele disse, balançando a cabeça, forçando o riso a soar como a histeria de um adolescente bêbado/drogado. Ele estava prestes a aprofundar a conversa, talvez perguntar se Sarah sabia se Vladimir estava saindo com alguma garota específica, quando a calmaria química e emocional foi brutalmente interrompida. “E aí, viados! O que eu perdi?” Zoey retornou de onde estava, cambaleando ligeiramente, mas significativamente mais embriagada do que antes. Seus cabelos estavam parcialmente desgrenhados e ela segurava um copo vazio que ela balançou dramaticamente. “Gabriel está com medo de que o Vladi o esteja traindo,” Sarah resumiu em uma voz lenta. Zoey fez uma careta, como se a ideia fosse infantil. “Isso é estúpido, Gabi. O Vladi está ocupado sendo o Vladi. Se ele fosse te trair, não seria com um cara, certo? A não ser que seja o Nate. Nate é uma exceção. Mas você sabe, o Nate também tem namorada, a Anna. E falando em Anna…” Zoey parou, o sorriso se alargando em algo perverso e malicioso. Ela se inclinou, como se fosse compartilhar um segredo ultrassecreto, mas sua voz era alta e aguda, cortando o som da música. “A Anna está trancada no banheiro!” Ela riu, um som alto e estridente. “Sabe por que a puta está trancada? Porque ela está *transando* com algum cara. Eu peguei eles indo para lá! Tenho certeza!” L sentiu seu corpo tenso, apesar do relaxante forçado. O foco da violência na mansão não era apenas brigas, mas a exposição. Vazamento de pornografia. O que Zoey estava fazendo era um prelúdio disso. “Zoey, você tem certeza?” L perguntou, fingindo apenas curiosidade entediada, mas sua mente estava funcionando em modo de detetive. Se Anna estava tendo relações com alguém, e se eles estavam sendo filmados (como as câmeras no quarto já indicavam), aquela era uma potencial vítima, uma testemunha, e um flagrante da cultura doentia dali. “Claro que sim! Eu vi ela e um cara entrando no banheiro quebrado lá do fundo. O que não tranca direito! E eles não saíram faz uns quinze minutos,” Zoey disse, seu rosto brilhando de excitação. “Vamos lá ver! Isso vai ser épico!” Sarah, mais lenta, mas igualmente excitada pelo drama e pela fofoca, se levantou com dificuldade. “Sim! Vamos dar um susto nela. Ela acha que pode ser vadia sem ninguém saber.” L viu a oportunidade e o perigo. Como Gabriel, ele *tinha* que participar. Gabriel era parte da gangue e a exposição era a moeda social mais valiosa. Mas como L, ele estava observando um crime potencial a se desenrolar: a humilhação pública e a possível produção de conteúdo não consensual. “Oh, meu Deus, isso é tão ruim,” L disse, fingindo horror e excitação juvenil. Ele se forçou a levantar, ainda simulando a lentidão química e o embotamento emocional do relaxante. Zoey e Sarah o puxaram pelo braço, arrastando-o para um corredor lateral que levava aos banheiros decrépitos. O cheiro de mofo e esgoto era quase insuportável ali. O banheiro estava no final do corredor, a porta de madeira desgastada visivelmente fechada. A luz fluorescente que piscava acima criava uma atmosfera de filme de terror barato. Ao se aproximarem, era audível o som de respiração ofegante misturado com gemidos abafados vindo de dentro — ou talvez o silêncio tenso de um casal sendo pego em flagrante. Zoey não perdeu tempo. Ela avançou e começou a esmurrar a porta de madeira com força. “Anna! Puta! Abre essa porta! Achou que ninguém ia saber que você está dando aqui?! Sai logo! O Nate vai te matar!” Zoey gritava, sua voz histérica. Sarah se juntou à violência verbal. “É isso aí, Anna! Você não está no seu quarto, vadia! Aqui fora é propriedade pública! Deixa a gente dar uma olhada no seu namoradinho novo!” As duas batiam na porta, rindo com uma crueldade desinibida. A música alta abafava um pouco, mas a tensão no corredor era inegável. Outros adolescentes em busca de banheiros ou fugindo da multidão principal pararam para assistir e rir. A humilhação de Anna estava se tornando um espetáculo. “Gabi! Vem! Bate na porta também! Manda essa puta sair!” Zoey exigiu, gesticulando para L. L hesitou. Sua mente de detetive gritava para ele parar o que estava acontecendo, intervir, proteger a potencial vítima. Mas Gabriel Perez não podia ser o herói moral. Gabriel tinha que ser a putinha ciumenta, o parceiro obediente na humilhação social. Ele forçou um passo à frente, ajustando seu rosto para uma expressão de cansaço excessivo e má intenção induzida pelo relaxante. Ele tinha que participar, mas ele faria isso de uma maneira que terminasse a humilhação rapidamente. Ele não podia suportar prolongar a tortura. L/Gabriel levantou as duas mãos e começou a bater na porta com uma intensidade surpreendente, soando menos como uma brincadeira maliciosa e mais como um confronto irritado. “Anna!” L gritou, usando ao máximo a voz aguda e chorosa de Gabriel. Ele injetou um sarcasmo evidente em suas palavras que era a marca registrada de Gabriel quando estava sob pressão. “Você está *defecando* aí dentro ou o quê? Já deu! Sai logo! Temos uma festa para ir, porra! Essa merda cheira mal! Queremos usar o banheiro, e você está estragando a vibe!” O grito de L foi inesperado e direto. Não foi sobre o sexo, mas sobre a *inconveniência* e o *mal cheiro*. O protesto mais banal e histérico que um adolescente drogado poderia fazer. As risadas de Zoey e Sarah pararam. O silêncio do lado de dentro do banheiro durou apenas um segundo. Quase que imediatamente, a porta foi aberta com um estrondo. Anna e o garoto saíram. O garoto foi o primeiro a sair. Ele estava visivelmente encurralado, com a camisa desabotoada e o cabelo bagunçado. Ele olhou para o grupo parado na porta, e seu rosto ficou vermelho. Ele parecia ter sido pego roubando, não fazendo sexo consensual, o que era um retrato perfeito da vergonha embutida naquela cultura. Ele evitou contato visual e tentou se esgueirar pela multidão que se formava. Anna saiu em seguida, com a saia ligeiramente amarrotada, mas com uma calma que era quase desafiadora. Ela era loira, de pele pálida, e tinha nos olhos uma indiferença já estabelecida. Ela parecia irritada, mas não humilhada no sentido completo. Ela olhou para Zoey e Sarah, que estavam esperando por uma reação dramática, e em seguida mirou L. “Nossa, Gabi,” Anna disse, a voz monótona. “Você soa como se precisasse de uma boa dose de Rivotril. Está muito dramático, querida. Não se preocupe, eu não fiz nada que o Vladi não aprovaria. Vocês podem usar o banheiro agora, já que é tão importante para vocês usarem o sanitário.” Ela passou por L, esbarrando propositalmente em seu ombro, com um sorriso de escárnio. Zoey e Sarah ficaram pálidas de fúria por não terem conseguido o drama ou a humilhação que esperavam. Anna havia transformado a situação em uma piada sobre o desespero de Gabriel por um banheiro. L observou Anna se afastar, sua observação profissional agora estava no piloto automático. O constrangimento de Anna era mínimo; ela era resiliente, ou talvez já calejada pela exposição social. Ela era uma potencial testemunha que havia internalizado a dinâmica. O garoto, no entanto, cambaleou para longe de Anna e parou abruptamente na frente de L, sua respiração ainda irregular. O medo em seus olhos era genuíno. Ele era o contraste perfeito da calma desafiadora de Anna. Ele se inclinou para a frente, ignorando Zoey e Sarah, e sussurrou para L com uma urgência desesperada. “Ei, você é o namorado do Vladimir, certo?” ele perguntou, o cheiro de álcool e medo pairando no ar. L, ainda fingindo a lentidão do relaxante, apenas concordou com um movimento de cabeça lento. “Ele… o Vladimir… ele estava falando de mim. Ele falou ‘é melhor você não bagunçar, ou eu te pego.’ O que isso significa? Ele sabe o meu nome?” O garoto tremeu. L, de repente, sentiu um frio na espinha que nada tinha a ver com a simulação do relaxante. Vladimir estava usando sua reputação de *bad boy* de uma maneira que L não tinha imaginado. Para o garoto, Vladimir não era apenas um namorado protetor, mas uma força controladora, uma ameaça que se estendia para fora do seu relacionamento, uma espécie de mafioso adolescente. O garoto assustado, o objeto de desejo de Sarah, a ironia do "não o trairia,” e agora, o medo genuíno da autoridade sombria de Vladimir. O que Vladimir estava projetando na mente desses adolescentes não era apenas a imagem de um bad boy; era a de um poder que podia punir. L sentia uma perplexidade crescente sobre como seu parceiro estava estruturando seu disfarce e o nível de autoridade que ele tinha alcançado na comunidade. “O que… o que mais ele disse?” L perguntou, quase esquecendo de simular a lentidão imposta pelo relaxante. O garoto engoliu em seco, olhando para trás, para o corredor que Vladimir havia tomado com Nate, como se temesse que Vladimir fosse surgir a qualquer momento. “Ele disse,” o garoto sussurrou, a voz rompendo. “Ele disse que sou ‘o tipo de lixo que estraga a boa reputação dele’ e que eu ‘deveria ter mais cuidado com minhas garotas’. Você sabe o que ele quer dizer com isso? Ele me conhece?” L ficou ali, de repente atordoado. Vladimir não estava apenas se infiltrando; ele estava se estabelecendo como um guardião moral e territorial, usando a ameaça de violência implícita para controlar o que ele via como a exposição e a vulnerabilidade das pessoas ao seu redor. A imagem que Vladimir estava projetando era de um poder que podia punir. O garoto esperou por uma resposta, sua postura tensa e vulnerável. L apenas olhou para ele, a mente acelerada. Ele tinha que processar essa nova informação – a autoridade repressiva de Vladimir – sem quebrar o personagem letárgico. A complexidade do disfarce de seu parceiro era avassaladora. Ele estava tão concentrado em ser a vítima que não tinha percebido que Vladimir estava jogando um jogo muito mais sofisticado e perigoso. “Ele… ele é só ciumento,” L conseguiu gaguejar, tentando dar uma explicação de Gabriel. “Vladi é muito protetor,” ele murmurou, mas seus olhos estavam fixos no garoto, a perplexidade sobre a verdadeira extensão da influência de Vladimir o atingindo com força.

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